segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"Asterios Polyp" - David Mazzucchelli


Uma forte chuva despenca dos céus enquanto começa a ser mostrada uma casa imunda e bagunçada com restos de comida e contas a pagar arremessadas pelos quatro cantos. Um pouco mais adiante aparece um homem jogado na cama assistindo a um filme pornô e balançando um isqueiro na mão. Nesse momento um raio tomba em direção ao prédio de apartamentos e ao invés de lhe conceder poderes especiais como em uma velha história em quadrinhos, faz é iniciar um incêndio que irá consumir todo o edifício.

Assim começa “Asterios Polyp”, a premiada graphic novel de David Mazzuccelli (abocanhou prêmios como o Eisner e o Harvey Awards) que ganha edição nacional pelo selo Quadrinhos na Cia. da Companhia das Letras. Com 344 páginas e tradução de Daniel Pellizzari, o álbum lançado em 2009 lá fora marcou o retorno triunfal de David Mazzuccelli a cena da nona arte. Responsável junto com Frank Miller por obras do calibre de “Batman: Ano Um” e “Demolidor: A Queda de Murdock” nos anos 80, o artista andava sumido e meio recluso.

O homem na cama vendo filme pornô é o que dá nome ao álbum e está no dia do seu aniversário de 50 anos. Com a vida inteira desmoronada, ele vê o incêndio como a chance de fugir e recomeçar. Escolhe três pequenos objetos no apartamento e sai em disparada em busca de um trem que o leve até onde o dinheiro que tem na carteira consiga pagar. O destino final, bem longe da Manhattan que morava, é uma pequena cidade cravada em algum ponto ermo e distante dos Estados Unidos, onde terá a chance de ter outra vida.

A história é narrada por Ignazio, irmão gêmeo natimorto de Asterios que serve como guia para toda a carga de dualidade que é inserida. Mazzucchelli alterna os dias atuais com passados, a fim de mostrar como seu personagem chegou onde está. Professor que fez reputação como “arquiteto de papel” e nunca teve um projeto construído, conhecemos uma pessoa teimosa, egocêntrica e intransigente, que nem no casamento aprendeu a deixar isso de lado. Logo, todo processo de redenção que a trama oferecerá durante seu decorrer será bem vinda.

“Asterios Polyp” chama a atenção, além do romance repleto de arrependimento e aprendizagem, pelo tratado estético no qual o autor se ofereceu a realizar. Em torno da carga dramática da história, a arte dos quadrinhos é explorada em todas as suas formas, traços, cores, linhas e desenhos. David Mazzucchelli une todas as maneiras conhecidas e mistura fazendo nascer algo diferente e até mesmo novo. Um trabalho poético e com visual instigante de um autor que domina magistralmente o que se propõe a fazer.

P.S: O único ponto negativo da obra é a capa, que poderia ser em papel mais duro e resistente devido ao formato e grande volume de páginas.

A Companhia das Letras liberou um trecho para leitura. Veja aqui.

 

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