Uma forte chuva despenca dos céus
enquanto começa a ser mostrada uma casa imunda e bagunçada com restos de comida
e contas a pagar arremessadas pelos quatro cantos. Um pouco mais adiante
aparece um homem jogado na cama assistindo a um filme pornô e balançando um
isqueiro na mão. Nesse momento um raio tomba em direção ao prédio de apartamentos
e ao invés de lhe conceder poderes especiais como em uma velha história em
quadrinhos, faz é iniciar um incêndio que irá consumir todo o edifício.
Assim começa “Asterios Polyp”, a
premiada graphic novel de David Mazzuccelli (abocanhou prêmios como o Eisner e
o Harvey Awards) que ganha edição nacional pelo selo Quadrinhos na Cia. da
Companhia das Letras. Com 344 páginas e tradução de Daniel Pellizzari, o álbum lançado
em 2009 lá fora marcou o retorno triunfal de David Mazzuccelli a cena da nona
arte. Responsável junto com Frank Miller por obras do calibre de “Batman: Ano
Um” e “Demolidor: A Queda de Murdock” nos anos 80, o artista andava sumido e meio
recluso.
O homem na cama vendo filme pornô
é o que dá nome ao álbum e está no dia do seu aniversário de 50 anos. Com a
vida inteira desmoronada, ele vê o incêndio como a chance de fugir e recomeçar.
Escolhe três pequenos objetos no apartamento e sai em disparada em busca de um
trem que o leve até onde o dinheiro que tem na carteira consiga pagar. O
destino final, bem longe da Manhattan que morava, é uma pequena cidade cravada
em algum ponto ermo e distante dos Estados Unidos, onde terá a chance de ter
outra vida.
A história é narrada por Ignazio,
irmão gêmeo natimorto de Asterios que serve como guia para toda a carga de
dualidade que é inserida. Mazzucchelli alterna os dias atuais com passados, a
fim de mostrar como seu personagem chegou onde está. Professor que fez
reputação como “arquiteto de papel” e nunca teve um projeto construído,
conhecemos uma pessoa teimosa, egocêntrica e intransigente, que nem no
casamento aprendeu a deixar isso de lado. Logo, todo processo de redenção que a
trama oferecerá durante seu decorrer será bem vinda.
“Asterios Polyp” chama a atenção,
além do romance repleto de arrependimento e aprendizagem, pelo tratado estético
no qual o autor se ofereceu a realizar. Em torno da carga dramática da
história, a arte dos quadrinhos é explorada em todas as suas formas, traços,
cores, linhas e desenhos. David Mazzucchelli une todas as maneiras conhecidas e
mistura fazendo nascer algo diferente e até mesmo novo. Um trabalho poético e com
visual instigante de um autor que domina magistralmente o que se propõe a
fazer.
P.S: O único ponto negativo da
obra é a capa, que poderia ser em papel mais duro e resistente devido ao
formato e grande volume de páginas.
A Companhia das Letras liberou um
trecho para leitura. Veja aqui.
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