quinta-feira, 28 de setembro de 2006

"Carrosel" - Skank

O mundo gira fazendo as coisas mudarem de lugar, o que hoje era certeza amanhã pode não ser mais. Calma. Isso não é um papo de filosofia barata de livros de auto-ajuda. É apenas para começar a entender o conceito do novo disco da banda mineira Skank, intitulado “Carrossel”. Já são quinze anos de estrada desde o primeiro disco independente e a mistura de reggae, ska, pop e dancehall que conquistou o país e fez a banda ser um sucesso estrondoso tendo seu nome gravado nos maiores da nossa música nos últimos anos. E dentro desse carrossel, Samuel Rosa (Guitarra e Voz), Haroldo Ferretti (Bateria), Lelo Zaneti (Baixo) e Henrique Portugal (Teclados) foram mudando e deixando seu som com uma cara inversa aquela dos primeiros anos. O novo disco fecha um ciclo em que a banda transformou o seu som gradativamente, elaborando um pop rock, com fortes influências de Beatles, Clube da Esquina e do Britpop inglês. Esse ciclo que começou com “Maquinarama” em 2000 e continuou com o ótimo “Cosmotron” em 2003, teve diversas provações, críticas e musicalmente grande sucesso, fechando tudo com esse “Carrossel”. No disco, o Skank dá uma guinada outra vez, mais suave é verdade, mas não menos importante. As guitarras do último álbum ficam um pouco para trás, dando lugar a muitos violões, violas e até banjo. Não tem um hit do porte de “Três Lados” ou “Vou Deixar”, a primeira música de trabalho, “Uma Canção é Para Isso” não tem a mesma força que suas antecessoras, mas ainda assim é bem melhor do que muita coisa que toca na MTV hoje em dia. Abrindo o álbum vem uma nova parceria de Samuel Rosa e Nando Reis, “Eu e a Felicidade”, talvez a pior entre os dois dentro de todo esse tempo, a música não convence, deixando a desejar. A partir da segunda música a já citada “Uma Canção é Para Isso” é que o disco embala e ganha corpo, começando a cativar os ouvidos com suas melodias, experimentações e letras. A influência dos Beatles e do Britpop ainda estão lá, mas dão espaço também para o folk entrar como uma nova ferramenta. O Skank está feliz, bastante feliz e isso se reflete na leveza dos arranjos e letras. “Até o Amor Virar Poeira” e “O Som da Sua Voz” dão ritmo a concepção do disco, abrindo para “Cara Nua” a primeira grande canção, feita em parceria com Humberto Effe dos Picassos Falsos. Em meio a ambientações dignas do alt-country americano, Samuel despeja palavras de uma desilusão lúdica: “Quando chega o carnaval/Mais ninguém te encontra/Pra você são só uns dias/Você quer ter a vida inteira/Com a cara toda nua/Brincar com quem quiser” “Mil Acasos” vêm logo depois, feita com o eterno amigo Chico Amaral e mantém o nível bem acima, uma canção romântica sem soar sentimentalmente banal quando entram os versos: “Seus passos queiram se juntar aos meus/Seus braços queiram se juntar aos meus”. “Lugar” é de Samuel e César Mauricio (dos extintos grupos Virna Lisi e Radar Tantã) e apesar de ser uma balada razoável, instiga uma parada na atmosfera do álbum que retorna na bela “Noticia”, outra com Humberto Effe. “Garrafas” do Lelo Zaneti é sem dúvida a mais fraca de todas as músicas e poderia muito bem ter ficado de fora, apesar das experimentações não consegue se sobressair. Depois vem “Panorâmica” e após essa outro grande momento em “Balada para João e Joana” ficando os pés em Minas Gerais com um pouco de Mutantes para engrossar o caldo. “Trancoso” que vem a seguir é a primeira parceria entre Samuel e Arnaldo Antunes e apesar de ser bacana, fica aquele gosto de poderia ter ficado melhor. Em seqüência “Antitelejornal” solta as frases: “Hoje eu vou inventar/O antitelejornal/Pra passar só o que é belo /Pra passar o essencial”, de Samuel e Rodrigo Leão empolga pelo ritmo e também pela concepção. “Seus Passos” e “Um Homem Solitário” desligam o “Carrossel” da energia sem empolgar muito, soando um pouco repetitivo no seu final. Com a produção de Chico Neves e Carlos Eduardo Miranda, o “Carrossel” mineiro é sempre bom de se escutar, apesar da inconstância de alguns momentos e de ter 15 faixas, (quando 12 seria a conta perfeita), ficando um gosto de que a banda poderia ter feito algo melhor, dando a impressão de que driblou todo o time e na hora de concluir chutou para fora. Ainda assim, o Skank mostra toda a sua importância como músicos em um disco que ganha força a medida que vai tocando mais, continuando uma carreira com pouquíssimos erros e sempre calcada na qualidade e na renovação. A música precisa tanto de bandas como o Skank, quanto a banda precisa da música.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

"Subtítulo" - Josh Rouse - 2006

joshrouse_subtitulo Originally uploaded by Kalnaab.
Conheci Josh Rouse em meados de 2001 quando um amigo emprestou o disco “Home” que o cantor lançara em 2000 e foi editado pela Trama. A sonoridade diretamente vinculada ao movimento alt-country tinha uma melancolia com tons de música pop que conquistava o ouvinte desde o primeiro momento com canções daquilo que o folk tem de melhor.

O tempo passou, nada mais do cantor foi lançado no Brasil, quando no ano passado baixei na internet o excelente Nashville, que trazia um som um pouco diferente do que eu conhecera anos antes, com um pé mais no country, mas sempre aliando o folk e belas melodias. Josh Rouse voltava para a lista de cantores mais escutados no meu cd player onde se mantém até hoje, mesmo que com outro disco, o novo “Subtítulo”.

O cantor passou por alguns problemas pessoais e mudou dos Estados Unidos para a pequena cidade de Altea perto de Valência na Espanha, o que ajudou a superar o que passara e voltar a compor pequenas obras primas, essa sua doce sina. Em “Subtítulo” ele comete um dos grandes álbuns do ano e sem dúvida um dos mais bonitos (na acepção total da palavra) que passaram pelos meus ouvidos ultimamente.

Desde a abertura com a dupla “Quiet Town” e “Summertime” até o fechamento com “El Outro Lado” o disco é um deleite só, que parece se perder no tempo, sem ambientação lógica, mas com uma imensa riqueza de melodias ajudadas pela voz de Rouse que contrapõe baladas de forma bastante interessante. Destaque ainda para as pop's “It Looks Like Love” e “His Majesty Rides”, para a mezzo disco "Givin´ It Up”, além do maravilhoso dueto entre o cantor e sua namorada espanhola Paz Suay em "The Man Who Doesn't Know How To Smile", simplesmente arrebatadora.

Ainda falando de amor na grande maioria das músicas, mas sem soar piegas, Josh Rouse faz em "Subtítulo" uma provável descrição para as palavras lirismo e beleza, sem precisar recorrer a nenhum golpe de marketing planejado e sendo bem mais relevante do que a grande maioria do que vemos hoje na MTV.

“Subtítulo” ainda não tem edição nacional e sejamos honestos, provavelmente nem terá, mas é um disco que precisa ser escutado a qualquer custo por todos os amantes da boa música e principalmente da força que existem nas canções. Apenas e fundamentalmente as canções.

My Space do cantor: http://myspace.com/joshrouse.

sábado, 23 de setembro de 2006

Você pode ir na janela

Gram - Você Pode Ir Na Janela
Comecei a escutar o novo do Gram, "Seu Minuto, Meu Segundo" e já to gostando. Enquanto não comento nada, segue o clip de "Você pode ir na Janela" no momento especial "Mofo" do blog. (Esse clipe dá uma saudade...)

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

"We Are The Pipettes" - The Pipettes

Vestidos de bolinhas, coreografias mal feitas, música com letras despretensiosas, cantando em sua maioria o amor ou convidando para dançar em arranjos pop bem resolvidos com backing vocals e refrões grudentos. Não, não estamos falando de nenhuma das Girls Groups dos anos 60 e muito menos das suas hostilizadas e detestáveis analogias dos últimos anos. Estamos falando das The Pipettes, banda que existe há mais de dois anos mais que só agora chega ao seu primeiro disco (que infelizmente ainda não tem edição nacional, mas pode ser baixado em programas de busca), “We Are The Pipettes”, lançado em julho As Pipettes em questão são Becki, Rose e Gweno que com seu visual sessentista começam a agradar pessoas pelo mundo e tocar nas mais diversas pistas de dança. Acompanhada de uma banda muito boa denominada “The Cassetes” que abusam de teclados, guitarras e paradinhas para palmas e afins, o projeto que foi capitaneado pelo músico Monster Bobby, montando a banda, primeiro porque gostava desse tipo de som e segundo, pois era um produto escasso no mercado e plenamente capaz de ser vendido. O álbum abre com a música titulo dizendo: “Se você ainda não percebeu somos as garotas mais bonitas que você já conheceu...”, dando uma grande idéia do que vamos ouvir pela frente. Em seguida vem a melhor música do álbum, “Pull Shapes”, seríssima candidata a um dos hits do ano, com seu ritmo, palmas, música para embalar qualquer festinha que se preze, seja em casa ou em qualquer boa discoteca indie (ou não). As musicas vãs passando macias e suaves carregadas de despretensão, alegria e dando um toque de nostalgia no ar, mas sempre com moldes de modernidade. Tem “Dirty Mind” para dançar, “Judy” para relaxar, “One Night Stand” para visualizar toda a maldade encoberta em um belo rostinho de mulher, “You Kisses Are Wasted on Me” para esboçar algumas coreografias ridículas ou até mesmo a singela “I Love You” que fecha o disco em seus poucos mais de 40 minutos. Existe música para tudo, para criticar, pensar e para dançar e se divertir. As Pipettes se enquadram nesta última descrição com grande louvor. Um dos grandes destaques do ano, que precisa ser saboreado em doses constantes, sem pressa, cantando sem querer com um sorriso nos lábios sem saber porquê. Entre em: http://www.myspace.com/thepipettes e http://www.thepipettes.co.uk/ para ver mais.

domingo, 17 de setembro de 2006

"Querida Wendy"

Queridawendy, originally uploaded by Kalnaab.

“Querida Wendy” filme dinamarquês de 2005, é a primeira colaboração cinematográfica entre os fundadores do movimento “Dogma 95”, Thomas Vinterberg (Festa de Família) e Lars Von Trier (Dogville), sendo que o primeiro ficou com a direção e o segundo com o roteiro. O objetivo do longa é fazer um libelo anti armamentista e colocar a prova o quanto a posse de uma arma pode modificar as pessoas, tendo os USA como pano de fundo. Passado na pequena cidade mineradora de Estherslope, onde os cidadãos persistem naquela típica vida americana, com seu modo de viver e de ver as coisas, regados com extremo moralismo e concepções pouco liberais, o jovem Dick (Jamie Bell), um “loser” na concepção do termo, se vê atraído por uma pequena arma, que gera tamanha devoção que recebe até um nome: Wendy. Aliando outros estranhos e perdedores em uma espécie de clube que extravasa suas angustias e decepções através do relacionamento com armas de fogo, com suas próprias regras e mandamentos, os jovens conhecem o outro lado da história pois ao mesmo tempo em que se sentem mais poderosos, ficam submersos a desvios e mostras de caráter que não estavam acostumados a ter. Que a estética (lembrando muito “Dogville” na estrutura) e a concepção do filme merecem ser louvados, o mesmo não se pode dizer dos meios que a idéia é transformada na película. O argumento às vezes é muito redundante e já foi mais bem explorado por outros diretores. A flechada na maior potência bélica do planeta soa com cara de que já vimos isso antes. Mesmo assim, ainda se vale ver o filme que na concepção geral é bom, tanto pela carga de idéias (que remetem ao universo de “Clube da Luta”) quanto pela atuação dos atores, direção insubordinada e pela excelente trilha sonora sessentista da banda Zombies. Procure na sua locadora.

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

"Demolidar Anual - Redenção"

A justiça nem sempre acerta, como tantos já disseram, às vezes ela é cega e em outras vezes é simplesmente envolvida em um mar de lama. Dentro desse contexto é que segue “Demolidor Anual – Redenção”, com lançamento da Panini, tendo roteiro de David Hine (do excelente “Distrito X”) e arte de Michael Gaydos ("Alias"). Na pequena cidade de Redemption Valley o cadáver de um menino é encontrado mutilado. A suspeita do crime cai sobre três jovens, entre eles Joel Flood, que levam a culpa por serem estranhos e gostarem de escutar música heavy metal, entre outras coisas. É quando a mãe do garoto vai atrás de Matt Murdock, que ruma para a cidadezinha junto com o seu Demolidor. Precisando muito mais do seu lado advogado do que justiceiro, Matt Murdock se vê no meio de uma cidade em meio a uma caça às bruxas e descobre todo uma sujeira envolta ao assassinato em questão. Usando e abusando de tons escuros, a arte da história produz grandes efeitos. O roteiro de David Hine é inspirado em fatos reais e mostra toda a hipocrisia de uma sociedade tão afeita a subjetivos valores morais e tão propensos a distorções de fé. Uma das melhores HQs do Homem sem Medo lançada nos últimos tempos. Confira.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Nação Zumbi no Jools Holland

..Nação Zumbi - Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada
O debate de sexta feira última no IAP sobre música independente que contou com a participação entre outros do Ney Messias (ex e futuro presidente da Funtelpa), Rodrigo Lariú (do selo midsummer madness) e Paulo André (do festival Abril Pro Rock de Recife) além de ter sido bem interessante, ouvimos boas histórias.
Uma delas foi o Paulo André contando da apresentação da Nação Zumbi no programa do Jools Holland. Para quem ficou com agua na boca de ver a apresentação, coloco ela aí. Santo Youtube!

terça-feira, 5 de setembro de 2006

"Cão come Cão" - Edward Bunker

. Edward Bunker talvez seja o escritor em atividade que retrate de forma mais realista o universo do submundo do crime. Grande parte disso deve-se ao fato do autor ter vivido um bom tempo encarcerado em prisões nos USA, o que lhe adiciona um conhecimento de causa e tanto. Em “Cão Come Cão” lançado ano passado pela Editora Barracuda, o autor apresenta uma Califórnia oitentista envolvida na lama e na sordidez dos desajustados da sociedade, abordando a constante briga pelo poder, assim como a corrupção e o envolvimento das prisões na formação de indivíduos. Os personagens da trama são Troy Cameron, Diesel Carson e Mad Dog Mccain que começaram sua vida pelo outro lado da vida desde cedo, conhecendo-se em reformatórios e alongando sua amizade para parcerias futuras. A grande vantagem da literatura de Bunker é que nela não há endeusamentos. Não tem espaço para heróis, nem mocinhos. Não há apologia a nada, apesar de algumas idéias dos personagens serem bastante incisivas, isso é feito para que a história possa se desenvolver. Ao invés de autores que glamorizam o mundo do crime, Edward Bunker apenas relata seus atos. No livro os personagens se envolvem em um mundo de traição, briga por poder, dando literalmente margem para o título. Bunker retrata um mundo de pessoas que não tem visão para nada além de seus desejos, buscando os mesmos com determinação, sendo capazes de tudo para tanto. Bunker, que tem como um dos seus maiores fãs o diretor Quentin Tarantino, no qual trabalhou como ator em seu primeiro filme, “Cães de Aluguel”, fazendo o Mr. Blue, arremessa seu universo na mesma direção que o diretor ambienta seus filmes, corroborando em muito para a criação básica do sistema Tarantino. Dentro do que faz, Bunker ainda é o melhor e sua literatura sempre é bem vinda.