segunda-feira, 29 de junho de 2009

"Hoje" - Lestics - 2009

Olavo Rocha e Umberto Serpieri da ótima banda Gianoukas Papoulas, criaram em 2007 um projeto paralelo chamado Lestics, lançando dois bonitos discos que passaram despercebidos por muita gente (inclusive este que escreve, que só foi escutar o trabalho no ano seguinte). “9 Sonhos” e “Les Tics”, não tinham maiores pretensões, mas com um forte alicerce no folk rock, acabaram por conquistar diversos ouvintes.
No decorrer do ano de 2008, Olavo e Umberto recrutaram para o projeto os músicos Marcelo Patu (baixo), Lirinha (guitarra) e Felipe Duarte (bateria), o que resultou em uma maior consistência e uma sonoridade mais encorpada. Agora em 2009, o Lestics apresenta mais um trabalho, “Hoje”, que como os anteriores é disponibilizado pela banda inteiramente para download gratuito em seu site oficial.
Em “Hoje”, o Lestics é uma banda em forma e não somente em conteúdo, inclusive nas composições, que quatro integrantes passam a dividir. O alicerce continua sendo o folk rock, que desta vez ganha tons mais “rock” do que “folk”. As letras, um ponto forte dos discos de 2007, continuam sendo um diferencial e transitam entre alguns sonhos e muitas dúvidas e conflitos pessoais, tocados ocasionalmente por alguma ironia.
“Plano de Fuga” abre o disco com violões fortes e os versos: “um fiapo de fumaça se desprende dos escombros (...), o seu plano de fuga deu errado (...), talvez nem tudo esteja perdido, a esperança é maior do que seus esforços (...), a esperança é quem faz a contagem dos corpos”. Das demais canções, pode-se destacar a ironia de “Mania de Organização”, a reflexiva “Um Bem, Um Mal”, o pop rock de “Sem Título Número 4” ou a quase doçura de “Leve”.
Em faixas como “Velho”, a banda consegue quase tocar o céu, em uma sublime canção sobre o passar do tempo. Em “Hoje”, o Lestics mostra uma sonoridade agradabilíssima, além de inteligente e bem produzida, merecendo uma atenção bem maior do que lhe foi concedida anteriormente, surpreendendo um pouco mais a cada nova audição e demonstrando no fim que a simplicidade, pode sim ser bem sofisticada.
O download dos três discos pode ser feito em: http://www.lestics.com.br

sábado, 27 de junho de 2009

"God Help The Girl" - God Help The Girl - 2009

O escocês Stuart Lee Murdoch já concebeu na frente da sua banda, o Belle And Sebastian, algumas pequenas obras primas como o disco “If You´re Feeling Sinister”, além de dezenas de excelentes canções no decorrer da carreira. Em 2009, Murdoch coloca mais uma pequena jóia no mercado, o disco do seu projeto God Help The Girl, que recebe o mesmo nome. Nele, encontramos um trabalho descompromissado, atemporal e bastante agradável.
O músico vinha ao longo dos últimos anos, compondo algumas canções que não conseguia enxergar na sua voz. Decidiu então fazer um concurso no qual escolheria cantoras para apresentarem essas canções. Nove foram as escolhidas, ficando o cargo de principal voz para Catherine Ireton, antiga conhecida e vocalista da banda The Go Away Birds, que já apareceu na capa do single “White Collar Boy” do Belle And Sebastian.
O projeto explora basicamente as mesmas sonoridades do grupo principal de Stuart Murdoch, no entanto insere outros olhares como a implementação do soul e do jazz. Outro ponto distinto é a participação de uma orquestra com 40 e poucos integrantes e os vocais femininos, que em vários momentos se assemelham aos “girls groups” dos anos 50/60 e a cantoras como Nancy Sinatra e Dusty Springfield.
“Act Of The Apostle” abre o disco com um violão dedilhado, para que um doce vocal feminino comande a melodia, que depois recebe a companhia de um piano jazzístico, conferindo uma atmosfera retrô toda especial. “God Help The Girl” é anos 60 total, “Funny Little Frog” é um soul bacanudo, “If You Could Speak” é deliciosa com seus assovios e estalados de dedos e “A Down And Dusky Blonde” fecha suavemente o álbum.
“God Help The Girl”, o disco, traz além de uma das capas mais bonitas do ano (sempre cortesia dos trabalhos em que integrantes do Belle And Sebastian estão envolvidos), uma sonoridade que é capaz de transportar o ouvinte para algumas décadas para trás e fazer esquecer um pouco os problemas do dia a dia. Em um dia a dia tão conturbado como o que hoje levamos, isso já é mais do que especial.
My Space: http://www.myspace.com/pleasegodhelpthegirl

quinta-feira, 25 de junho de 2009

"Cine Privê" - Antonio Carlos Viana

Antonio Carlos Viana é um escritor sergipano, não muito conhecido do grande público, mas que tem um olhar bem peculiar sobre o mundo atual. É daqueles contistas que conseguem acertar o alvo na maioria das histórias, criando situações que poderiam muito bem ser mais estendidas. Sua visão de mundo traz uma falta de esperança na condição do ser humano, que apesar de cruel em determinados momentos, tem completa razão de existir.
Seu mais recente trabalho é “Cine Privê”, com 128 páginas, lançado esse ano pela Companhia Das Letras, com 20 contos, a grande maioria inéditos. Na epígrafe, logo nos deparamos com uma frase do profeta Isaías que diz que “toda cabeça está enferma e todo o coração abatido”. Essa pequena frase realmente serve para indicar uma boa parte do será visto na leitura que se apresentará nas páginas seguintes.
A maioria dos contos é narrado em primeira pessoa, trazendo crianças para a narrativa, onde a relação de “inocência x realidade” é explorada sem floreios ou fantasias. Nos contos de “Cine Privê” não há redenção em momento algum, esta não se faz presente no rol do autor. Até o humor utilizado em alguns momentos, aparece trágico, como se extraído de alguma peça grega antiga.
Em “Santana Quemo-Quemo” vemos um garoto que ao ver sua casa destruída pelo governo, por estar em uma reserva ambiental, se desespera pela comida que está no fogo e não percebe o verdadeiro problema. “Duas Coxinhas e Um Guaraná”, traz as reflexões de um jovem que após matar a mãe vai para uma lanchonete comer. O conto que dá nome ao livro é sobre um senhor que faz a limpeza de um cinema onde os homens vão ver shows eróticos e se “aliviar”.
E assim os personagens vão sucedendo seus dramas em “O Amor de Isa e Nane”, “Moonlight Serenade” ou “O Rei das Trocas”. Antonio Carlos Viana apesar de ter passado boa parte da sua vida morando em cidades como Rio de Janeiro, Porto Alegre e Paris, consegue voltar o seu olhar para realidades específicas do nordeste brasileiro de modo bem contundente. “Cine Privê” é um retrato nada glamuroso do mundo atual, que vale a pena ser lido.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ataque Fantasma lança "Campanha Copyleft"

Salve, salve minha gente amiga...

O chapa Elder Effe (à direita), lança uma campanha interessante da sua banda Ataque Fantasma: A Campanha Copyleft. A banda disponibiliza os seus dois Ep´s, “Zero” de 2007 e “Croma” de 2009 em pacotes separados, onde é permitido a execução pública, desde que para fins não comerciais.

Os pacotinhos estão bem bacanas, com faixas em qualidade de 256kpbs, encarte completo em alta resolução, videoclipe ao vivo, letras, cifras, fotos e papel de parede. Como diria um samba antigo: “é luxo só”.

Pegue o seu logo abaixo e curta canções como “Central” (uma das canções do ano de 2007, aqui pela casa) e “Ludo”:

Paz Sempre!!

terça-feira, 23 de junho de 2009

"Loki - Arnaldo Baptista" - 2008

Arnaldo Baptista é o tipo de artista que merece com todas as honras o status de gênio. No final dos anos 60 a frente dos Mutantes, junto com seu irmão Sérgio Dias e sua então esposa Rita Lee, promoveu uma mudança abrupta na música nacional, ao unir diversos estilos com o rock, formando uma identidade única, que seria o grande chamariz do movimento conhecido como Tropicália.
Envolto a toda a sua genialidade, Arnaldo Baptista andou boa parte da vida por caminhos tortuosos, envolvido em loucuras, tentativa de suicídio e ostracismo profissional e pessoal; o bastante para lhe dar a aura de mito. O diretor Paulo Henrique Fontenelle, resolveu criar em cima do mito um documentário, que visa não somente glorificar o trabalho do artista, como explicar a sua influência dentro da música.
“Loki” (o título vem de um clássico disco solo de 1974), após ser apresentado em festivais, ganha exibição comercial em algumas capitais do país. “Loki” é daqueles filmes extremamente necessários, que mostram a vida de um ser humano diferente da grande maioria. O longa de Paulo Henrique Fontenelle, consegue envolver o espectador e lhe repassar fartas doses de alegria e tristeza.
A história de Arnaldo é mostrada pelo olhar de amigos, assim como de jornalistas (Tárik de Souza e Nelson Motta) e outros músicos como Tom Zé, Gilberto Gil, Sean Lennon, Devendra Banhart e Kurt Cobain (fã confesso da banda). Dos Mutantes, falam o irmão Sérgio Dias, o baixista Liminha e o baterista Dinho Menezes, faltando evidentemente Rita Lee, que não quis participar do projeto, apesar de ter liberado imagens suas.
Indo desde a primeira banda, O’Seis, até a volta em São Paulo com o show para mais de 80.000 pessoas em 2008, o filme passa pela trajetória dos Mutantes, a saída de Rita Lee e sua separação de Arnaldo, a continuidade dos Mutantes, totalmente sem rumo, as buscas de se reerguer com discos solo e trabalhos com a Patrulha do Espaço, a tentativa de suicídio e a recuperação ao lado de Lucinha Barbosa.
Com muitas imagens raras, que funcionam para dar um charme ainda maior ao trabalho, “Loki” traz genialidade em estado bruto, agregada em música, drogas, brigas, arrependimentos, desvarios, impaciência e pedidos de perdão. É a história de uma vida que ao ser quebrada reencontrou o caminho para seguir em frente. Ao sair do cinema, o sentimento é um misto de fascínio e aperto no coração, sendo impossível ficar indiferente.

domingo, 21 de junho de 2009

"Battle For The Sun" - Placebo - 2009

O Placebo tem lugar de destaque dentro do cenário alternativo dos últimos 12 ou 13 anos pelo menos. Mesmo sem ter lançado nenhum grande disco por completo (talvez, exceção feita ao “Without You I´m Nothing” de 1998), cravou no decorrer dos anos hits como “Every You Every Me”, “Special K” e “This Picture”, que ao lado de outras músicas como “Black-Eyed” e “The Bitter End”, serviram de trilha sonora para muita gente.
A banda de Brian Molko sempre teve três, quatro, ou até mesmo cinco ótimas músicas em seus discos, como por exemplo no bom “Meds” de 2006, último trabalho de estúdio, que trouxe “Drag”, “Infra-Red”, “Blind” e “Song To Say Goodbye”, o que sempre lhes ajudou a cativar fãs e mais fãs e ter um grande repertório em mãos para os shows. Quem já viu a banda ao vivo, sabe que é difícil ficar sem cantar na maior parte do tempo.
“Battle For The Sun”, sexto trabalho da carreira, a principio trazia a mesma expectativa, teríamos algumas canções para entrar nos shows e tocar nas pistas descoladas, entre outras sem tanto brilho. Infelizmente, “Battle For The Sun” passa longe disso. Com produção de David Bottrill (Muse) e mixagem de Alan Moulder (Nine Inch Nails), temos um trabalho que busca uma nova sonoridade, não conseguindo se encontrar.
O baterista Steve Hewitt saiu para a entrada do jovem Steve Forrest e isso é outro ponto negativo. Comparado com Hewitt, o novo integrante perde de goleada. As letras meio depressivas e as baladas de cortar os pulsos, uma marca registrada, estão quase ausentes, assim como o baixo pulsante de Stefan Olsdal. “Battle For The Sun” é sem dúvida o trabalho mais alegre do grupo, não que haja problema nisso, mas tudo soa forçado demais.
O disco vai passando e algumas situações até constrangedoras são apresentadas, como as palmas de “Kitty Litter”, a pretensa alegria de “Bright Lights”, o ritmo de “The Never-Ending Why”, ou a eletrônica inicial de “Julien”. Na sua batalha pelo sol, o Placebo consegue com muita boa vontade adicionar mais duas canções para a lista das suas melhores, “Speaking In Tongues” e “Breathe Underwater”, o que é muito pouco para quem está acostumado a mais.
Sobre “Meds”, passe aqui.
Site Oficial: http://www.placeboworld.co.uk My Space: http://www.myspace.com/placebo

sexta-feira, 19 de junho de 2009

"The Eternal" - Sonic Youth - 2009

Uma banda que chega ao 16º disco de carreira, sem nunca ter abrido mão da sua arte em troca de valores comerciais, merece no mínimo uma longa seqüência de aplausos. Adicione a isso que esse 16º trabalho de estúdio não soa datado, morno e sem inspiração, pelo contrário, esbanja vigor e ótimas canções. Assim é o Sonic Youth, uma das bandas mais importantes da história do rock alternativo e influência para tantas e tantas outras.
Depois de lançar um excelente registro em 2006 (“Rather Ripped”), o Sonic Youth parece ter retomado a velha forma e continua em excelente fase. Em “The Eternal” lançado agora em junho pela Matador Records (o grupo saiu da Geffen), Thurston Moore, Kim Gordon, Lee Ranaldo e Steve Shelley, agora com a ajuda de Mark Ibold (ex-Pavement) no baixo, cravam mais um trabalho de qualidade na sua discografia.
Nos primeiros cinco segundos da música de abertura, “Sacred Trickster”, você já percebe estar na frente de uma canção deles. Kim comanda o vocal em um rock cru de apenas dois minutos e pouco. “Anti-Orgasm” que vem em seguida, lembra bem o “Daydream Nation”, clássico de 1987 e traz Thurston Moore em dueto com Kim Gordon, assim como as tradicionais variações de ritmo nos seus seis minutos de duração.
A partir das duas faixas iniciais, o disco passa por momentos mais curtos e com certo apelo pop em “Leaky Lifeboat (For Gregory Corso)”, “What We Know”, “Poison Arrow”, “Thunderclap For Bobby Pyn” e “Malibu Gas Station”, outros mais longos e viajantes como “Antenna”, “Walkin' Blue” e “Massage The History”, além de coisas mais desvirtuadas e enérgicas como “Calming The Snake” e “No Way”.
Escutar um disco do Sonic Youth é como ver um filme do Woody Allen, ler um livro do Nick Hornby ou assistir um episódio de Friends, já sabemos mais ou menos o que vai acontecer, qual a dinâmica dos acontecimentos e a estrutura em que eles estarão dispostos, mas mesmo assim sempre nos divertimos e no meio de tudo, conseguimos extrair pequenos momentos de rara maestria.
Mais Sonic Youth aqui, aqui e aqui.
Site Oficial:
http://www.sonicyouth.com My Space: http://www.myspace.com/sonicyouth

quarta-feira, 17 de junho de 2009

“Um Romance de Geração” - Sérgio Sant’anna

Refletir os dramas e realizações de uma geração não é tarefa das mais fáceis. Ainda mais de uma geração que esteve na linha de fogo, seja com armas ou com palavras, durante os anos mais tristes da história nacional, quando a ditadura militar aqui se impôs. O escritor carioca Sérgio Sant’anna, responsável por obras do nível de “Confissões de Ralfo” de 1975 e “Um Crime Delicado” de 1997, partiu para essa reflexão, mesmo que de maneira anárquica.
“Um Romance de Geração”, originalmente lançado em 1980, logo após a anistia durante o governo do General Figueiredo em 1979, ganha uma nova edição este ano pela Companhia Das Letras. Formatado em uma estrutura de peça de teatro, que deveria ser de três atos, mas que acabou somente em um, que se estendeu bastante, este romance olha de uma maneira inconseqüente e errática para a herança dos que viveram os anos 60 e 70 no Brasil.
O personagem principal é Carlos Santeiro, um escritor mineiro que apesar de ter lançado um livro de sucesso na época da ditadura, se encontra envolto a fantasmas pessoais, crises existências e falta de inspiração. Carlos recebe em uma noite qualquer no moquifo onde mora em Copacabana, a jornalista Clea, que está escrevendo uma matéria sobre a literatura brasileira no período de regime militar e seus legados.
Ao recebê-la Carlos começa um veemente ato teatral, onde liberta uma verborragia confusa ao mesmo tempo em que fascina, citando durante seus pontos de vista, nomes como Zico, Rimbaud, Edgar Allan Poe, Fernando Pessoa e John Cage. O jogo entre Carlos e Clea, vai ganhando em tensão no decorrer dos diálogos, que variam entre longos monólogos e pequenas passagens repletas de cinismo.
Aditivado com muita vodca barata, o clima do livro vai fluindo para que os dois se entrelacem em uma aventura sexual, que ao que parece já estava mais ou menos programado na cabeça dos dois. Em “Um Romance de Geração”, Sérgio Sant’anna apresenta um retrato nada encantador e repleto de desilusões e perdas de uma época menos encantadora ainda. Interessantíssimo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

"Rock 'n' Roll" - Erasmo Carlos - 2009

“O mundo me chamou pra jogar, vítima de tal esperteza, pus a vida na mesa e resolvi topar, apostei no risco, paguei e não vi...”, canta o eterno tremendão Erasmo Carlos na primeira faixa de seu novo trabalho, intitulado simples e puramente de “Rock 'n’ Roll”, um retrato da sua vida. Erasmo tem moral de sobra para soltar um disco com esse nome, mesmo aos 68 anos, visto que na maioria das vezes se manteve fiel ao estilo no decorrer da sua caminhada.
Mas em 2009, o que podemos esperar de um novo disco do cantor? O de sempre, nada mais. E isso é bom. Sendo detentor de alguns grandes discos da história do rock brazuca, como “Erasmo Carlos e Os Tremendões” de 1970 e “Carlos, Erasmo” de 1971, e bons trabalhos recentes como “Pra Falar de Amor” de 2001 e “Erasmo Convida - Volume II” de 2007, em “Rock 'n’ Roll”, parece que ele novamente se sente totalmente a vontade.
Ao contrário do que o título do trabalho pressupõe, nem só de rock vive o registro. Nas músicas, temos tanto a pegada básica dos anos 50, quanto a sonoridade dos 60 e toques de country e blues, como também há espaço para as tradicionais e famosas baladas. Erasmo esbanja todo seu charme nas doze inéditas que apresenta, indo tranquilamente do romantismo ao brega, do bom humor a ironia.
Liminha foi o responsável pela produção e toca também baixo, guitarra e ukelele. Além dele, algumas feras do circuito nacional marcam presença, como Dadi no baixo e guitarra, Cesinha na bateria e Alex Veley nos teclados, além de Pedro Dias e Luiz Lopes da banda Filhos de Judith nos vocais. As canções são parcerias com Chico Amaral, Nelson Motta, Nando Reis, o próprio Liminha e até Patrícia Travassos.
No geral, sobressaem-se “Jogo Sujo”, “Cover”, com Erasmo brincando na letra, para decretar no encarte: "Ofereço este disco ao meu cover...Que sou eu mesmo", a malandragem de “A Guitarra É Uma Mulher” e “Um Beijo é Um Tiro”, a citação de Sharon Stone, Marisa Monte e Capitu em “Olhar de Mangá”, a autobiografia na triste “Vozes da Solidão” e a diversão de “Noite Perfeita (Uma Farra no Tempo)” e “Encontro às Escuras”.
Aos 68 anos, o “Tiranossaurus Rex” do rock nacional, como escreve Rita Lee em seu site oficial, lança um disco com a sua cara, representando ao fim de tudo e em última análise uma bonita homenagem própria para toda a sua carreira.
Site Oficial: http://www.erasmocarlos.com.br My Space: http://www.myspace.com/erasmocarlos

sábado, 13 de junho de 2009

"Campfire Classics" - Sibrydion - 2009

Castanholas aparecem fazendo um pequeno barulho, quando um tema que poderia muito bem ter saído de um filme do diretor italiano Sérgio Leone abre o caminho, quase mariachi, quase cigano. Na canção seguinte, uma guitarra com um riff rápido, violões, paradinhas e uma melodia a lá anos 60, com alguns “la la las” aparece. Nessa hora chega a pergunta: Que é isso? Isso é o inicio de “Campfire Classics”, o mais recente disco dos galeses do Sibrydion.
O Sibrydion é formado pelos irmãos Meilir Gwynedd (vocal e guitarra) e Osian Gwynedd (teclados), como também por Dan Lawrence (guitarra), Rhys Roberts (baixo), e Dafydd Nant (bateria). “Campfire Classics” é seu terceiro registro, sucedendo “Jig Call” de 2006 e “Simsalabim” de 2007. Os irmãos Gwynedd por terem trabalhado algumas vezes com Gruff Rhys, líder e vocalista do Super Furry Animals, trazem muito deste na sua música.
Os clássicos para fogueiras de acampamento destes galeses, fogem um pouco do lugar comum de 90% das bandas habituais e trazem uma prazerosa mistura de bubblegum, rock e pop sublinhados com uma vasta influência dos anos 60 e dos compatriotas do Super Furry Animals e Gorky's Zygotic Mynci. Os temas das canções trazem pequenas histórias e depoimentos que tratam sobre redenção, amores, vida e morte.
O trabalho é composto por doze canções (sendo a décima terceira um epílogo) e meio que se divide em duas partes, uma mais agitada e outra mais tranquila. Logo após a abertura de western de “God Forgives, I Don´t” e a energia de “Coupe de Grace”, temos a ótima “Desperados”, com a bateria adicionando um powerpop revestido de bubblegum, além de mais sessentismo em “Praying For Rain” e a radiante “Shangri La”.
Um canto de passarinhos antecede os violões de “Summer´s Gone”, começando a segunda metade do trabalho, que tem mais bons momentos como em “Bleeding Heart” (tente não cantar o refrão depois), a curta “Thirteen Days” e em “Rosallyn”, que teve sua origem na noticia de suicídio de uma dançarina. “Campfire Classics” agrada e convence bem além da capa bacaninha que traz um quê de Tim Burton, merecendo tranquilamente a oportunidade de passar algumas vezes pelo seu som.
My Space: http://www.myspace.com/sibrydion

quinta-feira, 11 de junho de 2009

"A Trilogia de Nova York" - Paul Auster

Paul Benjamin Auster é um dos grandes escritores americanos das últimas décadas. Nascido em 03 de fevereiro de 1947, coleciona várias obras excelentes ao longo da carreira, quase todos escritos com extrema maestria. Um dos seus trabalhos mais valorizados é “A Trilogia de Nova York”, publicado originalmente em 1987 e que por aqui ganhou duas edições pela Companhia das Letras, uma em 1999 e outra mais recente em 2007.
O livro é composto por três histórias independentes à primeira vista, “Cidade de Vidro”, “Fantasmas” e “O Quarto Fechado”, que preenchem as 337 páginas do romance. Em todas elas Paul Auster usa um enfoque de cunho policial, calcado em investigações, para maquiar outras questões mais sérias que opta por discutir como a solidão das pessoas, a transformação dessas no decorrer dos anos e a corrupção da sua sanidade.
Na primeira trama chamada “Cidade de Vidro”, Daniel Quinn, um escritor de romance policial, que leva sua vidinha longe dos holofotes da cidade grande, recebe um telefonema no meio da noite de uma mulher que lhe confunde com um detetive particular. Ao aceitar o convite para o trabalho e fazer se passar por outra pessoa, o personagem entra em uma espiral de dúvidas e em certos pontos questiona até mesmo sua própria identidade.
“Fantasmas” traz Blue, um detetive particular contratado por White para vigiar Black (o jogo de palavras é uma marca do escritor). Com o passar do tempo, Blue percebe estar em um beco sem saída e sem respostas. “O Quarto Fechado” conta a história de Fanshawe, que ao desaparecer deixa para trás uma coleção de romances, poesias, sua mulher e filho, junto com uma recomendação para que se procurasse seu melhor amigo para avaliar a obra, e caso valesse a pena, providenciar a publicação.
Nas três histórias que caminham de modo particular até se entrelaçarem na parte final, Paul Auster usa o suspense como a mola para discutir o ser humano. Seus personagens invariavelmente se vêem presos a um destino que não conseguem escapar, por mais que entendam que isso significará sua derrocada. Devaneios e ilusões são o combustível para os questionamentos levantados até sua conclusão, que acaba por deixar mais perguntas que respostas, além de um gosto de quero mais.

terça-feira, 9 de junho de 2009

"Multishow Registro: Vanguart" - 2009

Os cuiabanos do Vanguart vem trilhando um caminho que gradativamente lhes traz projeção e reconhecimento. Mais um passo dessa trajetória foi dado esse ano, com o lançamento do Cd e Dvd “Multishow Registro”, uma parceria entre a rede televisiva de variedades e a Universal Music. Com o projeto, Hélio Flanders & Cia tem uma grande chance de mostrar suas canções e conquistar um público maior.
Vi a banda em 2006, ainda sem lançar o primeiro disco, mas já com o hit “Semafóro” na manga da camisa. A apresentação surpreendeu bastante e a platéia se envolveu bem. De lá para cá muita água passou por debaixo da ponte e o Vanguart que encontramos neste registro ao vivo, exibe uma técnica bem superior e tem a sua disposição uma outra retaguarda de produção, no entanto, alguma energia se perdeu por aí.
A banda consegue fazer o público cantar junto em algumas canções, mas na maioria do tempo temos um não envolvimento da platéia. Tem uma ruivinha por exemplo, que toda vez que aparece está mexendo no celular e de cabeça baixa. No mais, temos um bom show, com alguns momentos altos e outros nem tanto. O Dvd traz 22 canções, enquanto no Cd, são apenas 14, o que acaba por fazer este funcionar melhor.
Hélio Flanders empunhando seu violão com uma rosa vermelha na ponta, comanda os amigos David Dafré (guitarra e vocal), Reginaldo Lincoln (baixo), Luiz Lazzaroto (teclados) e Douglas Godoy (bateria), enquanto apresentam promissoras canções novas como “Entre Ele e Você”, “Promessas de Navegação” e “Hemisfério”, fazem uma releitura bem mediana de “O Mar” do mestre Dorival Caymmi e atacam hits como “Semáforo” e “Cachaça”.
As participações especiais sempre presentes em lançamentos assim, são do quarteto de cordas de Campinas, Mallu Magalhães em “The Last Time I Saw You” em que mais atrapalha que ajuda, Arthur de Faria e seu acordeom em “Robert” e Luiz Carlini, proporcionando o melhor momento do show, com sua slide guitar em “You Know Me So Well”. Outros destaques ficam com “Antes Que Eu Me Esqueça”, “Los Chicos de Ayer” e “Last Days Of Romance”.
Nesse “Multishow Registro” o Vanguart dá mais alguns passos a frente na sua carreira, mas deixa no ar para quem já conhece a banda, que poderia ter sido melhor, com maiores surpresas e emoções.
Site Oficial: http://vanguart.uol.com.br 
My Space: http://www.myspace.com/vanguart

domingo, 7 de junho de 2009

"Estômago" - 2008

Raimundo Nonato chega do nordeste de ônibus na cidade grande para tentar uma melhor sorte na vida, coisa tão costumeira na rotina brasileira. Ao passar cansado e fatigado em um boteco, entra, pede um copo de água e duas coxinhas para lhe acalmar a fome, acabando por dormir no balcão. Quando o dono do local o acorda e manda sair, percebe que não receberá pelo consumo e trata então de oferecer como forma de pagamento uma lavagem na louça suja do bar.
Esse é o ponto de partida de “Estômago”, primeiro filme do diretor Marcos Jorge, premiado com curta metragens e na área publicitária. O roteiro é baseado no conto “Presos Pelo Estômago”, contido no livro “Pólvora, Gorgonzola e Alecrim” de Lusa Silvestre, que assina o mesmo em oito mãos, junto com o diretor Marcos Jorge, a produtora Cláudia da Natividade e Fabrizio Donvito.
Raimundo Nonato (interpretado muito bem por João Miguel) tem sua história contada de dentro de uma cela na prisão no presente e volta mais atrás para mostrar a forma como chegou onde está. Ao ser contratado por Zulmiro (Zeca Cenovicz) no botequim, Raimundo Nonato descobre um talento nato para a cozinha, aperfeiçoando e muito a coxinha do ambiente, virando um sucesso local.
É dentro do botequim, que ele conhece Iria (a ótima Fabiula Nascimento), uma prostituta por qual se apaixona e Giovanni (Carlo Briani), um dono de restaurante italiano que lhe contrata e passa a ensinar uma culinária bem mais pomposa. Enquanto isso, dentro da prisão em que se encontra, Raimundo Nonato vai subindo degraus e sobrevivendo graças ao seu talento culinário, melhorando a comida para o chefe do local, Bujiú (Babu Santana).
“Estômago” é uma trama que versa não somente sobre a força da gastronomia, mas principalmente sobre a influência do poder na vida das pessoas, independente de onde estejam inseridas. Com um roteiro recheado de ótimas frases e repleto de acidez, humor negro e politicamente incorreto, “Estômago” ganha o espectador em sua originalidade e atuações. O filme foi premiado ao redor do mundo e ganhou criticas elogiosas por onde passou. Bem merecidas.

sábado, 6 de junho de 2009

Noite Senhor F Belém - Café Com Arte - Dia 06.06.09

Salve, salve minha gente amiga...

Neste sábado, mais tarde um pouco, acontece mais uma noite Senhor F aqui em Belém do Pará. No palco Stereoscope, Amplificador de Brinquedo e Aeroplano. Nas pick-ups o grande Fernando Rosa do Senhor F e Roberto Figueiredo.

Vale muito a pena. Levante da cadeira e saia para curtir uma ótima noite regada a rock n' roll.

Paz Sempre!!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

"O Exterminador Do Futuro: A Salvação" - 2009

Quando os créditos finais de “O Exterminador do Futuro: A Salvação” começam a aparecer na tela, algumas questões precisam ser esquecidas e relevadas. Primeiro o filme de 2003, que passou muito longe da qualidade dos dois primeiros de 1984 e 1991, segundo a direção de McG, responsável por “clássicos” como “As Panteras”, que não traz nada de novo a trama, como também o ataque de histeria de Christian Bale no set de filmagem, que recheado de palavrões virou hit no youtube.
Esqueça também alguns erros de continuidade que aparecem na trama ou mesmo o roteiro um pouco falho às vezes. Tirando tudo isso de campo, o novo longa da marca Exterminador, diverte muito, principalmente para aqueles que assistiram e curtiram os dois filmes iniciais da série. Christian Bale está devidamente a altura do papel de John Connor, o profeta líder da rebelião dos humanos contra as máquinas.
McG sabe que não estará a altura de James Cameron na direção e por isso repete bastante a fórmula usada pelo antigo diretor da franquia. As câmeras estão sempre perto dos envolvidos, a parte técnica é perfeita e as cenas de ação são de tirar o fôlego. Para compensar a direção, temos um elenco forte com nomes como Bryce Dallas Howard, Sam Worthington, Helena Bonham Carter e Anton Yelchin, além do sempre competente Danny Elfman na trilha sonora.
Na trama, John Connor se vê na frente do que os humanos acreditam ser o golpe final contra a rede mundial de computadores Skynet, ao mesmo tempo em que precisa salvar seu pai Kyle Reese (Anton Yelchin) das mãos dos exterminadores. No meio do seu caminho aparece Marcus (Sam Worthington), que não se lembra de quase nada do seu passado e se tornará crucial na guerra que estará pela frente, apesar da descrença inicial de Connor.
Então “Exterminador do Futuro: A Salvação” é um filme bom no final de tudo? Claro que é! Entre outras coisas temos a voz de Sarah Connor em vários momentos, o ator clássico da série Arnold Schwarzenegger reaparecendo através de computação gráfica, “You Could Be Mine” do Guns n’ Roses tocando de novo e o melhor de tudo, a famosa frase “Eu voltarei”, se faz presente. É só relevar alguns pontos, que a diversão é garantida.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

"Deaths & Entrances" - My Latest Novel - 2009

Abra um vinho, preencha uma taça até a metade, dê o primeiro gole e ligue o som. No player coloque o novo disco dos escoceses do My Latest Novel, “Deaths & Entraces”, lançado em abril de 2009, e se deixe embarcar na viagem que virá a seguir, uma viagem que funciona tanto sozinho quanto bem acompanhado. Os próximos 50 minutos lhe deixarão com um sentimento de tranqüilidade em volta e algumas coisas para pensar.
O quinteto escocês oriundo de uma pequena cidade perto de Glascow, debutou em 2006, com uma boa estréia, chamada “Wolves”. Em 2009, Chris Deveney (vocal, guitarra e baixo), Gary Deveney (vocal e guitarra), Paul McGeachy (guitarra), Laura McFarlane (vocal, violino e piano) e Ryan King (bateria), retornam bem superiores ao primeiro registro, com um disco ao mesmo tempo simples e existencial.
A banda carrega na sua sonoridade semelhanças com Arcade Fire, The National, Delgados e Architecture In Helsinki, construindo um folk melancólico com tons de épico em diversas passagens. “Deaths & Entrances” traz nas suas letras, versos sobre sonhos, conquistas e principalmente muitas dúvidas. A inspiração literária é bastante presente, eles mesmos citam o poeta Dylan Thomas e o escritor Edgar Allan Poe como influências.
“All In All In All Is All” que abre o trabalho, tem os vocais se sobrepondo até chegar a um determinado momento que três melodias vão sendo guiadas, criando um pequeno mosaico envolvente e bonito. A toada segue sempre na mesma linha, com melodias banhadas a ouro, cantadas brilhantemente e acompanhadas de violões, guitarras, violinos e xilophones. Chega um ponto em que fica meio complicado até mesmo respirar.
A viagem atinge ápices no seu andamento, quando por exemplo passa por faixas como “Dragonhide”, “Argument Against The Man”, “If The Accident Will” e “Hopelessly Endlessly” . O segundo trabalho do My Latest Novel é uma pequena jóia e mostra uma banda consciente do que quer e pode conseguir. Se o vinho acabar, se acanhe não, abra outra garrafa e embarque novamente a bordo deste “Deaths & Entrances”.
Site Oficial: http://www.mylatestnovel.com My Space: http://www.myspace.com/mylatestnovel

segunda-feira, 1 de junho de 2009

"Together Trough Life" - Bob Dylan - 2009

Quando um novo disco de Bob Dylan é lançado, logo temos uma corrida pelos significados das letras, as mensagens que ali estão incluídas, os novos toques do antigo poeta e trovador ou os pensamentos de sabedoria que serão alardeados pelo tempo. Isso é para os outros, mas ao que tudo indica, para Robert Allen Zimmerman, um ícone do rock e da cultura pop, hoje com seus 68 anos, a única coisa que importa é fazer música. “Together Trough Life”, lançado este ano, é o responsável por suceder o bonito “Modern Times” de 2006, além de entrar em uma esteira de discos lançados nessa década que possuem alta qualidade. No seu novo trabalho, Dylan traz dez canções em pouco mais de 45 minutos, que exalam um sabor dos anos 40 e 50, tendo o blues como a matriz principal, exposto em uma produção crua e simples que coube ao próprio músico, sobre o já conhecido pseudônimo de Jack Frost. O álbum nasceu de um convite do diretor francês Olivier Dahan para que o músico fizesse algumas canções para seu novo filme. A primeira a nascer foi “Life Is Hard”, que versa sobre tempos difíceis e solidão. Na sua sequência vieram as demais faixas, que foram mais ou menos feitas em função da primeira e do convite do amigo diretor. Pela primeira vez em muito tempo Dylan não está só, quase todas as músicas são em parcerias com Robert Hunter (Ex-Grateful Dead). Além de Hunter, marcam presença David Hidalgo do Los Lobos, responsável por ótimos momentos com o seu acordeom e Mike Campbell dos Heartbreakers nas guitarras. “Together Trough Life” começa com teclados e metais metidos em um blues vigoroso em “Beyond Here Lies Nothin’”, para depois passear por baladas como a já citada “Life Is Hard”, a procura por redenção de “If You Ever Go To Houston”, a profética “This Dream Of You” , para fechar cheio de energia com “It's All Good”. No meio de tanto hype e tantas bandas se repetindo dia a dia, escutar um novo disco de Bob Dylan é sempre um alívio e uma renovação da crença nas boas canções. É claro que “Together Trough Life”, não é comparável aos clássicos do artista, essa comparação além de injusta é ridícula, mas consegue manter o nível de qualidade em cima. Além do mais, canções como “Jolene” e “I Feel A Change Comin On’” valem muito mais do que a grande maioria do que se encontra por aí. Só elas já valeriam o disco. Site Oficial: http://www.bobdylan.com Sobre “Modern Times”, disco de 2006, passe aqui.