Eis uma bela
pedida para quem está no estado de São Paulo entre 14 e 17 de junho. Vai rolar
o “Santos Jazz Festival” na cidade de Santos, com programação gratuita e grandes
nomes do gênero. Hermeto Pascoal será o patrono da 1ª edição.
Leia mais:
“Com o
objetivo de democratizar o acesso à música de qualidade e estabelecer o
município de Santos como referência no fomento musical, será realizado, de 14 a 17 de junho, o 1º Santos
Jazz Festival (www.santosjazzfestival.com.br).
Trata-se do primeiro grande festival de jazz do litoral paulista, apoiado pela Lei
Rouanet. Serão vinte apresentações, mais oficinas, todas gratuitas, em ruas e
boulevares do Centro Histórico, Bolsa Oficial do Café e teatros Coliseu e Guarany.
Para
começar com o pé direito, o festival terá como patrono Hermeto Pascoal.
Celebrado internacionalmente, o compositor, arranjador e instrumentista de 76
anos fará o show de abertura, ao lado da Orquestra Sinfônica de Santos e da
Jazz Big Band. Na programação, constam outros nomes reconhecidos nacionalmente
e fora do Brasil, a exemplo de Yamandu Costa, Heraldo do Monte, Arismar
Espírito Santo, André Christovam e Delicatessen.”
O Santos
Jazz Festival também está nas redes sociais. Acompanhe:
A HBO cada vez mais se consolida no
mercado norte-americano de geração de séries, com um aproveitamento qualitativo
elevadíssimo. Como política própria, a empresa também busca produtos, em
parceria ou não, que a identifiquem nos mercados explorados, como é o caso da
HBO América Latina. Essa política já gerou bons frutos no Brasil com “Filhos do
Carnaval” e “Alice” e se prolongou em outros países como México, Argentina e
Chile.
“Preamar” é a nova aposta do grupo e estreou dia 06 de maio, com
exibições semanais às 21:00hs nos domingos. Criada por Estevão Ciavatta,
Patrícia Andrade e William Vorhees, tem produção da Pindorama Filmes e roteiro
assinado pelos criadores em conjunto com Jô Hallack. Na série trata-se principalmente
sobre a derrocada de uma família bem-sucedida do Rio de Janeiro e a
transformação que se faz imperativa para todos que estão envolvidos.
Tudo começa com João Ricardo
Velasco (Leonardo Franco), um sócio de banco de investimentos que ostenta uma
vida confortável e cercada por luxos. Reside em um prédio na Avenida Viera
Souto em Ipanema, de frente para o mar e de todos os encantos da cidade
maravilhosa. A família é composta pela esposa Isabel (a ótima Paloma Riani) e
os filhos Fred (Hugo Bonemer) e Manu (Jessika Alves), com os quais o pai tem
pouco contato real.
Em virtude de uma grande jogada
financeira feita de modo equivocado, João Ricardo é “convidado” a sair do Banco
e têm os bens confiscados, exceção feita ao prédio onde mora que está no nome
da esposa. Sem muitas explicações dessa jogada, a trama coloca o patriarca pela
primeira vez em muito tempo na rotina da família e ele passa a perceber que não
conhece quase nada do funcionamento daquela casa, assim como dos desejos e
aflições dos seus habitantes.
Sem saber como repassar a notícia,
ele inventa uma desculpa qualquer e se prepara para manter as aparências e
pensar nos dias vindouros. É quando percebe o grande mercado informal que se
desenrola praticamente na porta da sua casa. Ajudado pelo servente Biu
(Sóstenes Vidal), resolve aplicar seus conhecimentos para esses negócios e
entra em contato com o dono do pedaço chamado Xerife (o experiente Ricardo
Bonfim) e seu auxiliar Wallace (o cantor Mumuzinho).
“Preamar” apresenta uma jornada de descobrimento e aproveita
para surfar um pouco nas ondas dos mercados de investimentos, como também tratar de
relações pessoais, ambições e orgulho. No recheio disso coloca drogas, prostituição e
transações questionáveis. Com um elenco composto na maioria por nomes
desconhecidos, busca se encontrar em atuações ainda cambaleantes, mas com potencial
de reverter esse quadro através da história, enquanto olha as belezas da cidade
que lhe serve de abrigo.
É comum que a história de um
livro ou de um filme encontre o personagem principal em algum ponto de
deslocamento, de mudança. Nesse período, igualmente é comum esse personagem
relembrar ou ter narrada a sua vida passada, a fim de justificar os atos atuais
e assim legitimar ações e sentimentos. E é assim que se encontra Miles Heller
em “Sunset Park”, livro de Paul
Auster que a Companhia das Letras publica agora com 280 páginas e tradução de
Rubens Figueiredo.
Atualmente com 65 anos e mais de
uma dezena de livros publicados, Paul Auster escolhe nesse novo romance passear
pelo condado do Brooklyn em Nova York, um lugar que conhece tão bem. O nome vem
de um bairro da região que abriga um número acentuado de imigrantes e que
sofreu como o restante do país com a crise imobiliária e financeira de 2008,
ano onde a trama realmente se desenvolve mais. A crise, aliás, é uma coadjuvante
importante para o contexto geral.
“Num mundo que desmorona, num mundo de ruína econômica e de agruras
implacáveis”, como o próprio autor escreve logo no princípio, as pessoas
tentam se equilibrar e seguir adiante. Miles Heller entra mais de cabeça nesse
mundo quando depois de mais de sete anos sem dar notícias aos pais, acaba
retornando a Nova York fugindo de dramas vinculados a paixão que começou a dar
sentido novamente a sua amortecida vida, uma jovem garota de nome Pilar.
Essa fuga o direciona para uma
casa desbotada e estilhaçada que passa a ocupar junto com outras três pessoas.
A invasão tem como cúmplices o velho amigo Bing Nathan, a única pessoa da
antiga vida que manteve contato durante os anos, e mais Alice Bergstrom, uma idealista
em busca do doutorado, e Elle Brice, uma pintora amargurada que trabalha como
corretora de imóveis. Do outro lado estão os pais divorciados, um respeitado
proprietário de editora e uma atriz de sucesso.
Em “Sunset Park” nos deparamos com temas tão comuns a Paul Auster como
a solidão das pessoas, no entanto, de modo menos mascarado que em outras
oportunidades. Os personagens são solitários em sua maioria, embora estejam em
alguns casos envolvidos com várias pessoas. Esse sentimento de isolamento
aparece por várias vertentes, sejam elas sociais ou profissionais e se
entrelaçam com culpas e uma permanente tensão sexual se escondendo atrás das
cortinas.
Desvencilhando individualmente
cada indivíduo, o autor cria um território próprio para cada um mostrar suas
dores e complicações, sem se esquecer de contrabalançar com a trama coletiva.
Essa separação rende ocasiões sensacionais, como em um capítulo dedicado a
Alice Bergstrom onde as dúvidas do relacionamento afetivo forjam uma conexão
com o filme “Os Melhores Anos de Nossas Vidas”, um drama do pós-guerra dirigido
por William Wyler em 1946.
Mesmo sem ser brilhante, Paul
Auster assume em “Sunset Park” que o conceito conhecido como América está
esgotado e cutuca o governo com poucas, mas ótimas, frases. Além disso, analisa
uma geração que sente necessidade constante de se comunicar sem que isso necessariamente
represente acréscimo na vida de alguém. Para a maior parte dos personagens os dias
dourados ficaram para trás e os arrependimentos pelos atos praticados não são
suficientes para retomar o futuro que um dia fora sonhado.
Entre aquelas pessoas que produzem
algo de esplêndido na vida, algumas atingem essa façanha logo nas primeiras
investidas, outras demoram a vida toda e só conseguem obter esse resultado já nos
últimos anos de existência. Contudo existe um terceiro grupo. Esse grupo é
composto por indivíduos que gradualmente crescem a cada ano, a cada nova
empreitada, a cada novo projeto e que vez ou outra preenchem os espaços com
acessos de brilhantismo até chegar ao ápice tão desejado. Jack White faz parte
desse time.
Prestes a completar 37 anos, esse
norte-americano nascido na industrial cidade de Detroit no estado do Michigan,
apareceu verdadeiramente para o mundo da música em 1999 com o registro de
estreia do White Stripes. Uma década de discos depois alcançou o reconhecimento
dentro do mundo alternativo e fora dele ganhou respeito de nomes de peso do
rock internacional como retratado no documentário “A Todo Volume” de 2009,
estrelado por ele em conjunto com Jimmy Page (Led Zeppelin) e The Edge (U2).
Sempre inquieto, Jack White encabeçou
outros projetos (The Racounters/The Dead Weather), montou uma gravadora e
começou a produzir no atacado. Com o anunciado fim do White Stripes ano
passado, chegou então a hora de um trabalho solo. “Blunderbuss” tem lançamento pela Third Man Records e em pouco mais
de 40 minutos mostra a mesma essência anterior, porém com leves mudanças na
apresentação, como também um preenchimento mais completo, onde todos os
instrumentos (tocados por ele mesmo) aparecem.
“Blunderbuss” não evidencia o artista andando por outros caminhos.
As preferências batem ponto com frequência como o blues, country, rock
setentista, garage rock, folk e bluegrass, estes dois últimos com uma
participação maior que outrora, mas nada tão incisivo. A mudança chega por
outro viés. Como o escritor C.S. Lewis disse: “Mera mudança não é crescimento. Crescimento é a síntese de mudança e
continuidade, e onde não há continuidade não há crescimento”, o que cai
como uma luva para Jack White nesse momento.
As 13 faixas do álbum refletem claramente
a pequena mutação que Nashville exerce atualmente sobre suas composições e não
fogem, obviamente, de apresentar letras pessoais que tratam tanto do final da
ex-banda, quanto do casamento com a modelo Karen Elson que igualmente se foi em
2011. Com pianos e violões mais presentes, Jack White proporciona ao ouvinte
uma pequena jornada pelos estilos que admira, indo desde as repetições da
abertura de “Missing Pieces” até as variações finais de “Take Me with You When
You Go”.
O meio desses dois pólos é
preenchido por faixas que remetem a antiga banda como “Sixteen Saltines” e “Freedom
at 21”, essa com um riff simples e marcante. Se estende por “Love Interruption”
que remete a fase “III” do Led Zeppelin e apresenta uma das letras mais significativas,
com o amor sendo requerido de modo quase que desesperado. Os anos 70 também
estão vivos na balada da faixa-título e na absolutamente vintage “On and On and
On” que apresenta um riff notável em cima da bela melodia que lembra Paul
McCartney.
As baladas comparecem em número
relevante e vão desde o piano com ecos de Tom Waits de “Hypocritical Kiss”,
onde Jack White busca esquecer o que passou na letra, até a experimental “I
Guess I Should Go to Sleep”, com alguns interessantes toques de jazz. Para compensar
na energia surgem do outro lado coisas como “I'm Shakin'”, um rockabilly dos
anos 50 clássico, porém sujo, com direito a palmas, backing vocals e guitarras
distorcidas, além do pop grudento com raízes tradicionais de “Hip (Eponymous)
Poor Boy”.
“Blunderbuss” é um disco que mostra um artista no apogeu da sua
carreira profissional. Seguro e abarcando todas as etapas de concepção, partindo
da criação e chegando até a distribuição, mostra que é possível se adequar aos
tempos modernos usando bases mais antigas. Almeja (e consegue) revigorar o rock
atual privilegiando sonoridades passadas e corresponde as expectativas,
corroborando a assertiva de que grandes realizações sempre acontecem em uma
estrutura de grandes expectativas. Uma assertiva que Jack White tirou de letra.
Muito provavelmente “Kind Of
Blue” é o disco de jazz mais conhecido de todos os tempos. Com ele, Miles Davis
recondicionou o estilo e a própria carreira e desde que foi lançado nos Estados
Unidos em 17 de agosto de 1959 recebeu reedições diversas, além de textos e
livros que permeiam sua concepção como o ótimo “Kind Of Blue - A história da obra-prima
de Miles Davis” de Ashley Kahn que a Editora Barracuda lançou por aqui em 2007.
Em “Kind Of Blue - Miles Davis e o álbum que reinventou a música moderna”,
o inglês Richard Williams opta por outro caminho. Antes de falar sobre o álbum,
tenta estabelecer paradigmas sobre o antes e conjecturas sobre o depois. Visa não
somente explanar como o músico foi se dirigindo ao momento da criação que
resultou no registro, mas também tratar dos efeitos que essa obra exerceu na
época, assim como posteriormente foi demonstrando a cada ano.
Com 288 páginas, tradução de Fal
Azevedo e publicação pela Casa da Palavra em 2011, o livro atravessa os
momentos anteriores ao “Kind Of Blue” como a fase dentro do bebop, a primeira
turnê pela Europa, o envolvimento com a heroína e o encarceramento na Riker’s
Island. Ao desembarcar em “Miles Ahead” de 1957, mostra uma mudança
significativa quando ocorre a troca (nesse disco) do trompete em favor do
flugelhorn, pavimentando assim importantes estradas.
Na busca por uma nova forma de
abordar a harmonia, Davis foi propositalmente atenuando o ritmo e desacelerando
o estilo de tocar em uma época onde era crescente o interesse pela arte em
geral, se colocando assim na vanguarda do período. E no porão de uma igreja
ortodoxa armênia com reverberação de três segundos convertida em estúdio em
Nova York, gravou um álbum onde as vozes nunca se erguem e o timbre de cada
instrumento é unicamente realçado.
Richard Williams então de modo
técnico e extensivo mostra como as cinco peças foram previamente construídas na
cabeça de Davis e depois executadas por um timaço que contava com Julian
“Cannonball” Adderley no saxofone alto, John Coltrane no saxofone tenor, Bill
Evans no piano, Paul Chambers no contrabaixo e Jimmy Cobb na bateria, sendo que
em “Freddie Freeloader” é Wynton Kelly quem assume a missão de conduzir o piano
durante a faixa.
Usando a palavra “azul” como
parâmetro, o autor mergulha bastante em direção a correlações e explicações, o
que em parte do livro parece mais um exercício de conhecimento, do que
propriamente didático ou narrativo. Organizados como se fossem ensaios, os
capítulos se sobressaem em “O Momento Azul”, onde versa sobre o disco em si,
“Azul Escuro” onde usa o Velvet Underground como extensão de influência e
“Código Azul”, onde faz o mesmo com Brian Eno.
Aliás, na viagem de influências
que o autor busca alcançar partindo de “Kind Of Blue” é que a obra fica mais interessante
e se descentraliza em uma lista que mesmo sendo diversa, aparece repleta de
boas razões para o entendimento. A paixão por Miles Davis fica evidente no
texto, o que acaba atrapalhando um pouco e resulta em ligações às vezes
imprecisas e outras magistrais como quando utiliza o existencialismo em relação
à obra dos cineastas italianos Fellini e Antonioni.
Com um conhecimento evidente
sobre o tema, Richard Williams explora a música de “Kind Of Blue” e o poder que
este álbum exerceu nas camadas mais profundas da música, baseado em uma ampla
lista de referências que demonstra no final. Adotando uma linguagem
especializada que às vezes se volta contra si, não se abstêm em traçar seus
panoramas usando levemente os mesmos moldes experimentais que esse belo de
registro de 1959 se baseou e fez história.
“Two Of Us” dos Beatles toca ao
fundo enquanto um jovem vestido de terno passa um giz branco contornando o corpo
deitado na rua. A cena exibida sem pressa e que se alonga depois para a cidade faz
o espectador se interessar logo de cara e é um bonito gol que o diretor Gus Van
Sant marca na entrada de “Inquietos”
(‘Restless’, no original). O filme do
ano passado ganhou lançamento recentemente em DVD aqui no país.
Gus Van Sant vinha de um bom
trabalho anterior (“Milk - A Voz da Igualdade” de 2008) e deixava expectativa
para o que apresentaria na sequência. Tipo de diretor que pode facilmente ser
tanto amado quanto odiado, preencheu a carreira com películas como “Drugstore
Cowboy” de 1989 e “Gênio Indomável” de 1997, porém está devendo há algum tempo
algo do mesmo nível (“Elefante” de 2003 é razoável e nada além).
E não é com “Inquietos” que ele paga essa dívida. No longa conhecemos Enoch
Brae (o estreante Henry Hopper, filho do ator Dennis Hopper), o rapaz que passa
giz em volta do corpo. Estranho e reservado possui como atividade principal
frequentar velórios como penetra. Em um desses funerais encontra por acaso
Annabel Cotton, a bela e competente Mia Wasikowska do “Alice No País das
Maravilhas” de Tim Burton.
O caminho dos dois começa a se
cruzar com frequência, seja por sorte ou por causa de uma pequena ajuda das
partes, e não demora para que um relacionamento amigável se estabeleça. Os dois
carregam dores próprias e uma relação bem particular com a morte e o convívio proporciona
uma espécie de alívio para essas dores. E a partir disso que o roteiro de Jason
Lew já escancara e anuncia a direção básica pela qual o filme será conduzido.
Nesse escancaramento é que “Inquietos” se perde e não consegue se firmar.
Nos primeiros 20, 25 minutos iniciais já dá para desenhar o futuro dos
personagens com grande exatidão. Já que a surpresa foi logo descartada do
roteiro de opções, a intensidade com que a história se desenvolve passa a ser o
principal e nesta, apesar de algumas cenas realmente interessantes, Gus Van
Sant também não consegue inserir aquilo que almejava.
“Inquietos” tem uma eficiente trilha sonora nas mãos do grande
Danny Elfman e traz nomes como o diretor Ron Howard e a atriz Bryce Dallas
Howard na produção, mas é um projeto que fracassa nos seus objetivos. Ao escolher
a juventude para tratar de temas complicados como mortalidade e medo, Gus Van
Sant não brilha e mergulha o seu mais recente trabalho no abarrotado mar de
razoabilidade que se habituou a visitar.
Gilbert Shelton nasceu em 1940 no
conservador estado do Texas nos Estados Unidos. No entanto, para o bem dele e
dos quadrinhos não herdou quase nada do ranço reacionário que predomina por lá.
Pelo contrário, entrou de cabeça na contracultura das décadas citadas e criou
os Fabulous Furry Freak Brothers, um trio de hippies loucões que usava para
bombardear não só os costumes específicos dessa geração, como também
instituições diversas, sem nunca exercer o dom do perdão.
Os seus personagens mais famosos
foram os únicos que ganharam edição nacional por aqui em dois livros lançados
pela Conrad Editora em 2004 e 2005, que agora também é a responsável por diminuir
um pouco essa ausência. Publicado lá fora em 2010, “Not Quite Dead - O Último Show” (“Not Quite Dead: Last Gig in Shnagrlig”, no original) ganha edição
nacional com formato de 21 x 27cm e 48 páginas traduzidas por Ludimila
Hashimoto. É a estreia dessas figuraças em solo nacional.
A série “Not Quite Dead” deu os primeiros passos em 1992 e de lá para cá
estrelou quatro livros, conduzidos do modo calmo e tranquilo do autor. Nela,
Gilbert Shelton espelha a “banda de rock menos famosa do mundo”, que é tão
desconhecida que nunca chegou a sequer pagar algum imposto e o máximo que
consegue é tocar as terças em um bar. O grupo é formado por Cat Wittington,
Elephant Fingers, Thor, Sweet Eddie e Felonious Punk, além do faz-tudo Gnarly
Charlie.
O álbum que a Conrad apresenta
agora pega essa banda recebendo uma notícia fantástica para as suas aspirações:
vão realizar um show internacional. Motivados e cheios de esperança, eles não
tem conhecimento, no entanto, que são parte de um plano repleto de disparates
de um órgão secreto do governo americano para provocar guerra em um longínquo
país com o intuito primordial de conquistar pretensos recursos naturais. E
claro, precisam de um motivo para tanto.
Com ilustrações do francês Pic,
Gilbert Shelton guia a Not Quite Dead em uma trama surreal e repleta de
insanidades, onde pelo caminho critica o país onde nasceu (há tempos ele mora
na França), assim como condutas políticas e religiosas exercidas por meio do
radicalismo. Utilizando a música que sempre esteve presente na sua obra, aplica
novamente altas doses de humor na veia do leitor e para não perder o costume,
mesmo próximo dos 72 anos, continua não perdoando ninguém.
P.S: Na verdade, não se trata do último show do Not Quite Dead. Em
entrevista recente o autor disse que continuará escrevendo sobre os
personagens, porém a tradução perdeu um pouco do sentido do título inspirado no
filme “O Último Tango Em Paris”.
Passava um pouco da meia-noite e
meia quando os norte americanos do Nada Surf subiram ao palco do Hotel Gold Mar
em Belém para começar sua apresentação. O sábado de 5 de maio se anunciava
ainda preguiçoso nas margens da Baía do Guajará enquanto o público presente
escutava os primeiros acordes de “Clear Eye Clouded Mind”, que foi seguida pela
melódica “Waiting For Something”, ambas integrantes do novo registro da banda,
intitulado “The Stars Are Indifferent to Astronomy”.
Antes de falar sobre o show em
si, é bom analisar um pouco o panorama geral do evento. Por diversos motivos,
entre os quais distância dos grandes centros e público interessado, Belém
sempre fica fora das turnês internacionais que desembarcam no país. Isso até
que sofreu algumas mudanças recentes com a passagem por aqui de nomes como Iron
Maiden e Deep Purple, além de bons nomes do mercado alternativo como Shout Out
Louds e El Cuarteto de Nós, ainda que esses últimos em festivais.
Como show individual, por assim
dizer, o Nada Surf talvez fosse a primeira grande aposta, pois apesar dos 20
anos de estrada completados em 2012, a banda sempre ficou no cenário mediano do
rock internacional. A aposta do pessoal da SeRasgum então tinha certo grau de
risco, visto que o discurso do público da cidade e a sua real participação
sempre mantiveram certa distância. Em um local bacana, mas que dificulta um
pouco para quem precisa de transporte público, isso agrava-se um pouco mais.
Dentro desse cenário foi
satisfatório – pelo menos na concepção visual – a presença do público, que
antes do Nada Surf ainda teve exibições do Turbo, Elder Effe e banda e The
Baudelaires. O respeito aos horários acabou não me deixando ver os dois
primeiros, porém se mostrou como uma das coisas positivas do evento, pois é
cultural na cidade o desrespeito quanto a isso. Fica a torcida para que no
futuro essa decisão seja mantida, o que servirá indiretamente para uma mudança
do próprio mercado.
Colocado o que dispôs-se acima, o
show do Nada Surf foi agradável e fez valer a presença. O vocalista e
guitarrista Matthew Caws esbanjava simpatia e servia as canções com o auxílio
dos velhos parceiros Daniel Lorca (baixo) e Ira Elliot (bateria), além dos
convidados Doug Gillard (ex-Guided By Voices) na outra guitarra e Martin Wenk
(Calexico) nos teclados. Suando uma barbaridade, falou sobre a felicidade de
estar na Amazônia e verteu elogios ao trabalho do Greenpeace (que tinha um
barco ancorado na cidade).
Esse envolvimento ambiental, com
direito a bandeira de “Desmatamento Zero” no palco, às vezes soou pedante, mas
não incomodou tanto quanto o estado de “travamento total” do baixista Daniel
Lorca, que foi devidamente comparado por alguns ao Wanderley Andrade, um dos ícones
do brega local. O público mais jovem se alternando entre celulares e conversas
na frente do palco, igualmente não foi o que se esperava para quem sai de casa
para assistir a um show, mas não difere em nada do resto do país. (In)felizes
tempos modernos.
Usando bem o novo
disco, com direito a boas versões de “Teenage Dreams” e “When I Was Young”,
além de sucessos da carreira como “Happy Kid”, “Always Love” e “Popular”, sem
contar com a porrada de “Blankest Year” usada para terminar tudo, o Nada Surf
fez um show pulsante e agregou um público, que de certo modo, é muito carente
por eventos do tipo. Bastou sorrisos, simplicidade e canções para serem
cantadas de pulmões abertos, para deixar a mangueirosa de bem com a vida. Não
foi espetacular ou sensacional, mas afinal de contas o que hoje em dia pode ser
classificado assim?
Nos
sete minutos e sete segundos da faixa que encerra o álbum “Blues Funeral”, Mark
Lanegan apresenta angústia e um leve desespero nos versos que conduz sobre uma
base quebrada e de clima carregado. Nas frases da canção rasga revistas e
livros, mantêm a mágoa por perto e tenta extrair alguma verdade dos fatos em
sua volta. É difícil para ele assumir o que quer que tenha feito, apesar de
saber que não tem mais volta. “Tiny Grain Of Truth” é a última dose servida em
uma noite repleta de incertezas.
“Blues Funeral” é o sétimo disco solo do ex-Screaming
Trees e exibe no conteúdo a mesma carga intensa que permeou não somente os
tempos com a ótima banda de Seattle, como também os projetos com o Queens Of
The Stone Age, Isobel Campbell, Soulsavers e Gutter Twins. Lançado com o nome
de Mark Lanegan Band (que não utilizava desde “Bebblegum” de 2004) é o primeiro
pelo selo 4AD, casa onde nomes como Bon Iver, Tv On The Radio, Pixies e Cocteau
Twins já passaram ou ainda habitam.
Produzido
pelo amigo Alain Johannes (Eleven, Them Crooked Vultures) e com participações
de outros como Jack Irons, Greg Dulli e Josh Homme, o músico optou em mudar a
forma com que exibia suas canções. O novo trabalho esquece os violões tão
utilizados em outrora e resume as guitarras a coadjuvantes (ainda que fundamentais),
deixando a linha de frente ocupada por sintetizadores e programações
eletrônicas, rememorando assim a música mais soturna que o pós-punk dos anos 80
(Joy Division e afins) produziu.
“The
Gravedigger's Song” usa inglês e francês para falar de um amor que serve como
alívio, enquanto “Bleeding Muddy Waters” homenageia o bluesman e faz Lanegan
sentir e sangrar. “St. Louis Elegy” emerge com morte e religião e “Riot In My
House” é um dos raros rocks do disco (o outro é “Quiver Syndrome”), com
guitarras gritando ao fundo do caos e tumulto citados na letra. Em “Ode To Sad
Disco” temos um dance que foi deposto do seu lugar e “Phantasmagoria Blues” se
assemelha mais com as coisas antigas.
Esse
novo registro mostra um artista que apesar dos anos de carreira, ainda se mostra
interessado em confrontar a si mesmo. Pode-se até dizer que os assuntos são
repetitivos, porém a vida sempre será rica em dores, sofrimentos e aflição. Da
sua geração, Mark Lanegan é aquele que mais sabe criar em cima desses temas.
Essa habilidade (boa ou má, quem saberá dizer?)
continua a gerar uma obra que foge da obviedade e serve como ferramenta para
acalmar as próprias inquietudes. “Blues
Funeral” é o mais recente exemplo disso.