quinta-feira, 14 de maio de 2020

Quadrinhos: "Segunda-Feira Eu Paro", "Berserker Unbound", "Mjadra" e "A Gangue da Margem Esquerda"


Ninguém entra e segue na vida adulta sem vícios, essa é verdade. Esses vícios podem ser disfarçados ou evidentes, podem prejudicar ou servir de alívio, podem destruir ou alavancar, mas estão presentes na jornada de cada um. E é sobre vícios que a antologia de quadrinhos “Segunda-Feira Eu Paro” se baseia e engendra as 14 histórias em preto e branco que compõem o volume de 132 páginas publicado de maneira independente no final de 2019. Com organização de Carlos Jenisch temos nomes conhecidos da cena nacional como Aline Zouvi, Luiza Nasser, Dieferson Trindade, Edson Bortolotte e Gabriel Dantas, entre outros autores. Das histórias as que se destacam mais são “Lama” da Diana Salu e “Café e Cigarros” do Bruno Guma, contudo como um todo o trabalho agrada bem, mesmo que falte uma coesão maior em torno do tema explorado que em algumas tramas acaba não sendo utilizado de modo eficaz.

Nota: 6,0



Juntar Jeff Lemire e o brasileiro Mike Deodato Jr. em um projeto é algo positivo de antemão. Foi o que fez a Dark Horse Comics em “Berserker Unbound” unindo novamente a dupla que fez sucesso em série recente do Thanos com mais as cores de Frank Martin. Lançado nos USA em 2019 em quatro meses ganhou edição brazuca caprichada em 2020 pela editora Mino com 136 páginas. A história apresenta um guerreiro que é arremessado do seu reino de magia para uma grande cidade dos nossos dias. Fala de vingança, dor, culpa, perda e amizade, por mais improvável que essa seja. No cerne é uma trama simples e meio óbvia, mas que por conta da maneira que Lemire constrói o texto acaba deslanchando. No entanto, o destaque é a arte do Deodato, que beira o sublime. É por ela que o trabalho consegue amplitude e ofusca o parceiro igualmente famoso.

Nota: 7,0



Thiago Ossostortos tem trabalhos interessantes na carreira como o jovial “Kombi 95” e o lírico “Os Últimos Dias do Xerife”. Em 2019 publicou outro quadrinho de maneira independente chamado “Mjadra”, uma história que retoma bases queridas como a música e a nostalgia. O protagonista é Derick, um ex-VJ da MTV que ninguém lembra mais. Com a derrocada do casamento ele retorna para morar no mesmo lugar de quando jovem, um retorno típico de quem busca uma sobrevida ou algum tipo de redenção, mas que acaba não surtindo efeito. Derick é um cara amargurado, cheio de bagagem ruim nas costas e acaba interferindo na vida de outras pessoas de maneira contundente. Com 144 páginas e magnificamente pintada a guache, “Mjadra” é sobre não saber seguir em frente e sobre não aceitar que a vida não foi como se sonhou, sendo regada a ótimas cores, canções e uma dose satisfatória de psicodelia.

Nota: 7,5



Paris, anos 20. A cidade luz ferve nas esquinas, bares e cafés. Nessa época o norueguês Jason transforma Ezra Pound, James Joyce, F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway em quadrinistas que procuram sobreviver entre um trabalho e outro, uma cobrança familiar e um desespero para pagar as contas, entre um bate papo e uma crise emocional. Desgostosos com os rumos da carreira resolvem fazer um assalto, que nesse entendimento seria a maneira de descolar uma grana e salvar o dia, o mês, o ano. Vencedor do prêmio Eisner de Melhor Título Estrangeiro em 2007, “A Gangue da Margem Esquerda” é provavelmente o trabalho mais conhecido de Jason e agora em 2020 desembarca no país pela editora Minio com 48 páginas. Unindo diversão, o uso de referências inteligentes, resoluções gráficas certeiras, reviravoltas inesperadas e aquele toque diferente que sempre o autor demonstra é um título que não tem como dar errado.

Nota: 9,0