Ninguém entra e segue na vida
adulta sem vícios, essa é verdade. Esses vícios podem ser disfarçados ou evidentes,
podem prejudicar ou servir de alívio, podem destruir ou alavancar, mas estão presentes
na jornada de cada um. E é sobre vícios que a antologia de quadrinhos “Segunda-Feira
Eu Paro” se baseia e engendra as 14 histórias em preto e branco que compõem
o volume de 132 páginas publicado de maneira independente no final de 2019. Com
organização de Carlos Jenisch temos nomes conhecidos da cena nacional como
Aline Zouvi, Luiza Nasser, Dieferson Trindade, Edson Bortolotte e Gabriel
Dantas, entre outros autores. Das histórias as que se destacam mais são “Lama” da
Diana Salu e “Café e Cigarros” do Bruno Guma, contudo como um todo o trabalho
agrada bem, mesmo que falte uma coesão maior em torno do tema explorado que em algumas
tramas acaba não sendo utilizado de modo eficaz.
Nota: 6,0
Juntar Jeff Lemire e o brasileiro
Mike Deodato Jr. em um projeto é algo positivo de antemão. Foi o que fez a Dark
Horse Comics em “Berserker Unbound” unindo novamente a dupla que fez sucesso
em série recente do Thanos com mais as cores de Frank Martin. Lançado nos USA
em 2019 em quatro meses ganhou edição brazuca caprichada em 2020 pela editora
Mino com 136 páginas. A história apresenta um guerreiro que é arremessado do
seu reino de magia para uma grande cidade dos nossos dias. Fala de vingança,
dor, culpa, perda e amizade, por mais improvável que essa seja. No cerne é uma
trama simples e meio óbvia, mas que por conta da maneira que Lemire constrói o
texto acaba deslanchando. No entanto, o destaque é a arte do Deodato, que beira
o sublime. É por ela que o trabalho consegue amplitude e ofusca o parceiro igualmente
famoso.
Nota: 7,0
Thiago Ossostortos tem trabalhos
interessantes na carreira como o jovial “Kombi 95” e o lírico “Os Últimos Dias
do Xerife”. Em 2019 publicou outro quadrinho de maneira independente chamado “Mjadra”,
uma história que retoma bases queridas como a música e a nostalgia. O
protagonista é Derick, um ex-VJ da MTV que ninguém lembra mais. Com a derrocada
do casamento ele retorna para morar no mesmo lugar de quando jovem, um retorno
típico de quem busca uma sobrevida ou algum tipo de redenção, mas que acaba não
surtindo efeito. Derick é um cara amargurado, cheio de bagagem ruim nas costas
e acaba interferindo na vida de outras pessoas de maneira contundente. Com 144
páginas e magnificamente pintada a guache, “Mjadra” é sobre não saber
seguir em frente e sobre não aceitar que a vida não foi como se sonhou, sendo regada
a ótimas cores, canções e uma dose satisfatória de psicodelia.
Nota: 7,5
Instagram do autor: https://www.instagram.com/ossostortos
Paris, anos 20. A cidade luz ferve
nas esquinas, bares e cafés. Nessa época o norueguês Jason transforma Ezra
Pound, James Joyce, F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway em quadrinistas que
procuram sobreviver entre um trabalho e outro, uma cobrança familiar e um
desespero para pagar as contas, entre um bate papo e uma crise emocional. Desgostosos
com os rumos da carreira resolvem fazer um assalto, que nesse entendimento
seria a maneira de descolar uma grana e salvar o dia, o mês, o ano. Vencedor do
prêmio Eisner de Melhor Título Estrangeiro em 2007, “A Gangue da Margem
Esquerda” é provavelmente o trabalho mais conhecido de Jason e agora em
2020 desembarca no país pela editora Minio com 48 páginas. Unindo diversão, o
uso de referências inteligentes, resoluções gráficas certeiras, reviravoltas inesperadas
e aquele toque diferente que sempre o autor demonstra é um título que não tem
como dar errado.
Nota: 9,0