terça-feira, 31 de dezembro de 2019

E que venha 2020.


Salve, salve minha gente amiga.

Os grandes e geniais Liniers (https://twitter.com/porliniers) e Odyr Bernardi (https://twitter.com/odyrbernardi) ilustram a última postagem desse ano de 2019.

Obrigado a todos que por mais um ano passaram por aqui. De coração. Já são 14 anos de Coisapop. Entre trancos e barrancos, mas sempre com muita paixão. 

Que tenhamos sanidade mental para suportar a distopia real que vivemos e que - da maneira que der - lutemos para mudar o cenário em que estamos inseridos. A esperança sempre existirá e é através dela que temos que buscar fazer da nossa rua, do nosso bairro, da nossa cidade, do nosso país, um lugar de mais inclusão, amor, tolerância, compaixão, criatividade, diversidade e generosidade. Com menos desigualdade e principalmente menos ódio e mau-caratismo. 

E que em 2020 a cultura sirva, como sempre, para aplacar as dores, forjar amores e instigar o pensamento.

Vamos juntos.

Paz Sempre.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Quadrinhos: "Corenstein - Volume Dois", "Cannabis", "Entre Cegos e Invisíveis" e "Homem-Aranha: Azul"

 

A quadrinista e ilustradora carioca Cora Ottoni passou a contar as vergonhas que passava em tirinhas autobiográficas na internet, o que culminou com a publicação independente de uma coletânea em formato físico durante o ano de 2017. Em 2019 - novamente de maneira independente - lança “Corenstein - Volume Dois” que reúne tirinhas feitas durante esse intervalo. O teor desse segundo volume é diferente do anterior pois mostra a artista entrando de vez na vida adulta e tendo que lidar com as responsabilidades que são inerentes a esse processo. Responsabilidades, que de maneira extremamente divertida, ela conta como faz para lidar (ou absolutamente não lidar). No entanto, as relações pessoais ainda se fazem presentes e retratam constrangimentos seja no trabalho, no namoro, na família ou onde quer que seja. Tudo servido ao leitor de bandeja para extrair alguns sorrisos e aliviar aquele dia ruim nem que seja por um tempo.

Nota: 7,0

Instagram da autora: https://www.instagram.com/corottoni 


Box Brown é quadrinista e ilustrador residente na Filadélfia nos EUA, onde tem editora própria, a Retrofit Comics. Sem ser publicado ainda no Brasil estreia pela editora Mino em 2019 com “Cannabis – A Ilegalização da Maconha nos Estados Unidos”, com 256 páginas em preto e branco e tradução de Diego Gerlach. Como o nome já leva a induzir o autor faz uma peregrinação sobre a entrada da maconha nos EUA, até voltando para outras épocas para contextualizar os pontos de vista. No seu entendimento todo o movimento a que se refere ao uso da maconha no país foi permeado por inverdades sempre ancoradas em interesses próprios, preconceitos e como ferramenta de controle de poder. Da campanha falsa que gerou a famigerada e improdutiva “guerra às drogas” americana e passando por comentários irônicos e sagazes, temos uma visão bem interessante sobre um tema para lá de polêmico e repleto de desinformação.

Nota: 7,5

Site do autor: www.boxbrown.com 




Brasil, início dos anos 70. A ditadura vem há alguns anos corroendo sonhos e direitos de uma nação que ousara sonhar com mais. Os irmãos Jonas e Leona saem de carro do enterro do pai, um coronel turrão que nunca os reconheceu como filhos. Junto estão a esposa de Jonas e um misterioso passageiro. Enquanto estão na estrada pequenos acontecimentos estimulam fatos maiores que chegam em uma enxurrada de dor e rancor. Em “Entre Cegos e Invisíveis”, o quadrinista André Diniz constrói um drama sobre família, preconceito, aparências e natureza pessoal utilizando o fenômeno da super-Lua e o cenário político e social do país como importantes coadjuvantes. Publicado primeiramente em Portugal - onde esse carioca reside - teve edição nacional agora no final de 2019 pelo selo Café Espacial com 128 páginas e é mais um trabalho de alto nível de um autor que não cansa de forjar ótimas obras.



Nota: 8,0



“Homem-Aranha: Azul” é sobre se apaixonar, sobre perder e sobre seguir em frente. Uma história simples e singela no seu cerne como tantas outras, mas que por conta da delicadeza, condução e arte se tornou um pequeno clássico do aracnídeo. A Panini Comics publicou a obra da primeira metade dos anos 2000 por aqui em vários formatos, porém lançou esse ano uma nova (e bonita) edição de 168 páginas e capa dura com textos e esboços. Jeph Loeb e Tim Sale, responsáveis por obras com tônicas parecidas (“Demolidor: Amarelo”, “Hulk: Cinza” e “Capitão América: Branco”) contaram com as cores de Steve Buccelatto para mostrar um Peter Parker que de acostumado a ser invisível passa a se destacar mais e acaba se apaixonando por Gwen Stacy. Entre brigas com vilões, diminutas lições de vida e sonhos feitos e desfeitos, “Homem Aranha: Azul” ainda é um trabalho que carrega um sólido charme.


Nota: 8,5




domingo, 22 de dezembro de 2019

Literatura: "Através do Vazio" e "Slumberland"


Então é natal. Natal de 2067. É nesse ponto que começa “Através do Vazio” (Across The Void, no original) que a editora Suma publicou esse ano aqui com 376 páginas e tradução de Renato Marques. O livro de S.K. Vaughn (na verdade um pseudônimo do escritor e roteirista americano Shane Kuhn) é ambientado em um futuro onde a humanidade definitivamente alcançou as estrelas com toda pompa e os interesses privados e públicos (além dos pessoais) continuam conflitantes e interferindo na vida das pessoas em troca de benefícios e vantagens. Nada de novo, convenhamos. O livro começa com a comandante May Knox acordando dentro de uma nave perto de Júpiter sem memória e companhia quase nenhuma buscando entender o que aconteceu. Na ponta do outro lado – na terra – está o marido Stephen Knox, cientista brilhante responsável pela tecnologia que fez a NASA investir milhões e mais milhões na missão em uma das luas do gigante gasoso. “Através do Vazio” é no seu âmago, sobretudo uma história de sobrevivência no meio do espaço sideral sem muita ajuda e contra várias adversidades sejam elas naturais ou não. Se assim fosse mantida durante as páginas seria uma obra bem mais interessante do que se tornou, pois quando o autor opta em dividir o palco com um drama romântico com características de novelão mexicano (no pior sentido) reduz bastante a qualidade do trabalho. Isso faz com que o livro se situe naquele limiar entre não seduzir o leitor completamente, como também não desagradar na totalidade.

Nota: 5,0

Leia um trecho aqui:


“O Vendido” lançado aqui em 2017 e vencedor do aclamado Man Booker Price de 2016 na Inglaterra foi o primeiro livro do americano Paul Beatty publicado no Brasil. Em 2019 a Todavia Livros lança também dele o “Slumberland”, originalmente de 2008 nos EUA, mas que carrega a mesma vivacidade apesar de ser anterior. O tom ácido, satírico e mordaz que causa incômodo ao leitor desavisado está lá presente, ainda que em menor proporção e não tão bem desenvolvido como seria posteriormente. O protagonista é o DJ Darky, nome artístico de Ferguson W. Sowell, morador de Los Angeles que após compor uma batida que todos julgam como perfeita se manda para a Berlim do final dos anos 80 a fim de encontrar um jazzista genial e ao mesmo tempo excêntrico que sumiu faz muito, muito tempo. O intuito é que ele adicione uma frase original a essa batida, deixando assim inegavelmente perfeita essa criação. Na busca por Charles Stone – o jazzista em questão – DJ Darky deságua no bar que empresta o nome ao livro como sommelier de jukebox (sim, é isso mesmo), que é frequentado na maioria por negros imigrantes e onde o autor no meio da guerra fria insere as colocações impertinentes e corrosivas que lhe são peculiares. Trazendo a paixão pela música como grande timoneira da obra, Paul Beatty fala sobre racismo de um jeito que tem o intuito claro de provocar – ainda mais vindo de um autor negro – e embala esses acintes com canções, canções e mais canções.

Nota: 7,0