sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Que venha 2011!!

“Salve, salve minha gente amiga...”
Mais um ano chega ao seu final. Que o que está por vir seja muito do caralho. Um puta 2011. Que façamos novas promessas e possamos cumprir as antigas. Que tenhamos amor no coração, idéias na cabeça e saúde para esbanjar. Que a família esteja unida e os amigos proporcionem grandes momentos. E claro e sempre importante que a música feita seja boa, que os livros instiguem e que os filmes tragam satisfação. Que toda cultura seja apreciada e emocione.
Que a nossa vida esteja cada vez melhor.
Um sincero abraço a todos que passam pelo Coisapop. Que em 2011 esse laço esteja cada vez mais forte. Um grande ano novo!
Paz Sempre!!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

"A Rede Social" - 2010

A cena é corriqueira. Aliás, corriqueira até demais. O cidadão está ali no começo da idade adulta e pega um fora da namorada que abala suas pequenas projeções de vida. Se o cidadão em questão for meio anti-social e não tiver lá muita habilidade com o restante do mundo, o abalo pode ser maior ainda. Para liberar as mágoas o álcool é o caminho mais utilizado, no entanto, no mundo da última década a internet aparece como solução para desafogar essa raiva.
A primeira cena de “A Rede Social”, filme que planeja contar a história (ou uma delas) da criação do Facebook, retrata exatamente o parágrafo anterior. Em um pub, Mark Zuckerberg, o hoje bilionário CEO do Facebook, discursa uma conversa elitista e presunçosa para cima da namorada, que depois de agüentar um pouco termina o namoro. Bestificado com o acontecido ele vai para internet xingar a mesma no blog e iniciar o que seria seu futuro.
Baseado no livro "Bilionários por Acaso" de Ben Mezrich, o filme de David Fincher (de “Clube da Luta” e “O Curioso Caso de Benjamin Button”) narra uma história real com tons de drama grego. “A Rede Social” traz traição, angústia, brilhantismo, ganância e soberba envolvidos com fraquezas tão comuns. Mesmo sabendo que a história é contada por um ponto de vista e deve haver outros tantos, o enredo parece ser o mais real possível para o cinema.
O filme começa em Harvard logo após a desilusão amorosa de Mark Zuckerberg (interpretado muito bem por Jesse Eisenberg de “Zumbilândia”), que cria junto com o amigo brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield de “O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus”) o embrião do que seria o Facebook. Desse ponto alterna entre o progresso do negócio da dupla e o processo judicial movido por Saverin mais os irmãos Winklevoss contra o jovem bilionário.
O brilhante intelecto de Zuckerberg foi arremessando farpas e armadilhas no caminho a fim de deixar para trás tanto parceiros do ínicio (o caso de Eduardo), quanto se apropriar de idéias alheias. O tom que o roteiro de Aaron Sorkin imprime é forte e sem falhas (apesar de parecer direcionado vez ou outra), conseguindo transpor não somente essa épica história recente de fama, fortuna e trapaças, como também jogar os dados na mesa do mundo atual/virtual.
Com uma direção segura, os atores tem atuações quase perfeitas. A trilha sonora que ambienta tudo comandada por Trent Reznor (Nine Inch Nails) e Atticus Ros também merece destaque. “A Rede Social” é um filme muito consistente em cima de um tema que tinha tudo para dar errado e mostra que Zuckerberg mesmo tendo construído um império moderno com modos nada nobres, fez tudo o que fez no ínicio por causa de uma mulher. Nada mais simples que isso.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

"Heavy On" - Réveillon da Se Rasgum (PA) - 31.12.2010

A passagem de ano mais divertida de Belém será no Mandala (ex-Sarajevo e ex-Espaço Cultural Cidade Velha), dia 31, com shows das bandas Van Peltz e Mojo, e dos DJs Damasound, Proe.FX, Bernardo Pinheiro, Jeft Diaz, Aloízio & Natália e Marcelo Papel.
Se você gostou de 2010, venha comemorar suas vitórias e conquistas com a Se Rasgum na festa Heavy On, que chega à sua terceira edição no réveillon mais divertido para os que ficam em Belém a procura de onda. Aliás, se você não gostou de 2010, chegue junto também para se despedir desse ano danado e entrar em 2011 com o pé direito atolado na jaca!
E quem quiser romper o ano com a Se Rasgum e estourar esse champagne com a gente é só chegar mais cedo, por volta das 23h. Vamos promover um climinha de réveillon com alto astral, confete, serpentina, fogos, abraços coletivos e rolhas de champagne voando na venta alheia.
SERVIÇO: Festa Heavy On - 31 de dezembro, às 23h No Mandala (Cidade Velha, em frente à Praça do Carmo) Bandas: Van Peltz e Mojo DJs: Damasound, Bernardo Pinheiro, Proe.fx, Marcelo Papel, Jeft Diaz e Aloízio & Natália. Ingressos: 20 reais (até 1h).

domingo, 26 de dezembro de 2010

“The Place We Ran From” - Tired Pony - 2010

Gary Lightbody é um irlandês de 30 e poucos anos que montou uma banda como tantos outros e conseguiu sucesso e reconhecimento da crítica na maioria das vezes. Sua banda, o Snow Patrol, além de bons discos conseguiu cravar músicas como “Chasing Cars” e “You Could Be Happy” no cenário do rock atual. Mesmo militando no universo do rock inglês, Lightbody criou e nutre paixão pelo country norte americano, paixão que em 2010 rende um bom testemunho.
A primeira ótima sacada foi reunir um timaço para formar esse projeto paralelo chamado Tired Pony. Veio então Peter Buck (R.E.M), Richard Colburn (Belle And Sebastian) e Scott Mccaughey (Minus 5, R.E.M), além do conceituado produtor Jacknife Lee, o cantor e compositor Ian Archer e mais Troy Stewart, para fechar o time. Ainda participam do trabalho o She & Him (Zooey Deschanel e M. Ward) e Tom Smith dos Editors. Bem difícil de dar errado, né?
E não deu. “The Place We Ran From” traz dez faixas que por mais que não remetam diretamente ao universo do country mais puro e seja bastante misturado ao folk, resulta em um trabalho bem bonito. "Northwestern Skies" abre com uma guitarra acústica guiando um amor destroçado, com versos assim: “Nós podemos nos esconder, onde sempre nos escondemos. No projeto de tela em branco de nossas vidas.”. Mais guitarras e um bonito acordeão entram no jogo.
O clima de baladas conduzidas por diversos instrumentos como bandolim, banjo e piano é que dá o maior tom do disco, apesar de que em algumas faixas como “Get On The Road”, apareçam guitarras mais pesadas. Em faixas como a romântica (no bom sentido) “Held In The Arms Of Your Words” e na busca de redenção de “That Silver Necklace”, esse clima traz minutos realmente emocionantes. Mais um exemplo? Escolha a tristeza de “I Am A Landslide” para comprovar.
A toada de amores quebrados permanece e rende mais uma bonita melancolia em “The Deepest Ocean There Is” que inicia com versos como: “Eu tenho medo desde que você saiu pela porta”. Com o Tired Pony, Gary Lightbody almejava remeter ao universo de bandas como Wilco, Lambchop e Smog. Ele e sua trupe não conseguiram tanto assim, mas fizeram um disco extremamente bonito, onde melodia e tristeza andam de mãos dadas na beira do precipício.
Site oficial: http://www.tiredpony.com

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

"A Banda de Joseph Tourton" - A Banda de Joseph Tourton - 2010

O rock instrumental se torna realidade dentro do nosso país a cada dia, fazendo não somente músicos mais experientes caminharem para esse fim, como também inspirando uma nova geração para seguir esses passos. A Banda de Joseph Tourton é um desses casos. Oriunda de Recife, que tanto já proporcionou musicalmente, traz garotos na faixa dos 21 anos estreiando em disco homônimo com habilidade surpreendente e inegável qualidade sonora.
O grupo começou pelos idos de 2008 e foi ganhando corpo e moral no decorrer do percurso da estrada, fazendo shows e participando de festivais aqui e ali, que foram fundamentais para a construção desse respeitável primeiro trabalho. A Banda de Joseph Tourton é formada por Diogo Guedes (guitarra e efeitos), Gabriel Izidoro (guitarra, escaleta e flauta), Rafael Gadelha (baixo), Pedro Bandeira (bateria) e Antonio Paes (percussão).
O baú de influências da banda é o mais vasto possível e consegue unir progressivo, rock, hardcore, jazz, pop, krautrock, pós rock e regional tanto em passagens comuns quanto em ambientações aleatórias do registro. Essa farta mistura que na maioria das vezes acaba resultando em um balaio de gatos e faz uma confusão imensa, aqui soa coesa e bem trabalhada. Uma vantagem do som instrumental é justamente deixar mais tranquila essa união de ritmos.
Há de se destacar além da cozinha trabalhada e as guitarras adicionando melodia, viagem e peso de maneira consistente, o uso da flauta que institui um ambiente mais regionalista de Pernambuco, lembrando o som do Mombojó. Não obstante, Felipe S. e Marcelo Machado foram alguns dos responsáveis pela produção e gravação. As participações especiais também engrandecem o registro, como o pianista Vitor Araújo e os metais do Móveis Coloniais de Acaju.
“A Banda de Joseph Tourton” é um álbum para ser escutado primeiramente com calma, tendo como intuito degustar as texturas e idéias que nele estão contidos. Depois deste certo conhecimento uma aproximação maior é bem vinda, tanto em volumes maiores como em ambiente para o dia a dia. Faixas como “16 Minutos”, “Aquaplanagem”, “100m”, “O Triunfo de Salomão” e “A Festa de Isaac” são provas mais do que suficientes para corroborar isso.
Site oficial onde o disco está disponível para download: http://www.josephtourton.com.br

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

"III/IV" - Ryan Adams & The Cardinals - 2010

“Olá, sou eu de novo (...) Você provavelmente já ouviu falar que fui embora (...) Onde é que vamos começar?”. Assim inicia “Breakdown Into The Resolve”, faixa de abertura do álbum duplo “III/IV” que Ryan Adams lança esse ano novamente com os Cardinals de Neal Casal, Jon Graboff e Brad Pemberton lhe acompanhando. Sem lançar nada desde “Cardinology” de 2008 (o que para o músico é um tempo imenso, devido a voracidade com que ele produz), Ryan Adams volta em um álbum onde contempla praticamente todas as suas facetas.
Durante esse período “fora”, por assim dizer, ele lançou um disco conceitual de metal científico (seja lá o que for isso) com outro nome que passou completamente despercebido e casou com Mandy Moore, entre outras coisas. “III/IV” nasceu das sobras de “Easy Tiger” de 2007 e consegue ser superior ao trabalho que lhe deu origem. As letras tratam sobre a costumeira predileção pelo cotidiano, assim como de paixões como o universo dos anos 80.
São 21 faixas que se absorvidas e convertidas para um registro de 12 ou 13 músicas estaria com boas chances de brigar por uma vaga nas listas de melhores de 2010. O “III” é um disco mais bem traçado e com composições um nível acima da urgência que o “IV” ostenta em quase sua totalidade. Não por acaso que se no exercício de achar entre os dois apenas 12 ou 13 músicas para um único disco, o “III” permearia este com pelo menos umas 7 canções.
A já citada “Breakdown Into The Resolve”, na qual apresentamos a introdução no ínicio do texto abre com uma pegada pop rock eficiente, olhando diretamente para o mundo de Bruce Springsteen para engatar em outras boas faixas como o pop de “Dear Candy”, o rockão inglês de “Ultraviolet Light”, o rock de arena “Stop Playing With My Heart”, com direito a riff de guitarra no solo e as quase baladas de “Happy Birthday” e “The Crystal Skull”.
“IV” é mais urgente, apesar do bluesy de “Typecast” e do folk rock de “Death And Rats” e tem um pé no punk em faixas como “Numbers” e “Icebreaker”. Além disso estoura em rocks setentistas em “Sewers At The Bottom Of The Wishing Well” e “P.S.”, para concluir com um projeto de metal em “Kill The Lights”. Faça essa missão: Pegue o álbum duplo e tente montar um único trabalho, muito provavelmente você achará um ótimo disco de rock nele.

sábado, 18 de dezembro de 2010

"Tron - O Legado" - 2010

Eis que resolveram ressuscitar “Tron” do mundo dos mortos e fazer uma franquia em cima do filme de 1982 que apesar de trazer algumas inovações tecnológicas na época do lançamento, foi pouco visto e pouco comentado. O que no começo dos anos 80 era um absurdo total (e convenhamos o que não era absurdo total em 82?) hoje é mais do que cotidiano. Com a direção do novato Joseph Kosinski, “Tron – O Legado” chega aos cinemas com a bandeira previamente imposta do “visualmente fantástico” em punho e tenta ressurgir para uma nova geração.
A história em si não é das mais originais, foca em Sam Flynn (Garret Hedlund) que entra no mundo paralelo criado pelo seu pai (Jeff Bridges) para “resgatá-lo” de lá, além de aproveitar para salvar o mundo e dar uns cacetes no meio do caminho. Acho que ninguém em sã consciência esperaria que a obra fosse um primor de drama e conteúdo e se esperava isso é bom procurar alguma ajuda médica. O bacana em “Tron - O Legado” são as imagens e elas valem o filme, no entanto, há outros motivos para assistir:
1 – Jeff Bridges presente no filme original está de volta para dar maior credibilidade.
2 – Steven Lisberger que dirigiu o longa oitentista está de volta na produção.
3 – O filme é em 3-D (mesmo com algumas passagens normais de 2-D).
4 - Quem gosta de videogames tem um prato cheio nas mãos na hora dos jogos e competições, além de curtir um pouco de saudosismo em passagens como o fliperama antigo dos anos 80.
5 – A trilha sonora é comandada pelo Daft Punk.
6 – A cena onde o Daft Punk discoteca em uma boate e Michael Sheen dá um pequeno show como o dono do ambiente é muito bacanuda. O melhor momento do filme.
7 – Tanto a ajudante dos Flynn’s interpretada por Olívia Wilde (Quorra) quanto as assistentes de branco são colírios para os marmanjos.
8 – James Frain como Jarvis, o segundo em comando de CLU, faz muito bem a parte divertida do filme.
9 – A reação das pessoas ao lado quando as imagens em 3-D vão se posicionando e arremessando partes já vale o ingresso. O que tem de gente (principalmente crianças) se assustando é brincadeira.
10 – Mesmo compreendendo que a parte visual poderia ser melhor ainda em momentos díspares, “Tron - O Legado” ganha com sobras a alcunha de visualmente fantástico.
Então, sendo assim, e apesar de levar em consideração o roteiro com falhas e sem tanta intensidade, “Tron – O Legado” é um ótimo filme para entrar no cinema munido de uma pipoca na mão e óculos 3-D na cara para relaxar em pouco mais de duas horas de diversão sem compromisso. É para deixar a rabugice de lado e aproveitar.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

"Guidable" - A Verdadeira História Do Ratos de Porão - 2010

Montar uma banda e construir uma carreira por três, quatro anos já é uma tarefa bastante complicada, imagine então fazer isso por quase 30 anos? Os paulistas do Ratos de Porão conseguiram mesmo com várias mudanças de formação, problemas pessoais e um turbilhão de motivos que poderiam ter acabado com a história a qualquer momento. Andando nas margens do sistema na grande maioria do tempo, os Ratos conseguiram a proeza.
Essa proeza é contada no DVD “Guidable – A Verdadeira História do Ratos de Porão”, que sem frescura e sem espaço para o chatíssimo politicamente correto narra as desventuras da trupe desde os primórdios. Começando pela primeira formação ainda sem o João Gordo nos vocais, passa pelo histórico festival “O Começo do Fim do Mundo” em 1982 no Sesc Pompéia, atravessa discos importantes e turnês internacionais para chegar aos dias atuais.
O documentário traz depoimentos de parceiros da cena punk dos anos 80 como o Clemente dos Inocentes, o Rédson do Cólera e o Fabião do Olho Seco, assim como de ex-integrantes como o baixista Jabá, os bateristas Betinho e Spaghetti e o guitarrista Mingau, além da formação atual que do início traz apenas o guitarrista Jão. Igor Cavalera e Andreas Kisser também falam um bocado sobre os Ratos e as loucuras musicais ou não que tocaram.
Para quem é fã da banda ver os caras falando sobre o processo de criação de discos como “Crucificados Pelo Sistema” de 1983, “Brasil” de 1989 e “Feijoada Acidente?” de 1995 deve ser bastante interessante. No entanto, o melhor desse documentário é que ele foi tocado de modo espontâneo e sincero, sem cortes de palavrões ou de histórias mais escabrosas envolvendo drogas e até mesmo pensamentos hoje dignos de uma vergonha completa.
“Guidable” é uma gíria interna da banda que define tanto confusão mental quanto qualquer tipo de bagunça, além de substituir o foda-se com eficiência nas conversas. Ao assistir tanto o documentário, quanto às seis horas de extras que o DVD traz e mesmo não sendo fã de carteirinha ou adepto de algumas idéias da trupe, fica fácil admirar a história de caras que ganharam respeito mesmo andando nas bordas do sistema. É ver e mandar um “Guidable” para as convenções.
Site oficial: http://www.ratosdeporao.com

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"Le Noise" - Neil Young - 2010

Tem momentos na vida em que você simplesmente para de acreditar nas coisas. Nada demais, é assim mesmo que acontece. São aquelas passagens em que a descrença toma conta do espírito e tudo parece tão pausterizado e sem graça que você não consegue nem dar atenção. Na música não é diferente. Hoje a canção fica para trás na maioria das vezes e discos sem graça e repletos de sons “modernos” são eleitos como a oitava maravilha do mundo.
É nesse cenário em que “Le Noise”, o novo disco de Neil Young ganha tons quase sagrados. Pois enquanto bandas novas que estão nas listas de melhores de jornalistas ao redor do mundo passam pelo seu player sem dizer nada, este senhor vem munido apenas de um violão e uma guitarra para fazer você acreditar novamente na música, na canção. Além dos antigos instrumentos, Neil conta apenas com Daniel Lanois (U2, Bob Dylan) na produção.
São somente oito faixas em que o canadense destila toda a categoria que lhe deu reconhecimento. “Walk With Me” abre com versos que buscam um lugar melhor: “Eu sinto o seu amor(...)eu sinto a sua fé em mim(...)caminhe comigo”. “Sign Of Love” é mais romântica, com letra mais açucarada e “Someone's Gonna Rescue You” é melódica e apesar de ser guiada por uma guitarra com efeitos explodindo remete aos primeiros trabalhos do músico.
“Love And War” apresenta uma letra triste e em até certo ponto crítica sobre amor, guerra e religião. A nervosa “Angry Word” trata de um mundo em que tudo é permitido para se alcançar sucesso ou detonar com os outros. “Hitchhiker” vem resgatada dos idos do começo dos anos 90, quase autobiográfica, e “Peaceful Vally Boulevard” conta uma de suas histórias em mais de 7 saborosos minutos. “Rumblin'” e uma guitarra mais pesada dão adeus ao registro.
Neil Young vem lançando discos consistentes desde “Greendale” de 2003 e com esse “Le Noise” novamente se reinventa dentro do seu próprio universo, que já foi tão facetado no decorrer dos anos. O álbum vem acompanhado de um DVD mostrando a execução das canções e paradoxalmente ao mesmo tempo em que olha para o início das suas raízes musicais teve lançamento e divulgação nas diversas novas tecnologias e redes sociais. Coisas de Neil Young.
Sobre “Fork In The Road” de 2009, passe aqui.

domingo, 12 de dezembro de 2010

"De Música Ligeira" - Aixa de La Cruz

Existem diversos autores que hoje transitam dentro da literatura usando enxertos dos mais diversos tipos de cultura pop. Alguns poucos são relevantes, boa parte são medianos (mesmo sendo divertidos) e a provável maioria acaba se perdendo no meio do caminho. Livros de pessoas que são apaixonadas pelo universo musical, por exemplo, acabam desaguando em uma extensa lista de gosto pessoal transferida para os personagens da trama.
O problema disso é que fora a parte musical (que também pode ser televisão, cinema, etc.), esses personagens transbordam falta de conteúdo, além do que as referências ficam espremidas uma atrás da outra, gerando mais confusão que divertimento. Isso acontece muito no segundo livro da jovem espanhola de 22 anos Aixa de La Cruz. “De Música Ligeira” ambiciona tratar sobre a moldagem dos romances modernos e outras coisas mais.
Usando o título de uma ótima canção dos argentinos do Soda Stereo (que aqui já ganhou releituras de Paralamas e Capital Inicial) ambienta uma trama que como diz o manual atual aparece entrecortada, solta, narrando fatos de pontos distintos e incluindo até as próprias dúvidas da autora que discute os rumos dos personagens. O resultado final além de monótono e confuso parece um quebra cabeça não muito bonito em que estão faltando várias peças.
O inicio da história até que promete alguma coisa, pois apresenta em uma mesa de bar um professor de piano meio autista batendo papo com uma ex-aluna uns 15 anos mais nova. O nome dele é Dylan (homenagem a você-sabe-quem) e traz na bagagem um tremendo medo e frustração da vida. Ela está envolvida em um relacionamento que está ficando sério demais e arremessa suas dúvidas, incertezas e medos entre uma cerveja e outra.
Mas o início é só uma falsa promessa, pois além dos diálogos imaginados serem pobres e a condução nada espetacular, a saraivada de nomes de bandas, músicas e discos acabam prejudicando muito mais do que ajudando. Aixa de La Cruz é (bastante) nova e pode se tornar uma grande escritora no futuro, mas pela recepção que seu livro teve lá fora, “De Música Ligeira” é uma tremenda decepção. Um retrato (para o lado ruim) da sua própria geração.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"Breakdance" - Walverdes - 2010

Bruce Springsteen afirmou certa vez que o “rock n’ roll retarda o envelhecimento” e essa frase ainda pode fazer algum sentido mesmo hoje. Faz sentido, por exemplo, quando se escuta “Breakdance”, o novo rebento dos gaúchos do Walverdes. Em apenas 23 minutos de disco, você vai gradativamente aumentando o volume, para depois balançar a cabeça, bater o pé no chão, simular uma guitarra aqui ou uma bateria acolá que nem um moleque de 14 anos.
Gustavo Mini Bittencourt (guitarra e vocal), Patrick Magalhães (baixo e vocal) e Marcos Rubenich continuam fazendo o rock agressivo e sujo que já se acostumaram juntos desde “Anticontrole” de 2002. Misturando vertentes do rock, mas ficando o pé mais decididamente no rock de garagem, o Walverdes faz no seu quinto trabalho um álbum conciso que aparece ambientado dentro dos limites do grupo, mas com uma qualidade maior que de costume.
Produzido por Júlio Porto (ex-guitarrista do Ultramen), o registro começa com uma guitarra solitária ritmando o início de “Função” que ganha tons mais pesados e namora diretamente com o punk rock do início dos anos 80. “Spray” é a próxima e traz a mesma temática sonora da boa faixa anterior. Depois é a vez da setentista “Cérebro” invadir os fones de ouvidos (ou as caixas de som, como preferirem) para emendar nas guitarras fortes e altas de “Basalto”.
“Diagonal” é a melhor faixa desse “Breakdance” e olha que não chega nem a dois minutos. É urgente, rápida e suja. Para elevar o som ao último volume. “Tempos Interessantes” aparece com clima de anos 90 e traz o baixo de Patrick Magalhães mais presente, além de bons backing vocals. “Dissolução” demonstra um ritmo quebrado, mas não menos pesado. O fechamento do disco fica por conta de “Não Edifício” e “Unidade”, que não deixam a peteca cair.
Como diz um amigo: “às vezes faz falta ouvir uma guitarra explodindo no ouvido.” Realmente faz falta e pode ser indicado até como terapia, dependendo do caso. “Breakdance” está aí para isso (e não somente isso, evidente). Pode-se até afirmar que não traz nada de novo (e isso é um fato), mas realmente importa? O negócio é deixar o som alto, esquecer um pouco do mundo real e liberar novamente o moleque rockeiro que ainda deve existir em você.
My Space: http://www.myspace.com/walverdes Trama Virtual: http://tramavirtual.uol.com.br/walverdes

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

"Jonah Hex - O Caçador de Recompensas" - 2010

A avalanche de adaptações de quadrinhos para o cinema continua em pleno crescimento. Há algum tempo está saindo de personagens mais conhecidos para se alastrar por títulos que ostentam uma menor divulgação. Títulos como “Jonah Hex”, o cowboy desfigurado criado por John Albano e Tony DeZuniga em 1972. Dentro da DC Comics, as aventuras de velho oeste e até futuristas na qual ele participou, tiveram boas seqüências de histórias.
“Jonah Hex - O Caçador de Recompensas” trata de contar uma dessas histórias para outro público. O filme chegou aqui direto em DVD e está disponível além das lojas do ramo e nas locadoras sobreviventes, nos milhares de vendedores de DVD pirata que trabalham pelo Brasil. Como na maioria das vezes, a essência dos quadrinhos é desvirtuada, mas diferente de filmes como “Demolidor” e “Os Perdedores”, o resultado não chega a ser tão devastador.
Jonas Hex (Josh Brolin de “Onde Os Fracos Não Tem Vez”) é um pistoleiro que depois da guerra civil americana é vitima de um ataque de vingança praticado por Quentin Turnbull (John Malkovich) que o culpa pela morte do filho. Turnbull arrasa a família do cara e ainda faz uma marca do lado direito do seu rosto. Jonah Hex então começa uma vida de assassinatos em troca de dinheiro e, convenhamos, para passar o tempo que lhe resta de vida.
O roteiro é bem fraquinho, mas é divertido em certo ponto. Jonah Hex não traz o lado direito do rosto tão desfigurado como nos quadrinhos (talvez não quiseram ser grotescos e afugentar algum público mais sensível, vá saber...) e não é tão filho da mãe como de costume, mas mesmo assim Josh Brolin segura a onda John Malkovich mesmo não sendo espetacular é John Malkovich e basta. E ainda tem Megan Fox lindíssima passeando para lá e para cá.
O diretor Jimmy Hayward que como animador trabalhos em filmes como ‘Toy Story’ e “Procurando Nemo” estréia em um filme real (antes já tinha dirigido a animação “Horton e o Mundo dos Quem!) de maneira apenas razoável. Seu “Jonah Hex - O Caçador de Recompensas” pode deixar alguns fãs xiitas brabos (por mais que não conheça nenhum), mas não é desastroso e funciona bem como sessão da tarde ou para simplesmente passar o tempo.

domingo, 5 de dezembro de 2010

"The Transatlantics" - The Transatlantics - 2010

Sinceramente, quando você pensa na Austrália o que logo vem a mente? Cangurus, certo? E talvez também Crocodilo Dundee, Nicole Kidman, intercâmbios e mais Men At Work, INXS e Midnight Oil (ou Silverchair, vá lá...). E a palavra Adelaide? Te lembra a música do Inimigos do Rei ou aquela sua prima distante? Bom, agora pode associar a banda The Transatlantics (que não, não é aquela de rock progressivo) quando ouvir as duas palavras.
De Adelaide na Austrália, os Transatlantics (tá o nome é meio ruinzinho, tenho que admitir) desembarcam com uma ótima estréia regada com soul music e funk. O sabor da sonoridade das gravadoras Stax e Motown está presente (como em quase todo disco do estilo), sendo executado com bastante competência e dignidade, agregando na medida do possível alguns toques pessoais. Mais um bom nome nesse revival do soul mundo afora.
O grupo é comandado pela voz de Tara Lynch e pelo naipe de metais formado por Kyra Schwarz (trombone), Jon “Sugarcane” Hunt (saxofone) e Chis Weber (trompete). O ritmo é conduzido pelas guitarras de Kahil Nayton e Randall “Country” Ridge, obedecendo as ordens da cozinha tocada na medida certa por Ross McHenry (baixo) e Kevin Van Der Zwaag (bateria). São 12 faixas que ganham a robusta intromissão de mais três canções bônus.
“The Transatlantics” consegue variar muito bem entre canções com melodias mais elaboradas e arranjos soul music como “Couldn't Be Him”, “That's When I Feel So Lonely”, “On Fire” e “Save Me” e pedradas instrumentais funk em faixas como “Tea Legs” e “Thumbin' It”. Os bônus mantêm o nível, como a instrumental “Turn You Loose” que vai mais além e mistura o funk com a música disco, além dos metais poderosos de “Big Chief”.
Duas covers também se destacam: O soul urgente e rasgado no vocal de Tara Lynch em “Things Got to Get Better” de Marva Whitney e “Talk Like That” do The Presets, que foi reinventada e ficou melhor que a original. Na esteira desse ressurgimento do estilo que vem sendo apresentado nos últimos anos, essa banda australiana que está na estrada desde 2007 e já acompanhou um bocado de gente boa, pode ser mais um nome. A estréia lhe credencia.
My Space: http://www.myspace.com/transatlantics

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"No Buraco" - Tony Bellotto

Tony Bellotto está com 50 anos e acredito que não tenha muito do que se queixar. Fez (e ainda faz) parte de uma das bandas mais importantes do rock nacional, embora nos últimos anos o Titãs não represente nem 10% do que foi outrora. É casado com uma mulher linda, tem filhos e uma bem sucedida carreira de escritor, onde teve inclusive alguns livros adaptados para o cinema. Entrou até nos chamados tempos modernos e mantêm um blog de crônicas no site da Veja.
O que levaria então o bem sucedido Bellotto a criar um personagem como Teo Zanquis, o guitarrista e escritor fracassado que é o personagem principal do seu sétimo romance, “No Buraco”? Vá saber. Talvez seja para exorcizar antigos medos de uma vida sem sucesso ou contar casos obscuros e divertidos da época do rock brazuca dos anos 80 com nomes diferentes. Ou ainda, quem sabe, simplesmente juntar um monte de idéias separadas para somente se divertir.
“No Buraco” (Companhia das Letras, 250 páginas), apresenta o já mencionado Teo Zanquis, ex-guitarrista de uma banda oitentista que teve um mega sucesso e só, para acabar esquecida pelo tempo, como tantas outras. Só o nome da banda (“Beat-Kamaiurá”) já é uma sacanagem muito bem feita com o período. E o mega sucesso então? Sente só esse refrão: “Trevas de luz, trevas de luz, onde foi que eu perdi o chão?, trevas de luz, trevas de luz, até quando a escuridão?”.
O livro se divide em três frentes. A primeira tem o ex-guitarrista contando sua história em narrativa com a cara enfiada na areia de Ipanema. A segunda traz a relação dele com uma pequena (mas com uma grande bunda) coreana que vende discos em uma loja da galeria do rock no centro de São Paulo. A terceira e mais divertida mostra causos e histórias dos anos de músico, mostrando rolos acontecidos no Chacrinha, em excursões e qualquer bodega que a banda dele tocava.
Sem querer ou almejar ser muito linear, “No Buraco” é uma junção de pequenos contos separados que se unem na lógica meio bizarra e completamente catastrófica de Teo Zanquis. Espirituoso e bem humorado, Tony Bellotto caminha tranquilamente pelo que se convencionou chamar de “cultura pop” no seu novo livro. Evidente que não é um supra-sumo da literatura, mas serve (muito) bem para passar o tempo em alguma sala de espera ou a caminho do trabalho.
P.S: Os “causos” podem ser associados a várias figuras dos anos 80 e a própria entrada com a citação “Tudo isto aconteceu, mais ou menos.” (de Kurt Vonnegut), dá essa dica.
Blog do autor na Veja: http://veja.abril.com.br/blog/cenas-urbanas

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

"4 Loas" - Marku Ribas - 2010

Marku Ribas nasceu em 19 de maio de 1947 na cidade de Pirapora, interior de Minas Gerais e desde lá vem trabalhando quietinho como todo bom mineiro, sendo redescoberto aqui e acolá por novos ouvintes. É dono de um clássico incontestável do samba rock, a música “Zamba Ben” contida no álbum “Underground” de 1973, que trazia ainda outras faixas bacanudas como “Orange Lady”. Em 2010 chega ao seu décimo primeiro registro de estúdio: “4 Loas”.
Exilado do país nos anos de ditadura atuou como ator na França, trabalhando com diretores como Robert Bresson e morou por um tempo em algumas ilhas caribenhas como Martinica, o que trouxe para a sua música novas influências e fraseados. “Redescoberto” novamente por um número maior de pessoas devido a uma coletânea lançada pela gravadora Dubas, que teve Ed Motta como organizador, o compositor e músico mostra mais um disco.
“4 Loas” traz tudo que esse senhor sabe fazer com grande qualidade. Samba rock multifacetado em pedaços de bossa nova, soul, funk e jazz. Com uma banda de apoio competentíssima onde o destaque é a bateria precisa e ritmada de Esdras Neném Ferreira, conta também com o baixo suingado de Ezequiel Lima e a guitarra pulsante de Fabinho Gonçalves. Mesmo com tanta qualidade, o maior nome do disco é mesmo o violão e vocal de Marku Ribas.
Complementando as notas que saem do seu violão e forjam as harmonias, ele canta letras soltas que amarra com scats e palavras que se ampliam na busca de se encaixar na melodia. Outras vezes soa malemolente e constrói versos simples sobre coisas do dia a dia. São onze canções autorais, sendo apenas duas em parcerias: “Querobem Querubim” e “Altas Horas”, feitas em conjunto com os já falecidos parceiros Arnaud Rodrigues e Luizão Maia, respectivamente.
É difícil achar alguma canção (com exceção da chata última faixa) que não mereça comentário especial. Bons exemplos são “Doce Vida” com incursões mais suaves, ambientadas no jazz, “O Mar não tem Cabelo” com os metais sangrando e abrindo espaço para a guitarra embebedada de “wah-wah” ou o samba rock de “A Embaixatriz” que versa sobre uma nega impossível de ficar indiferente. “4 Loas” é bem indicado para fugir da mesmice diária.
My Space: http://www.myspace.com/markuribas

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

“Do Seu Amor, Primeiro É Você Quem Precisa” - Gustavo Telles & Os Escolhidos - 2010

O gaúcho Gustavo Telles é baterista da banda de rock instrumental Pata de Elefante, por onde já lançou três discos incluindo o bom “Na Cidade” desse ano. Ele também tem um projeto solo no qual canta composições suas que trazem no folk e no country seus maiores vínculos instrumentais. Batizando esse projeto de Gustavo Telles & Os Escolhidos, lança agora pelo álbum virtual da Trama, o disco “Do Seu Amor, Primeiro É Você Quem Precisa”.
“Os Escolhidos” formam um timaço. Além dos parceiros de Pata de Elefante Daniel Mossman (violão e guitarra) e Gabriel Guedes (guitarra), tem Luciano Albo (baixo e guitarra) do Tenente Cascavel, Jerônimo “Bocudo” Lima (baixo), Alexandre “Papel Loureiro (bateria), Luciano Leães (teclados) e Márcio Petracco (violão e guitarra) dos Locomotores, Diego Lopes (teclados) do Acústicos & Valvulados, além de Diego Garcia (vocal) e Maurício Nader (guitarra).
Gustavo Telles já tinha composto canções esporádicas para bandas gaúchas como o Ultramen e o Acústicos & Valvulados anteriormente, mas a vontade de compor só é saciada com essa estréia. O grande destaque desse registro está nas ambientações instrumentais que servem como condutoras para as canções que tratam sempre sobre o amor, resgatando muito do cancioneiro brega popular nacional dos anos 70 e 80 e alcançando roupagens mais diversas.
As estruturas melódicas são todas bem construídas e tem um envolvimento luxuoso dos instrumentos que são ouvidos sem maiores problemas, graças à boa mixagem e masterização de Thomas Dreher. As letras de Gustavo Telles é que incomodam às vezes, focando no amor de maneira óbvia demais. Todavia, isso pode até ser proposital se compararmos o tom em que as músicas são cantadas e o alinhamento delas com cantores populares de outrora.
Os melhores momentos ficam por conta da faixa título, do country rock de “Faltou Luz”, da influência de Mutantes de “Quero Mais”, do ritmo pop e despretensioso de “Girando Em Descompasso” e da bonita “Posso Me Perder”. Para quem tem a taxa de açúcar no sangue meio alta e gosta de coisas mais guitarreiras, o disco não deve agradar muito. No entanto, para quem gosta de canções de amor e músicas bem tocadas e executadas, pode ser um prato cheio.
“Do Seu Amor, Primeiro É Você Quem Precisa” é gratuito. Pegue o seu na Trama, aqui.
My Space: http://www.myspace.com/gustavotellesosescolhidos

sábado, 27 de novembro de 2010

"Memória de Elefante" - Caeto

Escrever uma graphic novel baseada em experiências próprias que podem ser elevadas a uma freqüência maior ou menor dependendo do caso, já rendeu bons momentos ao mundo dos quadrinhos. De Art Spiegelman (“Maus”) a Will Eisner (“Avenida Dropsie”), passando por gente como Harvey Pekar (“American Splendor”) e por nomes novos como Craig Thompson (“Retalhos”). É por essa estrada que Caeto anda com sua estréia “Memória de Elefante”.
Não que o paulista Caeto, hoje com 31 anos, seja necessariamente um estreante nos quadrinhos já que há um tempinho produz obras independentes como o fanzine “Sociedade Radioativa”, mas só agora chega pelo selo Quadrinhos na Cia. da Companhia das Letras ao primeiro livro (ou álbum, se preferir). “Memória de Elefante” tem 232 páginas e é mais um bom lançamento do mercado nacional, que vem ganhando vigor nos últimos anos.
Caeto usa um traço simples em preto e branco com o uso mais constante do primeiro principalmente nos fundos e cenários, para narrar parte da sua trajetória pessoal. O drama familiar é basicamente o causador de todas as ações. Seu pai, dono de uma livraria que está a beira da falência deixa a mãe para viver uma relação com o sócio, o que causa um choque ao filho e o distancia ainda mais da mãe que volta a morar no interior junto da família.
Indo de bar em bar para amenizar o fracasso de uma vida cheia de projetos que não seguem adiante, Caeto vai vivendo entre o ócio e constantes decepções. Nesse ponto a trama até que se conduz bem e revela boas sacadas, mas nada que consiga realmente empolgar muito. A partir do momento que essa trama converge para a relação do autor com o pai, que como portador do vírus HIV se enclausura mais no próprio mundo, ela alcança rumos melhores.
“Memória de Elefante” é embaixo de toda a gama de fugas que oferece nada além do que uma pequena e envolvente história da relação de um filho com seu pai, por mais difícil que esta se torne em algum momento da vida. Como coadjuvantes, Caeto traz mais fortemente a cidade de São Paulo com todas suas ruas e opções, além de um cachorro vira lata, que sai da rua para servir de medida para as relações. Uma estréia para ser bem recepcionada.
Blog do autor: http://caetoilustra.blogspot.com
Outros livros do selo Quadrinhos na Cia. aqui no blog: - “Retalhos” de Craig Thompson, aqui. - “O Chinês Americano” de Gene Luen Yang, aqui. - “Umbigo Sem Fundo” de Dash Shaw, aqui. - “Cachalote” de Daniel Galera e Rafael Coutinho, aqui.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

“Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 1" - 2010

“Tirem as crianças da sala!”. Esse bordão de um apresentador de televisão me veio a mente no decorrer da sessão de “Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 1”. O anunciado crescimento do bruxinho mais famoso do mundo que vinha se consolidando nos últimos anos atinge seu maior momento no novo filme, que assim como o anterior oscila muito e novamente chega a um resultado apenas razoável no final, sendo o maior culpado disso o roteiro esticado demais.
Isso não quer dizer que o longa não tenha bons momentos. Mais sombrio e adulto que nunca, o diretor David Yates explora todas as fraquezas do trio principal de personagens que sempre carregou a trama nas costas. Harry Potter (Daniel Radcliffe), Rony Weasley (Rupert Grint) e Hermione Granger (Emma Watson) tem suas deficiências e medos amplificados gerando confrontos que passam bem longe da simples inveja que crianças costumam ter umas das outras.
O grande problema fica por conta da divisão do último livro em dois filmes, sendo a segunda parte somente lançada em 15 de julho de 2011. Em vez de optar por um filme mais longo, ali na casa das três horas de duração, a produção dividiu em duas partes, o que gera pelo menos uns quarenta minutos de enchimento de lingüiça que não fariam falta alguma. Talvez por ter que abrigar tantos personagens dos outros episódios, o trabalho acaba se perdendo vez ou outra.
Depois do assassinato de Alvo Dumbledore no último filme, Hogwarts é tomada pelos Comensais da Morte de Lorde Voldemort (Ralph Fiennes) e o terror é espalhado por todas as esferas da sociedade dos bruxos. A única maneira de derrotar o Darth Vader com varinha do filme é destruir pedaços da sua alma espalhados pelo mundo. Harry então toma a frente da missão com seus dois companheiros a tiracolo, tentando enfrentar todas as provações que se anunciam.
Na caça ou fuga que o trio principal empreende, passagens pesadas são mostradas refletindo os temores de cada um, aumentados pelo uso de um cordão que intensifica o lado ruim (qualquer semelhança com um certo anel não deve ser coincidência). Até uma cena de sexo entre os amigos Harry e Hermione ganha seu lugar. Mesmo com direção de arte e fotografia exuberantes, além de uma Emma Watson majestosa, o novo Harry Potter derrapa e desliza mais uma vez.
Site oficial: http://harrypotter.warnerbros.com
Sobre o filme anterior, passe aqui.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Paul McCartney - Estádio do Morumbi (SP) - 21.11.2010

Um casal de gaúchos se abraça fortemente. Ele está vestido com a camisa do Internacional e ela com a do Grêmio, mas isso não faz a menor diferença nesse momento. Um pouco acima deles, três amigos que vieram de Belém cantam juntos a música que ecoa no ar, enquanto um filho segura o pai que há pouco tempo teve que ir ao banheiro para lavar o rosto e tomar um fôlego. Do lado, algumas garotas de 20 e poucos anos e um menino com não mais do que nove de idade, também fazem questão de cantar junto com o coro geral.
A eles juntam-se o divertido vendedor de amendoins que veio tentar a vida em São Paulo direto de Maceió, os garotos vestidos de Beatles da fase Sgt. Pepper’s que aparecem no telão e um grupo de quase dez amigos que se entrelaçam e levam os braços para cima. Não importa de onde essas pessoas vieram ou que vida levam, todas agora fazem parte de um pequeno universo que comporta sessenta e poucas mil pessoas e que tem na regência e comando um senhor de 68 anos que canta uma velha e bonita canção chamada “Hey Jude”.
O relógio indicava quase meia noite de domingo e Paul McCartney chegava perto de duas horas e meia de apresentação com um vigor que parecia inesgotável. Depois da música que encerrou a primeira parte, ainda viriam mais dois bis e outras seis canções. Aquele que para milhares é o maior artista vivo da música fazia no estádio do Morumbi uma apresentação encantadora e memorável. Com muito bom humor e um grupo de apoio que transbordava competência (principalmente o baterista Abe Laboriel Jr.), Macca fez todos cantarem.
E que canções foram entoadas. De todas as fases, indo dos Beatles, passando pelo Wings e desembarcando na carreira solo. Momentos emocionantes como “The Long and Winding Road”, “My Love”, “Eleanor Rigby”, “Something” (oferecida com justiça a George Harrison) e a mágica “Band Of The Run” se aliavam a outros extremamente pop e para cima como “Jet”, “All My Loving”, “Drive My Car”, “Mrs. Vandelbilt” e “Ob-La-Di Ob-La-Da”. Em “Let It Be”, um homem barbudo na faixa dos 40 anos tinha lágrimas caindo do rosto.
John Lennon também ganhou justa homenagem em “Here Today” e no momento mais fantástico da apresentação na dobradinha de “A Day in the Life/Give Peace a Chance”. Boa parte do público encheu balões brancos e levantou para depois soltar quando o hino pela paz iniciou seus versos. Era impossível ficar imune e a emoção transbordava no Morumbi. “Live And Let Die” ganhou fogos de artifício e explosões pelo palco e no telão, enquanto o piano de Paul cadenciava o ritmo naquela que é uma das suas melhores músicas.
E veio o primeiro bis com “Daytripper”, “Lady Madonna” e uma “Get Back” magistral invadindo a segunda feira, que presenciou logo nos seus primeiros minutos um segundo bis com a qualidade de “Yesterday”, “Helter Skelter” e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”. Quando tudo realmente acabou depois de quase três horas, virei para um amigo ao lado e perguntei: “Como definir esse show?”, no que ele respondeu: “Simples. Não tem definição. Elas são pequenas demais para referenciar algo do tamanho que vimos hoje.” Verdade.
Paul McCartney justificou com força, simpatia e extrema categoria a aura de divindade que paira sobre si. É incrível a destreza com que toca todos os vários instrumentos em que se aventura. É certo que a voz falha algumas poucas vezes, mas isso realmente nada importa. Sem tomar um único copo de água que fosse, demonstrou para centenas de outros artistas como se faz um grande show, sem estrelismos ou pretensão. Na saída do estádio, as milhares de pessoas tinham em comum um sorriso estampado no rosto, digno de quem acabou de ver o show da sua vida.
Foto:
http://ultimosegundo.ig.com.br

domingo, 21 de novembro de 2010

Festival Planeta Terra - Playcenter (SP) - 20.11.2010

“Enfadonho”: que causa enfado, importuno, maçante, chato, monótono. “Pretensioso”: que tem pretensões, presunção ou vaidade. Essas duas palavras e suas respectivas definições refletem muito bem o que foi o show da recente encarnação do Smashing Pumpkis encerrando o palco principal do Planeta Terra 2010. Billy Corgan veio a São Paulo para produzir momentos constrangedores que só os fãs mais extremos e seres de outro planeta devem ter gostado.
A 4ª edição do Planeta Terra no Playcenter em São Paulo, no entanto, não teve somente a chatice de Billy Corgan e trouxe shows divertidos e apresentações memoráveis. Começou com a saraivada de pequenos hits do Mombojó ainda as 4 e pouco da tarde, para engatar na música dos Novos Paulistas, combo que reúne nomes da nova cena da cidade, mas que funciona somente nas partes individuais de integrantes como Tulipa Ruiz e Tatá Aeroplano (Cérebro Eletrônico).
Depois de umas três músicas do show do Of Montreal, um amigo comenta: “Até que eu gostava deles, mas depois de ver o que estou vendo, acho que não escutarei mais.” Brincadeiras à parte, o grupo estadunidense promoveu um festival de cores, formas e alegorias, divertindo bem principalmente em faixas como “Coquet Coquette” e “Rejector”. Entender todos os personagens que entram no palco (isso se tem explicação) dá papo para um bom par de horas no bar.
Mika fez um show em que passou do seu público principal e atingiu grande parte dos presentes com sua mistura de pop dançante, Elton John e Broadway. Honestamente não gostei, mesmo reconhecendo que teve imensa aceitação, o tom de falsete e os gritos do cantor acabam agredindo mais que agradando. O Phoenix em seguida fez um bom show com hits como “Lisztomania” e “1901” e um crowd surf fantástico do vocalista Thomas Mars. Surpresa boníssima.
O Pavement veio em sequência e fez o que todo mundo queria: engatou hit atrás de hit com muita distorção e uma vontade até grande, tendo em vista todo o histórico de despretensão da banda. Só foram músicas antigas, o que no caso do Pavement não é nenhum demérito, pelo contrário. Do início com “Gold Soundz” ao final com uma versão sublime de “Here”, Stephen Malkmus e sua trupe mostraram o porquê de serem citados como influência para tantos.
Além de hits alternativos como “Cut You Hair” e “Range Life” (que não teve nenhum verso trocado, apesar do show dos Pumpkis depois), a banda fez versões esplêndidas para canções como “Rattled By The Rush”, “Two States”, “Perfume-V” e “Stop Breathin’”. O segundo baterista Bob Nastonovich trazia ótimos momentos quando saia ensandecido de trás para pegar o microfone e cantar aos berros algumas das músicas. Show para abrir o sorriso e cantar junto.
O espaço na frente que tinha esvaziado um pouco no Pavement por conta do Hot Chip no mesmo horário, encheu mais quando o Smashing Pumpkis começava seu show de horrores. Esse mesmo espaço esvaziou na mesma proporção quando Billy Corgan tentou tocar o hino dos Estados Unidos e começou os solos, incluindo um extremamente chato e sem a mínima função prática do seu baterista. Faltaram hits e sobraram pessoas indo embora antes do fim.
Até entendo que na sua terceira vinda ao país o Pumpkis (se é que ainda pode ser chamado assim) não tocasse só coisas conhecidas, até por conta das músicas que vem sendo disponibilizadas na internet. Porém, o que se viu atravessou e muito essa linha. O maior problema dessa encarnação da banda é que os três músicos que substituem James Iha, D’arcy e Jimmy Chamberlin são bem inferiores a eles, deixando tudo nas mãos de Corgan, o que é claramente um perigo.
Mesmo com a decepção da atração que tinha a responsabilidade de fechar o festival, o Planeta Terra mostrou novamente que é o melhor do país. Organização impecável, ótima estrutura (o fato de ser no Playcenter ajuda muito), além de inovações e atrações por todos os lados. O único defeito grave é ainda não terem resolvido o problema da saída, onde tem muita gente para pouco táxi, quando talvez um simples convênio pudesse resolver. No mais, é esperar a versão 2011.
P.S: Fotos retiradas do site oficial do evento: http://musica.terra.com.br/planetaterra/2010
Sobre as edições do festival em 2008 e 2009, passe aqui e aqui.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

"Os Beats" - Harvey Pekar, Ed Piskor e Paul Buhle

A geração beat que causou tanto furor nos Estados Unidos nos anos 50 e 60 deixando sua marca na obra de outros artistas como Bob Dylan e Beatles, entre tantos outros, talvez hoje tenha ficado para trás. Os tempos são outros e a crença na falta de valores e a busca por diversos tipos de artes ou comportamentos que vão em direção a oportunidades de frentes criativas diversas, hoje já não faz tanto sentido, uma vez que o mundo recicla isso de outras maneiras.
Dito isso, ao término de “Os Beats”, graphic novel que Harvey Pekar escreveu antes do seu falecimento em julho deste ano, fica difícil imaginar qual a relevância da obra para uma nova geração que não conhece e possivelmente não ouviu falar em Jack Kerouac, Allen Ginsberg ou William Borroughs. Lançada lá fora ano passado, chegou aqui agora pelo selo Benvirá da Editora Saraiva com 208 páginas e vem com a arte de Ed Piskor e a edição de Paul Buhle.
Junto do trio responsável que coordena a maior parte das narrativas, estão vários outros nomes dos quadrinhos underground como Joyce Brabner (esposa de Harvey Pekar), Jay Kinney e Jeffrey Lewis. São pequenas biografias espalhadas em desenhos em branco e preto, contando um pouco de histórias que vistas agora com o devido distanciamento narram vidas que produziram obras importantes, mas que também tiveram erros e fracassos em demasia.
Harvey Pekar, um ícone da contracultura moderna que sempre se mostrou influenciado pela geração beat no seu trabalho na excelente “American Splendor” (que virou filme em “Anti-Herói Americano”) versa sobre Kerouac, Ginsberg e Borroughs com reverência e algumas poucas brincadeiras, fazendo falta a sua rabugice tradicional. Esta superficialidade é a maior falha de “Os Beats”, que se contenta apenas com dados históricos e pouca interpretação dos fatos.
Mesmo assim se trata de um livro recomendável, não somente por causa dos três grandes, mas principalmente pela gama de artistas importantes desta geração que ficaram na sombra deles, apesar do reconhecimento crítico. Nele estão pequenas doses de autores influentes da literatura marginal americana como Michael McClure, Lawrence Ferlinghetti, Gregory Corso e Diane Di Prima, que podem servir de aperitivo para um futuro conhecimento mais abrangente.
Kerouac, Ginsberg e Borroughs escreveram obras poderosas como “On The Road” (“Pé Na Estrada’), “Howl” (“Uivo”) e “Naked Lunch” (“Almoço Nu”), respectivamente e ingressaram fortemente dentro da turma dos anos 60 e 70 que converteram essas idéias para seus trabalhos. Hoje, no entanto, esse legado de tanto filtrado que foi por geração após geração não mantêm o mesmo impacto e talvez “Os Beats” sirva para mudar um pouco isso.
Sobre “On The Road” de Jack Kerouac, passe aqui. Mais Harvey Pekar no blog, passe aqui.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"Nada Me Faltará" - Lourenço Mutarelli

Em um feriado praticamente como todos os outros, Paulo saiu de casa com sua mulher e filha em direção a um sítio de um amigo em Ibiúna no interior de São Paulo. Tudo caminhou normalmente. Arrumou as coisas, teve uma discussão irrisória com a esposa por conta de alguma besteira e tomou a estrada. Isso é o que está na sua memória quando ele aparece batendo na porta do prédio onde morava. Acontece que as coisas não são tão simples assim.
Paulo sumiu por um ano junto com a mulher e filha para desespero dos familiares e amigos. Mesmo com a procura de todos, incluindo a polícia, nenhuma pista foi achada. Quando ele aparece na porta do prédio onde residia, o novo porteiro nem lhe conhece. Ele resolve então ir em direção a casa da mãe, o que acaba causando um misto de alegria e susto pela forma que acontece e principalmente porque a mulher e a filha não aparecem da mesma maneira.
É com essa trama que Lourenço Mutarelli costura as linhas do seu novo romance. “Nada Me Faltará” chega pela Companhia das Letras com 136 páginas. Nele, o autor conhecido por obras como “O Cheiro do Ralo” e “O Natimorto” traz novamente uma história que em nenhum momento é convencionada aos lugares comuns e habituais de sempre. Bom exemplo disso, “Nada Me Faltará” é construído somente com diálogos, sem nenhuma descrição detalhada de nada.
Paulo, o cara que some e depois de um ano retorna sem lembrar-se do que aconteceu é um personagem que vai sendo descoberto a cada momento e chega no final sem apontar direito para onde está indo. Mais do que uma história sobre perdas, raiva e convenções sociais e familiares, “Nada Me Faltará” transita quieto pela solidão e pela maneira com que as pessoas vivem despejando expectativas próprias em cima de outras pessoas que agüentam isso caladas.
Quando o livro já está chegando perto do fim chega-se a conclusão que pouco interessa o que aconteceu ao Paulo, sua mulher e filha. Não importa se ele é um grande ator, um assassino filho da mãe ou um pobre coitado que nunca mais vai ter a vida de volta. “Nada Me Faltará” talvez não seja um livro para se entender, para absorver a história. Ele fala sobre o meio, amplificado por um desastre, mostrando o quanto todos podem ficar perdidos de vez em quando.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

V Festival Se Rasgum - Belém(PA) - 13 e 14 de Novembro

A 5ª edição do Festival Se Rasgum passou. Foram três dias em que a música pediu passagem na capital paraense para mostrar tendências, revisitar o antigo e vestir novas roupagens. A bandeira da diversidade – essa palavra tão perigosa – que é carregada pelo evento, funcionou mais que atrapalhou e a produção continuou na espiral de crescimento dos últimos anos. E os shows? Bom, por conta de alguns fatores, estes tiveram uma boa dose de surpresa embutida na conta.
Sábado – 13 de novembro
Não fui ao primeiro dia (12) no Hangar que reuniu The Hell’s Kitchen Project (MG), Dona Onete (PA), Felipe Cordeiro (PA) e André Abumjamra (SP). A pequena saga começava então no sábado (14) por volta das 20:00hs. Programado para começar nesse horário, o festival teve quase duas horas de atraso por conta de uma chuvarada que desceu dos céus sem muito aviso. Foi muita água, o que atrapalhou não somente os últimos shows como a chegada do público, que mesmo assim respondeu bem.
O Dharma Burns mandou bem no seu powerpop melódico de músicas como “Day By Day” e “Shining Stars” e foi sucedido pelo também local Mostarda na Lagarta, que sinceramente não entendo como passou pelas seletivas, deixando bandas melhores de fora. Na sequência o carioca Lê Almeida não conseguiu fazer o seu som empolgar. Seu indie rock com roupagem lo-fi teve poucos bons momentos como “Letícia Cristina” e a cover de “Loretta’s Scars” do Pavement, deixando para o Soatá no palco principal a tarefa de ser a primeira banda a realmente empolgar parte do público.
O primeiro grande show do festival, no entanto, viria a seguir. O Cabruêra com sua misturada de cirandas e repentes trouxe o público para dentro do jogo e com o vocalista Arthur Pessoa comandando a brincadeira, divertiu bem. O Graforréia Xilarmônica sucedeu os paraibanos no palco secundário e mesmo com a corda quebrada da guitarra de Carlo Pianta logo no início, fez um show para se guardar. Cantar a plenos pulmões músicas como “Empregada”, “Rancho” e “Amigo Punk” tem um sabor especial.
Depois seria a vez do Odair José que acompanhado dos mineiros do Dead Lover’s Twisted Heart (que ano passado passaram sem empolgar no festival) trazia uma certa desconfiança no ar. Foi surpreendente. Com seu violão em punhos e uma cozinha funcional, o compositor goiano despejou músicas como “Deixa Essa Vergonha de Lado”, “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” e “Cadê Você”, que a grande maioria cantou junto. Ainda teve até bis sozinho com “Foi Tudo Culpa do Amor”. Bonito que só.
Nelsinho Rodrigues, um colecionador de sucessos do brega local veio na sequência e fez dançar, sendo bastante elogiado por isso. Mas convenhamos, se ele não fizesse dançar, ia fazer o quê? Nada demais. O Cidadão Instigado, uma das maiores expectativas pessoais, fez um show bom, com “Escolher Pra Quê?” e “Homem Velho” se sobressaindo, além de um Fernando Catatau inspirado, mas que não conseguiu empolgar. Era 4 e pouco da manhã e o cansaço já não permitia esperar os próximos shows, inclusive o do Otto que acabou sua apresentação quase às 7 da matina. Fica para outro dia.
Domingo – 14 de novembro
No terceiro dia o tempo abriu, a lua saiu e as expectativas de uma noite melhor se acenderam. Mesmo com mais um atraso no começo, o Projeto Secreto Macacos abriu os serviços com um grande show no palco secundário. O instrumental do grupo tem muito peso nas guitarras de Yuri Pinheiro e Jacob Franco e flerta muito bem com a psicodelia. Altamente recomendável. O Paris Rock na sequência foi bem decepcionante. Esperava muito mais do grupo que tem um EP legal lançado esse ano.
O paraense Bruno B.O veio com discurso, boas guitarras e improviso para fazer mais um bom show, conseguindo melhor resultado quando caminhou pelo terreno explorado nos anos 90 por Planet Hemp e Pavilhão 9. Mas o melhor show do festival estava por vir. Os veteranos do Deliquentes subiram no palco principal para uma apresentação histórica. Jayme Katarro comandou um show para a memória, daqueles de deixar a gente ainda meio desnorteado quando tudo acaba. Simplesmente irrepreensível.
O Graveola e o Lixo Polifônico mesmo repleto de boas intenções, não conseguiu fazer o show deslanchar e o Emicida teve como ponto alto do show as intervenções bem sacadas do DJ Nyack que engatava samplers que iam de AC/DC a Cartola. No palco menor foi a vez de Pio Lobato subir e mesmo sendo visível não estar tão a vontade na frente da sua apresentação foi engraçado, tocou com a habitual categoria e contou com participações especialíssimas de Iva Rothe, Juliana Sinimbú e Sammliz. Bacana que só.
Outra das grandes expectativas do festival era o Dado Villa-Lobos tocando com o Los Porongas. O show foi agradável, funcionou muito bem nas primeiras cinco músicas e caiu depois, só retornando com o final de “Tempo Perdido”. Nada contra os acreanos dos quais gosto bastante, mas teve muito Los Porongas para pouco Dado. A noite chegava ao fim e o outro grande show do festival se anunciava. O Madame Saatan foi poderoso e irretocável, fazendo o espaço interno do African literalmente tremer. Fodaço.
Ainda teria The Slackers e Dubalizer, mas o cansaço cobrou a conta outra vez e o festival ficou ali por volta das três da manhã. Na 5ª edição, o Se Rasgum dosou bem suas idéias, inclusive no que diz respeito a tão propagada sustentabilidade, na qual deu passos largos e caminhou mais ainda na busca pela excelência de produção, corroborada pela estupenda idéia do espaço laboratório ser vinculado ao site Música Paraense. No entanto, os shows, a matéria prima principal, tiveram a menor carga de grandes apresentações de todas as edições.
Segue abaixo um Top 5 dos melhores shows dessa edição:
1 - Deliquentes
2 - Madame Saatan
3 - Odair José e Dead Lover’s Twisted Heart
4 - Graforréia Xilarmônica
5 - Projeto Secreto Macacos
Obs: Fotos pelo próprio evento aqui: http://www.flickr.com/serasgum

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"Deus e o Diabo no Liquidificador" - Cérebro Eletrônico - 2010

"Perdi a decência, ontem eu perdi a noção, perdi a compostura, a cabeça, perdi a razão. Perdi as chaves do apê e dormi no corredor. Naturalmente, eu perdi a moral com minha mulher e o com o zelador.” Esses são os versos iniciais de “Decência”, a primeira música de “Deus e o Diabo no Liquidificador”, o mais recente trabalho do Cérebro Eletrônico. A banda que cativou um bocado de gente com “Pareço Moderno” de 2008, consegue voltar ainda melhor.
Do disco de 2008 para cá duas baixas: Saíram o tecladista Dudu Tsuda e o baixista Isidoro Cobra. Nos seus lugares entraram Fernando TRZ (teclados) e Renato Cortez (baixo), que se juntam ao trio Tatá Aeroplano (vocal e efeitos), Fernando Maranho (guitarra e vocais) e Gustavo Souza (bateria). No terceiro trabalho o Cérebro Eletrônico contou com a produção de Alfredo Bello (mais conhecido como DJ Tudo) em conjunto com o guitarrista Fernando Maranho.
Fernando Maranho, aliás, é um dos destaques do álbum. Com a sonoridade repleta de guitarras o músico aparece bem mais, participando inclusive da composição junto com Tatá Aeroplano. A herança tropicalista da banda ainda está bem presente como em “O Fabuloso Destino do Chapeleiro Louco” que remete diretamente ao Mutantes, no frevo maluco psicodélico de “Desestabelecerei” ou na poesia e ritmo de “Desquite”, mas adquire tons mais crus e secos.
São onze canções em “Deus e o Diabo no Liquidificador” e boa parte envolve o ouvinte com melodias bem feitas e assobiáveis junto com as letras bem humoradas e longe do lugar comum habitual. “Cama” é um bom exemplo disso, com direito até a orquestrações, onde Tatá Aeroplano canta que só sai da cama quando a mulher decidida lhe disser que o ama. Uma balada com alma antiga, mas travestida de todas as nuances e sons dos nossos modernos tempos.
No rockinho básico de ‘Os Dados Estão Lançados” a letra cita Freud e Lars Von Trier para concluir que “Deus é mais, o diabo é menos, o homem é mais ou menos”. Já “Garota Estereótipo” é um folk-rock sessentista com participação de Hélio Flanders (Vanguart) no vocal. Caiu bem que só. “220V” é a única música que não foi composta pela banda (é de Peri Pane) e esbanja bom astral. Mal comparando talvez seja a “Me Atirar na Orgia” da vez por causa do ritmo.
“Sóbrio e Só” é um indie pop encharcado de influências dos anos 60 com a letra dizendo “A casa caiu, ou me mudo ou me caso, ou me acabo em álcool” enquanto ‘Realejo em Dó” é muito arrastada e se ficasse de fora não faria tanta falta assim. O disco acaba com a faixa que empresta o nome ao mesmo em cinco minutos de nonsense e uma tristeza quase surreal em passagens como: “Eu vivo no paraíso, distribuindo abraços, vivenciando amor (...) Diferente e só”.
As participações especiais que são habituais para a banda aqui aparecem ainda mais. Pelo disco estão perdidos além do já citado Hélio Flanders, outros nomes como Tulipa Ruiz, Leo Cavalcanti, Gustavo Galo e os ex-parceiros Dudu Tsuda e Isidoro Cobra. “Deus e o Diabo no Liquidificador” mostra uma banda que mesmo deixando clara sua alma tropicalista não deixa de confrontar outros sons para produzir músicas de forte teor pop. A música nacional agradece.
Sobre o trabalho anterior, passe aqui.
Site Oficial: http://www.cerebrais.com.br

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"Scott Pilgrim Contra o Mundo" - 2010

Juro que comecei a assistir “Scott Pilgrim Contra o Mundo” com a maior das boas intenções, afinal meu lado nerd estava ansioso para ver como o diretor Edgar Wright (“Todo Mundo Quase Morto”) conseguiria transpor para a tela o manancial de referências que os quadrinhos de Bryan Lee O’Malley utiliza. Essa transposição até que funciona bem, mas o esgotamento e o cansaço vão tomando conta na mesma proporção que as aventuras se desenvolvem no filme.
“Scott Pilgrim Contra o Mundo” é forjado para um público completamente específico. A denominação nerd nem combina mais com esse público. É tanta informação (mal) absorvida ao mesmo tempo, que deve-se adequar tudo possível para agradar pelo menos em parte alguém. Música, cinema, televisão, videogames e literatura juvenil são arremessados dentro de um balaio de sons e efeitos visuais que por mais bem feitos que apareçam, não disfarçam a confusão.
Michael Cera, o ator que dá vida ao canadense de 22 anos meio sem graça e sem jeito de Toronto, era a escolha óbvia para o papel. Ele está acostumado com esse tipo do jovem que curte bandas obscuras e demonstra incapacidade para lidar com a vida e as mulheres que nela aparecem. Funcionou muito bem em trabalhos como “Juno”, “Superbad” e “Uma Noite de Amor e Música” e apenas mais ou menos em outros casos recentes como “Juventude em Revolta”.
O problema de Michael Cera é que em qualquer personagem que interprete (como no horrível “Ano um”) ele traz os mesmo trejeitos e caras. Quase um Jim Carrey dos adolescentes e isso pode acabar fazendo mal na sua carreira. Como Scott Pilgrim vemos o mesmo ator de quase todos os filmes, tentando se equilibrar na sua pacata vida, morando com um amigo gay, namorando uma colegial chinesa de 17 anos e tocando baixo na razoável banda Sex Bob-Omb.
Enquanto a vida vai andando sem pressa aparece no caminho Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead) para bagunçar tudo. Para ir atrás dessa nova paixão, Scott Pilgrim precisa lidar com os ex-namorados de Ramona. Tudo normal em uma trama simples, com a exceção de que cada ex-namorado tem um super-poder próprio e precisa ser derrotado como em um jogo de videogame. A ação domina boa parte da trama e promove até bons momentos isoladamente.
“Scott Pilgrim Contra o Mundo” vem sendo considerado o filme indie do ano (sim, uma nova categoria), guardando comparações com “500 Dias com Ela” do ano passado, que é bem superior. Mesmo com boas tiradas e peças importantes bem realizadas como a trilha sonora de Nigel Godrich (Radiohead), o longa do diretor Edgar Wright é feito para um público que transmite o sinal desses tempos de efemeridade e distúrbio de atenção. E deve agradar somente a ele.
P.S: Bons tempos em que filme “indie” era “Alta Fidelidade”.

sábado, 6 de novembro de 2010

V Festival Se Rasgum - Hangar (PA) e African Bar (PA) - 12,13 e 14 de Novembro

Novembro é mês de Festival Se Rasgum. E de uma programação especial na quinta edição do evento que conquistou Belém com sua diversidade musical, trazendo entre suas apostas shows que vão do indie rock lo-fi ao ska-reggae, passando pelo brega, heavy metal, pop e guitarrada. O V Festival Se Rasgum traz a Belém Otto, Cidadão Instigado, André Abujamra, Emicida, Graforréia Xilarmônica, Cabruêra, Lê Almeida, Dubalizer, Graveola e o Lixo Polifônico e os shows combinados Odair José com Dead Lover’s Twisted Heart e Los Porongas com Dado Villa-Lobos, além de uma atração internacional, a norte-americana The Slackers. (Release oficial).
Programação completa:

SEXTA – 12.11 - Hangar - [A partir das 22h] André Abujamra (SP) Felipe Cordeiro (PA) Dona Onete (PA) The Hell’s Kitchen Project (MG) + DJ convidados Palco: Marcelinho da Lua (Bossa Cuca Nova – RJ) Patrick Tor4 Deck: Pedro D’eyrot (Bonde do Rolê – PR) DJs Meachuta

SÁBADO – 13.11 - [a partir das 20h] Otto (PE) Félix Y Los Carozos (PA) Cidadão Instigado (CE/SP) Nelsinho Rodrigues (PA) Odair José (GO) + Dead Lover’s Twisted Heart (MG) Graforréia Xilarmônica (RS) Cabruêra (PB) Lê Almeida (RJ) Soatá (DF) Dharma Burns (PA) Mostarda na Lagarta (PA)

DOMINGO – 14.11 - [a partir das 20h] The Slackers (EUA) Madame Saatan (PA) Los Porongas (AC) + Dado Villa-Lobos (RJ) Pio Lobato (PA) Emicida (SP) Graveola e o Lixo Polifônico (MG) Delinquentes (PA) Bruno B.O (PA) Dubalizer (SP) Projeto Secreto Macacos (PA) Paris Rock (PA)

LABORATÓRIO MÚSICA PARAENSE.ORG

SÁBADO – 13.11 19h - DJ David Sampler 20h - V.N – (Vida Noturna) 21h - DJ Pro.Efx 22h - Mestre Juvenal 23h - Machines Of Shiva 0h - DJ Zenildo (Brasilândia) 1h - Cocota de Ortega

DOMINGO – 14.11 19h - DJ João Brasil (Link Belém/Londres) 20h - Árvore Ar 21h - DJs Bem bom 22h - Sinimbú + Aíla + Nogueira 23h - DJs Bernardo (Bassemotion) / Albery (Tuntz) 0h - Yeman Jah Root 1h - DJ Waldo Squash, Maderito e Gang do Eletro

INGRESSOS À VENDA: Passaporte para as três noites: R$ 40,00 (meia* / 1º lote), R$ 50,00 (meia / 2º lote) e R$ 60,00 (meia / 3º lote) Ingressos antecipados por dia (apenas na semana do Festival): R$ 25,00 (meia*) para sábado ou domingo. Ingressos por dia (na hora): R$ 30,00. Pontos de venda: Ná Figueredo (Gentil Bittencourt, 449 e Estação das Docas) e no quiosque da Se Rasgum, no Boullevard Shopping (1º piso).

*Meia entrada para clientes Vivo, Estudantes da Estácio – FAP e quem apresentar postal do evento na hora da compra.

Mais informações em: http://www.serasgum.com.br