terça-feira, 31 de dezembro de 2013

E que venha 2014!


Salve, salve minha gente amiga,

Mais um ano chega ao fim e deixa para trás, como de costume, bons momentos para a cultura em geral. Tivemos trabalhos competentes na música, cinema, literatura, quadrinhos e televisão (no que concerne a séries). Como é o meu desejo habitual, que no ano que bate na porta esperando para entrar, isso aconteça em uma quantidade maior, afinal coisas boas são sempre bem vindas.

E sempre fazem bem.

2013 foi um ano complicado para o Coisapop. Foi um ano em que o trabalho impossibilitou uma dedicação maior (temos que pagar as contas, não tem muito jeito) e também bateu certa vontade de deixar tudo para lá, algo inédito desde que criei o blog lá pelos idos de 2005. Normal. Então, 2014 será um ano de algumas mudanças por aqui, se tudo correr bem. Mudar é preciso. Estou trabalhando nisso. Porém, mesmo escrevendo muito menos do que estou acostumado em 2013, para minha surpresa os números de acesso se mantiveram no mesmo patamar do ano anterior.

Por isso deixo aqui o meu muito obrigado a todos que passaram aqui, concordando ou não com o teor dos textos. Aqueles que dedicaram uma parte do tempo para entrar no blog, agradeço de coração. Um abraço virtual em todos os leitores, amigos e colaboradores que fazem com que isso seja levado em frente dia a dia, apesar dos percalços e obrigações que a vida impõe.

Que neste último dia de 2013, possamos então repensar a vida, as nossas atitudes e o caminho que optamos em trilhar. Que as estradas que vamos pavimentar pela frente estejam repletas de realizações e alegrias e que ao construir essas novas estradas, nunca nos esqueçamos do compromisso único de fazer desse mundo um lugar melhor para as gerações futuras.

Isso é fundamental. E necessário acima de tudo.

Que em 2014 ano possamos honrar nossos sonhos como eles merecem.

E que venha um grande ano por aí.

Paz Sempre.

domingo, 29 de dezembro de 2013

"O Mordomo da Casa Branca" - 2013

Eugene Allen trabalhou na Casa Branca por 34 anos e atravessou oito administrações diferentes.  Natural do estado da Virginia começou a trabalhar na residência oficial e principal escritório do Presidente dos Estados Unidos em 1952 na época do governo de Harry S. Truman e por lá ficou até 1986 durante a gestão de Ronald Reagan. De lá presenciou como espectador privilegiado não só as mudanças na formatação do mundo, como a intensa luta dos negros por direitos civis plenos no país.

Allen era negro e foi na maioria do tempo em que serviu na Casa Branca, um mordomo. Sua história levou o jornalista Wil Haygood a escrever sobre o tema e foi baseado em um artigo dele chamado “A Butler Served by This Election” de 2008, que o diretor Lee Daniels resolveu fazer um filme sobre Allen. Baseado, na verdade, seria um exagero dizer. Como vemos em “O Mordomo da Casa Branca” que estreou nos cinemas do país nesse final de ano, a história serve mais como ponto de partida e leve inspiração.

Lee Daniels tem um grande filme na carreira. “Preciosa - Uma Lição de Esperança” de 2009 trata do racismo de maneira forte e sem coações sentimentalistas. Em “O Mordomo da Casa Branca”, o diretor ambiciona além de tratar do racismo, usar o ponto de vista do seu personagem principal para mostrar ao telespectador a transmutação de ideias e pensamentos durante os anos. No entanto, essa ambição é frustrada pelo fraco roteiro de Danny Strong e nos apelos sentimentalistas que dessa vez não conseguiu deixar de fora.

O Eugene Allen original é convertido para o ficcional Cecil Gaines e interpretado por um Forest Whitaker que na maioria do tempo parece perdido em forjar caras e trejeitos. No longa, ele sai da fazenda de algodão onde mora quando o pai é assassinado depois de questionar o estupro da mãe (Mariah Carey) por um dos donos. Uma senhora branca (Vanessa Redgrave) da fazenda resolve lhe acolher e ensinar como ser um mordomo, um “negro domesticado” como muitos se referem a esse tipo de emprego na época.

Quando chega para trabalhar na Casa Branca, Cecil Gaines já é casado com Gloria (Oprah Winfrey, surpreendentemente bem) e tem dois filhos, sendo que um vai na contramão da sua passividade e entra de cabeça na briga pelos direitos civis e contra os absurdos praticados. O restante do elenco inclui Cuba Gooding Jr. e Lenny Kravitz como amigos e nomes do quilate de Robin Willians, John Cusack, James Mardsen, Liev Schreiber e Alan Rickman interpretando presidentes americanos. Todos, igualmente perdidos como o ator principal.

Com uma ótima premissa inicial, Lee Daniels consegue não ir além disso em um filme piegas, superficial e sem intensidade. Ao transformar Eugene Allen no ficcional Cecil Gaines perde na credibilidade dos fatos e não consegue definir uma temática principal como guia para a trama. Além disso, consegue desperdiçar um elenco poderoso em atuações sem inspiração e desconexas, e enquanto procura prestar um depoimento pela luta dos negros nos USA, executa exatamente o oposto disso.

Nota: 5,5

Textos relacionados no blog:



Assista a um trailer legendado do filme:

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

"Os Livros da Magia" - Neil Gaiman

Em dezembro de 1990 o inglês Neil Gaiman ainda não gozava do prestígio de hoje em dia e nem tinha toda uma gama de superlativos relacionados aos seus trabalhos e obra. É verdade que “Sandman” já havia iniciado a ser publicado e pela sua extrema qualidade começava a chamar a atenção do mundo dos quadrinhos. Foi quando ele aceitou fazer para a DC Comics “Os Livros Da Magia”, uma minissérie dividida em quatro partes que se iniciou em dezembro de 1990 e terminou em março de 1991.

A série que já foi publicada no Brasil em diversos formatos e editoras ganhou sua edição “definitiva” no ano de 2013. A Panini condensou as quatro partes em um encadernado de luxo com 212 páginas, com tratamento rebuscado e extras contendo esboços originais de Neil Gaiman para o obra. O trabalho artístico de John Bolton, Scott Hampton, Charles Vess e Paulo Johnson, que se dividiram individualmente nos desenhos de cada episódio, aparecem com resplendor e mais impetuosos que em qualquer outra publicação anterior da série aqui.

Em “Os Livros da Magia”, Neil Gaiman usa uma boa parte do universo mágico da DC Comics, entre personagens mais conhecidos como Boston Brand (Desafiador), Zatanna, Dr. Destino e Espectro com coadjuvantes como Jason Blood, Félix Fausto e Senhor da Noite, além de fazer uma incursão pelo seu próprio universo de “Sandman”, entrando no reino do Sonhar e trazendo Caim e Abel, assim como Morpheus, personagem principal da série que mesmo tendo acabado em 1996, ganha cada dia mais fãs (ou devotos?).

O foco da história é o jovem Timothy Hunter que leva seus dias entre andar de skate e não fazer nada. Em um dia como qualquer outro ele é abordado por quatro figuras peculiares. Vingador Fantasma (também chamado de Estranho nessa época), John Constantine, Dr. Oculto e Mister IO, são essas figuras que explicam ao garoto que ele pode vir a se tornar o maior mago de todos os tempos. Mesmo não acreditando muito, ele embarca em uma jornada para conhecer um pouco o ambiente da magia que lhe falam.

A divisão do conhecimento vai por cada um dos guias e ultrapassa tempos, eras, mundos e dimensões, sempre com Gaiman fazendo referência a diversas outras coisas, sem esquecer de deixar na essência uma aventura de busca e conhecimento, uma história de formação. Contando a história usando as mais diversas prerrogativas e maneiras, insere uma sucessão de perigos e confusões, que bem ao seu estilo são decorados com medo e a ânsia de ir atrás de algo novo, uma dualidade tão explorada por ele posteriormente.

Depois de “Os Livros de Magia” era de se esperar que Timothy Hunter deslanchasse no universo da magia da DC, porém as coisas foram lentas ou por outros caminhos. Mesmo tendo chegado a permear alguns títulos alheios e até um próprio recentemente, é um personagem que merecia ser mais bem trabalhado, devido principalmente ao início primoroso concebido por Neil Gaiman.

Um início que mesmo agradando mais a quem já conhece o mundo mágico da DC, é um dos grandes trabalhos do seu autor, uma jornada repleta de nuances e magnificência.

Nota: 9,5

P.S: Existiu (e ainda existe) uma comparação entre Timothy Hunter e Harry Potter, já que as semelhanças visuais e de concepção são muitas e que J. K. Rowling criou seu bruxinho depois de “Os Livros da Magia”. No entanto, o próprio Neil Gaiman já afastou a possibilidade de um possível plágio. Mas...

Textos relacionados no blog:
- Literatura: “O Oceano no Fim doCaminho” – Neil Gaiman

Site oficial do autor: http://www.neilgaiman.com

Twitter do autor: http://twitter.com/neilhimself

domingo, 22 de dezembro de 2013

"Pavor Espaciar" - Gustavo Duarte

Chico Bento é possivelmente um dos personagens mais queridos do universo criado por Mauricio de Sousa, com poder suficiente até mesmo para rivalizar com o quarteto de ferro do artista composto pela Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali. Seu jeitão engraçado, caipira, simples, humilde e ingênuo arrebatou leitores no decorrer dos anos e mesmo nos nossos tempos em que o interior já é, na sua maioria, tão urbano quanto uma cidade de médio porte, ainda exerce certo fascínio.

Isto posto, o álbum estrelado por ele dentro do projeto do selo Graphic MSP, com distribuição pela Panini Comics, era cercado de alguma expectativa. Até porque o escolhido para criar a história que se enquadrasse na proposta de olhar os antigos personagens com outros olhos em uma quantidade maior de páginas era um acerto. Gustavo Duarte (de “Có!” e “Monstros!”) passou a infância, adolescência e boa parte da juventude em Bauru, no interior de São Paulo, conhecendo bem o ambiente em que o personagem é inserido.

Assim nasceu “Pavor Espaciar”, a terceira graphic novel da empreitada citada. Com 84 páginas, a trama é uma homenagem a histórias antigas dos anos 70 e 80. Nela, Chico Bento, seu primo Zé Lelé, o porco Torresmo e a galinha Giselda são deixados em casa vendo televisão, enquanto os pais de Chico dão uma saída para visitar um parente. O que eles não esperavam era que fossem também receber uma inesperada visita, uma visita de seres estranhos oriundos de algum planeta perdido no espaço.

Em quadrinhos grandes, com traço limpo, cores bem colocadas e uma inclinação constante para o exercício da expressão de movimento, Gustavo Duarte inventa uma aventura de rapto, busca, resgate e salvação com humor leve e sem maiores complicações. No entanto, apesar de palatável, “Pavor Espaciar” parece sem cor, sem sabor, sem energia. O autor que gosta pouco de diálogos nas suas obras, aqui até coloca falas para ditar ritmo, mas o resultado final fica bem abaixo do que esperado e chega a ser decepcionante.

A escolha do tema que une o cidadão do interior com o alienígena parece não ter sido a melhor, e mesmo com a inclusão de várias referências escondidas, Gustavo Duarte não faz com que ele consiga funcionar. E também, a sua maneira de trabalho que permite muito mais sensação de movimento do que a expressão por palavras, deixa de lado um dos pontos mais fortes do Chico Bento que são os diálogos que transitam entre a inocência e o despreparo, a simplicidade e a patetice. E essa ausência cobra o preço no final.

Nota: 5,5

Textos relacionados no blog:

- Quadrinhos: “AstronautaMagnetar” de Danilo Beyruth
- Quadrinhos: “Laços” de Vitor Cafaggi e Lu Caffagi

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

"A Roda do Tempo" - Livro 1 - "O Olho do Mundo" - Robert Jordan

O norte-americano de Carolina do Sul James Oliver Rigney Jr. faleceu aos 58 anos em 2007, mas pode-se afirmar com relativa certeza que esses anos não foram em vão. Ele lutou na guerra do Vietnã, formou-se em física no retorno e virou engenheiro nuclear da Marinha. Quando a paixão pela literatura falou mais alto, passou a se dedicar mais a isso criando a série “Fallon” sob o pseudônimo de Reagan O’Neal e sob outro pseudônimo (dessa vez, Robert Jordan) escreveu vários livros de “Conan, O Bárbaro”, assim como os 11 livros da série “A Roda do Tempo”, uma fantasia épica sucesso de público onde já foi publicada.

No Brasil, a série “A Roda Do Tempo”, é mais conhecida por fãs desse nicho de literatura ou por devotos de RPG’s. A Editora Caladwin chegou a publicar os dois primeiros volumes aqui, mas perdeu os direitos e não saiu mais nada. Pelas curvas da internet também se conseguia 4 edições portuguesas que a Bertrand Editora lançou entre 2007 e 2008 por lá. No entanto, em termos mais amplos, os livros são bem desconhecidos em solo nacional. A Editora Intrínseca assumiu então a missão de publicar novamente os livros no país, e o primeiro exemplar é “O Olho do Mundo”, com 800 páginas e tradução de Fábio Fernandes.

Os primeiros capítulos de “O Olho do Mundo” não são muito fáceis de serem transpostos por aqueles já habituados a esse tipo de literatura fantástica, principalmente ao universo criado por J. R. R. Tolkien nos anos 50 em “O Senhor dos Anéis”. As semelhanças são muitas. O livro inicia quando três garotos de uma pacata vila são chamados para cumprir um papel importante na guerra do bem contra o mal. Isso em um momento de festa e alegria, tendo como destaque a chegada ou não de fogos de artifícios. Reconhece? Bom, é muito parecido mesmo se colocarmos Frodo e Rand al’Thor lado a lado inicialmente.

Rand al’Thor é o garoto fazendeiro meio perdido e acanhado que logo se vê com uma espada famosa nas mãos lutando contra Trollocs (uma espécie de Orcs do Senhor dos Anéis) e seguindo adiante com mais alguns integrantes (como uma “Sociedade do Anel”) para salvar o mundo das mãos de um mal imenso que espreita e começa a se alastrar corrompendo pessoas e instaurando o medo. Tudo muito assemelhado ao clássico de Tolkien. E para quem gosta de achar correlações, as 800 páginas são um prato cheio para esse tipo de serviço.

A partir do momento que se compreende “A Roda do Tempo” como se fosse uma extensão criativa de “O Senhor dos Anéis”, as diferenças vão rareando e apresenta-se uma boa aventura para fãs do estilo, com magos, feiticeiras, animais perigosos, batalhas, reinos, e tudo o mais. E outras semelhanças passam a vir à tona, como com “As Crônicas de Gelo e Fogo” de George R. R. Martin, que por já ser bem conhecida aqui no país, pode levar a falsa impressão que Robert Jordan também se apropriou de alguns temas, o que não é bem assim.

Algumas alcunhas (Fatricida = Regicida), nomes (como Aemon), animais (o papel de lobos e corvos) e andamentos políticos podem levar a essa ideia. Entretanto, Robert Jordan começou a escrever a série em 1984, tendo o primeiro livro publicado em 1990, ao tempo que George R. R. Martin passou a elaborar seus textos em 1991 e só os publicou em 1996, assim temos uma inversão de influências. Esse ambiente político foi elevado ao extremo em “As Crônicas de Gelo e Fogo”, mas já aparece atuante em “A Roda do Tempo”, mesmo levando em consideração que no primeiro caso isso funciona muito melhor como personagem coadjuvante e motivador.

Em “O Olho do Mundo” você consegue enxergar até influências em outras séries como “Harry Potter”, “Eragon” e “A Torre Negra”, mas pela amplitude do conhecimento sobre essas obras, isso perde um pouco de valor para o leitor de hoje. Na promessa de publicar os 14 livros da série (11 escritos por Robert Jordan e 3 de maneira póstuma por Brandon Sanderson), a Editora Intrínseca tem a missão de deixar essas semelhanças explicadas ou esquecidas, com o intuito de fazer valer somente a boa aventura que permeia as páginas, e assim repetir o sucesso mundial da obra. Uma interessante tarefa.

Nota: 7,0


A Editora Intrínseca criou um hotsite onde disponibiliza o primeiro capítulo do livro e um pequeno livreto explicando um pouco mais sobre o universo da obra. Veja aqui: http://www.intrinseca.com.br/arodadotempo