segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Cosmópolis" - 2012


Em mais de 40 anos trabalhando com cinema, o canadense David Cronenberg quase que sempre objetivou repassar algum tipo de incômodo ao espectador. Esse desejo está lá nos seus filmes dos anos 80 como “Videodrome – A Síndrome do Vídeo” de 1983, “A Mosca” de 1986, ou o perturbador “Gêmeos - Mórbida Semelhança” de 1988. Isso foi se transformando com o tempo e ganhando outras cores como atestam os recentes “Marcas da Violência” de 2005 e “Senhores do Crime” de 2007. Porém, o desejo está lá, presente.

Em “Cosmópolis”, o mais recente trabalho de Cronenberg, essa opção em inquietar a quem assiste ao filme não poderia ficar de fora, e ganha contornos mais acentuados do que nos últimos longas. Baseado em livro homônimo lançado em 2003 por Don DeLillo (com roteiro adaptado pelo próprio diretor), vemos as preferências da carreira saltarem à vista, como a violência (embutida aqui mais em palavras), a preocupação constante com as expressões dos atores e aquele sentimento de angústia presente no ar.

A história em si não chega a ser difícil. Em um dia ruim, Eric Michael Packer (Robert Pattinson de “Crepúsculo”) vê a sua fortuna sumir pouco a pouco. Ele é jovem, de boa aparência, rico e executivo maior de um conglomerado bilionário. Mas também é paranoico, repleto de obsessões e preso a um casamento por conveniência financeira, do qual tenta de modo infrutífero fazer parte. Em um mundo onde até a palavra computador já soa antiga, busca algum alívio na arte de pintores como Mark Rothko.

Para lidar com esse dia perverso, Eric Packer se tranca em uma limousine branca com seguranças de suporte e busca atravessar a cidade para cortar o cabelo. Dentro desse “mundo próprio” que é o carro, ele recebe parceiros de negócios para reuniões, faz sexo e tem atendimento de rotina por um médico, sem perder a concentração. Em uma passagem chave do longa, mesmo passando por um exame de próstata à moda antiga, ele mal muda a expressão e continua conversando sobre a derrocada da fortuna.

Para interpretar os demais personagens que enxertam a trama, Cronenberg utiliza atores de categoria como Paul Giamatti, Juliette Binoche e Patton Oswald. Isso ajuda para tirar o foco um pouco de Robert Pattinson, que apesar de fazer um trabalho até bom, fica distante da intensidade que se almejaria em um primeiro momento para o papel. É bom ressaltar que o ator da saga juvenil vampiresca não era a escolha inicial, que recaia sobre Colin Farrell, descartado por estar envolvido em “O Vingador do Futuro”.

Em “Cosmópolis”, David Cronenberg exibe uma ótima forma. Todos os detalhes são inseridos milimetricamente. Da expressão de apatia dos figurantes no fundo aos detalhes das faixas dos protestantes no meio da cidade, tudo indica uma razão de ser, de existir. Com a câmera focada na maior parte do tempo nos rostos dos atores e repleto de analogias e alegorias por todos os lados, elabora uma narrativa incisiva sobre a sociedade, o capitalismo em termos gerais e o modo de vida pessoal e tão individualista dos nossos tempos.

Nota: 8,5

Assista ao trailer legendado:

domingo, 28 de outubro de 2012

"O Exótico Hotel Marigold" - 2011


A vida passou e deixou para trás uma série de casos mal resolvidos, frustrações e arrependimentos. Ou então, essa vida passou com tanta alegria e entusiasmo que os dias atuais já não correspondem aquilo que se acostumou em outros tempos. De uma forma ou de outra, são esses dois lados que impulsionam sete idosos ingleses a irem para uma viagem com destino a um hotel na Índia, com o intuito de aproveitar a aposentadoria, curar-se de algum mal ou simplesmente perceber que ainda se está vivo.

“O Exótico Hotel Marigold”, filme de 2011 que está disponível em DVD no país, trata justamente disso. De uma viúva que dedicou praticamente todas as energias ao casamento até um juiz aposentado que carrega dentro de si uma imensa sensação de culpa, esses sete idosos rumam na direção das cores, barulhos e odores da Índia procurando um algo mais, nem que esse algo mais seja um simples alívio. E é entre solidão, tédio e desejo que esses estranhos tentam redescobrir novamente as alegrias perdidas.

Dirigido por John Madden (de “Shakespeare Apaixonado)”, o filme é baseado no livro “These Foolish Things” de Deborah Moggach, aqui adaptado pelo roteirista inglês Oliver Parker. No elenco, nomes de talento mais que comprovado como Judi Dench (“Notas Sobre um Escândalo”), Bill Nighy (“Simplesmente Amor”) e Tom Wilkinson (“Entre Quatro Paredes”), além de promessas como Dev Patel (“Quem Quer Ser Um Milionário?”) que interpreta o sonhador e atrapalhado dono do hotel que dá nome ao longa.

Ao chegar à Índia, os sete viajantes se deparam logo com um choque de cultura e tradições. Quando chegam ao hotel - que pela internet conquistou a todos com seus aposentos maravilhosos – vem o choque, pois o mesmo é decadente e com sérios problemas de infraestrutura. Essa colisão de expectativas é a deixa para guiar os bons diálogos e a irreverência que assume o controle na maior parte do tempo, esbarrando de leve na questão de identidade cultural (aqui pungente por se tratar de Inglaterra e Índia).

“O Exótico Hotel Marigold” é um filme agradável, com destaque para as atuações individuais e conduzido de modo tranquilo pela direção. Mesmo parecendo piegas em alguns momentos, não deixa de exibir um pequeno charme lá no fundo. Os personagens que ostentam uma idade avançada estão acima de tudo preocupados em se mostrar vivos, com medo de parecer obsoletos perante o mundo. À sua maneira, fazem pensar em como conduzimos nossas vidas e o que estamos fazendo nesse trajeto rumo ao nosso destino final.

Nota: 8,0

Assista ao trailer legendado:

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

“Bourbon Street – Os Fantasmas de Cornelius” - Philippe Charlot e Alexis Chabert


O ano é 1997. A cidade é Nova Orleans no estado da Louisiana nos EUA. Em meio à mítica Rua Bourbon Street está Alvin, um guitarrista de jazz já com idade avançada que teve uma vida sossegada e caminha a passos largos para a aposentadoria. Ele é o típico do senhor que não pode reclamar da vida boa e tranquila que teve, porém essa vida foi aquém das expectativas da juventude e nunca lhe levou aos patamares maiores do panteão da música.

Estiloso, com terno de blazer riscado e ostentando um bigodinho maroto, Alvin praticamente já se conformou com o destino que se aproxima, quando tudo muda ao ver estampado no jornal uma matéria sobre o sucesso dos cubanos do Buena Vista Social Club, que tardiamente chegam ao sucesso e ao reconhecimento mundial. Uma faísca que acende o fogo adormecido da mocidade e o faz instigar os velhos comparsas a tocarem novamente.

Para botar mais fogo ainda nesse pensamento, encontra um antigo trompete de um velho amigo sumido há 50 anos. Cornelius era um extraordinário músico, com uma carreira brilhante pela frente, até que desapareceu sem deixar vestígios, para tristeza e melancolia do amigo. Com o surgimento do trompete e de novas informações, a trupe de Alvin se coloca a procura do majestoso trompetista que representará um plus para que a marcha obtenha sucesso.

Esse é o mote de “Bourbon Street – Os Fantasmas de Cornelius”, álbum em quadrinhos que a editora 8INVERSO Graphics lançou este ano no país. A obra tem 56 páginas, com roteiro de Philippe Charlot (o primeiro trabalho dele na área), desenhos de Alexis Chabert e cores de Sébastien Bouet. Lançado originalmente em 2011 na França, ganhou um tratamento majestoso por aqui com capa dura, formato grande (28cm x 21cm) e extras de criação no final.

Com prefácio do escritor (e amante declarado de jazz) Luís Fernando Veríssimo, o álbum é um deleite do início ao fim. Tanto pela história da jornada musical de Alvin, quanto pela esplendorosa arte e cores que ostenta. Quem guia e narra a trama é ninguém mais, ninguém menos, que o “Pops”, o grande Louis Armstrong, aqui convertido em um fantasminha camarada (mas nem tanto assim) que volta para ajudar esse bando 26 anos depois da sua morte.

“Bourbon Street – Os Fantasmas de Cornelius” trata paralelamente de racismo, culpa, conformismo e o envelhecimento dos sonhos. Tendo o jazz como coadjuvante ativo encanta não somente aos amantes do estilo, mas estende-se aos apaixonados por música. A busca de Alvin por Cornelius e, por conseguinte, pela juventude perdida, esbarra em uma bonita frase do compositor George Gershwin que diz: “De certo modo, a vida é como o jazz. É melhor quando se improvisa”.

P.S:  O álbum representa apenas a primeira parte. A segunda tinha lançamento previsto na França para o segundo semestre desse ano e, se assim ocorrer, deve desembarcar por aqui em 2013.

Nota: 9,5

Textos relacionados no blog:
- Literatura: “Pops- A Vida deLouis Armstrong” – Terry Teachout

Aqui tem um pequeno trecho que a editora 8INVERSO disponibilizou no seu site: 
http://www.8inverso.com.br/livros2/8inverso-graphics/bourbon-street-os-fantasmas-de-cornelius/

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

"Four" - Bloc Party - 2012



Sabe aquelas maravilhosas pílulas contidas em livros baratos de auto-ajuda? Pois é. Os londrinos da banda Bloc Party se utilizaram de uma dessas para elaborar o novo álbum da carreira, aquela que diz que: às vezes é preciso dar dois passos para trás, para que se possa seguir em frente. E foi olhando para os anos de 2004 e 2005 que o quarteto conseguiu adiar seu atestado de óbito e manter-se vivo, mesmo ainda sem estar plenamente recuperado.

Depois de bons EP’s e uma ótima estreia (“Silent Arm” em 2005), veio um segundo álbum que apontava para outros caminhos, mas mantinha uma parte da qualidade (“A Weekend In The City” de 2007). Só que esses novos caminhos não foram percorridos devidamente e resultaram no sofrível “Intimacy” de 2008, onde a eletrônica marcava presença de modo relevante e a inspiração parecia ter saído para fumar um cigarro e não retornou mais.

“Four”, não casualmente, chega depois de quatro anos do último trabalho, assim como atravessa um pavilhão de boatos que indicavam o fim. Kele Okereke (vocal e guitarra), Russell Lissack (guitarra), Gordon Moakes (baixo e vocais) e Matt Tong (bateria) absorveram toda essa boataria do jeito que deu e com a ajuda do produtor Alex Newport resolveram retornar para as coisas simples da sonoridade inicial e assim mostrar energia e boas canções.

Exemplos dessas boas canções são “Octopus”, com um estilo indie rock mais tradicional e boa melodia, como também a pesada “Kettling” com uma guitarra gritando ao fundo e “V.A.L.I.S” com um refrão para cantar junto e balançar o corpo. Na linha mais suave e tranquila, a banda que já fez músicas como “I Still Remember” apresenta “Real Talk”, “The Healing” e principalmente “Truth”, um casamento feliz de vocal, melodia e ritmo.

Mas “Four” não é um disco somente de acertos. Esse retorno às raízes não é completo e cobra seu preço em faixas medonhas como “Coliseum” (emulando o grunge) e “Team A”. As letras – outrora, um dos pontos fortes – trazem pouco brilho que ficam em faixas como “3x3” que versa sobre redenção e a porrada rápida de “We Are Not Good People” que fecha o disco falando de aceitação, religião e crescimento, temas tão comuns a Kele Okereke.

Entre as diversas versões “deluxe” com bônus que foram colocadas no mercado (o que parece ter virado uma moda sem relevância comprovada), “Four” é um disco que nas suas doze faixas procura apagar as ideias ruins do passado ao optar por não investir mais em experimentações, buscando assim recolocar as coisas no eixo em que se encontravam tempos atrás. E o bom disso é que consegue esse objetivo, apesar de não ser excepcional.

P.S: Um dos bônus é “Mean” que lembra muito, mas muito mesmo a melodia de “The Killing Moon” do Echo And The Bunnymen.

Nota: 7,5

Site oficial: http://blocparty.com

Textos relacionados no blog:
-      - Música: “A Weekend In The City”(2007) – Bloc Party

Assista ao clipe de “Kettling”:

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

“Checkerboard Lounge - Live Chicago 1981” - Muddy Waters & The Rolling Stones - 2012


Os ingleses Mick Jagger e Keith Richards nunca esconderam (pelo contrário, até alardeavam quando era possível) a sua paixão pelo blues norte-americano. O próprio nome da banda que criaram e transformaram em uma verdadeira instituição do rock saiu de uma canção do mestre Muddy Waters. O dvd e cd “Checkerboard Lounge - Live Chicago 1981” tratam justamente de acrescentar mais uma página nesse livro de admiração e influência.

Em 22 de novembro de 1981, os Stones estavam em turnê pelos Estados Unidos. Naquele momento promoviam o ótimo “Tattoo You”, aquele que provavelmente foi o último grande disco da banda por completo. Passando por Chicago, Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e o falecido Ian Stewart resolveram – junto com uma boa trupe de agregados – conferir uma exibição de Muddy Waters no clube pertencente a outro bluesman, Buddy Guy.

O dvd começa com a banda de Muddy mandando uma versão para “Sweet Little Angel”, uma canção do repertório de BB King encabeçada aqui pelo pianista Lovie Lee, enquanto o artista principal ouve tudo quietinho em uma modesta mesa na frente do palco. A banda ainda executa “Flip Flop And Fly” até que o excelente George “Mojo” Burford dá um tempo na sua harmônica e anuncia a subida daquele que chama com respeito de “pai do blues”.

A trupe stoneana chega após Muddy Waters dar um pequeno show com a guitarra em “Country Boy” e em “You Don’t Have To Go” a apresentação ganha ares de total jam session com a subida de um por um dos representantes da banda inglesa. O clube é um lugar pequeno, o típico inferninho, mas isso não impede Mick Jagger (vestindo uma roupa esportiva que beira por pouco o ridículo) de fazer suas caras e bocas enquanto canta e dança.

Com uma boa versão para “Hoochie Coochie Man”, o show vira uma festa só. Buddy Guy também sobe ao palco e junto com ele os já falecidos Junior Wells e Lefty Dizz, os dois completamente entorpecidos e ensandecidos. Em “Next Time You See Me”, o dono do clube e o guitarrista principal dos Stones realizam um duelo prazeroso de se ver e ouvir, enquanto os demais conversam, bebem, tocam e tentam se acomodar na muvuca que se formou.

Muddy Waters morreria aos 70 anos, um ano e pouco depois do show resgatado por esse registro onde os Stones apareciam ainda em grande forma. Isso acrescenta mais valor a esse resgate que documenta uma grande comemoração em torno do blues, da música em si. Ao assistir a bagaça da poltrona da sala, o desejo é roubar alguma máquina do tempo e viajar para esse clube de Chicago, pedir uma dose, encostar-se ao balcão e deixar a música fluir pelas veias.

P.S: O dvd ainda traz como um dos bônus uma boa execução de “Black Limousine” no Hamptom Coliseum em Chicago, no mesmo ano.

Nota: 8,5

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Assista a versão de “Hoochie Coochie Man”:


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"Scarface" - Christian de Metter / Armitage Trail


O ano era 1983 e o diretor Brian de Palma se inspirava em um livro dos anos 20 para construir “Scarface”, aquele que talvez seja o filme mais visceral dentro da sua carreira. Em 1932, Howard Hawks também já havia utilizado do mesmo material para elaborar “Scarface - A Vergonha de Uma Nação”, mas foi com o filme dos anos 80 que a obra original de Armitage Trail (cujo nome verdadeiro era Maurice Coons) passou a fazer parte do cenário mundial da cultura pop.

O artista francês Christian de Metter, admirador do trabalho original, resolveu também utilizar esse produto e transportar a história para o universo dos quadrinhos. O resultado chega ao mercado nacional através da Globo Livros Graphics em um álbum de luxo (formato 18,5 x 26cm) com 110 páginas e tradução de José Geraldo Couto. De Metter ficou responsável tanto pelo roteiro quanto pelos desenhos e tentou se aproximar mais da versão do livro dos anos 20.

Com o crescimento que os quadrinhos ganharam na última década (não somente financeiro, mas também artístico), cada vez mais temos obras sendo adaptadas para essa esfera. De filmes clássicos, passando por fatos históricos e biografias, os quadrinhos se tornaram uma mídia plenamente vendável ao expandir seu leque inicial de alvos. O próprio Christian de Metter já navegou por esse mar quando converteu o livro (e filme) “Ilha do Medo” do escritor Dennis Lehane.

Considerando isso, cada trabalho nesse sentido deixa um leve ar de desconfiança por ser mais uma obra de marketing e de fácil repasse ao mercado, do que propriamente guiada por pensamentos inversos a esse procedimento. O “Scarface” de Christian de Metter parece circular no meio disso. É óbvio que o apelo da obra é relevante, e só o nome já a credencia para consumo, porém o autor tenta dar um caminho diferente a trama e usa uma competente arte noir para tanto.

No álbum, Tony Guarino é voraz e trabalha para a máfia até que um serviço equivocado o manda para a guerra. Quando retorna, já extremamente treinado e com uma cicatriz no rosto, retoma os trabalhos e vai subindo passo a passo na máfia de Chicago. A estrada de Tony Guarino não é tão violenta e carregada nas drogas e na linguagem como a que Al Pacino consagrou nos anos 80, mas mesmo assim não deixa a desejar, apesar de não surpreender ou causar impacto relevante.

Nota: 6,0



segunda-feira, 8 de outubro de 2012

"The Only Place" - Best Coast - 2012


O Best Coast apareceu para o mundo em 2010 com o álbum “Crazy For You”. Antes disso, o duo formado por Bethany Cosentino (vocal e guitarra) e Bobb Bruno (baixo, guitarra, bateria e o que mais surgir) tinha na bagagem apenas um Ep lançado em 2009 (“Where The Boys Are”).  As canções curtas, leves e com alto sabor pop da estreia causaram comentários positivos e convites para uma quantidade bem maior de shows nos anos seguintes.

Ao escutar as duas faixas iniciais de “The Only Place” - o registro imediatamente posterior a essa estreia - a percepção é que nada mudou, que estamos diante da mesmíssima banda. Ledo engano. Já a partir de “Last Year”, visualiza-se uma utilização maior de recursos e uma guinada para uma sonoridade razoavelmente mais abrangente, porém sem esquecer de privilegiar o lado pop e açucarado das melodias que foi um ponto forte há dois anos.

O novo registro contou com a produção de Jon Brion (de trabalhos com Fiona Apple e Evan Dando) e tem lançamento pelo selo Mexican Summer Records. Nele, o duo da cidade de Los Angeles na Califórnia, USA, dá uma diminuída na urgência que imperava antes. Há momentos mais calmos como as apaixonadas “No One Like You” e “How They Want Me To Be” e coisas bluesy e um pouco mais densas como “Better Girl” ou “Up All Night”.

Essa leve guinada também apresenta alguns resultados não tão bons como na arrastada “Dreaming My Life Away”, mas acaba convencendo na maioria das 11 faixas. Quem gostou do do primeiro álbum será agradado por faixas que ainda comparecem em bom número na mesma toada, como a faixa-título, “Why I Cry” e “Let’s Go Home”, sempre carregadas com a beleza e o sorriso aberto de Bethany Cosentino e a cara de nerd de Bobb Bruno.

P.S: A banda é uma das atrações do Planeta Terra desse ano realizado em São Paulo.

Nota: 7,0

Site oficial: http://www.bestcoast.us

Assista ao clipe da canção que dá nome ao disco:

terça-feira, 2 de outubro de 2012

"Neck Of The Woods" - Silversun Pickups - 2012


Uma entrada climática. Um ritmo que cessa, depois recomeça, só para cair e subir completamente de novo. Assim é “Skin Graph”, a música de abertura de “Neck Of The Woods”, o terceiro álbum do Silversun Pickups lançado este ano. Para quem já conhece o trabalho do grupo dos registros anteriores (“Carnavas” de 2006 e “Swoon” de 2009), nada pode parecer mais familiar. Lá estão basicamente as mesmas texturas guiadas por uma conhecida fórmula.

No entanto, ao escutar atentamente as onze faixas com uma hora e pouco de duração, percebe-se que Brian Aubert (vocal e guitarra), Nikki Monninger (baixo), Joe Lester (teclados e sintetizadores) e Christopher Guanlao (bateria) começam a querer um caminho um pouco diferente. Um caminho mais pop, com menos guitarras e distorções, mas sem abdicar das longas faixas (quase todas de 5 minutos em diante) e do nível de experimentalismo que utilizam.

Essa mudança é notada logo na produção, que ficou com Jacknife Lee (U2, R.E.M). A banda passou dez semanas no estúdio dele em Topanga na Califórnia, USA, e lá cunhou a maioria do registro ajustando algumas canções antigas e elaborando novas composições. É visível que essa lapidada no som é para alcançar públicos maiores, renegando um pouco os trajes da sonoridade, como Aubert afirma em “Skin Graph” dizendo que está de pele nova e pronto para usar.

Esse teor mais pop é confirmado na faixa de trabalho “Bloody Mary (Nerve Endings)”, que apesar de usar um ar meio progressivo no início, depois contrapõe isso com o vocal especificamente frágil e desesperado, que busca o alívio pressuposto pela letra envolto em uma doce melodia. Outra faixa que comunga bem da mesma febre pop é “Dots And Dashes (Enough Already)”, porém essa febre é instável e não cai bem sempre (vide “Gun-Shy Sunshine”, por exemplo).

Outros bons momentos são “Make Believe” que traz a bateria já característica da banda e “Here We Are (Chancer)”, uma quase-balada com eletrônica que versa sobre perda. Essa eletrônica aparece novamente em “The Pit”, flertando de modo descarado e dançante com os anos 80. Anos 80 que também serve de base para “Simmer” - a mais longa do disco -  que surge cheia de perguntas e com variações um pouco mais experimentais, além das habituais camadas de guitarras.

Desde o primeiro EP de 2005 (“Pikul”), o Silversun Pickups se mostrou promissor e confirmou isso logo na estreia com um excelente disco. “Neck Of The Woods” é um trabalho de transição, que opta por ajustar a vestimenta externa, mas não trocar a fórmula-essência das canções que começam calmas e depois explodem, mantendo esse círculo vicioso até o fim. É um registro de razoável para bom, que deixa as apostas positivas dessa mudança para o próximo trabalho. É pagar para ver.

Nota: 6,5


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Assista ao clipe de “Bloody Mary (Nerve Endings)”:

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

"A Dança dos Dragões - As Crônicas de Gelo e Fogo - Livro Cinco" - George R.R. Martin


“O que você tem em mãos é o quinto volume de “As Crônicas de Gelo e Fogo”. O quarto volume foi “O Festim dos Corvos”. Contudo, este volume não dá sequência ao anterior no sentido tradicional, mas corre em paralelo a ele”.

O parágrafo acima é extraído das observações iniciais de George R. R. Martin antes do começo de “A Dança dos Dragões”, o quinto livro da citada série de gelo e fogo, que a Editora Leya publica esse ano por aqui com 872 páginas e tradução de Márcia Blasques. Originalmente a obra foi lançada no ano passado, mas em terras nacionais chega não muito tempo depois do volume anterior e dentro da sequência projetada pela responsável pelos direitos de publicação.

“A Dança Dos Dragões” enverga no seu corpo as expectativas de superação e retomada de caminho, quebradas com o apenas mediano “O Festim dos Corvos”. Para isso conta com a volta de personagens fortes (talvez os mais agudos do momento atual) como Jon Snow, Tyrion Lannister e Daenerys Targaryen. Ao final das mais de 800 páginas dentro dessa obtusa terra, essa superação é obtida quase que plenamente, mesmo ainda ficando um pouco aquém da trilogia inicial.

George R.R. Martin amplia ainda mais os horizontes dessa terra que inventa e escreve desde a segunda metade dos anos 90. Esse horizonte é aumentado não somente com a inserção de novos personagens que participam de modo relevante da trama, como também fisicamente, pois novas fronteiras são desenhadas além de Westeros, as terras do mar de verão e as cidades livres. Essa dilatação proporciona de maneira imediata outras perspectivas para explorar.

Em “A Dança dos Dragões” vemos o jovem Jon Snow lutar contra tudo e todos no comando da Muralha, enquanto a princesa Targaryen começa a transitar em estradas cada vez mais frágeis, tendo que igualar sua sede de poder com desejos sexuais e traições dentro do seu próprio círculo. Do outro lado, o anão Lannister (o personagem mais interessante do primeiro nível) foge da morte certa e começa a descobrir que suas certezas não estavam tão certas como ele suspeitava.

A trama ainda olha para os Greyjoy e também para o Rei Stannis Baratheon, que mesmo sem as forças que deseja, se mantêm firme na oposição ao Rei Tommen Lannister em Porto Real. Esse olhar também se estende para após os eventos que andam de modo uniforme com o “Festim dos Corvos” e acaba juntando os dois últimos volumes, criando novamente expectativa para o volume vindouro dessa série que navega entre sangue e sofrimento pelas mãos do seu autor.

Nota: 7,5

Site do autor: http://georgerrmartin.com

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