segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"Islands" - The Mary Onettes - 2009

Em 31 de maio de 2007 eu resenhava o primeiro disco dos suecos do Mary Onettes com visível satisfação. O disco era completamente indicado para ouvir naquela festinha com amigos em que os anos 80 são tema e no som temos The Smiths, The Cure, A-ha, Duran Duran, Joy Division, etc. e tal. Apesar das músicas serem meio “descaradas” como escrevi, ainda assim era bem prazeroso deixar o disquinho tocando por algumas horas. Em 2009, os suecos chegam ao seu segundo registro que ganha o nome “Islands” e a coisa muda de figura.
Quando as duas primeiras músicas “Puzzles” e “Dare” (que já aparecia em um Ep bem bacaninha desse ano) acabam de tocar, a impressão é que algo como um “Manual Prático Para Festas Oitentistas - Volume II” ganhasse corpo. Mas (e esse “mas” é daquele que não é bom de ser adicionado), a partir daí a coisa se perde um pouco. A banda deixa de lado influências melhores e se concentra em temas meio tristes, sombrios, com aquelas letras chatas de contemplação, característica tão forte da época, acabando assim com a diversão.
Philip Ekstrom (vocal e guitarra), Henrik Ekstrom (baixo), Petter Aguren (guitarra e teclados) e Simon Fransson (bateria) não conseguem repetir o êxito da estréia. Em muitos momentos o abuso de teclados e climas mais oníricos enchem a paciência. As boas melodias ainda estão presentes, o que vindo de bandas da Suécia não chega a ser grande surpresa. Em faixas como “Once I Was Pretty” e “Bricks” até que a coisa flui mais ou menos, mesmo sem carregar as mesmas cores com que foram pintadas há dois anos.
No entanto, em outras como “Symmetry”, “Cry For Love”, “Whatever Saves Me” e “The Disappearance Of My Youth”, aquela influência “descarada” ganha corpo de “cópia deslavada”, e pior ainda, sem grande inspiração. Em “Islands” o Mary Onettes acerta no máximo em 30% do trabalho, o que convenhamos é muito pouco. Nem as melodias bonitas e o vocal forte de Philip Ekstrom salvam essa nova empreitada. Para quem esperava algumas pequenas pérolas como “Pleasure Songs” e “Lost”, o melhor é esquecer e deixar para a próxima.
Sobre a estréia do grupo, passe aqui.
Site oficial: http://www.themaryonettes.net My Space: http://www.myspace.com/themaryonettes

sábado, 28 de novembro de 2009

"35 Doses de Rum" - 2009

Solidão, dependência afetiva, medo, família. Temas que freqüentemente se correlacionam mundo afora a cada dia, a cada momento. Usando esses temas, a diretora francesa Claire Denis, constrói no seu mais recente trabalho, pontes que ligam esses pontos de maneira silenciosa, conservadora e respeitosa. Em certo ponto essas pontes são mais brutais que um espancamento público ou uma troca de tiros entre policiais e bandidos. O silêncio que Claire Denis usa é forte e devastador, ao mesmo tempo em que paradoxalmente acalma e afaga.
“35 Doses de Rum” se passa na França com uma pequena incursão na Alemanha. Nele, conhecemos Lionel (Alex Descas), que não é de falar muito, prefere observar e ganha a vida como motorista de trem. Mora em um lugar de classe média baixa junto com sua filha Joséphine (Mati Diop), que além de cursar faculdade trabalha em uma loja da megastore Virgin. Quando o filme vai passando percebe-se que Lionel é viúvo e criou a filha boa parte do tempo sozinho, filha pela qual nutre uma dependência que passa e retorna por ela mesmo.
A vida de Lionel é simples. Não tem grandes luxos ou amigos. Seu círculo de convivência resume-se aos colegas de trabalho e a dois moradores do seu prédio. A taxista intrometida Gabrielle (Nicole Dogue), que é uma amante habitual e Nóe (Grégorie Colin), um vizinho andarilho que é um pouco apaixonado por Joséphine. Para traçar o relacionamento entre os personagens, Claire Denis usa de uma câmera que não se preocupa somente em focar rostos e expressões, mas também detalhes pequenos como mãos, janelas e pratos.
Em uma passagem de extremo lirismo em um bar enquanto toca “Nightshift” do The Commodores, os quatro personagens principais vão se sucedendo em pequenas danças nas quais os olhares denunciam todos os sentimentos que estão ali doidos para explodir, mas não conseguem se demonstrar e acabam sendo contidos mais e mais ainda, até chegar a um ponto em que tem que se rebelar. A tensão especificamente dessa cena é o ápice de um filme que vai encantando ao provocar uma inquietação estranha e desconcertante.
Claire Denis afirma (talvez sem essa pretensão) com “35 Doses de Rum”, a grande cineasta que o mundo canta nas suas esquinas, mas que nós brasileiros não conhecemos tanto, pois seus filmes acabam não sendo lançados muito por aqui. Ao explorar o silêncio de maneira ensurdecedora e avassaladora, a diretora francesa adiciona a sua filmografia um retrato delicado e complexo da relação entre pai e filha, que expressa todo seu amor e dependência mútua através de pequenos gestos e movimentos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

"There Is No Enemy" - Built To Spill - 2009

O Built To Spill está de disco novo. A banda de Doug Martsch está de volta e parece querer retomar a boa forma que exibiu nos anos 90, com clássicos como “Keep It Like Secret” de 1999. “There Is No Enemy” é o sétimo disco de estúdio desses americanos de fórmula sonora pop e repleta de experimentalismo e improvisações. Doug Martsch, líder e principal cabeça pensante do grupo, se dedicou muito para o novo trabalho e toda essa dedicação parece ser recompensada quando as onze faixas vão se sucedendo.
A camada sonora coberta de texturas, barulhos e ótimas guitarras é a base perfeita para o grupo diluir suas belas melodias e poesia meio marginal. A abertura de “Aisle 13” com os efeitos se alternando até entrar um riff simples e eficiente de guitarra, já lembra o velho Built To Spill que se perdeu um pouco nessa década. Doug, com seu vocal característico, canta versos de decepção em passagens como “...todos os dias algo estranho que eu não posso explicar acontece comigo...” Nada mais típico.
Em faixas como “Life's A Dream”, aquele toque de maestria aparece novamente com toda a força. Melodia bonita e um solo de guitarra fascinante servem para Doug despejar esperança, que por mais que pareça juvenil a primeira vista, não é nada gratuita. “A vida não é nada mais que um sonho...”, canta o vocalista em determinado momento. Se olharmos bem para trás e nas coisas que movem o nosso caminho, podemos aceitar que seja isso mesmo. Repito, por mais que pareça juvenil a primeira vista.
As canções com mais de cinco minutos que são tão comuns na sua carreira, aparecem de sobra neste “There Is No Enemy”, como na setentista “Good Ol' Boredom”, na lisérgica “Oh Yeah”, na viagem melancólica de “Done” (...a solidão está ficando difícil de perceber, parece que nunca chega ou que nunca sai...) ou na derradeira “Tomorrow”, com seus sete minutos e quarenta segundos. Em outras como “Pat”, diferente disso, a banda soa rápida, curta e grossa, como o Dinosaur Jr. do inicio da carreira. Versatilidade é um ponto chave.
Com “There Is No Enemy”, Doug Marchst e seus comparsas (Brett Nelson, Scott Plouf e Jim Roth) mostram um disco extremamente prazeroso. Bem tocado, produzido e criativo. Não chega a fazer frente para alguns trabalhos essenciais do grupo, no entanto também não faz feio na sua discografia, principalmente olhando para os dois registros anteriores. É sempre bom ver uma banda como o Built To Spill de disco novo. É colocar para tocar e deixar se envolver pelas viagens sonoras que ela sempre foi craque em proporcionar.
Site oficial: http://www.builttospill.com My Space: http://www.myspace.com/builttospill
Sobre o “Keep It Like Secret”, passe aqui.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

"Nem Vem Que Não Tem: A Vida e o Veneno de Wilson Simonal" - Ricardo Alexandre

A vida de Wilson Simonal ganhou bastante divulgação e comentários em todas as esferas da mídia nacional depois do lançamento do filme “Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei”. O artista que na segunda metade dos anos 60 e comecinho dos anos 70 era provavelmente o maior ídolo popular do país, entrou para a história infelizmente menos por seu talento musical e mais pelas acusações de ser delator de companheiros para o DOPS na ditadura militar, o que resultou em uma queda vertiginosa na sua carreira.
Essa vida repleta de brilho e de inúmeros erros está agora também nas livrarias. “Nem Vem Que Não Tem: A Vida e o Veneno de Wilson Simonal” chega pela Editora Globo (é até engraçado depois do que é contado no livro) com 392 páginas. Escrita por Ricardo Alexandre, diretor de Redação da Revista Época São Paulo e autor de “Dias de Luta - O Rock e o Brasil Nos Anos 80”. Com inúmeras pesquisas de campo e entrevistas com personagens vinculados, cria-se um mapa detalhado sobre todos os fatos da vida do cantor.
O tom inicial de Ricardo Alexandre chega a incomodar um pouco, como se saísse em defesa de Simonal ao invés de mostrar imparcialidade. No entanto, isso vai sendo corrigido aos poucos e resulta no fim de tudo em uma narrativa funcional, que a partir da segunda metade se preocupa em mostrar os dois lados. A fase de construção do ídolo do país é deliciosa. Simonal com sua marra e qualidade, conquista uma nação com suas canções, que apesar de taxadas por muitos como alienadas eram musicalmente brilhantes.
A influência de Sérgio Mendes, os tempos com o grupo Som Três e a parceria com César Camargo Mariano, os shows memoráveis, o garoto propaganda do país, o dueto inesquecível com Sarah Vaughan, os elogios de Quincy Jones. Tudo isso passa como se não tivesse fim. Mas teve. Em certo dia, Simonal convidou seus “amigos” do DOPS para dar uma prensa no seu contador, que movia uma ação trabalhista contra ele. O resultado foi um processo grave contra o cantor que desandou toda a sua carreira e vida.
O Pasquim nas mãos de Jaguar (um tremendo canalha, conforme o livro) e Henfil (que publicou uma história sugerindo que o cantor se matasse) colaboraram e muito para o desenrolar dos fatos e “honrar” o título de “dedo-duro” a Simonal, título que carregou até o final da vida, por mais que não se conseguisse provar nada contra ele. Tudo foi resolvido no campo dos boatos e da imprensa, que em tempos de ânimos tão acirrados como os da ditadura não dispensaria nunca um artista com ligações tão fortes com o exército brasileiro.
É claro que Simonal errou ao contatar o DOPS para coagir seu contador e deveria ser punido por isso. Mas não foi por isso que sofreu a vida toda. Lógico que Simonal não era um garoto exemplo. Era marrento, adorava se exibir com mulheres e carrões, literalmente “se achava”, e isso o fazia tomar algumas decisões totalmente erradas e entender que era maior do que era. Mas de tudo que já foi dito sobre o cantor, percebe-se que o rótulo de “dedo-duro” nunca foi justo, por mais que seja admissível que essa fama tenha fundamento.
Todo mundo foi anistiado depois da ditadura. Menos Simonal. Essa é a dura verdade. O cantor passou o resto da vida tentando recuperar uma imagem perdida. Se não fossem os filhos Patrícia, Wilson Simoninha e Max de Castro, além de amigos como Chico Anysio e Roberto Carlos, tudo seria pior. Simonal morreu em 2000, deixando para trás uma obra de grande valor artístico. Nem anjo, nem demônio, Wilson Simonal merece ser reconhecido como o grande artista que foi e ter seu lugar reservado na história da música brasileira. O livro de Ricardo Alexandre é mais um passo para isso.

domingo, 22 de novembro de 2009

"À Procura de Eric" - 2009

Eric Bishop (Steve Evets) é um inglês comum de classe média baixa. Mora na cidade de Manchester onde exerce a profissão de carteiro e é fã fervoroso do Manchester United, principalmente de um antigo ídolo, o francês Eric Cantona, que brilhou nos anos 90 e foi responsável pelo ressurgimento do time, hoje um dos maiores do mundo. Eric Cantona talvez seja mais lembrado pela voadora que deu em um torcedor do Crystal Palace e o deixou suspenso por nove meses do futebol. Mas fora isso, o francês jogou muita bola mesmo.
A vida de Eric Bishop não anda lá essas coisas. Tudo vai de mal a pior. Vive em uma fase negra desde que sua mulher se foi e o deixou cuidando de dois enteados que só lhe dão dor de cabeça. Além disso, a sua filha com a mulher que mais amou na vida há mais de 30 anos, precisa da sua ajuda para acabar de se formar, o que força o velho carteiro a encontrar novamente a tal mulher que tanto amou e dividir a guarda da sua neta enquanto a filha não pode. Isso provoca uma forte ansiedade que lhe faz sofrer inclusive um acidente de carro.
Eric Bishop está mal, acabado e não consegue se erguer nem com a ajuda dos amigos. A única forma que encontra para relaxar é roubar um pouco de maconha do enteado mais velho e fumar sozinho. Para sua surpresa em uma dessas paradas para relaxamento, o seu ídolo maior lhe aparece. Ele, Eric Cantona, o “Rei Eric”, adorado pelos torcedores do Manchester até hoje. Vivido pelo próprio jogador, o ídolo começa a ajudar o fã com várias pérolas de auto-ajuda e uma forte obstinação em fazê-lo encarar a vida novamente.
Partindo desse ponto surreal e com toques de fábula moderna, o diretor Ken Loach guia um filme divertido e emocionante. “À Procura de Eric” é um filme sobre seguir em frente, sobre mudar de vida, sobre enfrentar de vez os fantasmas do passado e encontrar um novo caminho. E acima de tudo, por mais besta e banal que possa parecer nos dias de hoje, é sobre buscar a felicidade. O roteiro de Paul Laverty quase não escorrega e se ancora na ótima atuação de Steve Evets como o personagem principal para seguir bem.
A relação de fã e ídolo explorada em “À Procura de Eric” é inusitada e provocativa, se alongando para vários outros lados de maneira bem agradável, como a relação com a família, a importância de bons amigos na vida e o novo futebol que com suas marcas e patrocinadores acaba afastando antigos torcedores dos estádios. E ainda por cima para quem gosta de futebol, o filme é recheado com golaços e jogadas maravilhosas desse francês prepotente e metido a besta chamado Eric Cantona, que repito, acima disso jogava muita bola.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"Hushaboo" - Iris Leu - 2009

Sabe aquela história do disco que alguém indica, você torce o nariz, mas resolve dar uma chance? Pior ainda, depois dessa primeira chance nada de mais acontece e então você arquiva o registro. Mas, em um dia como outro qualquer você procurando uma música para sacar no player enquanto trabalha, decide escolher novamente o disco e “tchã, tchã, tchã”, a coisa funciona e passa a seguir repetidamente tocando por mais outros dias.
Clichêzão, eu sei. Mas os clichês acontecem de vez em quando, não é mesmo? O disco em questão é “Hushaboo” estréia da cantora e compositora Iris Leu. Oriunda de Dallas nos Estados Unidos, essa mulher com rosto de menina e feições asiáticas, traz na sua estréia 10 canções que agradam muito. São 46 minutos de melancolia e beleza flertando constantemente, enquanto se entrelaçam no piano e vocal com uma segura banda de apoio.
A banda de apoio em questão consiste em Earl Darling, Taylor Tatsch e Cooper Heffley. A música de Iris Leu remete a vários pontos distintos. Lembra Bjork, Sarah McLachlan, Norah Jones e até mesmo a Dolores O’Riordan do Cranberries. Com o piano como condutor, mistura pop com jazz e música clássica (culpa da formação da moça), em uma pequena salada que se não ostenta nada de extraordinária é feita com bastante competência.
Basicamente há duas divisões no trabalho. Uma mais ritmada com a ótima “For Keeps” que abre o disco com uma guitarra que dá um plus todo especial e outra mais repleta de tristeza com “After All Is Done”, que conduzida sozinha por Iris Leu no piano, emociona bastante. No meio disso ainda há momentos bem bonitos como a balada pop classuda de “Four Sessons” ou o groove meio Stevie Wonder de “Twentyone”.
“Hushaboo” pode não agradar a primeira audição, acabando por entrar no balaio de gatos de tantas cantoras do mesmo estilo. No entanto, se escutado com calma mostra qualidades que acabam o credenciando para novos momentos. É um disco para ouvir a noite principalmente, sem festa, alarde ou champanhes sendo estouradas. Um disco para ser escutado quando a luz estiver mais baixa e os ânimos meio encobertos e pouco despertos.
My Space: http://www.myspace.com/irisleu

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Minha Fama de Mau" - Erasmo Carlos

“Meu papel no mundo é fazer canções cantando o amor que trago do berço...”, escreve Erasmo Carlos em determinado momento no seu livro “Minha Fama de Mau”, que recentemente ganhou vida através da Editora Objetiva, com 368 páginas. O Tremendão abre seu coração no que ele mesmo define como um apanhado de memórias e não uma autobiografia da sua vida. Com muito bom humor e amor no coração conta alguns “causos” da sua história.
“Minha Fama de Mau” realmente se apresenta como um apanhado de memórias do cantor e compositor, vindo desde a infância no Bairro da Tijuca, passando pelo estrelato e fama na Jovem Guarda, pela eterna parceria e amizade com Roberto Carlos e a seqüência da sua carreira. Em muitos momentos parece que estamos diante de uma conversa de bar, com trocas de passagens e acontecimentos, tudo sempre preenchido com muita leveza e descompromisso.
O livro adota uma postura completamente light e superficial de tudo que o Tremendão passou. Usa e abusa somente da devoção de Erasmo para com as mulheres e toda a aura de sexo que envolvia a doce e meiga Jovem Guarda. Momentos difíceis da sua vida passam longe de ser comentados com muita profundidade, como o suicídio da esposa e eterna paixão Narinha e a doença da sua mãe por quem sempre devotou um amor intenso e admirável.
Algumas vezes essa postura leve cansa um pouco, pois traz histórias tão cotidianas da vida em família que não levantam interesse algum. Mas esse é o Erasmo. O eterno gente boa, tranqüilo, o amigo de todo mundo. Talvez por essa imagem ele nunca coloque diretamente o pé na porta, como por exemplo Eric Clapton fez na sua excelente autobiografia. Descontando essas passagens que não valem assim tanto a pena, existem outras engraçadíssimas na mesma quantidade para compensar.
As passagens com Tim Maia são sempre as mais surreais, como a que fecha o livro de maneira lírica e fantástica. Amigos de infância (foi Tim que ensinou a Erasmo os primeiros acordes), Tim não cansou de pregar peças no velho parceiro. Carlos Imperial é outra figura com grandes momentos. A farsa que foi montada para a divulgação do clássico “Vem Quente Que Estou Fervendo”, além de ser uma sacada de marketing genial, beira a fantasia.
O eterno amigo Roberto Carlos não aparece tanto, mas quando isso ocorre é citado com imenso carinho e dedicação. Mais casos vão preenchendo as páginas. Rita Lee, Jorge Ben e Gilberto Gil, entre tantos outros dão a cara nas conversas de botequim do Tremendão. “Minha Fama de Mau” não traz nenhuma revelação bombástica ou dramas pessoais terríveis. Isso até certo ponto pode pesar contra, mas as risadas que aparecem regularmente acabam valendo bem mais. Afinal, sorrir faz bem a saúde.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

4º Festival Se Rasgum - African Bar (PA) - 13,14 e 15 de Novembro

Sexta feira, 13 de novembro de 2009. Por volta das 20:00hs chegava ao complexo do African Bar, situado no centro de Belém, para mais uma edição do Festival Se Rasgum, a quarta sendo mais exato. A escalação do ano trazia nomes de diversas vertentes e musicalidades, o que gerava uma expectativa interessante. Logo no primeiro passeio a estrutura chamou a atenção, com uma praça de alimentação mais diversificada e internet disponibilizada para os presentes através de um dos patrocinadores do festival. Boa sacada.
A programação de sexta começou com atraso. Devido a problemas com a chuva que caiu mais cedo isso acabou por alterar a ordem das apresentações e gerar certo desconforto. No entanto a superstição da data do dia acabou por aí. Quando a banda de Belém, The Baudelaires, subiu ao palco, as coisas começaram a engrenar. Abrindo o festival, a banda trouxe um powerpop bem bacana. Poderia funcionar melhor se optassem em cantar mais em português.
Em seguida o Ataque Fantasma tomava conta do palco principal. Com pouca gente ainda presente, o show não foi tão empolgante, no entanto, instrumentalmente deve ter sido a melhor das várias apresentações que já vi. O som estava limpo e permitia escutar tudo nitidamente. E é sempre bom escutar canções como “Central”. Com a seqüência dos shows quebrada pelos imprevistos, o Gork apareceu logo cedo no segundo palco e carregou a primeira grande apresentação do festival.
André Abujamra toca o projeto junto com o baterista Loco Sosa e o baixista Jesus Sanchez. A brincadeira com o rock mais pesado rendeu ótimos momentos. As letras cheias de maluquices de André funcionaram bem, o público endossou e o show foi divertidíssimo. Os mineiros do Dead Lover’s Twisted Hearts, que eu não conhecia antes, subiram logo após e foram discretíssimos. Talvez funcione em um lugar mais fechado, mas no Festival Se Rasgum não deu liga. Pausa para tomar mais uma cerveja.
O Pro.EFX com Arcanjo Ras trouxe uma proposta interessante de se ver. Reggae, Rap e Dub servido em boas doses. Não foi espetacular mas rendeu bons momentos. Saí no meio para o Espaço Laboratório, onde o Eletrola, banda seminal dessa nova geração do rock paraense e que rendeu bandas como Johny Rockstar, Turbo e Clube da Vanguarda Celestial posteriormente, fazia o primeiro show depois de anos da separação. O Espaço Laboratório foi pequeno. Show Impecável. “Revel” e “Não Olhe Para Mim” emocionaram muito.
A Nação Zumbi que ia fechar a noite, subiu antes para alegria dos muitos fãs presentes. O grupo mesclou momentos de discos mais recentes como “Fome de Tudo” com clássicos da época que Chico Science ainda comandava o barco. Tiro certeiro, apesar de eu já ter visto shows bem melhores anteriormente. Mas a Nação traz esse grande mérito, mesmo quando não está tão inspirada, consegue ser bem acima da média. “Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada” foi o grande destaque.
O Cérebro Eletrônico veio depois e fez um show extremamente competente e divertido. Canções como “Dê” foram fortemente cantadas. Quando o Juca Culatra & Power Trio iniciavam seu show, o cansaço já era tão intenso que não deu para agüentar. Sai antes do fim e ainda perdi o Tecnoshow e o Bonde do Rolê, que muitos amigos elogiaram no dia seguinte. Para ser bem honesto, acabo por acreditar que não perdi tanta coisa assim, mas...o sábado viria pela frente. Dos três dias de festival, a escalação de sábado era a mais versátil. Começou novamente atrasada por alguns motivos técnicos e as duas primeiras bandas, duas paraenses, Aeroplano e Dharma Burns, mostraram um som correto, mas nada que chamasse mais a atenção. O primeiro bom show da noite viria com o Radiotape, banda mineira que após uma elogiada estréia trouxe seu powerpop para Belém. Show bem executado, com canções para cantar junto e com direito a uma versão matadora de “Rock n’Roll Star” do Oasis.
O Johny Rockstar entrou no segundo palco e fez até aquele momento, o melhor show do festival. Eliezer, Natanael, Elder e Ivan (um monstro na bateria), tocaram um espetáculo irrepreensível. Forte, pop, enérgico. E lá vai o público cantar faixas como “Alcalina” e “Vingança Dos Chatos”. Muito bom. Os paulistas do Milocovik que tocaram depois, foram responsáveis pelo pior show da noite. Tudo inverso ao Johny Rockstar. Fraco e insosso. Perdi as duas últimas músicas, enquanto pegava mais uma cerveja e me posicionava para o Marku Ribas.
Instrumentalmente falando, talvez o Marku Ribas tenha sido o grande nome do festival. Banda cheia de classe. O baterista Esdras Nenén Ferreira abusava da sua qualidade. O queixo as vezes ficava meio caído. Com suas histórias e seu samba remodelado, convenceu e ganhou o público que sem preconceito foi assistir. O que veio a seguir foi um momento único. A apresentação de Pinduca, um ícone do carimbó e da música regional paraense foi apoteótica. Nunca fui lá muito fã do cara, mais o que ele fez no Se Rasgum é digno de respeito.
As músicas de Pinduca estão gravadas no inconsciente da esmagadora maioria dos paraenses. Foi hit atrás de hit. Todo mundo querendo dançar e se sacudir ao som do carimbó. Em músicas como “A Marcha do Vestibular” e a versão de “La Bamba”, a catarse foi geral. Totalmente fora da sua habitual praia, Pinduca fez o melhor show do 4º Festival Se Rasgum. O Digital Dubs com o B Negão e o Ras Bernado subiu depois, mas tirei sua apresentação para descansar um pouco e comer alguma coisa para revigorar.
Os gaúchos da Comunidade Nin-Jitsu fizeram todo mundo dançar. O funk com guitarras altas do grupo funcionou e até B Negão apareceu para dar canja. O final com “Melô do Analfabeto” e “Detetive” foi bem recebido. O projeto Música Magneta foi bastante comentado depois, mas também optei por descansar devido ao avançado da hora e esperar pelo Pato Fu. Com duas horas de atraso, Fernanda Takai, John Ulhoa, Ricardo Koctus, Xande Tiametti e Lulu Camargo subiam para encerrar a segunda noite.
O Pato Fu fez um ótimo show, apesar de o público ter curtido mais tranquilamente, sem se empolgar tanto, afinal o cansaço já era predominante. Fernanda brincou, dançou, tocou e brindou o público com sua habitual simpatia. Em músicas como “Canção Para Você Viver Mais” emocionou bastante. A banda até tocou “Mamãe Ama é o Meu Revolver” do seu longínquo segundo disco, “Gol de Quem?”. O final teve “Sobre o Tempo” e “O Filho Predileto do Rajneesh”. Era cinco da manhã quando acabou e o público migrava para o seu merecido descanso.
O Clube da Vanguarda Celestial, elogiada banda do Natanael (que já havia tocado no festival com o Ataque Fantasma, Johny Rockstar e Eletrola) abriu o último dia em uma apresentação pouquíssimo inspirada, principalmente do baixista Bob Stone. Os amapaenses do Godzilla também não conseguiram convencer. Apesar do som vigoroso, pareceu meio confuso na maioria das vezes. Os paraenses do Sincera chegaram na seqüência e agradaram os fãs que pulavam na frente do palco com seu rock mais adolescente.
O Inverso Falante, outra banda paraense, fez um show mais interessante logo depois. Os músicos são bons instrumentalmente e convencem bem. O Amp de Pernambuco trouxe as guitarras em primeiro plano. Apesar de não fazerem nada de novo, o grupo agradou com uma forte energia. Ótimo show. Os uruguaios do Hablan Por La Espalda traziam uma boa expectativa por tudo que se comentara antes, mas só conseguiu agradar em alguns momentos. A herança progressiva da banda, acaba soando chata as vezes. Quando atiram no hard rock, acertam mais.
Jayme Katarro subiu com o seu Delinqüentes para comandar o primeiro grande show de domingo. Não sei quantas vezes já vi o grupo em ação, mas nunca vi uma apresentação ruim. Dessa vez não foi diferente. Hardcore na alma, com entrega e perfeita comunhão entre artista e público. Em canções como “Planeta dos Macacos” a roda de pogo tomou conta. Os cariocas do Matanza seriam a próxima banda. O grupo do vocalista Jimmy tem um público fiel em Belém e por conta disso o seu show foi outro dos grandes do festival.
O público pulava, cantava e jogava cerveja uns nos outros, tudo como reza o espírito do Matanza. Palmas eram escutadas com grande freqüência. O Stress, lendária banda paraense que remonta ao final dos anos 70, foi o penúltimo show da noite. Roosevelt Bala e seu baixo agenciaram outro bom show, com o público cantando junto clássicos como “Mate O Reú”. De responsa. A ultima banda a se apresentar e assim encerrar a maratona musical dos três dias do festival foi o Velhas Virgens.
Seminal banda da putaria do rock nacional, o grupo comandado por Paulão tocou seu hard rock com muita propriedade. Showzaço. O melhor da noite. As guitarras em primeiro plano introduziam músicas como “Abre Suas Pernas” para delírio dos fãs que cantavam junto. A banda brincava, frescava e incitava enquanto o público envergava as últimas cervejas do Se Rasgum de 2009. A vocalista Juliana Kosso toda vez que subia causava alvoroço. O Velhas Virgens é rock da mais alta estirpe, bagaceiro e sem a mínima frescura.
A quarta edição do Festival Se Rasgum foi a melhor estruturada de todas. O único senão ficou por conta dos atrasos que permearam todo o evento e que em dias como sábado foram relevantes. O cancelamento dos shows do Trio Manari do Pará e dos baianos do Retrofoguetes também devem ser mencionados. No entanto, nada disso tira o brilho do evento. Shows memoráveis passaram por essa edição, que acabou por ser a melhor até agora. Um banho de ecletismo musical e bom gosto. Que venha 2010.
P.S: Para não deixar de dar uma de Rob Fleming, segue abaixo um Top 5 dos melhores shows dessa edição:
1-Pinduca (PA) 2-Velhas Virgens (SP) 3-Johny Rockstar (PA) 4-Gork (SP) 5-Pato Fu (MG)
Mais fotos do Festival? Passe aqui.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

"Pixu" - Gabriel Bá, Fábio Moon, Vasilis Lolos e Becky Cloonan

Os brasileiros Gabriel Bá e Fábio Moon representam um sinal de qualidade nos quadrinhos atuais. A dupla responsável por “10 Pãezinhos”, vem produzindo em conjunto ou individualmente histórias que vem ganhando prêmios importantes de um jeito totalmente justificável. A Devir Livraria lança mais um trabalho da dupla, dessa vez novamente em parceira com o grego Vasilis Lolos e a italiana Becky Cloonan.
“Pixu” traz 128 páginas e chega em um bacana formato de 16,5 cm x 24,0 cm, além de ganhar um bom tratamento gráfico da Devir. Trabalho editorial e de impressão muito bem feito. A história feita a oito mãos e quatro cabeças é focada em contos de terror meio psicológico e sem um malfeitor claramente definido. As coisas são deixadas todas no campo do entendimento e do suspense e se amarram devagarzinho até o seu final.
A história se passa em um prédio amaldiçoado que sem muita explicação começa a distribuir manchas pelos cantos e corromper seus moradores. Os moradores em questão, divididos em homens, mulheres, velhos e crianças passam a cometer atos de violência que carecem de explicação. O roteiro não é de fácil adaptação e a trama precisa ser lida algumas vezes para se tenha algum entendimento do que realmente aconteceu.
À primeira vista o roteiro meio sem sentido pode ser um ponto negativo sobre a obra, no entanto analiso por outro lado. “Pixu” é uma historia experimental, que tenta homenagear um estilo que todos os autores gostavam quando mais novos, em maior ou menor escala. No mercado de quadrinhos de hoje em dia é difícil partir para a experimentação pura e sem muitos floreios ou jogadas de marketing. Isso deve ser louvado.
É preferível uma obra que se arrisca do que o habitual mais do mesmo. “Pixu” não chega a ser genial, mas é um trabalho de uma dupla (Bá e Moon) que parece que ainda vai produzir muita coisa boa pela frente. E claro, tem a arte. Bem feita, usando os efeitos do preto e branco com grande habilidade e consolidada no estilo dos quatro autores. “Pixu” não vai agradar tanta gente assim e talvez nem seja o seu intuito final. É mais uma experimentação, uma brincadeira de autores que vem merecendo cada vez mais palmas. Entenda assim.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

IV Festival Se Rasgum - African Bar (PA) - 13,14 e 15 de Novembro

Nesta sexta feira, começa mais uma edição do Festival Se Rasgum aqui em Belém do Pará. Se liga na programação:
Sexta – 13 /Nov
20h – The Baudelaires (PA) 20h30 – Ataque Fantasma (PA) 21h – Cérebro Eletrônico (SP) 21h30 – Dead Lover’s Twisted Hearts (MG) 22h – Pro.eFX & Arcanjo Ras (PA/SP) 22h30 – Juca Culatra & Power Trio (PA) 23h – Gork (SP) 23h30 – Bonde do Rolê (PR) 00h – Tecnoshow (PA) 00h30 – Nação Zumbi (PE)
Sábado – 14/Nov 20h – Aeroplano (PA) 20h30 – Dharma Burns (PA) 21h – Radiotape (MG) 21h30 – Johny Rockstar (PA) 22h – Milocovik (SP) 22h30 – Marku Ribas (MG) 23h – Pinduca (PA) 23h30 – Digital Dubs + BNegão e Ras Bernardo (RJ) 0h15 – Comunidade Nin-Jitsu (RS) 1h – Música Magneta (PA/PE) 1h30 – Pato Fu (MG)
Domingo – 15/Nov 18h30 – Clube de Vanguarda Celestial (PA) 19h – Godzilla (AP) 19h30 – Sincera (PA) 20h – Inverso Falante (PA) 20h30 – Retrofoguetes (BA) 21h – AMP (PE) 21h30 – Hablan Por La Espalda (Uruguai) 22h – Delinquentes (PA) 22h30 – Matanza (RJ) 23h15 – Stress (PA) 23h45 – Velhas Virgens (SP)
Espaço Laboratório
Sexta – 13 /Nov
19h30 – Maurício + Yuri (Meachuta) 21h – Bem Bom 22h – DJ Dolores (PE) 23h – Show: Eletrola 23h30 – DJ Patrick Tor4 00h30 – Show: Raízes de Sião + Simba 1h – Bernardo Pinheiro
Sábado – 14/Nov
19h30 – Renato + Gori (This is Radio Trash) 21h – Revolusom / Batalha de MC’s 22h30 – Show: Marlon Branco & Bonde das Safadinhas 23h – Durango 95 0h – Show: Jungle Band 1h – DJ Tatá Aeroplano (SP) 2h – Homero da Cuíca
Domingo – 15/Nov
18h – Damasound Sistema 19h – Salsix 20h – Dj Lucho (DF) 21h – Show: Floresta Sonora + Alex Antunes 21h45 – Bina Jares + Marcos Sachhi 23h – Flu (RS) 00h – Zé Flávio Jr. (SP)
Passaportes para os três dias a R$ 50,00 (2º lote) e R$ 60,00 (3º Lote) com meia e R$ 100,00(2º dia) e R$ 120,00 (3º lote) inteira.
Por dia: Sexta e Sábado: R$ 30,00 (meia) e R$ 60,00 (inteira). Domingo: R$ 20,00 (meia) e R$ 40,00 inteira.
Pontos de venda Ná Figueredo (Gentil Bittencourt 449 e Estação das Docas) Colcci (Braz de Aguiar, Pátio Belém e Shopping Castanheira) DiCasa (Entroncamento)
Meia-entrada Cliente Vivo: apresentar conta ou documento que comprove seu vínculo Estudante: Carteira, boleto de pagamento ou comprovante de matrícula Clientes DiCasa: apresentar cartão DiCasa Fidelidade Postal Jokerman do Festival Se Rasgum que estão espalhados em abundância por toda a cidade.
Imperdível!!!
Mais informações em:
http://www.serasgum.com.br

terça-feira, 10 de novembro de 2009

"500 Dias Com Ela" - 2009

A história já conhecemos, sabemos de cor, mas nos resta aprender como diria uma velha canção. Um cara conhece uma mulher, ambos começam a se relacionar e em determinado momento o desejo inicial vai se extinguindo para um lado ou para o outro, o que acaba por terminar a história. Algumas vezes ainda há o carinho, a amizade, mas a paixão foi embora e usando uma frase do escritor Roberto Freire: “sem tesão não há solução”. Não mesmo.
“500 Dias Com Ela”, filme que estreou semana passada nos cinemas do país, marca o primeiro longa do diretor Marc Webb, que já possuía uma carreira respeitada no mundo dos videoclipes. Essa leitura rápida em muitos pontos se apresenta no filme, com recursos diversos como animação, tela dividida e danças para contar a história. Outra marca da sua época anterior é a trilha sonora, extremamente bem escolhida e que funciona até como coadjuvante.
Com uma narração em “off”, “500 Dias Com Ela” marca os quase 17 meses em que Tom Hansen (Joseph Gordon-Levitt), um arquiteto que ganha a vida em uma empresa que faz cartões de felicitações conhece Summer (a sempre brilhante Zooey Deschanel), que passa a trabalhar no mesmo escritório que ele. Quase que de imediato Tom se apaixona e a partir de uma ótima cena envolvendo um elevador e uma música dos Smiths, Summer se interessa também.
Os 500 dias do relacionamento entre os dois são entrecortados pelo diretor de modo aleatório, jogando na parede os momentos bons e ruins, altos e baixos tão comuns em um namoro. Acontece que Tom se apaixona demais e começa a pensar em ficar com Summer para o resto da vida. Summer não. Ela não acredita propriamente no amor e prefere levar a vida sem maiores obrigações. Sente carinho por Tom, mas passa longe de ser amor.
“500 Dias Com Ela” está sendo considerado o filme indie do ano e tem mesmo o jeitão para carregar esse rótulo. No entanto, é um pouco mais que isso. É uma bonita história, recheada de momentos engraçados e com uma trilha sonora que vai complementando os humores do seu personagem principal. No final ainda consegue surpreender de maneira simples e cotidiana. Vale muito a pena ser visto. Satisfação garantida.

domingo, 8 de novembro de 2009

Festival Planeta Terra - Playcenter (SP) - 07.11.2009

A versão 2009 do Planeta Terra em São Paulo prometia muito, bem mais que a do ano anterior que trouxe nomes como The Jesus And Mary Chain e Breeders. Para o público que foi em torno de 17 mil pessoas (menos que o ano anterior por “culpa” do Festival Maquinaria que foi realizado no mesmo dia), a promessa se cumpriu com sobra. Momentos históricos foram presenciados no Playcenter, o lugar escolhido para o evento.
Aliás, a primeira nota é sobre o local. Por que não ocorreu a ninguém essa idéia antes? Ao usar uma estrutura já existente a organização acertou em cheio, com acesso fácil ao local (faltou melhorar a saída) e segurança. Ótima idéia. Tomara que existam mais eventos por lá. Cheguei ao local por volta das 18:00hs quando o Maximo Park subia no palco principal para iniciar sua apresentação. Antes teve as brazucas Macaco Bong e Móveis Coloniais de Acaju.

O Maximo Park focou seu show no novo disco “Quicken The Heart” e jogou seu indie rock sobre o dia que começava a ir embora. O vocalista Paul Smith deu uma aula de simpatia, enquanto o tecladista Lucas Wooller fazia movimentos frenéticos. O show foi correto, sem maiores surpresas e em músicas como “Our Velocity” e “Girls Who Play Guitars” do seu melhor disco “Our Earthly Pleasures” de 2007, levantou boa parte do público.

Depois foi a vez de Bobby Gillespie comandar o seu Primal Scream em um dos grandes shows da noite. A banda fez dançar no Planeta Terra. Quando Gillespie mandava faixas como “Suicide Bomb”, “Movin' On Up”, “Rocks” e “Accelerator” era impossível resistir, o jeito era balançar o corpo e envergar mais uma cerveja. Alternando rock direto com faixas eletrônicas e englobando quase toda a sua carreira, o Primal Scream foi hipnótico, mesmo que seu desempenho de palco não seja lá essas coisas. Na seqüência veio o Sonic Youth. O que dizer da banda, uma das maiores de todos os tempos? O grupo que sempre foi conhecido por não fazer concessões, manteve isso como premissa no Planeta Terra. O show teve como base o último disco “The Eternal” e trouxe canções como “Poison Arrow” e “Anti-Orgasm” junto com as ótimas “Sacred Trickster” e “Leaky Lifeboat”. Das antigas, destaque para “Jams Run Free” e “Hey Joni”.
A chuva que ameaçava cair, se fez presente de maneira leve durante quase toda a apresentação. Thurstoon Moore e Lee Ranaldo arremessavam riffs e distorções enquanto Kim Gordon dançava loucamente desajeitada e Mark Ibold (Pavement) fazia a cama no seu baixo junto com Steve Shelley destruindo a bateria. “Death Valley '69” do longínquo “Bad Monn Rising” de 1985 fechou de maneira sublime. Apesar do show ter sido bom, ficou a impressão que podia ser melhor, bem melhor.
Meia noite em ponto, a lenda Iggy Pop subia ao palco junto com os remanescentes do Stooges, emendando logo de cara faixas como “Search And Destroy” e “Raw Power”. Logo nos primeiros 20 minutos, Iggy já ganhava o titulo de melhor show do festival. Disse que estava se sentindo sozinho e mandou os fãs subirem para ajudar. Mais ou menos uma centena obedeceu e fez uma orgia memorável no palco. Depois Iggy agradecia dizendo que se sentia melhor.
O som das guitarras pulsava forte nas caixas enquanto Iggy ensandecido se jogava no público, arremessava microfones, quebrava pedestais e se contorcia no palco. Vieram mais clássicos dos Stooges como “1969” e “I Wanna Be Your Dog” (cantado fortemente pela galera) e outros da carreira solo como “Lust For Life” (em uma versão inesquecível) e “The Passenger”. Ao final o público estava boquiaberto e revigorado. Show histórico.
Outras bandas passaram pelo Planeta Terra 2009 como Metronomy, Patrick Wolf e The Ting Tings mas como as apresentações se cruzavam, ficava difícil resistir ao poder do palco principal. No final de tudo, com várias cervejas consumidas, algumas imagens passavam na cabeça de modo repetido, imagens de um festival que deu um verdadeiro banho de organização e estrutura e proporcionou alguns momentos para serem levados para o resto da vida.
P.S: O festival também pode ser entendido por alguns números, tais como: “Quantos “Obrigado São Paulo” Paul Smith do Maximo Park disse? Quantas vezes Bobby Gillespie olhou para o chão no show do Primal Scream? Quantas guitarras Thurstoon Moore e Lee Ranaldo usaram? Quantos microfones Iggy Pop quebrou? E acima de tudo: Quantos sorrisos você deu enquanto prestigiava tudo isso?
As fotos foram extraídas do site do Planeta Terra, aqui nesse
link.

sábado, 7 de novembro de 2009

Ludov - Studio SP (SP) - 06.11.2009

Sexta feira com show do Ludov na capital paulista, mais precisamente no Studio SP situado na Rua Augusta, que estava com movimento para todos os lados como de costume. A banda da vocalista Vanessa Krongold está na turnê do novo disco, “Caligrafia”, lançado esse ano e que vem angariando criticas boas e indiferentes quase que na mesma proporção. Ao vivo é sempre outra história, então pelo histórico de shows anteriores a expectativa era boa.
Na abertura, o projeto Brothers Of Brazil dos irmãos João Suplicy e Supla. Inusitado. Os temores iniciais foram dissolvidos após duas ou três músicas da dupla. As músicas são na sua grande maioria uma série de desencontros entre o violão de João e a bateria de Supla, mas o resultado acaba por parecer irreverente, absurdo e acima de tudo, engraçado. “Hinos” de Supla também são incluídos como “Japa Girl” e “Garota de Berlin” (essa cantada a plenos pulmões).
Chega a vez do Ludov e os conhecidos fãs ardorosos da banda começam a pular. O show vai passando, passando, passando e só encanta realmente nos hits antigos. Com um repertorio focado no já citado “Caligrafia”, as coisas não correm muito bem, o público não se sente de todo satisfeito e vai deixando a casa cada vez mais vazia. Pode até funcionar em outras ocasiões, mas nessa especificamente o grupo se mostrou pouco inspirado.
Da nova safra de canções, com um lado mais “maduro” da banda, apenas “Paris Texas” foi realmente bacana. Não por acaso é a música que mais remete aos trabalhos anteriores. Foi somente quando atacaram versões de “Estrelas”, “Princesa” e “Kriptonita” que o clima aumentou e ganhou em pressão, mostrando mais sorrisos espalhados entre um verso aqui e outro ali e seus acordes.
Ao sair do Studio SP sobre o som de “Alright” do Supergrass que rolava nas caixas, a impressão que ficava é que o Ludov ainda precisa aprender a conviver com seus trabalhos e postura mais recente, com o começo da carreira de discos como “O Exercício das Pequenas Coisas”, que trazia canções pop e rápidas que lhe moldaram toda uma imagem. Particularmente prefiro esse segundo Ludov, onde a diversão sempre era garantida.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

"Será Que Caetano Vai Gostar?" - Marcela Bellas - 2009

Diretamente da Bahia vem um dos discos mais interessantes da música nacional nesse ano. “Será Que Caetano Vai Gostar?” marca a estréia da cantora Marcela Bellas, que já tinha um Ep na carreira lançado em 2006. Gravado de maneira independente, o álbum traz parcerias com outros músicos como Helson Hart, além da regravação de “Bloco do Prazer” de Moraes Moreira e Fausto Nilo que Gal Costa já havia feito um ótimo trabalho anteriormente.
No meio de apostas recentes como Maria Gadú e Ana Cañas, Marcela Bellas consegue sair alguns bons passos na frente. Seu disco é tranqüilo, cotidiano, simples e direto. Agrada sem fazer muita força, o que sempre é um grande mérito. Logo na entrada com “Quando o Samba Quer”, a coisa já flui bem. Um sambinha torto com scratches e cheio de malemolência com referência direta na música baiana.
Em “Me Leve”, uma bonita balada que já constava no primeiro Ep, Marcela canta suave os versos: “se você for embora me leve, se você for passar a tarde fora me leve (...) me leve pra qualquer lugar, pra onde seu bloco passar”. Cantoras como Vanessa da Mata devem ficar pensando: “Porque não consigo fazer algo assim?”. “Esse Samba” homenageia artistas como Gilberto Gil e Dorival Caymmi enquanto o baixo toma conta com um groove forte e pesado.
“Alto do Coqueirinho” é um sambinha com pandeiro em destaque e letra meio Rita Lee, engraçada e pra cima. “Bloco do Prazer” ganha uma digna versão enquanto “Por Outro Lado” é outra bonita canção conduzida por violões. “Por Favor” é triste, uma típica canção de final de amor, com ótimas pitadas de ironia e algumas cortadas fulminantes. “Esse Samba” ainda volta no fim em uma boa versão remixada para fechar o disco.
Andando livremente sem pressa e sem compromisso pelas ruas da Mpb, Marcela Bellas visita lugares com influências modernas ao mesmo tempo em que honra antigas influências baianas. “Será Que Caetano Vai Gostar?” traz um clima que deixa o ouvinte em uma situação bastante agradável. Se continuar assim, ainda podemos esperar muita coisa boa de Marcela Bellas nos próximos anos. Ah, e se Caetano não gostar, azar o dele.
Site oficial, onde o disco está disponivel gratuitamente para download: http://www.marcelabellas.com.br

terça-feira, 3 de novembro de 2009

"Millennium - A Rainha do Castelo de Ar" - Stieg Larsson

Quando acompanha-se uma trilogia, seja ela no cinema ou na literatura, na hora em que o terceiro volume é disponibilizado consideramos como normal que já exista certa intimidade com os personagens e conseqüentemente uma torcida por um resultado desejado. Normal. O envolvimento acontece mesmo. Na trilogia “Millennium” do escritor sueco Stieg Larsson isso não foi diferente na chegada do seu derradeiro momento.
Em “A Rainha do Castelo de Ar”, que chegou as lojas recentemente pela Companhia das Letras em um conjunto de 688 páginas, a trama continua no instante imediato ao fim do segundo livro, com o jornalista Mikael Blomqvist nas mãos da polícia explicando os fatos que haviam ocorrido. A anti heroína (e bote “anti” nisso) Lisbeth Salander está sendo encaminhada para tratamento urgente em um hospital, pois está oscilando entre a vida e a morte.
Ao partir diretamente do final da trama do segundo livro e não explicar muito bem os fatos anteriores, o autor meio que exclui os leitores que se interessarem só pelo novo volume. Se faz necessário conhecer bem o terreno que está se pisando para curtir a história. O ritmo que se mostrou dinâmico e surpreendente em “A Menina Que Brincava Com Fogo”, aqui dá uma diminuída, inclusive com demasiadas descrições que poderiam muito bem ter sido suprimidas.
Para acabar com grande parte das dúvidas que ficaram pairando no ar, novos personagens são envolvidos e outros ganham mais espaço, sendo subdivididos em histórias paralelas. Nesse ponto, mérito para Stieg Larsson que consegue amarrar todas as pontas sem deixar lapsos relevantes jogados pelo caminho. A mescla de estilos neste último volume também é interessante. Enquanto Lisbeth Salander busca provar sua inocência, agora perante o tribunal, esses estilos se convergem de maneira bem funcional.
A trilogia “Millennium” nas suas 1.820 páginas totais, tem o grande poder de quase sempre deixar o leitor na espera do que irá acontecer, preocupado com os caminhos que irão ser projetados. Não é uma obra perfeita ou que mereça a alcunha de primordial ou clássica, no entanto somente o fato acima, mais a simples categoria de seu autor de mexer em vários temas espinhosos ao mesmo tempo, já lhe sustenta a indicação para quem gosta do gênero policial de suspense. Agora é esperar pelo filme que virá.
Falamos sobre os volumes I e II, aqui e aqui.
Site oficial:
http://www.trilogiamillennium.com.br

domingo, 1 de novembro de 2009

"Pergunte ao Pó" - John Fante

Sabe aquele velho lugar comum do “este livro você precisa ler antes de morrer?” Sabe né? Pois é. Apesar de ser aplicado a obras sem tanto valor assim, algumas vezes o velho clichê pode ser plenamente utilizado. Um desses casos é quando se fala de “Pergunte ao Pó” do escritor norte americano John Fante, lançado originalmente em 1939 e que esse ano ganha uma nova reedição pelas mãos da Editora José Olympio, com 206 páginas.
“Pergunte ao Pó”
é tido como influência por uma grande gama de escritores. Junto com Henry Miller provavelmente foi a maior fonte de inspiração para nomes como Jack Kerouac, Allen Ginsberg e Charles Bukowski, podendo colocar no bolo inclusive gente mais nova como Chuck Palahniuk. O livro ganhou inclusive uma versão cinematográfica (bem mais ou menos por sinal) há alguns anos atrás, com Colin Farrell no papel principal.
Mas o que faz desse livro algo tão especial assim? Primeiro a maneira que John Fante escreve, sem modismos ou moldes, segundo o ritmo que ele imprime a trama, que vai surgindo frenética e alucinada e por último o seu personagem principal, o escritor filho de italianos Arturo Bandini que na Los Angeles dos anos 30, vive entre o sonho e a desilusão na ânsia de se tornar um grande astro em um país devastado pela crise de 1929 e com a segunda grande guerra em andamento.
Na busca pelo seu sonho de sucesso, Bandini mantêm uma relação quase quixotesca com seu editor, que vai aprovando para publicação um conto aqui e outro ali, lhe mandando quantias por isso que são logo devidamente consumida em prazeres carnais e ilusões. No meio do caminho conhece uma garçonete de nome Camilla, pela qual se apaixona imediatamente e passa a jogar um jogo que não está nem perto de se sentir preparado.
Enquanto a relação com Camilla vai entrando em uma espiral inconseqüente de loucura, frustrações e prazer, Bandini se vê cada vez mais perdido entre o que almejava para sua vida e o que ela começa a oferecer no meio de tanta lama. “Pergunte ao Pó” é daqueles livros para se ter em casa, guardado em um lugar junto com outras obras do mesmo calibre, para ser revisitado vez ou outra. Literatura cativante, enérgica, criativa e olhando de certa forma, única.