A vida de Wilson Simonal ganhou bastante divulgação e comentários em todas as esferas da mídia nacional depois do lançamento do filme “Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei”. O artista que na segunda metade dos anos 60 e comecinho dos anos 70 era provavelmente o maior ídolo popular do país, entrou para a história infelizmente menos por seu talento musical e mais pelas acusações de ser delator de companheiros para o DOPS na ditadura militar, o que resultou em uma queda vertiginosa na sua carreira.
Essa vida repleta de brilho e de inúmeros erros está agora também nas livrarias. “Nem Vem Que Não Tem: A Vida e o Veneno de Wilson Simonal” chega pela Editora Globo (é até engraçado depois do que é contado no livro) com 392 páginas. Escrita por Ricardo Alexandre, diretor de Redação da Revista Época São Paulo e autor de “Dias de Luta - O Rock e o Brasil Nos Anos 80”. Com inúmeras pesquisas de campo e entrevistas com personagens vinculados, cria-se um mapa detalhado sobre todos os fatos da vida do cantor.
O tom inicial de Ricardo Alexandre chega a incomodar um pouco, como se saísse em defesa de Simonal ao invés de mostrar imparcialidade. No entanto, isso vai sendo corrigido aos poucos e resulta no fim de tudo em uma narrativa funcional, que a partir da segunda metade se preocupa em mostrar os dois lados. A fase de construção do ídolo do país é deliciosa. Simonal com sua marra e qualidade, conquista uma nação com suas canções, que apesar de taxadas por muitos como alienadas eram musicalmente brilhantes.
A influência de Sérgio Mendes, os tempos com o grupo Som Três e a parceria com César Camargo Mariano, os shows memoráveis, o garoto propaganda do país, o dueto inesquecível com Sarah Vaughan, os elogios de Quincy Jones. Tudo isso passa como se não tivesse fim. Mas teve. Em certo dia, Simonal convidou seus “amigos” do DOPS para dar uma prensa no seu contador, que movia uma ação trabalhista contra ele. O resultado foi um processo grave contra o cantor que desandou toda a sua carreira e vida.
O Pasquim nas mãos de Jaguar (um tremendo canalha, conforme o livro) e Henfil (que publicou uma história sugerindo que o cantor se matasse) colaboraram e muito para o desenrolar dos fatos e “honrar” o título de “dedo-duro” a Simonal, título que carregou até o final da vida, por mais que não se conseguisse provar nada contra ele. Tudo foi resolvido no campo dos boatos e da imprensa, que em tempos de ânimos tão acirrados como os da ditadura não dispensaria nunca um artista com ligações tão fortes com o exército brasileiro.
É claro que Simonal errou ao contatar o DOPS para coagir seu contador e deveria ser punido por isso. Mas não foi por isso que sofreu a vida toda. Lógico que Simonal não era um garoto exemplo. Era marrento, adorava se exibir com mulheres e carrões, literalmente “se achava”, e isso o fazia tomar algumas decisões totalmente erradas e entender que era maior do que era. Mas de tudo que já foi dito sobre o cantor, percebe-se que o rótulo de “dedo-duro” nunca foi justo, por mais que seja admissível que essa fama tenha fundamento.
Todo mundo foi anistiado depois da ditadura. Menos Simonal. Essa é a dura verdade. O cantor passou o resto da vida tentando recuperar uma imagem perdida. Se não fossem os filhos Patrícia, Wilson Simoninha e Max de Castro, além de amigos como Chico Anysio e Roberto Carlos, tudo seria pior. Simonal morreu em 2000, deixando para trás uma obra de grande valor artístico. Nem anjo, nem demônio, Wilson Simonal merece ser reconhecido como o grande artista que foi e ter seu lugar reservado na história da música brasileira. O livro de Ricardo Alexandre é mais um passo para isso.
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