domingo, 16 de setembro de 2012

Alanis Morissette - Cidade Folia, Bélem (PA) - 14.09.2012


Belém, Pará. Norte do país. 14 de setembro de 2012. Por volta de 22hs entro no “Cidade Folia”, o lugar escolhido para a canadense Alanis Morissette continuar a turnê nacional de lançamento de “Havoc And Bright Lights”, o mais novo rebento da moça (agora mulher) que na segunda metade dos anos 90 vendeu milhões de discos. Um lugar grande que logo na portaria deixou a clara percepção de que não ia chegar próximo da sua capacidade máxima.

Em um cenário que somente nos últimos anos começou a dar alguns passos para entrar na rota dos shows internacionais que tanto desembarcam no país, a produção do evento fez algumas confusões, incluindo uma controversa liberação de ingressos na véspera em um site de compra coletiva. Um lugar menor teria sido a melhor escolha para deixar o público mais perto e aquecer ainda mais a noite da cidade das Mangueiras. Porém, as previsões iniciais foram altas demais.

Quando subiu ao palco próximo às 23:00hs, depois de uma sequência de rap e hip-hop que castigou os ouvidos da maioria durante um bom tempo, Alanis parecia se imaginar em um estádio lotado. Super simpática, desfilou quase que na totalidade o repertório já apresentado antes em São Paulo, Rio, Curitiba, Belo Horizonte e Recife (e que depois ainda exibiria em Goiânia), com a inclusão de algumas poucas surpresas como “Mary Jane”, faixa do álbum de maior sucesso.

Entre sucessos de “Jagged Little Pill” como “You Learn”, “Ironic” e “Head Over Feet”, outros hits da carreira eram embaralhados com as canções do recente trabalho. Ao lado de faixas como “So Pure” e “Hands Clean”, novas composições surgiam, tais quais “Woman Down”, “Guardian”, “Numb” e “Edge Of Evolution”, a melhor delas. Com boa qualidade de som – apesar de não privilegiar as guitarras como se esperava - a banda levava tudo na maior tranquilidade possível.

Depois de 2 bis (um com “Hand In My Pocket” e “Uninvited” e o final com “Thank U”), Alanis cumpriu aquilo que prometeu entregar, ou seja, um show para quem gostou dos primeiros discos e todas aquelas meninas que queriam ser ela nos anos 90, aliado a exibição de algumas novas canções. No entanto, o principal da noite foi admirar a simplicidade de quem já teve o mundo aos pés e ainda ostenta tremenda simpatia, ao contrário de muitos “artistas” que se acham por aí.

Nota: 7,0

Site oficial: http://www.alanis.com

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Créditos da Foto: Thais Rezende/G1

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

"Habibi" - Craig Thompson


Craig Thompson apareceu para o mundo dos quadrinhos com “Retalhos” de 2003, álbum que ganhou lançamento nacional em 2009. Com uma história biográfica em mãos, narrou os passos do crescimento na juventude com o uso forte de imagens para validar suas impressões. Anos se passaram, ele lançou mais um álbum (“Carnet de Voyage”, sem lançamento por aqui) sobre a turnê de promoção de “Retalhos” e desde então se pôs a trabalhar em “Habibi”, onde experimentaria um universo bem diferente.

“Habibi” chegou às livrarias dos USA no ano passado e agora desembarca em território tupiniquim novamente pelas mãos da Companhia das Letras no seu selo “Quadrinhos na Cia.”. A obra tem 672 páginas (formato 18 x 23 cm), ótimo acabamento editorial e conta com tradução de Érico Assis. Em entrevistas a veículos de notícias no decorrer desse ano, o autor afirmou que esse novo livro “era uma reação a islamofobia”, porém, mesmo apresentando uma carga nesse nível, as premissas usadas são mais modestas.

“Habibi” encontra dois escravos que se juntam primeiramente para sobreviver ao terror de suas vidas. De um lado a menina Dodola de 12 anos e do outro o bebê Zam de 3 anos. Ela, uma garota branca vendida pelos pais para casar em troca de algum dinheiro e ele, um negro filho de uma escrava acorrentada prestes a ser vendida. Em uma cena marcante de fuga, os dois encontram um navio entalhado no deserto que lhes servirá de abrigo nos próximos anos, assim como de mola para impulsionar o próprio relacionamento.

Em uma nação fictícia, Craig Thompson utiliza - assim como já havia feito em “Retalhos” - uma grande quantidade de metáforas visuais para contar a história, no entanto, com um grau maior de detalhes. Usa também a religião como padrão para definir atos e comparar situações da vida real com aquelas descritas não somente no Corão, como também na Bíblia, expondo assim aquela ideia de defesa ao islamismo, pois demonstra aos poucos que ao sair da superfície todas as religiões são mais ou menos iguais.

É bom lembrar que o autor cresceu em uma intensa comunidade católica e “Retalhos” era uma espécie de psicanálise pessoal que também tratava da pressão da fé. Em “Habibi” tanto Dodola, quanto Zam (e outros nomes que assumem na jornada) sofrem não somente esse aperto, mas também se guiam por lendas antigas e passagens de livros sagrados. A diferença é que nesse novo trabalho, não há um espaço mínimo para a inocência e essa se vê corrompida diariamente por sexo como moeda de troca, fome e muita sujeira.

“Habibi” é uma obra difícil de ser definida. Pode ser algo como uma fábula com tons de épico, mas ainda assim seria reducionista. É antes de tudo uma história de amor. Não um amor convencional, mas uma mistura de todas as formas e ancorada na dependência mútua dos personagens entre si. É excelente visualmente e conduz uma história que envolve em certos momentos, mas por atirar para muitos lados, acaba não conseguindo acertar todos os alvos e assim exerce um fascínio menor do que se esperava.

Nota: 7,0



Site oficial do livro: http://www.habibibook.com

Matérias relacionadas no blog:
- Quadrinhos: “Retalhos” de Craig Thompson.

A Companhia das Letras disponibilizou um pequeno trecho gratuitamente aqui.               

domingo, 2 de setembro de 2012

Séries - "The Newsroom"


Will McAvoy (Jeff Daniels de “A Lula e a Baleia”) é um conceituado âncora do canal de notícias da tevê a cabo ACN Network. Uma das maiores “virtudes” do seu trabalho é não meter o dedo em qualquer ferida que seja, o que o leva a não expor suas ideias da maneira como gostaria. Porém, nem sempre foi assim, antes ele era um combativo membro da imprensa, exercendo funções até em áreas políticas. A série “The Newsroom” que a HBO está exibindo começa exatamente nesse ponto.

Criada pelo premiado Aaron Sorkin, roteirista ganhador do Oscar por “Rede Social” e criador também da boa série “West Wing: Nos Bastidores do Poder” – que teve sua última temporada exibida em 2006 - “The Newsroom” captura seu personagem principal em um momento de ruptura. Em um debate para universitários feito em conjunto com republicanos e democratas, Will McAvoy chuta o balde quando é perguntado sobre “o que faz dos Estados Unidos o melhor país do mundo?”

Ao destrinchar inúmeros motivos que desdizem os Estados Unidos como o melhor país do mundo, o âncora dá um show que logo ganha a internet e os noticiários, causando um rebuliço danado que o obriga a tirar férias imediatamente para se recuperar e botar panos quentes na desmedida atuação. Ao voltar, encontra como produtora a ex-namorada Mackenzie MacHale (Emily Mortimer de “Harry Brown”), uma imposição do chefe Charlie Skinner (Sam Waterson de “Lei e Ordem”) que mudará tudo.

Com MacHale no comando, o programa ganha muito em consistência e faz Will McAvoy retornar aos seus comentários críticos e impor notícias bem analisadas, distante do foco fútil dos concorrentes. Inserindo a trama inicialmente em 2010, Aaron Sorkin se utiliza gradualmente de fatos reais como a explosão de uma plataforma de petróleo no golfo do México, o assassinato de Osama Bin Laden pelas forças especiais dos USA e até mesmo sai no braço com o movimento republicano do Tea Party (mais aqui).

Com essa guinada o programa causa preocupações na diretoria da rede que administra o canal ACN, que vê seus rabos presos serem soltos e partem também para uma ofensiva contra o seu reformado funcionário. De pano de fundo está exposta a vida daqueles que fazem o noticiário, como Maggie Jordan (a excelente Alison Pill de “Scott Pilgrim Contra o Mundo”) e Neal Sampat (Dev Patel de “Quem Quer Ser Um Milionário?), entre outros achados como Jane Fonda no papel da presidente da empresa.

Programada para 10 episódios na primeira temporada, “The Newsroom” expõe novamente as habilidades de Aaron Sorkin como formatador de boas histórias e mesmo pendendo politicamente para um lado visível e sem fazer contrapartida na outra extremidade, produz ótimos resultados ao importunar de uma tacada só o conservadorismo e hipocrisia política, a apatia da imprensa nos nossos dias, como também o papel de cada um dentro da engrenagem de funcionamento de um país.

Nota: 9,0

Site oficial da série na HBO com o primeiro episódio disponibilizado gratuitamente para exibição: http://www.hbomax.tv/the-nem

Assista a um pequeno trailer: 



sábado, 1 de setembro de 2012

"Aqui é o Meu Lugar" - 2012


“Lar é onde eu quero estar (...) me sinto dormente, queimo como um fraco coração...”

Esses são alguns dos versos iniciais da canção “This Must Be The Place (Naive Melody)” da banda norte-americana Talking Heads, originalmente lançada em 1983 no álbum “Speaking In Tongues”. Essa música do grupo ex-chefiado por David Byrne já ganhou várias versões no decorrer dos anos, indo de Counting Crows a Arcade Fire e mais recente deu nome a um filme de mesmo nome dirigido pelo italiano Paulo Sorrentino.

“Aqui é o Meu Lugar” (“This Must Be The Place”, no original) traz Sean Penn no papel de Cheyenne, um velho rockstar que ganhou um bom dinheiro nos anos 80 com sua música gótica e tristonha e hoje vive uma vida calma e tranquila dentro de uma mansão escondida em uma pequena cidade da Irlanda. Essa reclusão, que fica evidente quando a MTV tenta fazer contato para um programa, esconde bem mais do que aparenta.

Com aparência baseada em Robert Smith do The Cure, Sean Penn apresenta seu personagem com voz fraca e trejeitos femininos, além de um andar quase em câmera lenta, o que na verdade tem como objetivo realçar os vícios do passado, mas acaba soando forçado e desnecessário. Apesar de extrapolar o ridículo necessário para o papel, o ator exibe a coragem costumeira e deixa as próprias rugas e marcas bem a mostra.

Ao viver sem emoção alguma, como se estivesse em sono profundo, Cheyenne é despertado pela notícia do falecimento do pai, um judeu tradicional que ele não fala desde a juventude. Ao visitar o leito de morte nos Estados Unidos, acaba ingressando em uma missão. Essa missão que se transforma em um road-movie meio sem nexo, reside em achar o nazista que fez o pai sofrer durante os fatídicos dias da segunda guerra mundial.

Com roteiro fraco e confuso, o diretor Paolo Sorrentino tenta fazer do filme um exercício de estilo ao enquadrar imagens, esticar prazos ou delinear calmamente as ações, porém são floreios que não conseguem mascarar a fragilidade do trabalho e as incursões desnecessárias que são impostas para dar um toque “alternativo”. Nem Sean Penn salva o longa, que tem como melhor momento a participação de David Byrne tocando a faixa já citada acima.

P.S: A trilha sonora é outro ponto positivo e transmite certo alento no fim.

Nota: 5,5

Assista ao trailer: