terça-feira, 29 de setembro de 2009

"Cadillac Records" - 2008

Para quem gosta da música dos anos 50 e 60, o nome de Leonard Chess é sinônimo de qualidade. A frente da gravadora Chess Records, esse polonês abrigou nomes do porte de Muddy Waters, Little Walter, Willie Dixon, Howlin' Wolf, Chuck Berry e Etta James. Em 1969 após vender a gravadora em Chicago, morreu vítima de um ataque cardíaco deixando para a posteridade o seu nome cravado na história do blues e do rock n’roll.
A trajetória de Chess e da sua gravadora ganhou uma homenagem cinematográfica ano passado pelas mãos do diretor Darnell Martin. “Cadillac Records” (uma referência aos carros que Chess presenteava seus músicos) está disponível em DVD, não passando por exibição na grande tela (até onde eu sei). Nele temos uma bonita crônica da vida desses músicos fantásticos, apesar da leveza e superficialidade com que alguns temas são tratados.
Adrien Brody (“O Pianista”) foi indicado para fazer o papel do personagem principal, mantendo uma atuação apenas razoável. Aliás, a atuação dos atores é um ponto fraco do filme, pois se encontram apenas na média comum, sem nada espetacular, exceção feita talvez para Chuck Berry (Mos Def) e Little Walter (Columbus Short). Cabe também uma menção honrosa para Beyoncé Knowles que convence bem como Etta James, principalmente quando solta a voz.
O filme é narrado por Willie Dixon (Cedric The Entertainer), que tantas músicas compôs para os artistas da época e vem desde o envolvimento de Leonard Chess com Muddy Water (Jeffrey Wright), que juntos começaram toda a história com a clássica “I Can´t Be Satisfied” para passar por vários eventos, como a ascensão de Chuck Berry com “Maybelline”, a “guerra fria” entre Muddy Waters e Howlin' Wolf, as loucuras de Little Walter e o envolvimento de Etta James com drogas e álcool.
Por abrigar tantas histórias juntas em apenas um filme de quase duas horas de duração, o diretor Darnell Martin às vezes se perde um pouco e não sabe para qual história dar preferência. Mesmo com esse defeito, até certo ponto aceitável, pois é complicado passar por tanta história em tão pouco tempo, “Cadillac Records” é capaz de divertir e agradar em boas doses, além de servir para apresentar músicos fantásticos para toda uma nova geração.

domingo, 27 de setembro de 2009

"Millennium - A Menina Que Brincava Com Fogo" - Stieg Larsson

“A Menina Que Brincava Com Fogo” é o segundo livro da trilogia “Millennium”, criada pelo escritor sueco Stieg Larsson, conseguindo ser mais interessante que "Os Homens Que Não Amavam As Mulheres”, seu antecessor. Lançado esse ano aqui no país novamente pela Companhia Das Letras, o livro traz em suas 608 páginas o retorno do jornalista Mikael Blomqvist e da hacker temperamental Lisbeth Salander, os anti-heróis da série.
A nova trama ocorre mais de um ano depois dos acontecimentos do caso Wennerström, que quase afundou a revista de Mikael Blomqvist, a Millennium, como também de todo o drama passado no seio da família Vanger. Do ponto que a nova história começa, Blomqvist toca uma renascida revista junto com sua sócia e amante Erika Berger enquanto Lisbeth Salander desfruta dos bilhões “retirados” de Wennerström viajando mundo afora.
Enquanto a vida dos dois vai caminhando, um jornalista chamado Dag Svensson entra na vida da Millennium. Dag está com uma matéria e um livro para serem publicados que intenciona denunciar o comércio do sexo na Suécia, o que irá mexer com policiais, juízes e políticos, causando um imenso alvoroço. Na sua cruzada, Dag conta com sua mulher, Mia Bergman, que também tem uma tese de doutorado explosiva sobre o assunto.
Pouco tempo antes da matéria ser publicada, três assassinatos acontecem e deixam tudo em suspenso. Pior ainda, Lisbeth Salander é indiciada pela polícia como responsável pelos crimes. Tal fato simplesmente não entra na cabeça de Blomqvist, que começa a juntar as peças do quebra cabeça para ajudar sua inconstante amiga, enquanto a mídia em uma critica feroz de Stieg Larsson, começa a jogar para o público todo tipo de notícia sem escrúpulos e sensacionalista.
Uma das grandes vantagens em relação ao livro anterior é que em “A Menina Que Brincava Com Fogo” a trama vai surpreendendo e o final não é anunciado precocemente. Outro ponto é que Stieg Larsson consegue criar personagens coadjuvantes mais interessantes, que vão se sucedendo com seus próprios dramas pessoais no desenrolar da história. O autor ao dominar melhor sua narrativa e criar uma trama mais amarrada, deixa uma ótima expectativa para o derradeiro livro de “Millennium”. Vejamos mais a frente.
Sobre o primeiro livro da série, passe aqui.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Curumin - Boteco São Matheus (PA) - 24.09.2009

Depois de ter tocado em Belém na última sexta feira como baterista do Arnaldo Antunes, o paulista Curumin desembarcou novamente na cidade para dessa vez promover o seu trabalho solo. O show também serviu para divulgar com exclusividade o clipe da música “Japan Pop Show”, feita por uma produtora paraense, a Greenvision. O habilidoso músico passou por aqui antes de ir para o Festival Viradouro no Acre onde toca no domingo, dia 27.
O Boteco São Matheus, ambiente escolhido para o show, apesar do pouco espaço físico (250/300 pessoas), serve perfeitamente para integrar público e artista. Antes do Curumin, duas atrações passaram pelo palco. Primeiro o Juca Culatra & Power Trio, uma das bandas mais bacanas da nova safra da cidade e depois o Maderito, cantor de tecnobrega local que divertiu muito com suas músicas e histórias, além é claro das “ótimas” dançarinas.
Curumin subiu ao palco quando o relógio já apontava mais de 01:30hs, acompanhado de Loco Sosa e mais um baixista (que desculpem, não consegui gravar o nome). Atacou logo na primeira o samba torto e critico de “Mal Estar Card”, cantado por grande parte dos presentes. Depois direto da sua bateria focou principalmente no repertório do ótimo “Japan Pop Show”, seu segundo disco lançado no ano passado.
Dele vieram mais faixas como “Compacto” (cantada junto pelo público), “Kyoto”, “Sambito”, o funkão de “Caixa Preta” e a bonita e riponga “Esperança”. Com brincadeiras entre si o tempo todo, os músicos transmitiam uma ótima vibração. Vieram covers como “Thriller” do Michael Jackson, “O Mar” do Dorival Caymmi e “Cangote” da Céu, entre vários trechos de outras músicas inseridas aqui e ali.
Lá pelo final do show, Curumin deixou a bateria para Loco Sosa e fez o samba aparecer em uma sensacional versão de “Magrela Fever”, além de dois ótimos momentos do seu primeiro disco, “Guerreiro” e “Tudo Bem Malandro”. O relógio já apontava para as 3 e tanto da manhã, quando o show acabou e o músico se despediu, deixando para trás além de uma excelente noite, a certeza de que é dono de um dos trabalhos mais competentes da música brasileira na atualidade.
Mais sobre o Curumin? Passe aqui.
My Space: http://www.myspace.com/curumin

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

“Haih Or Amortecedor” - Os Mutantes - 2009

A espera por “Haih Or Amortecedor”, o primeiro disco de inéditas dos Mutantes depois de mais de 30 anos era um misto de expectativa (20%) e medo (80%). Depois do retorno triunfante em 2006 e 2007, com Arnaldo Baptista de volta e shows memoráveis no Barbican Theatre em Londres e na Virada Cultural de São Paulo, a história bem que podia ter parado por aí. Entretanto, Sérgio Dias resolveu levar o barco sozinho novamente.
A expectativa existia porque sempre que algo tiver a marca do grupo, isso será normal. Já o medo vinha por conta de apenas Sérgio Dias e Dinho Leme da formação original estarem presentes, sendo que o guitarrista/cantor podia muito bem fazer o som progressivo de quando tocou o grupo nos anos 70. Para o bem do nome “Mutantes”, Sérgio Dias se focou nos anos juntos com Rita Lee e Arnaldo Baptista para compor novamente.
“Haih Or Amortecedor” não tem edição nacional ainda, apesar de ter sido lançado em quase todo centro importante da música. Um absurdo que infelizmente beira a normalidade, já que o tratamento aqui nunca foi o mesmo se comparado ao recebido lá fora. Apesar de ser um disco apenas razoável, “Haih Or Amortecedor” não arremessa o nome do grupo no lixo e em algumas faixas consegue até emocionar.
Canções como “Teclar”, a ótima “Querida Querida” e “O Mensageiro” fazem esse lado que consegue até emocionar. Outras como “2000 e Agarrum”, “O Careca” (cedida por Jorge Benjor, a exemplo de “A Minha Menina” nos anos 60) e “Samba do Fidel”, são cópias ou continuações de idéias já exploradas anteriormente. Em outras como “Baghdad Blues” e “Gopala Krishna Om”, as coisas soam confusas e sem tanta inspiração.
No final, “Haih Or Amortecedor” até que não deixa um gosto ruim depois de ser escutado. Todo mundo tem que pagar suas contas e com Sérgio Dias e Dinho Leme não é diferente. Se todo mundo inventa reuniões canalhas para cobrir a conta bancária, por que eles não podem? Ao mirar na grande fase do grupo e tratar as novas músicas com essa roupagem, os (novos?) Mutantes não chegam a desagradar, mas acabam soando no máximo como se fossem uma (boa) banda cover de si mesmo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

“Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” - Otto - 2009

Desde que saiu do Mundo Livre S/A, Otto passeou entre elogios e críticas negativas a sua proposta musical na mesma proporção. Sempre achei interessante o seu trabalho, apesar de considerar que em alguns momentos há certos deslizes, mas nada que comprometa muito. Sem lançar nenhum disco de inéditas desde “Sem Gravidade” de 2003, que já mostrava diferenças em relação aos álbuns anteriores, o pernambucano volta à tona.
“Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” é o seu quarto disco de inéditas e sexto no total. Lançado somente no exterior por enquanto, vem angariando boas resenhas de jornais como o Boston Globe e o New York Times. O nome do disco extraído da primeira frase do clássico de Franz Kafka, “A Metamorfose”, representa muito do que se ouve nos 40 minutos, pois vemos uma transformação da sua música, ainda que esta seja sutil e não tão drástica como a imaginada por Kafka.
Com um certo desgosto por gravadoras, Otto resolveu construir o seu novo disco todo baseado na amizade. A banda é composta por Fernando Catatau do Cidadão Instigado na guitarra, além de Dengue e Pupillo da Nação Zumbi respectivamente no baixo e bateria. Pupillo também ajudou na produção e a gravação foi feita no estúdio Totem de propriedade de Fernando Catatau e Kalil Aiala. A capa ficou por conta do artista pernambucano Tunga.
Nas 10 faixas temos a participação especial de Céu, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado) e da mexicana vencedora do Grammy, Julieta Venegas. “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” é um disco mais orgânico, com maior influência do rock e da mpb, mais melódico, mas sem deixar de lado a eletrônica e a mistura de ritmos que Otto sempre promoveu. Sem dúvida é o trabalho mais acessível da discografia do artista até aqui.
Todas as faixas descem redondas, sendo que a parceria com Céu em “O Leite”, a visceral “Crua”, a poderosa “6 Minutos” com uma interpretação forte de Otto e de Fernando Catatau na guitarra, além da releitura de “Naquela Mesa” do repertório de Nelson Gonçalves, merecem um maior destaque. No seu novo disco, Otto acerta em cheio e com simplicidade e na base da amizade cria o seu melhor registro até agora.
Site Oficial: http://trama.uol.com.br/otto

sábado, 19 de setembro de 2009

Arnaldo Antunes - Vegas Club (PA) - 18.09.2009

Sexta feira na cidade das Mangueiras. A noite guarda uma boa pedida, pois o ex-Titãs Arnaldo Antunes desembarca na cidade para um show e promoção do seu novo trabalho lançado recentemente, chamado “Iê Iê Iê”. Em torno da expectativa com relação ao local, a discoteca Vegas Club, o repertório do show e se a banda que gravou o novo disco viria ou não, algumas conversas foram sendo jogadas fora enquanto as portas não abriam.
O local escolhido agradou logo, bem climatizado, bom espaço, ideal para shows desse porte. Quanto ao repertório, soube-se logo na entrada, pois o novo show está sendo patrocinado por uma grande empresa (Natura) e programas foram sendo distribuídos. Quanto a banda, seria a mesma do disco, com feras como Edgard Scandurra na guitarra e Curumin na bateria, além de Chico Salem no violão e guitarra, Betão Aguiar no baixo e Marcelo Janed nos teclados.
Arnaldo lançou o novo disco em um show que ainda vai visitar várias cidades e que Belém viu quase em primeira mão. Quando as luzes se apagaram, uma grata surpresa aconteceu, “The Fairest of the Seasons” da Nico, extraída do ótimo disco “Chelsea Girl” tomou conta do som. Ótima entrada para o prato principal. Quando a banda entrou no palco, ela veio toda com vestida com ternos para celebrar o clima que o novo disco deve proporcionar.
“Iê Iê Iê”, o disco em questão, veste as roupas e a sonoridade dos anos 60, com um olhar fixo na jovem guarda. Do novo disco vieram dez músicas, com destaque para a faixa título, “Invejoso”, “A Casa é Sua” e as bonitas “Longe” e “Meu Coração”. Apesar da grande quantidade de músicas novas, o público acompanhava bem, dançando e se envolvendo com o espetáculo e o desempenho de Arnaldo e Edgard Scandurra.
Entremeando canções mais antigas como “Essa Mulher”, “Consumado” e “Pedido de Casamento”, com covers até inusitadas como “Americana” de Dorgival Dantas, “Pra Aquietar” do Luiz Melodia, “Quando Você Decidir” do Odair José e “Vou Festejar”, um sambão de Jorge Aragão que travestido de rock levantou todo mundo, o show foi se encaminhando para o final e o inevitável bis.
O bis inevitável veio duas vezes, primeiro com músicas como “Socorro” e para finalizar com “Cabelo”, gravada pela Gal Costa e uma versão improvisada de “O Pulso” para atender quem pedia de modo insistente. Ao sair da Vegas Club o sorriso estava no rosto, não somente pelo clima de baile dos anos 60 que perdurou, mais principalmente por ver que um artista mesmo depois de uma sólida carreira, pode sim fazer um público satisfeito sem apelar somente para os velhos sucessos.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

"Black Hole" - Charles Burns

Dentro do mundo dos quadrinhos as mutações genéticas são uma coisa normal, criando heróis e vilões em grande escala. Poucas vezes essas mutações genéticas são olhadas pelo prisma daqueles que a conseguem, mas não herdam nada de extraordinário junto com as mudanças sofridas pelo corpo. É olhando para essa minoria que o norte americano Charles Burns construiu sua obra mais importante e visceral.
“Black Hole” foi lançada originalmente em 12 edições nos Estados Unidos e ganhou uma versão encadernada pelas mãos da Editora Conrad aqui no Brasil, dividida em dois volumes e lançada nos anos de 2007 e 2008. A obra ganhou diversos prêmios importantes, entre eles oito Harvey e o desejado Eisner Awards de melhor graphic novel. A obra também está sendo adaptada para o cinema e deve ganhar a grande tela em breve.
Em “Black Hole”, Charles Burns ambienta sua história na Seattle dos anos 70, anos onde a libertação da juventude através de drogas, sexo e álcool alcançava talvez seu maior ponto. Enquanto os jovens adentravam a esse mundo de descobertas, uma “doença” se espalhava pelos arredores transmitida através da relação sexual. Essa “doença” promovia mutações pelo corpo que variavam entre simples manchas e alterações grotescas.
Nesse meio, o autor cria alguns personagens que na seqüência do relacionamento normal da sua idade, na descoberta das paixões e tudo mais que a idade apresenta, são obrigados a abdicar de tudo e se esconder do mundo, que não os aceita e lhes tranca a porta. Com uma arte toda em preto e branco, com traços fortes e pesados, Charles Burns cria um clima tenso, sem muitas alegrias e na maioria das vezes mórbido e sem esperança.
“Black Hole” foge do lugar comum e ao fazer isso cria um universo que traz desconforto a quem está lendo ao se imaginar na pele dos personagens. Nela, Charles Burns lida com temas como preconceito, morte, escolhas e descobertas sexuais de uma maneira que vai conduzindo para um final anunciado, mas que mesmo assim provoca um grande clima de tensão e até mesmo de indignação, não mostrando salvação alguma no decorrer do caminho.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"Up - Altas Aventuras" - 2009

É normal em uma análise da nossa vida até o momento, olhar para trás e ver que algumas coisas que queríamos fazer ainda não foram realizadas. Na maioria das vezes isso necessariamente não é ruim, pois não indica que a vida esteja ruim, ela apenas caminhou para um lado que os nossos sonhos de infância ou adolescência não couberam. Mas não tem como evitar que sempre que esses sonhos sejam rememorados fique uma pequena ponta de dor lá no coração.
Basicamente é isso que aconteceu com Carl Fredricksen, o personagem principal da nova animação da Pixar Animation Studios, “Up-Altas Aventuras”, que aos 78 anos ainda guarda no peito a vontade de realizar o sonho de criança em voar e explorar o mundo como seu ídolo, o famoso Charles Muntz, como também de sua falecida esposa Ellie. Na eminência de perder sua casa para uma construtora de imóveis, Carl resolve então mudar sua vida.
No seu caminho, aparece uma simpática e jovem criança que bate a sua porta para querer ajudá-lo. Russell é escoteiro, mas sem muito jeito para a coisa. Muito falador, traz consigo uma carência paterna escondida. Quando vê que sua vida já não tem mais muito sentido, Carl que sempre trabalhou como vendedor de balões, resolve em uma idéia surrealista total, erguer a casa de balões e viajar com ela atrás do sonho escondido e não realizado.
Depois de encantar o mundo com “Wall-E” no ano passado, a criatividade da Pixar parece não ter fim. “Up-Altas Aventuras” combina sensibilidade e aventura de uma maneira que beira o espetacular. A direção e roteiro de Pete Docter e Bob Peterson surpreende por fazer em uma animação que o “herói” esteja longe dos padrões habituais, sendo um velhinho até meio rabugento, mas com um coração do tamanho do mundo.
A história de Carl Fredricksen pode ser encontrada em qualquer esquina que se passe, em doses menores ou elevadas. A construção de sonhos e a realização destes se faz inerente na fomentação do caminho de qualquer pessoa. A dupla Carl e Russell, assim como a relação de amor e dedicação de Carl com sua esposa Ellie, comove e diverte tanto as crianças espalhadas na sessão quanto os adultos que as levaram. Palmas para a Pixar. Novamente.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"Budapeste" - 2009

A adaptação para o cinema de “Budapeste”, o melhor romance de Chico Buarque, não era tarefa das mais fáceis. O livro apesar de lírico e encantador, tem várias nuances que não caberiam em um filme. Walter Carvalho que tem no currículo a direção de fotografia de filmes como “Amarelo Manga” e “Abril Despedaçado” encarou o desafio e entre erros e acertos, fez um trabalho que apesar de não ser fácil, acaba compensando se colocado na balança.
O primeiro grande acerto de Walter Carvalho é ter convidado Leonardo Medeiros (“Cabra-Cega” e “Feliz Natal”) para o papel principal. O ator domina o filme, é senhor do espetáculo e mostra a habitual dedicação. Nos erros, conta o roteiro um pouco confuso de Rita Buzzar (ok, o livro é confuso também), o excesso de cenas de nudez, desnecessárias na maioria das vezes, e a forma que o final foi desenvolvido.
Para quem não leu o livro, José Costa (Leonardo Medeiros) é apresentado pela primeira vez. Ele é carioca, casado com uma apresentadora famosa de telejornal (vivida por Giovanna Antonelli) e aparentemente tem uma vida boa. Por trás disso existe a sua real profissão, ele é ghost writer, aquele escritor que escreve para outras pessoas transferindo a autoria para estas, que passam a ser as donas da obra e colhem seus frutos.
Duas coisas acontecem para mudar o mundo de José Costa. Primeiro, um trabalho seu para um alemão que ganha o título de “O Ginógrafo”, alcança grande sucesso e isso o faz entrar literalmente em parafuso, não aceitando para si o esquecimento a que é renegado. Segundo, em uma parada forçada em Budapeste, capital da Hungria, se apaixona pela língua do país e consequentemente por Kriska (Gabriella Hámori).
Na busca por se encontrar e aceitar que a sua melhor habilidade não pode ser pública, José Costa vê a vida caminhar com turbulências, ao mesmo tempo em que confunde fatos que acredita serem reais e aquilo que possivelmente é. Comparando com o livro, “Budapeste” o filme, perde de goleada, no entanto, pela complexidade com que Chico Buarque (que faz uma ponta no longa) construiu sua obra, isso não chega a ser um grande démerito. Dê uma chance.

sábado, 12 de setembro de 2009

“Judy Sucks Lemon For Breakfast” - Cornershop - 2009

Em 1997, o clipe de “Brimful Of Asha” passava constantemente na MTV. A música tinha ritmo e uma melodia pop de grudar na mente. Até o clipe era bacana. A banda responsável se chamava Cornershop, que apesar de ter alguns anos de estrada só apareceria mais nesse ano com o disco “When I Was Born For The 7th Time”, uma junção de british rock e música indiana, prazerosa e alegre. Até hoje “Brimful Of Asha” toca por aqui vez ou outra.
No entanto, na minha cabeça o Cornershop já tinha ido há muito tempo. Sem lançar nada desde o chatinho “Handcream For a Generation” de 2002, o grupo inglês encabeçado por Tjinder Singh e Ben Ayres, parecia que não ia mostrar mais nada. Ledo engano. Sete anos depois o grupo surge com mais um disco, o quinto da carreira, “Judy Sucks Lemon For Breakfast” e coloca alguns sorrisos e refrões pegajosos pelo caminho.
Dessa vez a dupla que comanda o grupo chamou para o trabalho, Pete Downing (guitarra), James Milne (baixo), Adam Blake (cítara), Peter Bengry (percussão) e Nick Simms (bateria). A mistura continua envolvendo rock britânico com música indiana, mas traz os anos 60 como mola inspiradora além de uma presença bem maior das guitarras. E o resultado disso tudo? Um dos discos mais legais de 2009, pop até a alma, para ouvir e sair cantando junto.
Já abre com “Who Fingered Rock 'n' Roll”, um saboroso rock com aparência glam, que convence extremamente bem. “Soul Scholl” traz um pianinho no comando para fluir em um pop ensolarado, lembrando Apples In Stereo. A faixa título muda tanto de andamento que parece ser várias canções em uma só. “The Roll Off Characteristics (Of History In The Making)”, tem aquele mesmo ritmo de “Brimful Of Asha”, sem o refrão grudento. Pop rock para as manhãs de domingo.
Outro bom momento é “The Mighty Quinn”, cover do Manfred Mann, para sair cantando na rua enquanto vai até a esquina comprar pão. O Cornershop desliza somente em alguns momentos como na pouco inspirada “Chamchu” e na duração de “The Turned On Truth (The Truth Is Turned On)” que com seus 16 minutos cansa um pouco. No mais, esse “Judy Sucks Lemon For Breakfast” é altamente recomendável para espantar o mau humor e melhorar um pouco a vida.
Site Oficial: http://www.cornershop.com My Space: http://www.myspace.com/cornershop

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"UHUUU!" - Cidadão Instigado - 2009

O Cidadão Instigado é uma das bandas mais interessantes da música alternativa nacional, desde que apareceram com “O Ciclo da Dê.Cadência” na primeira metade dessa década. Os experimentalismos comandados pelo guitarrista e vocalista Fernando Catatau esbanjam criatividade, formando até uma marca pessoal com seus timbres e efeitos. Em 2009 o grupo chega ao terceiro disco, mantendo a ótima forma e o nível de qualidade.
“UHUUU!”
é um disco bem mais acessível que os anteriores, com um foco maior nas canções do que na área instrumental e conceitual. A formação mais recente que traz além de Fernando Catatau, Régis Damasceno (guitarra, violão e vocal), Rian Batista (baixo e vocal), Clayton Martin (bateria) e Kalil Alaia (técnico de som e efeitos), passou três meses em estúdio para gerar o novo trabalho, o melhor da sua carreira.
O conhecido experimentalismo ainda está presente em várias passagens, assim como as influências da música nordestina e da música brega, no entanto veste uma roupa mais clara, mais pop, mais alegre, apesar dessa alegria estar envolta a letras que guardam um lado mais escuro e tenso. “UHUUU!” contou com o patrocínio da Funarte através do Projeto Pixinguinha, o que resultou em uma produção melhor e muito bem encaixada.
São onze canções que se iniciam com a acidez e o ritmo circense de “O Nada”, passam pela participação especial de Arnaldo Antunes em “Doido”, encantam com “Dói”, que poderia ser descrita como um soul-brega-psicodélico, faz dançar com “Escolher Pra Quê”, namora a jovem guarda e o brega em “Como As Luzes”, viaja em lisergia em “A Radiação Na Terra” e “Deus É Uma Viagem” e faz cantar na bonita “Homem Velho”.
Ao aliar as influências dos dois primeiros discos e deixá-las com um teor pop mais elevado, o Cidadão Instigado acerta a mão em cheio nesse “UHUUU!”. Fernando Catatau consolida não somente seu grupo, mas também o grande músico que é, demonstrando todo seu talento no decorrer do trabalho. “UHUUU!” é música inteligente e merece tranquilamente figurar nas listinhas de melhores do ano que passa.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

“Keep It Like A Secret” - Built To Spill - 1999

Os anos 90 deram a luz a discos clássicos como o “Nevermind” do Nirvana, “Siamese Dream” do Smashing Pumpkis, “Modern Life Is Rubbish” do Blur, “Definitely Maybe” do Oasis e “Ok Computer” do Radiohead. No final desses anos 90, mais precisamente em 1999, outra obra prima ganharia vida. Estou falando de “Keep It Like A Secret” dos americanos do Built To Spill, banda comandada pelo guitarrista e vocalista Doug Martsch.
Antes do lançamento de “Keep It Like A Secret”, o Built To Spill vinha de dois bons discos, “There's Nothing Wrong With Love” de 1994 e “Perfect From Now On” de 1997, onde receberam boas criticas e cativaram fãs. Mas foi no disco de 1999 que uniram brilhantemente todas as suas características. As influências de Pavement, Dinosaur Jr. Neil Young, Flaming Lips e música progressiva, se aliam a uma pegada mais pop e caminham de mãos dadas como se fossem irmãs.
Nesta época, Doug Marscht tinha apenas a companhia de Brett Nelson no baixo e Scott Plouff na bateria, mas ao escutar o disco parece que eles se multiplicam. A guitarra ensandecida encontra no baixo sólido um companheiro para viajar tranquilamente, enquanto a bateria promove um show à parte, acelerando, parando, criando um ritmo próprio. “Keep It Like A Secret” fundamentaria muita coisa desse indie rock que os anos 00 conhecem.
Entre as 10 faixas é difícil sobressair alguma. Com esforço, pode-se versar sobre “The Plan” onde o vocal ímpar de Doug Marscht conduz uma melodia pop, enquanto os instrumentos estouram ao fundo, ou “Carry The Zero”, uma das grandes músicas do rock dos anos 90, tranqüila e forte, complexa e encantadora, ou então ainda “You Were Right”, trazendo na sua forma uma tensão que vai se sobrepondo enquanto as guitarras vão desconstruindo tudo.
Ao contrário dos discos citados no primeiro parágrafo, “Keep It Like A Secret” não ganhou a mesma notoriedade, não alcançando um público tão grande, uma daquelas constantes injustiças da música. Depois dele, Doug Marchst aumentou a banda e continuou mantendo uma certa regularidade, inclusive com um esperado disco para esse ano. Mas, até agora, foi há dez anos, com letras dissonantes e complicadas, que o Built To Spill cravou seu lugar no rol das obras primas do rock.
Site oficial: http://www.builttospill.com My Space: http://www.myspace.com/builttospill

domingo, 6 de setembro de 2009

"Os Piratas do Rock" - 2009

O neo-zelandês Richard Curtis tem no currículo bons filmes como roteirista, produtor e diretor como “Quatro Casamentos e Um Funeral”, “Um Lugar Chamado Nothing Hill”, “O Diário de Bridget Jones” e “Simplesmente Amor”. Filmes que não são o supra sumo da arte cinematográfica, mas conseguem emocionar e cativar o espectador, não enjoando quando são revistos. Em 2009 com “Os Piratas do Rock (The Boat That Rocked)”, Curtis adiciona mais um trabalho para essa galeria.
“Os Piratas do Rock” é um filme extremamente prazeroso de ser assistido. Leve, desencanado, despretensioso, com atuações competentes de todo o elenco e uma trilha sonora imbatível. Para quem gosta de música, principalmente do pop e do rock feito nos anos 60, o tiro se mostra certeiro. Clássicos do The Who, Kinks, Leonard Cohen, Rolling Stones, Dusty Springfield e David Bowie, entre tantos outros, fazem a cama sonora em que a história se desenvolve.
O ano é 1966 e a Inglaterra vive a explosão da música pop e suas cores, ritmos e frescor. No entanto, rádios como a BBC dedicam pouquíssimo tempo na sua execução. As rádios piratas pipocam por todo o lado e atraem um público que representa mais da metade da população do país. É nesse contexto que Curtis monta a história de um grupo de amigos que fazem uma rádio rock direto de um cargueiro em alto mar e são sucesso absoluto.
O grupo de Dj’s reúne The Count (Phillip Seymour Hoffman), Gavin (Rhys Ifans) e Dave (Nick Frost, excelente), entre outros, todos sobre a batuta de Quentin (Bill Nighy, só para variar dando um show). Devido ao sucesso, um conservador membro do governo interpretado por um impagável Kenneth Branagh, decide extinguir a rádio e retornar a Inglaterra para os bons e velhos costumes, sem esses “baderneiros” de plantão.
Enquanto o grupo de Dj´s tenta fugir do governo, Richard Curtis vai inserindo momentos deliciosos aqui e acolá, usando o pensamento dessa geração de maneira alegre e descompromissada. Amores, amizade e paixão pela música são alguns dos tópicos desenvolvidos. “Os Piratas do Rock” chega ao Brasil diretamente para o DVD, o que é uma pena. Se vires por aí, não deixe passar, pois a diversão é garantida. Pode confiar.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

"Querô" - 2007

Jerônimo da Piedade é um jovem que vive pelas ruas de Santos, roubando para tentar sobreviver. Não conheceu seu pai e sua mãe o abandonou a própria sorte quando ainda era um bebê, antes de morrer por ter bebido muito querosene pensando que era cachaça. Por esse caso, Jerônimo ganharia para sempre o apelido de Querosene, abreviado para Querô, que levaria para o resto da vida, sendo esta a sua forma de apresentação perante o mundo.
“Querô” do diretor Carlos Cortez, conta a história do jovem descrito acima e é baseado em um livro do escritor Plínio Marcos chamado “Uma Reportagem Maldita - Querô” de 1976. Mesmo trazendo a narrativa para os dias atuais, os males que circundam e ferem uma sociedade carente e pobre como a nossa, ainda se fazem plenamente atuais. O retrato de trinta anos não descoloriu em nada e ainda consegue ganhar tons mais vivos.
Ao ser abandonado pela mãe (Maria Luisa Mendonça) para ser criado por Violeta (Ângela Leal), a dona do bordel onde ela trabalhava como prostituta, Querô (Maxwell Nascimento em ótimo trabalho) passa por maus bocados e prefere ir para as ruas ao invés de sofrer abusos em casa. Na rua, vive dormindo em qualquer lugar, roubando os outros e passando pelo calvário da FEBEM, antes de ver o que resta da sua vida sucumbir perante uma completa falta de opções.
O longa de Carlos Cortez guarda semelhanças com o premiado “Pixote - A Lei do Mais Fraco”, até pela forma que a narrativa se conduz, mas isso não o desmerece. Por mais que não queira entrar no lugar comum da “culpa é da sociedade”, pois na verdade vemos exceções escaparem dessa triste regra, “Querô” expõe mais uma vez as feridas da realidade nacional, uma realidade marginalizada e violenta, sem qualquer glamour.
Com um elenco que traz ainda nomes como Ailton Graça e Milhem Cortaz, “Querô” é uma obra correta, que aponta problemas, e mesmo usando de alguns recursos já utilizados, acaba por ser contundente no final. O longa não se preocupa em apontar soluções, apenas escancara a dor de um personagem que pode existir tranquilamente em Santos, Belém, Salvador, Recife ou qualquer outra grande cidade do país. E que infelizmente não deixará de existir tão cedo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"Pela Contramão" - Clube do Balanço - 2009

“Quem não gosta de samba, bom sujeito não é...” decreta Dorival Caymmi na clássica “Samba da Minha Terra”. Peço desculpas ao mestre e tomo a liberdade de parafrasear o trecho, colocando que “quem não gosta de samba rock, bom sujeito não é”. Samba rock de Jorge Ben, Trio Mocotó, Jair Rodrigues, Bebeto e Wilson Simonal, e que desde 2001 o combo paulistano Clube do Balanço presta honrarias e promove boa música.
Depois de cinco anos passados do último lançamento, “Samba Incrementado” de 2004, Marco Mattoli e sua trupe voltam com mais um petardo sonoro, para não deixar ninguém parado e animar bailes e festas mundo afora. “Pela Contramão” traz doze canções e pela primeira vez mostra a banda com um repertório totalmente autoral, representando crescimento e confiança, o que acaba por render ótimos momentos.
Marco Mattoli (voz e guitarra), Tereza Gama (vocal), Léo Gringo Pirrongelli (baixo), Marcelo Maita (piano e teclados), Tiquinho (Trombone), Reginaldo “16” Gomes (trompete), Edu “Peixe “ Salmaso (bateria) e Fred Prince (percussão) fazem em “Pela Contramão” um daqueles discos para tocar por horas e horas sem enjoar. É para estalar os dedos, bater os pés no chão, cantar junto e deixar se levar por algum tempo.
“Morando no Sapato”, começa com a pergunta: “É instrumental essa aí né?” É sim. E das boas. Um samba jazz com cuíca chorando no fundo. “Sensacional Brenda Ligia” é o mais puro Jorge Ben. Suingue de qualidade elevada. “Tocha Botagofo” é samba funk da mais alta estirpe, dá até para imaginar os passos no meio do salão. “Galaxy Dourado” namora o soul e homenageia o grande Hyldon, enquanto “Fazendo Nada” faz qualquer cidadão balançar e cantar junto com Tereza Gama.
“Pela Contramão” é classe pura, seja nos metais bem azeitados e soltando frases certeiras, no vocal de Tereza Gama e Marco Mattoli, na cozinha suingada ou no piano jazzístico belamente conduzido. Música que não distingue cor ou nível social. Música para deixar a alma e o coração mais leve. Usando outra frase de uma música famosa, “Chiclete Com Banana”, imortalizada por Gilberto Gil no “Expresso 2222”: “é o samba-rock meu irmão”. É. Se segura aí.
Site Oficial: http://clubedobalanco.uol.com.br