sexta-feira, 4 de setembro de 2009

"Querô" - 2007

Jerônimo da Piedade é um jovem que vive pelas ruas de Santos, roubando para tentar sobreviver. Não conheceu seu pai e sua mãe o abandonou a própria sorte quando ainda era um bebê, antes de morrer por ter bebido muito querosene pensando que era cachaça. Por esse caso, Jerônimo ganharia para sempre o apelido de Querosene, abreviado para Querô, que levaria para o resto da vida, sendo esta a sua forma de apresentação perante o mundo.
“Querô” do diretor Carlos Cortez, conta a história do jovem descrito acima e é baseado em um livro do escritor Plínio Marcos chamado “Uma Reportagem Maldita - Querô” de 1976. Mesmo trazendo a narrativa para os dias atuais, os males que circundam e ferem uma sociedade carente e pobre como a nossa, ainda se fazem plenamente atuais. O retrato de trinta anos não descoloriu em nada e ainda consegue ganhar tons mais vivos.
Ao ser abandonado pela mãe (Maria Luisa Mendonça) para ser criado por Violeta (Ângela Leal), a dona do bordel onde ela trabalhava como prostituta, Querô (Maxwell Nascimento em ótimo trabalho) passa por maus bocados e prefere ir para as ruas ao invés de sofrer abusos em casa. Na rua, vive dormindo em qualquer lugar, roubando os outros e passando pelo calvário da FEBEM, antes de ver o que resta da sua vida sucumbir perante uma completa falta de opções.
O longa de Carlos Cortez guarda semelhanças com o premiado “Pixote - A Lei do Mais Fraco”, até pela forma que a narrativa se conduz, mas isso não o desmerece. Por mais que não queira entrar no lugar comum da “culpa é da sociedade”, pois na verdade vemos exceções escaparem dessa triste regra, “Querô” expõe mais uma vez as feridas da realidade nacional, uma realidade marginalizada e violenta, sem qualquer glamour.
Com um elenco que traz ainda nomes como Ailton Graça e Milhem Cortaz, “Querô” é uma obra correta, que aponta problemas, e mesmo usando de alguns recursos já utilizados, acaba por ser contundente no final. O longa não se preocupa em apontar soluções, apenas escancara a dor de um personagem que pode existir tranquilamente em Santos, Belém, Salvador, Recife ou qualquer outra grande cidade do país. E que infelizmente não deixará de existir tão cedo.

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