sábado, 29 de outubro de 2011

Séries - "Person Of Interest"


Em 2002, Steven Spielberg lançou o filme “Minority Report” baseado na obra do autor Philip K. Dick. A história passava pela prevenção de crimes antes que eles acontecessem, sendo isso possível devido a três jovens com poderes psíquicos denominados “precogs”. Utilizando mais ou menos da mesma premissa, mas passando sobre outro viés, Jonathan Nolan (de “Batman: O Cavaleiro das Trevas” e “O Grande Truque”) criou uma série intitulada “Person Of Interest”, que conta com J.J. Abrams (“Lost” e “Fringe”) na produção executiva.

A série que estreou nos Estados Unidos pela CBS em 22 de setembro, chegou ao país através do Warner Channel no dia 18 de outubro e passará sempre às 21hs das terças-feiras. Nela, Michael Emerson (o Benjamin Linus de “Lost”) vive Finch, um milionário que fez fortuna ao desenvolver para o governo uma máquina que identificasse possíveis suspeitos de ataques terroristas, efeito prático dos acontecimentos do 11 de setembro de 2001. Dez anos depois, ele resolve utilizar a máquina que criou para outros fins.

Essa máquina se utiliza de um cruzamento de dados pessoais com câmeras de vigilância para mostrar números do seguro social de pessoas que serão envolvidas em assassinatos, tanto como vítimas, quanto como executores. Essas pessoas para quem o governo não dá a mínima ficam sendo o foco de Finch, que contrata um agente renegado e dado como morto para ser seu braço de operação. Jim Caviezel de “A Paixão de Cristo” interpreta John Reese, esse agente que há muito já desistira da vida por conta de tragédias pessoais.

Nos seus primeiros episódios, “Person Of Interest” fica apenas nas promessas. A maneira que a máquina identifica os alvos é simplesmente arremessada ao telespectador e não apresenta maiores detalhamentos. O casamento entre milionário e agente, não funciona muito bem nesse início, deixando um pouco de pressa nos aceites e envolvimento. Por outro lado, como simplesmente um pequeno thriller de ação e suspense, as coisas funcionam melhor e distribui soluções criativas e surpreendentes para o fechamento dos episódios.

Com atores conhecidos completando o elenco como Taraji P. Henson de “Larry Crowne – O Amor Está de Volta” (detetive Carter) e Kevin Chapman de “Sobre Meninos e Lobos” (detetive Fusco), além de experiência na parte técnica, vide a presença de C.J. Simpson (“Lei e Ordem”) na direção de arte e Jason Hearne (“Community”) nos efeitos visuais, “Person Of Interest”, tem tudo para vingar no decorrer dos seus prometidos 22 episódios, afinal de contas, o criador e o produtor executivo costumam ter mais acertos do que erros na carreira.

Site oficial da série: http://warnerchannel.com/series/personofinterest 

Assista ao trailer:

 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"Actor-Caster" - Generationals - 2011


O Generationals é um duo oriundo de New Orleans (Louisiana, USA), formado por Ted Joyner e Grant Wildmer. Em 2009 estrearam com um bonito álbum intitulado “Con Law”, onde reuniam os anos 60 com indie pop de maneira cativante. Desse primeiro registro vieram canções como “When They Fight, They Fight” e “Exterior Street Date”, que além de induzir a cantar junto, deixavam um sorriso complacente no rosto.

Depois de um EP no ano passado (“Trust”) o duo da terra onde a música parece já nascer abençoada pelos deuses, surge com o segundo álbum. “Actor-Caster” segue a linha do predecessor e consegue ir mais adiante, mesmo que não tenha uma canção do porte das duas anteriormente citadas. São 10 faixas que tem como única missão deflagrar no ouvinte uma sensação de bem estar, de uma felicidade instantânea e verdadeira.

“Actor-Caster” continua trazendo os 60’s como matriz em seus mais diversos aspectos, indo desde as bandas inglesas, passando pelo soul americano e embarcando nas melodias dos grupos vocais regadas a palmas e bateria marcada. No entanto, avança um pouquinho e começa uma pequena paquera também com as doces baladas dos anos 50, a eletrônica e o pop de bandas contemporâneas como Belle And Sebastian, The Shins e MGMT.

A abertura com o pop indie de “Ten-Twenty-Ten” já cativa o ouvinte de cara. Com uma guitarrinha emitindo fraseados simples e melodia suave, a banda canta sobre uma amizade que se encontra ameaçada. Já em “I Promise” o ritmo é das bandas da invasão inglesa dos 60’s, enquanto em “Yours Forever” são os efeitos eletrônicos que quebram a melodia, para que em “You Say It Too” o clima seja de um soul deliciosamente retrô.

"Goose & Gander” poderia muito bem ser de um disco dos escoceses do Belle And Sebastian e “Dirty Mister Dirty” explora o nicho das canções de grupos vocais. “Black & White” é a canção mais escura do disco, fala sobre solidão e lutas cotidianas, e serve para mudar um pouco o clima até que tríade final composta por “Tell Me Now”, “Greenleaf” e a ótima “Please Be It” chegue e retorne tudo para a concepção inicial.

Entre tantas bandas que usam os anos 60 para moldar sua música, o Generationals crava com “Actor-Caster” um lugarzinho de destaque. A produção acerta na dosagem entre retrô e moderno, dobrando vocais e afundando estes na mixagem quando acha por bem. O novo álbum desse duo de New Orleans é como se fosse um bate papo rotineiro entre amigos em um final de tarde qualquer. Despretensioso, leve, fugaz e sempre prazeroso.

Site oficial: http://generationals.com

Twitter: http://twitter.com/generationals 

Assista o clipe de “Ten-Twenty-Ten”:



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

"Batman: Ano Um" - 2011


Corria o ano de 1986 e os editores da DC Comics decidiram que os seus heróis tinham ficado datados, e que para atingir o público mais jovem precisavam recontar sua história. Batman era um dos pilares que precisavam ser atualizados, apesar da origem elaborada por Bob Kane e Bill Finger ser extremamente satisfatória. Foi decidido então que no que tangia ao morcego de Gotham City, somente uma carga maior de detalhes e dramaticidade seria adicionada.

No ano de 1987 em 4 volumes chegava as bancas “Batman: Ano Um”, escrita pelo mestre Frank Miller e desenhada de forma magistral e sombria por David Mazzucchelli. Logo se tornou uma das revistas mais importantes do morcego. Em 2011, a mesma DC coloca nas lojas em DVD e Blu-Ray, essa origem em formato animado, no estilo da série da Liga da Justiça. Coube a Sam Liu (All-Star Superman) e Lauren Montgomery (Lanterna Verde: Primeiro Voo) a missão de transportar o conteúdo.

A maneira com que a transposição da HQ para a animação foi realizada é o grande mérito da obra. Sam Liu e Lauren Montgomery, acostumados a esse tipo de missão e com inúmeras outras obras no currículo, optaram por não inventar nada, o que se mostrou uma sábia decisão. O roteiro, assim como a seqüência de fatos concebida originalmente, é praticamente a mesma que Miller e Mazzucchelli imaginaram na essência. O clássico consegue permanecer clássico.

Em “Batman: Ano Um” encontramos Bruce Wayne recém chegado a Gotham depois da viagem de aprendizado que conduziu por anos. Para começar a missão de limpar e salvaguardar a cidade, testa fórmulas até encontrar o morcego pelo caminho. Nesse mesmo tempo, o Detetive Gordon, apenas um policial recém casado, chega transferido para a cidade de todo o mal. Lá adentra um universo onde o crime praticamente tomou conta da polícia e se vê acuado com isso.

A animação relata as ambíguas questões do roteiro de Frank Miller, como ambição e desejo, de maneira competente. As cenas de ação transmutam a arte das páginas com perfeição, como demonstrado na conhecida seqüência em que Batman se livra de um cerco policial devido a ajuda de morcegos. “Batman: Ano Um” é produto obrigatório para todos os fãs do herói e serve como bom entretenimento para qualquer idade e mesmo para quem não conhece muito o personagem. 

P.S: Selina Kyle (Mulher-Gato) aparece como na HQ original, morena e de cabelo curto, e ainda ganha um pequeno filme de 20 minutos como extra do DVD.

Assista ao trailer (em inglês): 



sábado, 22 de outubro de 2011

"Humanish" - Humanish - 2011


A escritora belga Marguerite Yourcenar disse certa vez: “Ninguém ainda sabe se tudo apenas vive para morrer ou se morre para renascer”. Essa frase que na verdade tem sentido bem mais amplo, pode ser plenamente encaixada na música. Das cinzas do Terminal Guadalupe, uma das bandas nacionais mais interessantes da última década, surge o Humanish, que conta com os remanescentes do grupo indo em busca de uma nova direção, de novos caminhos para explorar.

Com o final da antiga banda, Allan Yokohama (guitarra, guitarra barítono, violão e voz), Marano (guitarra e voz) e Fabiano Ferronato (bateria) se juntaram a Igor Ribeiro (sintetizador e saxofone) no novo projeto. O homônimo disco de estreia foi gravado, mixado e masterizado no estúdio Órbita no Rio de Janeiro e produzido por Carlos Trilha (Renato Russo, Lobão e Autoramas). Nele, antigas influências cedem espaço para outras ideias e um nível de experimentação maior.

O som na maioria das vezes é caprichosamente estourado, com uma incursão maior das guitarras e o baixo tendo os graves supridos pelas próprias guitarras e pelo sintetizador. O resultado são faixas que na grande maioria tem os pés fincados em décadas passadas, mas com a devida revista atual embutida. Da pequena ode ao presente de “Algum Dia na Memória” até o perdão de “Deserto é o Coração”, passam quedas, romances, ilusões, necessidades e vontades.

O flerte com os anos 80 que o Terminal Guadalupe fazia, também aparece no trabalho do Humanish. “O Livre Arbítrio”, por exemplo, lembra a carreira solo do Cazuza, enquanto “Um Brinde” já olha para o Barão Vermelho da fase Frejat. A isso, some-se novas marcas como a ótima “Tanto”, em que o sax de Igor Ribeiro remete ao Morphine ou “Sempre Criança”, que traz as vestes do indie rock da última década. Já em outras como “Longe do Tempo”, são os anos 70 que dão as cartas. 

“Humanish”, o disco, apresenta uma banda sem o menor medo de ousar e experimentar, o que é sempre bem vindo. Não se prender ao óbvio vigente mesmo se utilizando de influências antigas, talvez seja o ponto mais positivo de um álbum, que se por um lado traz coisas que precisam ser melhoradas, por outro também deixa fartos indícios de que isso acontecerá adiante. Um trabalho para ser escutado com atenção, enquanto esperamos para ver onde o futuro os levará.

Site oficial com download gratuito do disco: http://www.humanish.com.br

Twitter: http://twitter.com/humanishrock 

Assista a gravação de “Eu Acredito em Você”:



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

"Minha Terra, África" - 2009

A cineasta francesa Claire Denis (“35 Doses de Rum”) passou boa parte da infância na África. Cresceu em um continente que apesar do desejo de buscar a paz, vive se encontrando em meio a guerras civis e desmandos dos seus governantes. É nessa sofrida região do mundo que ela residiu seu último longa, “Minha Terra, África” (“White Material”, no original), e baseada em uma novela de Doris Lessing consegue novamente criar um inspirado trabalho.

Temas recorrentes na obra de Claire Denis aparecem novamente na película, como o silêncio e a solidão. A personagem principal é Maria Vial, interpretada com uma força assustadora por Isabelle Huppert (de “A Professora de Piano” de 2001). Maria gerencia um cafezal em um país sem denominação na África, para a qual foi levada pelo sogro e o ex-marido que ainda vivem lá. Quando o governo começa mais uma briga com os rebeldes, as coisas ficam bem complicadas.

Maria não quer de maneira alguma deixar a plantação para trás, por mais que os indícios sejam fortes e claros. O exército francês lhe avisa que o cenário vai ficar ruim, os trabalhadores fogem com medo de morrer, o ex-marido parte para vender a terra e nada disso parece perturbar as convicções dela. Em um misto de arrogância e prepotência, Maria Vial acha que a confusão não vai dar em nada, afinal de contas conhece muito bem o país do qual fez morada.

E é nessa questão que mora um dos pontos altos do trabalho. Na personagem da gerente do cafezal, Claire Denis mostra toda a soberba que é própria de países mais desenvolvidos quando adentram as regiões africanas (e outras iguais), julgando que sabem tudo e principalmente acreditando que tem o poder para mudar as coisas. A contramão disso é que a própria Maria vê o único sentido que ainda possui na vida se esgueirar pelas mãos, ir embora sem dar novas opções.

Os caminhos que o filme desenvolve exploram o desespero, a maldade e a insensatez de modo particular e poderoso. A câmera nervosa de Claire Denis insere uma dramaticidade maior ainda aos fatos e nos apresenta a vidas opacas e vazias que se amarram em ganância, mesquinharia e medos próprios. “Minha Terra, África” pode ser entendido tanto como uma obra geral e política, quanto mais pessoal e intimista, funcionando muito bem de qualquer maneira que se veja. 

P.S: Disponível em DVD.

Sobre o filme “35 Doses de Rum”, passe aqui.

Assista o trailer: 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

"Comer Animais" - Jonathan Safran Foer


Nos últimos 10 ou 15 anos a discussão sobre o que comemos ganhou contornos mais acentuados. A preocupação com o que se ingere diariamente tem sido cada vez mais tema de pesquisas, livros e filmes. A consolidação dos onipotentes conglomerados alimentícios visa não somente abastecer a mesa de uma população em crescente aumento, mas principalmente fazer isso de forma acessível a todos, para que os lucros sejam maximizados para seus acionistas.

O escritor Jonathan Safran Foer, autor dos ótimos “Tudo Se Ilumina” e “Extremamente Alto e Incrivelmente Perto” saiu da sua zona de conforto e entrou nessa discussão. Antes um vegetariano ocasional, aderiu de vez a essa forma de alimentação quando do nascimento do primeiro filho. A partir disso, passou a se interessar fortemente pela maneira como os animais são tratados antes de virarem um simples bife nos nossos pratos, uma simples refeição cotidiana.

O resultado desse interesse fez surgir “Comer Animais”, livro de 2009 que a Editora Rocco coloca esse ano no mercado nacional. Com 320 páginas e tradução de Adriana Lisboa, Safran Foer explana o trabalho de mais de três anos de pesquisa em uma junção de ensaios, reportagens investigativas e dados estatísticos. O foco da pesquisa ficou nos Estados Unidos, onde ele mora, e onde a população consome apenas 0,25% dos alimentos comestíveis do planeta.

Esse tipo de debate tende facilmente a ficar vazio quando da defesa dos lados envolvidos. Existem aqueles (a grande maioria) que não acha nada demais em comer carne, outros que fazem um ativismo oco e sem resultados em médio prazo e uma terceira via, talvez a mais coerente de todas, que busca um melhor tratamento para os animais antes da transformação em alimentos, assim como a redução do número de criações industriais que assola o mundo moderno.

Em “Comer Animais” o autor consegue fugir bem do proselitismo gratuito e quase nunca tenta convencer o leitor a seguir suas convicções. Junta depoimentos dos lados e não os questiona tanto na essência, pois sabe que acima de tudo a maneira de comer é uma tradição familiar e cultural. Isso ajuda bastante quando ele explora seus motivos e razões em ensaios muito bem escritos e que realmente botam a cabeça para pensar, para refletir possíveis futuros.

Ao final do livro, Safran Foer coloca diversas correlações das afirmativas utilizadas, oriundas na esmagadora maioria de dados científicos e de publicações dos setores, o que dá um respaldo maior a tudo que foi exposto antes. Com isso, em uma visão mais geral, dá para relacionar sua obra com outras como “O Dilema do Onívoro” de Michael Pollan e “O Fim dos Alimentos” de Paul Roberts, como também ao filme “Nação Fast Food” de Richard Linklater.

Ao ler “Comer Animais” e entender o caminho que a comida faz até chegar ao nosso prato, fica difícil esquecer depois. A carne que comemos, quase sempre vem de animais que sofreram muito e que foram encharcados de remédios para curar doenças da sua própria criação (sem contar a sujeira com fezes e sangue). Jonathan Safran Foer expõe sem radicalismos e com categoria os malefícios dessa política para a população e o meio ambiente e faz cada um repensar suas convicções.

Um vídeo antigo sobre esse tema é o “Meet Your Meat” (mas tem muito mais no Youtube):



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Séries - "Terra Nova"



O esgotamento dos recursos naturais do planeta tem sido um tema muito discutido nos últimos anos. É normal então que o interesse pelo assunto se alastre para várias esferas, como o mundo do entretenimento, que cada vez mais se utiliza desse expediente. É isso que o Canal Fox faz agora na sua nova série. “Terra Nova” que passa às 22 horas da segunda-feira envereda pelo caminho de um tempo onde a humanidade sofrerá pela falta desses essenciais recursos naturais.

Com mais de 2 anos na incubadora e algumas mudanças de roteiro e de casa para exibição, “Terra Nova” traz na sua retaguarda nomes de respeito como Steven Spielberg (que dispensa apresentações), Craig Silverstein (Nikita, Bones), Paul Grellong (Law e Order: Special Victims Unit) e Jon Cassar (24 horas), além da validação da 20th Century Fox. Atuando na produção, criação e supervisão, essas pessoas são a prova do investimento que foi feito para que a série vingue realmente.

Mas do que se trata? Primeiramente não vemos nada de tão espetacular assim. No início do século 22 o mundo está quase quebrando por causa de um colapso ambiental, quando cientistas encontram uma brecha no espaço-tempo e conseguem criar um portal a 85 milhões de anos no passado (sim, com dinossauros no meio). Cria-se então uma comunidade não somente com o intuito de salvaguardar a espécie, como também conseguir ajuda para resolver os problemas do presente.

O processo de envio é pesaroso e nada fácil. Para chegar nessa desejada terra de salvação as pessoas tem que ser acima da média e encaixarem perfeitamente na política proposta pelas autoridades. Quando a Dra. Elisabeth Shannon (a debutante Shelley Conn) consegue o bilhete de ida, realiza uma verdadeira missão para que toda a família vá junto, inclusive o esposo preso Jim Shannon ( Jason O’Mara de “Life On Mars”), por quem toda a futura trama indica que se desenvolverá.

Na sua concepção primária, a nova série da Fox deixa bem a desejar. Pelo menos nos capítulos iniciais existe pouca explicação para as forçadas do roteiro, como a existência da alta tecnologia que consegue sobreviver com os escassos recursos do passado. A correlação com tramas como “Lost” e filmes como “Avatar” e “Jurassic Park” são muito fortes e em certos momentos chegam a incomodar por conta de semelhanças estéticas e principalmente semelhanças estruturais.

Ao conseguir deixar de lado essas falhas, “Terra Nova” também promete coisas boas. Exibe efeitos visuais acima da média para a televisão e procura de modo não pedante alertar para as consequências do nosso modo de vida, enquanto mostra que independente de onde o ser humano se encontre, ele sempre será capaz de produzir coisas boas e ruins em igual quantidade. E é quando se envolve mais com os humanos e esquece os dinossauros que a série rende muito mais. 

Site oficial no Brasil: http://www.canalfox.com.br/br/series/terra-nova 

Assista ao trailer: 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

"Larry Crowne - O Amor Está de Volta" - 2011


“A mudança é a lei da vida”, já dizia John Kennedy, o famoso presidente estadunidense. Por quantas mudanças já não passamos desde o dia em que nascemos? Quantas vezes não foram necessárias mudar as rotas das coisas das nossas vidas? Mesmo que tais questionamentos soem bobos em um mundo onde o cinismo impera cada vez mais, eles não deixam de ser verdadeiros. Tem horas que é preciso dar uma parada, recomeçar, seguir uma nova trilha em busca de dias mais amenos. 

“Larry Crowne - O Amor Está de Volta”, o novo filme de Tom Hanks, trata em sua essência sobre isso. O ator que volta a direção depois de “The Wonders – O Sonho Não Acabou”, também faz o papel principal e escreve o roteiro em parceria com Nia Vardalos (“Casamento Grego”). Mais superficialmente temos uma comédia romântica, mas o que na verdade está sendo passado é o desejo de deixar a vida um pouco melhor, mesmo que esse desejo se forje e nasça de modo involuntário.

Larry Crowne é um funcionário dedicado e de bem com o que faz. Porém, para sua surpresa, em uma reestruturação da rede de comércio onde trabalha, descobre que está demitido. O motivo? Falta de um curso superior é o que se alega, mas por trás disso na verdade está a crise que os EUA atravessam nos últimos anos. Essa crise é explorada constantemente pelo roteiro, mostrando ainda que de modo bastante brando, o grande buraco que os estratagemas financeiros cavaram.

O personagem que Tom Hanks interpreta com a usual categoria, é uma grande junção de vários outros. Nele se encontram pequenos pedaços de papéis do ator em filmes como “Forrest Gump”, “Quero Ser Grande”, “Mensagem Para Você” e “O Terminal”. É aquele cara bom moço, sonhador e que dentro de si carrega a vontade de viver novamente um amor. E é esse amor que Larry encontra ao entrar na faculdade na figura da sua professora de oratória Mercedes Tainot (Julia Roberts).

Julia Roberts (bela, como sempre) é o outro extremo de um elenco que sem ser brilhante consegue imprimir um bom ritmo ao longa. A vida dela também grita desesperadamente por alguma mudança, pois o casamento cada vez mais se encaminha a passos fortes para o brejo e a vida profissional é tocada sem o menor tesão. É o tipo de pessoa que a rotina parece que atropelou sem piedade enquanto passava. Quando Larry entra na sala para ser seu aluno, o jogo começa devagarzinho a mudar. 

“Larry Crowne - O Amor Está de Volta” é um filme bem comum, com obviedades em boa quantidade e fórmulas reutilizadas pela enésima vez. No entanto, mesmo sendo uma comédia romântica tradicional traz no seu cerne um pequeno toque a mais. Dependendo do estado de espírito e do momento em que o espectador está passando, consegue deixar uma marca interessante. Pode-se até classificá-lo de tolo ou banal, mas mesmo que não se admita externamente, ele faz um baita sentido.

Assista ao trailer:



domingo, 9 de outubro de 2011

"Sonhando Devagar" - Kassin - 2011


Caetano Veloso, Vanessa da Mata, Los Hermanos, Jorge Mautner, Adriana Calcanhotto, Lenine, Orquestra Imperial. O que todos esses nomes têm em comum? Todos eles, em algum momento da carreira contaram com a produção de Alexandre Kassin, um tipo de mago da atual música nacional, como em outras épocas (guardadas todas as devidas proporções) fora o Liminha.

A história de Kassin com a música já data de um bom tempo. Ele foi baixista da banda Acabou La Tequila, teve um projeto eletrônico chamado Artificial e junto com Moreno Veloso e Rodrigo Domenico embarcou no trio +2. Fora isso, conta com diversas produções de discos de nomes como os dispostos acima. Agora em 2011 chegou a vez de projetar o próprio trabalho. 

“Sonhando Devagar” traz o músico com um grupo de apoio formado por Stéphane San Juan (bateria, percussão), Alberto Continentino (baixo, rhodes) e Guilherme Monteiro (guitarra), além da presença de outros como Donatinho (teclados) e Marlon Sette (trombone). Com lançamento pelo selo Coqueiro Verde Records, mostra um pouco de um universo bastante particular.

No trabalho, Kassin explora uma sonoridade que utiliza de experimentalismos e envolve estes em uma rede retrô na grande maioria das vezes. As letras habitam uma terra repleta de viagens e flertes com situações pouco convencionais. Em “Mundo Natural” que abre o trabalho, temos uma melodia que remete aos anos 80 e o músico se imaginando como um predador que corre atrás de zebras, por exemplo.

Essa busca das letras pelo incomum é um dos maiores destaques do trabalho. Kassin brinca de usar melodias doces e harmoniosas como condutoras para versos como “tomates e bananas são muito salutares, contêm muito potássio e são deliciosos” da faixa “Potássio”. E deixa bastante claro o intuito de provar que a união de música e letra é superestimada e pode ser nonsense e também funcionar. 

“Sonhando Devagar” exibe isso praticamente em todas as suas 10 canções. Do pop simples de “Fora de Área” até a caribenha e maluca “Sorver-te” que fecha o álbum, passando pelo dancehall funkeado da absurda “Calça de Ginástica”, onde mostra de forma evidente que os sonhos que habitam a sua mente não são nem um pouco convencionais ou facilmente assimiláveis pela grande massa.

Organizado de maneira a ir em uma crescente do calmo pop a experimentações mais incisivas, “Sonhando Devagar” é acima de tudo um extremo exercício de estilo, o que se sobrepõe acima de qualquer outra coisa que se imagine. Percebe-se indícios da qualidade que sempre foi esperada de Kassin como artista individual, no entanto, não consegue ir muito além do que isso infelizmente.

Site oficial: http://www.coqueiroverderecords.com/kassin

Twitter: http://twitter.com/kassinkassin 

Escute “Fora de Área”: 

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"Submarino" - Joe Dunthorne


Oliver Tate é um adolescente que se for analisado de uma maneira geral pode ser enquadrado como qualquer outro. Prestes a completar 15 anos tenta entender o mundo, sofre com a relação um pouco complicada dos pais, procura se sobressair na escola que estuda, possui alguns amigos e se preocupa em perder a virgindade com a máxima urgência. No entanto, essa aparência inicial se desfaz assim que caminhamos alguns poucos passos para dentro da sua vida.

O jovem na verdade é estranho (ou diferente do comum), obcecado e cheio de excentricidades próprias, o que leva a mãe pesquisar na internet por expressões como “adolescente com síndrome delirante” ou “problema de imaginação hiperativa”. Essa inadequação social, o leva com uma lógica bastante plausível, a argumentar contra as normas e regras do cotidiano, o que gera situações constrangedoras, engraçadas e extremamente bizarras em alguns momentos.

É esse pequeno desajustado que protagoniza “Submarino”, livro do galês Joe Dunthorne que ganhou edição nacional ano passado pela Editora Record, com 400 páginas e tradução de Vera Ribeiro. O autor nasceu em 1982 e originalmente publicou seu primeiro trabalho em 2008 no Reino Unido. Com boas críticas, já conseguiu até uma adaptação cinematográfica, com direção de Richard Ayoade, produção de Ben Stiller e trilha sonora de Alex Turner do Arctic Monkeys.

“Submarino” é um conjunto de ideias que ao se espalhar pelo universo do politicamente incorreto, produz uma leitura instigante e repleta de energia. O jovem Oliver Tate geralmente abusa do dom de ser meio louco e conduz situações que terminam sempre com uma das partes arrebentada. A maneira que seu cérebro processa as coisas, não conduz em nada com aquilo que a sociedade em geral ambiciona a seguir nos seus conservadores modelos concebidos.

Através do seu protagonista, Joe Dunthorne expõe não somente a incompatibilidade social, como também os dramas de um jovem que busca dentro da sua lógica incomum fazer parte de um contexto maior e conseguir a dedicação e carinho que entende que necessita para seguir. A preocupação dele com palavras não usuais como triscedecofobia, epistolário ou eutenia (que dá nome aos capítulos), justifica justamente essa busca forjada pela estrada do entendimento.

Mas “Submarino” versa também sobre a dor e o prazer que cada escolha, por menor que se apresente, produz sobre cada indivíduo independente da sua idade, posição social ou o que quer que seja. A vida de Oliver Tate na beira de uma cidade costeira do País de Gales na segunda metade dos anos 90, consegue elaborar questionamentos implícitos sobre grandes questões, ao mesmo tempo que de modo inteligente cutuca, incomoda, diverte, surpreende e fascina.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

“Walk The Walk...Talk The Talk” - HeadCat - 2011


Geralmente pinta uma festa com alguns amigos em casa ou em um bar qualquer e se faz necessário escolher a trilha sonora para embalar e melhorar a conversa. O rol de alternativas para essa possível trilha sonora acaba de ganhar mais uma opção esse ano. Trata-se de “Walk The Walk...Talk The Talk”, o novo registro do HeadCat (que já foi The Head Cat), que com a produção de Cameron Webb (Pennywise, Social Distorcion) se encaixa perfeitamente nessa proposta.

Mas o que, ou quem é HeadCat? Bom, em meados de 2000, Lemmy Kilmister (Motörhead), Slim Jim Phantom (Stray Cats) e Danny B. Harvey (The Rockats e outra dezena de bandas) se encontraram para tocar em um tributo a Elvis Presley. De lá surgiu a ideia de gravar um disco tocando basicamente country e rockabilly e assim saiu no mesmo ano “Lemmy, Silm Jim e Danny B” com releituras para canções do porte de “Heartbreak Hotel”, “Big River” e “Not Fade Away”.

O trio gostou da brincadeira, adotou o nome Head Cat (ainda separado) e lançou “Fool’s Paradise” em 2006 e mais um DVD ao vivo em 2007. “Walk The Walk...Talk The Talk” é o novo rebento do projeto e traz como missão além da visível diversão dos seus integrantes, resgatar músicas não tão populares assim e rever alguns clássicos. Em menos de 30 minutos o trio promove diversão, carregando o rockabilly como força motriz, mesmo sendo um pouco mais acelerado.

A diversão é completamente garantida e recomendada. As 12 faixas abrangem coisas meio perdidas como “Say Mama” de Gene Vincent, “It’ll Be Me” de Jerry Lee Lewis e “You Can’t Do That” dos Beatles (uma perdoável incursão sessentista), além de hits inegáveis como “Let It Rock” de Chuck Berry, “Something Else” de Eddie Cochran, “Crossroads” de Robert Johnson (em ótima versão) e uma impagável “Shaking All Over” de Johnny Kidd and The Pirates.

O HeadCat já se mostra tão a vontade que até se permite criar músicas, como demonstram as boas “American Beat” e “The Eagle Flies On Friday”. Ouvir Lemmy prestes a completar 66 anos emprestando seu vozeirão para o rock mais básico e cru de todos (e que se pensarmos bem, tirando a velocidade, não difere tanto assim do Motörhead) é muito prazeroso. É satisfação completa para suas festas. Duvida? Saque para o player “Bad Boy” de Larry Williams, aumente som e comprove. 

P.S: Tipo de disco para escutar alto, muito alto mesmo. 

Site oficial: http://www.theheadcat.com

Facebook: https://www.facebook.com/HeadCatOfficial 

Assista “Shaking All Over” ao vivo: 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"Mirror Traffic" - Stephen Malkmus And The Jicks - 2011


Stephen Malkmus é uma espécie de herói indie. Dentro daquilo que se convencionou a estipular como o universo habitado por essa, digamos assim, comunidade dos fãs de música, esse californiano de 45 anos é um dos nomes mais importantes. Tudo por conta do Pavement, banda que com ele a frente lançou discos poderosos no decorrer dos anos 90, o que serviu tanto para redefinir um pouco da estética de ser alternativo, quanto reforçar paradigmas já existentes.

Depois de anunciar seu término em 2000, o Pavement retornou para uma turnê mundial com um status de grande banda que nunca teve na época em que vivia no mercado alternativo. Com shows estupendos na grande maioria das vezes (inclusive no Brasil), a trupe aproveitou para fazer uma grana e também lançar uma coletânea. A expectativa então era de que um novo álbum pudesse ser concebido, mas para infelicidade dos seus seguidores, isso não ocorreu.

O que realmente aconteceu foi que Stephen Malkmus reuniu novamente o The Jicks, grupo de apoio que lhe acompanha desde a estreia solo, para gravar um novo disco. Mike Clark na guitarra e teclados, Joanna Bolme no baixo e Janet Weiss na bateria (que depois saiu para a entrada de Jake Morris) são os parceiros que fizeram “Mirror Traffic” existir. A banda, mais uma vez não se aventura muito sozinha e segue somente a musicalidade proposta pelo líder.

“Mirror Traffic” é sem sombra de dúvida o disco mais acessível da carreira solo de Stephen Malkmus. A produção de Beck contribui (até meio paradoxalmente) para uma carga menor de experimentações e viagens sonoras, tais quais foram ouvidas em “Real Emotional Trash” de 2008. Ainda existem canções acima de 5 minutos (“Brain Gallop”, “Share The Red” e “Gorgeous Georgie”), no entanto, o maior percentual é de canções curtas e com um apelo pop acentuado.

O álbum começa com “Tigers”, que já entra pelo meio e traz o vocal repleto dos habituais falsetes e trejeitos para passar por momentos até então desconhecidos da faceta do músico, como em “No One Is (As I Are Be)”, construída no violão com direito a metais e lembrando um indie pop (quase) dócil. O lado ácido também se faz presente. Em “Senator”, temos uma homenagem ao democrata Anthony Weiner que se envolveu em um escândalo com fotos, twitter e universitárias nos USA.

No decorrer das 15 canções de “Mirror Traffic” percebe-se que a inquietude e o complexo de Peter Pan de Malkmus diminuiu. Não que as maluquices tenham ido embora (confira “Jumblegloss e “Spazz”, por exemplo), mas são mais administráveis. Mesmo que tardiamente e para desespero de muitos dos antigos fãs, ele finalmente cresceu e o resultado disso é um trabalho que se não ajudará em nada para aumentar a aura de herói, é extremamente prazeroso de ser ouvido.


Assista ao clipe de “Senator” (com Jack Black):