segunda-feira, 29 de novembro de 2010

“Do Seu Amor, Primeiro É Você Quem Precisa” - Gustavo Telles & Os Escolhidos - 2010

O gaúcho Gustavo Telles é baterista da banda de rock instrumental Pata de Elefante, por onde já lançou três discos incluindo o bom “Na Cidade” desse ano. Ele também tem um projeto solo no qual canta composições suas que trazem no folk e no country seus maiores vínculos instrumentais. Batizando esse projeto de Gustavo Telles & Os Escolhidos, lança agora pelo álbum virtual da Trama, o disco “Do Seu Amor, Primeiro É Você Quem Precisa”.
“Os Escolhidos” formam um timaço. Além dos parceiros de Pata de Elefante Daniel Mossman (violão e guitarra) e Gabriel Guedes (guitarra), tem Luciano Albo (baixo e guitarra) do Tenente Cascavel, Jerônimo “Bocudo” Lima (baixo), Alexandre “Papel Loureiro (bateria), Luciano Leães (teclados) e Márcio Petracco (violão e guitarra) dos Locomotores, Diego Lopes (teclados) do Acústicos & Valvulados, além de Diego Garcia (vocal) e Maurício Nader (guitarra).
Gustavo Telles já tinha composto canções esporádicas para bandas gaúchas como o Ultramen e o Acústicos & Valvulados anteriormente, mas a vontade de compor só é saciada com essa estréia. O grande destaque desse registro está nas ambientações instrumentais que servem como condutoras para as canções que tratam sempre sobre o amor, resgatando muito do cancioneiro brega popular nacional dos anos 70 e 80 e alcançando roupagens mais diversas.
As estruturas melódicas são todas bem construídas e tem um envolvimento luxuoso dos instrumentos que são ouvidos sem maiores problemas, graças à boa mixagem e masterização de Thomas Dreher. As letras de Gustavo Telles é que incomodam às vezes, focando no amor de maneira óbvia demais. Todavia, isso pode até ser proposital se compararmos o tom em que as músicas são cantadas e o alinhamento delas com cantores populares de outrora.
Os melhores momentos ficam por conta da faixa título, do country rock de “Faltou Luz”, da influência de Mutantes de “Quero Mais”, do ritmo pop e despretensioso de “Girando Em Descompasso” e da bonita “Posso Me Perder”. Para quem tem a taxa de açúcar no sangue meio alta e gosta de coisas mais guitarreiras, o disco não deve agradar muito. No entanto, para quem gosta de canções de amor e músicas bem tocadas e executadas, pode ser um prato cheio.
“Do Seu Amor, Primeiro É Você Quem Precisa” é gratuito. Pegue o seu na Trama, aqui.
My Space: http://www.myspace.com/gustavotellesosescolhidos

sábado, 27 de novembro de 2010

"Memória de Elefante" - Caeto

Escrever uma graphic novel baseada em experiências próprias que podem ser elevadas a uma freqüência maior ou menor dependendo do caso, já rendeu bons momentos ao mundo dos quadrinhos. De Art Spiegelman (“Maus”) a Will Eisner (“Avenida Dropsie”), passando por gente como Harvey Pekar (“American Splendor”) e por nomes novos como Craig Thompson (“Retalhos”). É por essa estrada que Caeto anda com sua estréia “Memória de Elefante”.
Não que o paulista Caeto, hoje com 31 anos, seja necessariamente um estreante nos quadrinhos já que há um tempinho produz obras independentes como o fanzine “Sociedade Radioativa”, mas só agora chega pelo selo Quadrinhos na Cia. da Companhia das Letras ao primeiro livro (ou álbum, se preferir). “Memória de Elefante” tem 232 páginas e é mais um bom lançamento do mercado nacional, que vem ganhando vigor nos últimos anos.
Caeto usa um traço simples em preto e branco com o uso mais constante do primeiro principalmente nos fundos e cenários, para narrar parte da sua trajetória pessoal. O drama familiar é basicamente o causador de todas as ações. Seu pai, dono de uma livraria que está a beira da falência deixa a mãe para viver uma relação com o sócio, o que causa um choque ao filho e o distancia ainda mais da mãe que volta a morar no interior junto da família.
Indo de bar em bar para amenizar o fracasso de uma vida cheia de projetos que não seguem adiante, Caeto vai vivendo entre o ócio e constantes decepções. Nesse ponto a trama até que se conduz bem e revela boas sacadas, mas nada que consiga realmente empolgar muito. A partir do momento que essa trama converge para a relação do autor com o pai, que como portador do vírus HIV se enclausura mais no próprio mundo, ela alcança rumos melhores.
“Memória de Elefante” é embaixo de toda a gama de fugas que oferece nada além do que uma pequena e envolvente história da relação de um filho com seu pai, por mais difícil que esta se torne em algum momento da vida. Como coadjuvantes, Caeto traz mais fortemente a cidade de São Paulo com todas suas ruas e opções, além de um cachorro vira lata, que sai da rua para servir de medida para as relações. Uma estréia para ser bem recepcionada.
Blog do autor: http://caetoilustra.blogspot.com
Outros livros do selo Quadrinhos na Cia. aqui no blog: - “Retalhos” de Craig Thompson, aqui. - “O Chinês Americano” de Gene Luen Yang, aqui. - “Umbigo Sem Fundo” de Dash Shaw, aqui. - “Cachalote” de Daniel Galera e Rafael Coutinho, aqui.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

“Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 1" - 2010

“Tirem as crianças da sala!”. Esse bordão de um apresentador de televisão me veio a mente no decorrer da sessão de “Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 1”. O anunciado crescimento do bruxinho mais famoso do mundo que vinha se consolidando nos últimos anos atinge seu maior momento no novo filme, que assim como o anterior oscila muito e novamente chega a um resultado apenas razoável no final, sendo o maior culpado disso o roteiro esticado demais.
Isso não quer dizer que o longa não tenha bons momentos. Mais sombrio e adulto que nunca, o diretor David Yates explora todas as fraquezas do trio principal de personagens que sempre carregou a trama nas costas. Harry Potter (Daniel Radcliffe), Rony Weasley (Rupert Grint) e Hermione Granger (Emma Watson) tem suas deficiências e medos amplificados gerando confrontos que passam bem longe da simples inveja que crianças costumam ter umas das outras.
O grande problema fica por conta da divisão do último livro em dois filmes, sendo a segunda parte somente lançada em 15 de julho de 2011. Em vez de optar por um filme mais longo, ali na casa das três horas de duração, a produção dividiu em duas partes, o que gera pelo menos uns quarenta minutos de enchimento de lingüiça que não fariam falta alguma. Talvez por ter que abrigar tantos personagens dos outros episódios, o trabalho acaba se perdendo vez ou outra.
Depois do assassinato de Alvo Dumbledore no último filme, Hogwarts é tomada pelos Comensais da Morte de Lorde Voldemort (Ralph Fiennes) e o terror é espalhado por todas as esferas da sociedade dos bruxos. A única maneira de derrotar o Darth Vader com varinha do filme é destruir pedaços da sua alma espalhados pelo mundo. Harry então toma a frente da missão com seus dois companheiros a tiracolo, tentando enfrentar todas as provações que se anunciam.
Na caça ou fuga que o trio principal empreende, passagens pesadas são mostradas refletindo os temores de cada um, aumentados pelo uso de um cordão que intensifica o lado ruim (qualquer semelhança com um certo anel não deve ser coincidência). Até uma cena de sexo entre os amigos Harry e Hermione ganha seu lugar. Mesmo com direção de arte e fotografia exuberantes, além de uma Emma Watson majestosa, o novo Harry Potter derrapa e desliza mais uma vez.
Site oficial: http://harrypotter.warnerbros.com
Sobre o filme anterior, passe aqui.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Paul McCartney - Estádio do Morumbi (SP) - 21.11.2010

Um casal de gaúchos se abraça fortemente. Ele está vestido com a camisa do Internacional e ela com a do Grêmio, mas isso não faz a menor diferença nesse momento. Um pouco acima deles, três amigos que vieram de Belém cantam juntos a música que ecoa no ar, enquanto um filho segura o pai que há pouco tempo teve que ir ao banheiro para lavar o rosto e tomar um fôlego. Do lado, algumas garotas de 20 e poucos anos e um menino com não mais do que nove de idade, também fazem questão de cantar junto com o coro geral.
A eles juntam-se o divertido vendedor de amendoins que veio tentar a vida em São Paulo direto de Maceió, os garotos vestidos de Beatles da fase Sgt. Pepper’s que aparecem no telão e um grupo de quase dez amigos que se entrelaçam e levam os braços para cima. Não importa de onde essas pessoas vieram ou que vida levam, todas agora fazem parte de um pequeno universo que comporta sessenta e poucas mil pessoas e que tem na regência e comando um senhor de 68 anos que canta uma velha e bonita canção chamada “Hey Jude”.
O relógio indicava quase meia noite de domingo e Paul McCartney chegava perto de duas horas e meia de apresentação com um vigor que parecia inesgotável. Depois da música que encerrou a primeira parte, ainda viriam mais dois bis e outras seis canções. Aquele que para milhares é o maior artista vivo da música fazia no estádio do Morumbi uma apresentação encantadora e memorável. Com muito bom humor e um grupo de apoio que transbordava competência (principalmente o baterista Abe Laboriel Jr.), Macca fez todos cantarem.
E que canções foram entoadas. De todas as fases, indo dos Beatles, passando pelo Wings e desembarcando na carreira solo. Momentos emocionantes como “The Long and Winding Road”, “My Love”, “Eleanor Rigby”, “Something” (oferecida com justiça a George Harrison) e a mágica “Band Of The Run” se aliavam a outros extremamente pop e para cima como “Jet”, “All My Loving”, “Drive My Car”, “Mrs. Vandelbilt” e “Ob-La-Di Ob-La-Da”. Em “Let It Be”, um homem barbudo na faixa dos 40 anos tinha lágrimas caindo do rosto.
John Lennon também ganhou justa homenagem em “Here Today” e no momento mais fantástico da apresentação na dobradinha de “A Day in the Life/Give Peace a Chance”. Boa parte do público encheu balões brancos e levantou para depois soltar quando o hino pela paz iniciou seus versos. Era impossível ficar imune e a emoção transbordava no Morumbi. “Live And Let Die” ganhou fogos de artifício e explosões pelo palco e no telão, enquanto o piano de Paul cadenciava o ritmo naquela que é uma das suas melhores músicas.
E veio o primeiro bis com “Daytripper”, “Lady Madonna” e uma “Get Back” magistral invadindo a segunda feira, que presenciou logo nos seus primeiros minutos um segundo bis com a qualidade de “Yesterday”, “Helter Skelter” e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”. Quando tudo realmente acabou depois de quase três horas, virei para um amigo ao lado e perguntei: “Como definir esse show?”, no que ele respondeu: “Simples. Não tem definição. Elas são pequenas demais para referenciar algo do tamanho que vimos hoje.” Verdade.
Paul McCartney justificou com força, simpatia e extrema categoria a aura de divindade que paira sobre si. É incrível a destreza com que toca todos os vários instrumentos em que se aventura. É certo que a voz falha algumas poucas vezes, mas isso realmente nada importa. Sem tomar um único copo de água que fosse, demonstrou para centenas de outros artistas como se faz um grande show, sem estrelismos ou pretensão. Na saída do estádio, as milhares de pessoas tinham em comum um sorriso estampado no rosto, digno de quem acabou de ver o show da sua vida.
Foto:
http://ultimosegundo.ig.com.br

domingo, 21 de novembro de 2010

Festival Planeta Terra - Playcenter (SP) - 20.11.2010

“Enfadonho”: que causa enfado, importuno, maçante, chato, monótono. “Pretensioso”: que tem pretensões, presunção ou vaidade. Essas duas palavras e suas respectivas definições refletem muito bem o que foi o show da recente encarnação do Smashing Pumpkis encerrando o palco principal do Planeta Terra 2010. Billy Corgan veio a São Paulo para produzir momentos constrangedores que só os fãs mais extremos e seres de outro planeta devem ter gostado.
A 4ª edição do Planeta Terra no Playcenter em São Paulo, no entanto, não teve somente a chatice de Billy Corgan e trouxe shows divertidos e apresentações memoráveis. Começou com a saraivada de pequenos hits do Mombojó ainda as 4 e pouco da tarde, para engatar na música dos Novos Paulistas, combo que reúne nomes da nova cena da cidade, mas que funciona somente nas partes individuais de integrantes como Tulipa Ruiz e Tatá Aeroplano (Cérebro Eletrônico).
Depois de umas três músicas do show do Of Montreal, um amigo comenta: “Até que eu gostava deles, mas depois de ver o que estou vendo, acho que não escutarei mais.” Brincadeiras à parte, o grupo estadunidense promoveu um festival de cores, formas e alegorias, divertindo bem principalmente em faixas como “Coquet Coquette” e “Rejector”. Entender todos os personagens que entram no palco (isso se tem explicação) dá papo para um bom par de horas no bar.
Mika fez um show em que passou do seu público principal e atingiu grande parte dos presentes com sua mistura de pop dançante, Elton John e Broadway. Honestamente não gostei, mesmo reconhecendo que teve imensa aceitação, o tom de falsete e os gritos do cantor acabam agredindo mais que agradando. O Phoenix em seguida fez um bom show com hits como “Lisztomania” e “1901” e um crowd surf fantástico do vocalista Thomas Mars. Surpresa boníssima.
O Pavement veio em sequência e fez o que todo mundo queria: engatou hit atrás de hit com muita distorção e uma vontade até grande, tendo em vista todo o histórico de despretensão da banda. Só foram músicas antigas, o que no caso do Pavement não é nenhum demérito, pelo contrário. Do início com “Gold Soundz” ao final com uma versão sublime de “Here”, Stephen Malkmus e sua trupe mostraram o porquê de serem citados como influência para tantos.
Além de hits alternativos como “Cut You Hair” e “Range Life” (que não teve nenhum verso trocado, apesar do show dos Pumpkis depois), a banda fez versões esplêndidas para canções como “Rattled By The Rush”, “Two States”, “Perfume-V” e “Stop Breathin’”. O segundo baterista Bob Nastonovich trazia ótimos momentos quando saia ensandecido de trás para pegar o microfone e cantar aos berros algumas das músicas. Show para abrir o sorriso e cantar junto.
O espaço na frente que tinha esvaziado um pouco no Pavement por conta do Hot Chip no mesmo horário, encheu mais quando o Smashing Pumpkis começava seu show de horrores. Esse mesmo espaço esvaziou na mesma proporção quando Billy Corgan tentou tocar o hino dos Estados Unidos e começou os solos, incluindo um extremamente chato e sem a mínima função prática do seu baterista. Faltaram hits e sobraram pessoas indo embora antes do fim.
Até entendo que na sua terceira vinda ao país o Pumpkis (se é que ainda pode ser chamado assim) não tocasse só coisas conhecidas, até por conta das músicas que vem sendo disponibilizadas na internet. Porém, o que se viu atravessou e muito essa linha. O maior problema dessa encarnação da banda é que os três músicos que substituem James Iha, D’arcy e Jimmy Chamberlin são bem inferiores a eles, deixando tudo nas mãos de Corgan, o que é claramente um perigo.
Mesmo com a decepção da atração que tinha a responsabilidade de fechar o festival, o Planeta Terra mostrou novamente que é o melhor do país. Organização impecável, ótima estrutura (o fato de ser no Playcenter ajuda muito), além de inovações e atrações por todos os lados. O único defeito grave é ainda não terem resolvido o problema da saída, onde tem muita gente para pouco táxi, quando talvez um simples convênio pudesse resolver. No mais, é esperar a versão 2011.
P.S: Fotos retiradas do site oficial do evento: http://musica.terra.com.br/planetaterra/2010
Sobre as edições do festival em 2008 e 2009, passe aqui e aqui.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

"Os Beats" - Harvey Pekar, Ed Piskor e Paul Buhle

A geração beat que causou tanto furor nos Estados Unidos nos anos 50 e 60 deixando sua marca na obra de outros artistas como Bob Dylan e Beatles, entre tantos outros, talvez hoje tenha ficado para trás. Os tempos são outros e a crença na falta de valores e a busca por diversos tipos de artes ou comportamentos que vão em direção a oportunidades de frentes criativas diversas, hoje já não faz tanto sentido, uma vez que o mundo recicla isso de outras maneiras.
Dito isso, ao término de “Os Beats”, graphic novel que Harvey Pekar escreveu antes do seu falecimento em julho deste ano, fica difícil imaginar qual a relevância da obra para uma nova geração que não conhece e possivelmente não ouviu falar em Jack Kerouac, Allen Ginsberg ou William Borroughs. Lançada lá fora ano passado, chegou aqui agora pelo selo Benvirá da Editora Saraiva com 208 páginas e vem com a arte de Ed Piskor e a edição de Paul Buhle.
Junto do trio responsável que coordena a maior parte das narrativas, estão vários outros nomes dos quadrinhos underground como Joyce Brabner (esposa de Harvey Pekar), Jay Kinney e Jeffrey Lewis. São pequenas biografias espalhadas em desenhos em branco e preto, contando um pouco de histórias que vistas agora com o devido distanciamento narram vidas que produziram obras importantes, mas que também tiveram erros e fracassos em demasia.
Harvey Pekar, um ícone da contracultura moderna que sempre se mostrou influenciado pela geração beat no seu trabalho na excelente “American Splendor” (que virou filme em “Anti-Herói Americano”) versa sobre Kerouac, Ginsberg e Borroughs com reverência e algumas poucas brincadeiras, fazendo falta a sua rabugice tradicional. Esta superficialidade é a maior falha de “Os Beats”, que se contenta apenas com dados históricos e pouca interpretação dos fatos.
Mesmo assim se trata de um livro recomendável, não somente por causa dos três grandes, mas principalmente pela gama de artistas importantes desta geração que ficaram na sombra deles, apesar do reconhecimento crítico. Nele estão pequenas doses de autores influentes da literatura marginal americana como Michael McClure, Lawrence Ferlinghetti, Gregory Corso e Diane Di Prima, que podem servir de aperitivo para um futuro conhecimento mais abrangente.
Kerouac, Ginsberg e Borroughs escreveram obras poderosas como “On The Road” (“Pé Na Estrada’), “Howl” (“Uivo”) e “Naked Lunch” (“Almoço Nu”), respectivamente e ingressaram fortemente dentro da turma dos anos 60 e 70 que converteram essas idéias para seus trabalhos. Hoje, no entanto, esse legado de tanto filtrado que foi por geração após geração não mantêm o mesmo impacto e talvez “Os Beats” sirva para mudar um pouco isso.
Sobre “On The Road” de Jack Kerouac, passe aqui. Mais Harvey Pekar no blog, passe aqui.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"Nada Me Faltará" - Lourenço Mutarelli

Em um feriado praticamente como todos os outros, Paulo saiu de casa com sua mulher e filha em direção a um sítio de um amigo em Ibiúna no interior de São Paulo. Tudo caminhou normalmente. Arrumou as coisas, teve uma discussão irrisória com a esposa por conta de alguma besteira e tomou a estrada. Isso é o que está na sua memória quando ele aparece batendo na porta do prédio onde morava. Acontece que as coisas não são tão simples assim.
Paulo sumiu por um ano junto com a mulher e filha para desespero dos familiares e amigos. Mesmo com a procura de todos, incluindo a polícia, nenhuma pista foi achada. Quando ele aparece na porta do prédio onde residia, o novo porteiro nem lhe conhece. Ele resolve então ir em direção a casa da mãe, o que acaba causando um misto de alegria e susto pela forma que acontece e principalmente porque a mulher e a filha não aparecem da mesma maneira.
É com essa trama que Lourenço Mutarelli costura as linhas do seu novo romance. “Nada Me Faltará” chega pela Companhia das Letras com 136 páginas. Nele, o autor conhecido por obras como “O Cheiro do Ralo” e “O Natimorto” traz novamente uma história que em nenhum momento é convencionada aos lugares comuns e habituais de sempre. Bom exemplo disso, “Nada Me Faltará” é construído somente com diálogos, sem nenhuma descrição detalhada de nada.
Paulo, o cara que some e depois de um ano retorna sem lembrar-se do que aconteceu é um personagem que vai sendo descoberto a cada momento e chega no final sem apontar direito para onde está indo. Mais do que uma história sobre perdas, raiva e convenções sociais e familiares, “Nada Me Faltará” transita quieto pela solidão e pela maneira com que as pessoas vivem despejando expectativas próprias em cima de outras pessoas que agüentam isso caladas.
Quando o livro já está chegando perto do fim chega-se a conclusão que pouco interessa o que aconteceu ao Paulo, sua mulher e filha. Não importa se ele é um grande ator, um assassino filho da mãe ou um pobre coitado que nunca mais vai ter a vida de volta. “Nada Me Faltará” talvez não seja um livro para se entender, para absorver a história. Ele fala sobre o meio, amplificado por um desastre, mostrando o quanto todos podem ficar perdidos de vez em quando.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

V Festival Se Rasgum - Belém(PA) - 13 e 14 de Novembro

A 5ª edição do Festival Se Rasgum passou. Foram três dias em que a música pediu passagem na capital paraense para mostrar tendências, revisitar o antigo e vestir novas roupagens. A bandeira da diversidade – essa palavra tão perigosa – que é carregada pelo evento, funcionou mais que atrapalhou e a produção continuou na espiral de crescimento dos últimos anos. E os shows? Bom, por conta de alguns fatores, estes tiveram uma boa dose de surpresa embutida na conta.
Sábado – 13 de novembro
Não fui ao primeiro dia (12) no Hangar que reuniu The Hell’s Kitchen Project (MG), Dona Onete (PA), Felipe Cordeiro (PA) e André Abumjamra (SP). A pequena saga começava então no sábado (14) por volta das 20:00hs. Programado para começar nesse horário, o festival teve quase duas horas de atraso por conta de uma chuvarada que desceu dos céus sem muito aviso. Foi muita água, o que atrapalhou não somente os últimos shows como a chegada do público, que mesmo assim respondeu bem.
O Dharma Burns mandou bem no seu powerpop melódico de músicas como “Day By Day” e “Shining Stars” e foi sucedido pelo também local Mostarda na Lagarta, que sinceramente não entendo como passou pelas seletivas, deixando bandas melhores de fora. Na sequência o carioca Lê Almeida não conseguiu fazer o seu som empolgar. Seu indie rock com roupagem lo-fi teve poucos bons momentos como “Letícia Cristina” e a cover de “Loretta’s Scars” do Pavement, deixando para o Soatá no palco principal a tarefa de ser a primeira banda a realmente empolgar parte do público.
O primeiro grande show do festival, no entanto, viria a seguir. O Cabruêra com sua misturada de cirandas e repentes trouxe o público para dentro do jogo e com o vocalista Arthur Pessoa comandando a brincadeira, divertiu bem. O Graforréia Xilarmônica sucedeu os paraibanos no palco secundário e mesmo com a corda quebrada da guitarra de Carlo Pianta logo no início, fez um show para se guardar. Cantar a plenos pulmões músicas como “Empregada”, “Rancho” e “Amigo Punk” tem um sabor especial.
Depois seria a vez do Odair José que acompanhado dos mineiros do Dead Lover’s Twisted Heart (que ano passado passaram sem empolgar no festival) trazia uma certa desconfiança no ar. Foi surpreendente. Com seu violão em punhos e uma cozinha funcional, o compositor goiano despejou músicas como “Deixa Essa Vergonha de Lado”, “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” e “Cadê Você”, que a grande maioria cantou junto. Ainda teve até bis sozinho com “Foi Tudo Culpa do Amor”. Bonito que só.
Nelsinho Rodrigues, um colecionador de sucessos do brega local veio na sequência e fez dançar, sendo bastante elogiado por isso. Mas convenhamos, se ele não fizesse dançar, ia fazer o quê? Nada demais. O Cidadão Instigado, uma das maiores expectativas pessoais, fez um show bom, com “Escolher Pra Quê?” e “Homem Velho” se sobressaindo, além de um Fernando Catatau inspirado, mas que não conseguiu empolgar. Era 4 e pouco da manhã e o cansaço já não permitia esperar os próximos shows, inclusive o do Otto que acabou sua apresentação quase às 7 da matina. Fica para outro dia.
Domingo – 14 de novembro
No terceiro dia o tempo abriu, a lua saiu e as expectativas de uma noite melhor se acenderam. Mesmo com mais um atraso no começo, o Projeto Secreto Macacos abriu os serviços com um grande show no palco secundário. O instrumental do grupo tem muito peso nas guitarras de Yuri Pinheiro e Jacob Franco e flerta muito bem com a psicodelia. Altamente recomendável. O Paris Rock na sequência foi bem decepcionante. Esperava muito mais do grupo que tem um EP legal lançado esse ano.
O paraense Bruno B.O veio com discurso, boas guitarras e improviso para fazer mais um bom show, conseguindo melhor resultado quando caminhou pelo terreno explorado nos anos 90 por Planet Hemp e Pavilhão 9. Mas o melhor show do festival estava por vir. Os veteranos do Deliquentes subiram no palco principal para uma apresentação histórica. Jayme Katarro comandou um show para a memória, daqueles de deixar a gente ainda meio desnorteado quando tudo acaba. Simplesmente irrepreensível.
O Graveola e o Lixo Polifônico mesmo repleto de boas intenções, não conseguiu fazer o show deslanchar e o Emicida teve como ponto alto do show as intervenções bem sacadas do DJ Nyack que engatava samplers que iam de AC/DC a Cartola. No palco menor foi a vez de Pio Lobato subir e mesmo sendo visível não estar tão a vontade na frente da sua apresentação foi engraçado, tocou com a habitual categoria e contou com participações especialíssimas de Iva Rothe, Juliana Sinimbú e Sammliz. Bacana que só.
Outra das grandes expectativas do festival era o Dado Villa-Lobos tocando com o Los Porongas. O show foi agradável, funcionou muito bem nas primeiras cinco músicas e caiu depois, só retornando com o final de “Tempo Perdido”. Nada contra os acreanos dos quais gosto bastante, mas teve muito Los Porongas para pouco Dado. A noite chegava ao fim e o outro grande show do festival se anunciava. O Madame Saatan foi poderoso e irretocável, fazendo o espaço interno do African literalmente tremer. Fodaço.
Ainda teria The Slackers e Dubalizer, mas o cansaço cobrou a conta outra vez e o festival ficou ali por volta das três da manhã. Na 5ª edição, o Se Rasgum dosou bem suas idéias, inclusive no que diz respeito a tão propagada sustentabilidade, na qual deu passos largos e caminhou mais ainda na busca pela excelência de produção, corroborada pela estupenda idéia do espaço laboratório ser vinculado ao site Música Paraense. No entanto, os shows, a matéria prima principal, tiveram a menor carga de grandes apresentações de todas as edições.
Segue abaixo um Top 5 dos melhores shows dessa edição:
1 - Deliquentes
2 - Madame Saatan
3 - Odair José e Dead Lover’s Twisted Heart
4 - Graforréia Xilarmônica
5 - Projeto Secreto Macacos
Obs: Fotos pelo próprio evento aqui: http://www.flickr.com/serasgum

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"Deus e o Diabo no Liquidificador" - Cérebro Eletrônico - 2010

"Perdi a decência, ontem eu perdi a noção, perdi a compostura, a cabeça, perdi a razão. Perdi as chaves do apê e dormi no corredor. Naturalmente, eu perdi a moral com minha mulher e o com o zelador.” Esses são os versos iniciais de “Decência”, a primeira música de “Deus e o Diabo no Liquidificador”, o mais recente trabalho do Cérebro Eletrônico. A banda que cativou um bocado de gente com “Pareço Moderno” de 2008, consegue voltar ainda melhor.
Do disco de 2008 para cá duas baixas: Saíram o tecladista Dudu Tsuda e o baixista Isidoro Cobra. Nos seus lugares entraram Fernando TRZ (teclados) e Renato Cortez (baixo), que se juntam ao trio Tatá Aeroplano (vocal e efeitos), Fernando Maranho (guitarra e vocais) e Gustavo Souza (bateria). No terceiro trabalho o Cérebro Eletrônico contou com a produção de Alfredo Bello (mais conhecido como DJ Tudo) em conjunto com o guitarrista Fernando Maranho.
Fernando Maranho, aliás, é um dos destaques do álbum. Com a sonoridade repleta de guitarras o músico aparece bem mais, participando inclusive da composição junto com Tatá Aeroplano. A herança tropicalista da banda ainda está bem presente como em “O Fabuloso Destino do Chapeleiro Louco” que remete diretamente ao Mutantes, no frevo maluco psicodélico de “Desestabelecerei” ou na poesia e ritmo de “Desquite”, mas adquire tons mais crus e secos.
São onze canções em “Deus e o Diabo no Liquidificador” e boa parte envolve o ouvinte com melodias bem feitas e assobiáveis junto com as letras bem humoradas e longe do lugar comum habitual. “Cama” é um bom exemplo disso, com direito até a orquestrações, onde Tatá Aeroplano canta que só sai da cama quando a mulher decidida lhe disser que o ama. Uma balada com alma antiga, mas travestida de todas as nuances e sons dos nossos modernos tempos.
No rockinho básico de ‘Os Dados Estão Lançados” a letra cita Freud e Lars Von Trier para concluir que “Deus é mais, o diabo é menos, o homem é mais ou menos”. Já “Garota Estereótipo” é um folk-rock sessentista com participação de Hélio Flanders (Vanguart) no vocal. Caiu bem que só. “220V” é a única música que não foi composta pela banda (é de Peri Pane) e esbanja bom astral. Mal comparando talvez seja a “Me Atirar na Orgia” da vez por causa do ritmo.
“Sóbrio e Só” é um indie pop encharcado de influências dos anos 60 com a letra dizendo “A casa caiu, ou me mudo ou me caso, ou me acabo em álcool” enquanto ‘Realejo em Dó” é muito arrastada e se ficasse de fora não faria tanta falta assim. O disco acaba com a faixa que empresta o nome ao mesmo em cinco minutos de nonsense e uma tristeza quase surreal em passagens como: “Eu vivo no paraíso, distribuindo abraços, vivenciando amor (...) Diferente e só”.
As participações especiais que são habituais para a banda aqui aparecem ainda mais. Pelo disco estão perdidos além do já citado Hélio Flanders, outros nomes como Tulipa Ruiz, Leo Cavalcanti, Gustavo Galo e os ex-parceiros Dudu Tsuda e Isidoro Cobra. “Deus e o Diabo no Liquidificador” mostra uma banda que mesmo deixando clara sua alma tropicalista não deixa de confrontar outros sons para produzir músicas de forte teor pop. A música nacional agradece.
Sobre o trabalho anterior, passe aqui.
Site Oficial: http://www.cerebrais.com.br

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"Scott Pilgrim Contra o Mundo" - 2010

Juro que comecei a assistir “Scott Pilgrim Contra o Mundo” com a maior das boas intenções, afinal meu lado nerd estava ansioso para ver como o diretor Edgar Wright (“Todo Mundo Quase Morto”) conseguiria transpor para a tela o manancial de referências que os quadrinhos de Bryan Lee O’Malley utiliza. Essa transposição até que funciona bem, mas o esgotamento e o cansaço vão tomando conta na mesma proporção que as aventuras se desenvolvem no filme.
“Scott Pilgrim Contra o Mundo” é forjado para um público completamente específico. A denominação nerd nem combina mais com esse público. É tanta informação (mal) absorvida ao mesmo tempo, que deve-se adequar tudo possível para agradar pelo menos em parte alguém. Música, cinema, televisão, videogames e literatura juvenil são arremessados dentro de um balaio de sons e efeitos visuais que por mais bem feitos que apareçam, não disfarçam a confusão.
Michael Cera, o ator que dá vida ao canadense de 22 anos meio sem graça e sem jeito de Toronto, era a escolha óbvia para o papel. Ele está acostumado com esse tipo do jovem que curte bandas obscuras e demonstra incapacidade para lidar com a vida e as mulheres que nela aparecem. Funcionou muito bem em trabalhos como “Juno”, “Superbad” e “Uma Noite de Amor e Música” e apenas mais ou menos em outros casos recentes como “Juventude em Revolta”.
O problema de Michael Cera é que em qualquer personagem que interprete (como no horrível “Ano um”) ele traz os mesmo trejeitos e caras. Quase um Jim Carrey dos adolescentes e isso pode acabar fazendo mal na sua carreira. Como Scott Pilgrim vemos o mesmo ator de quase todos os filmes, tentando se equilibrar na sua pacata vida, morando com um amigo gay, namorando uma colegial chinesa de 17 anos e tocando baixo na razoável banda Sex Bob-Omb.
Enquanto a vida vai andando sem pressa aparece no caminho Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead) para bagunçar tudo. Para ir atrás dessa nova paixão, Scott Pilgrim precisa lidar com os ex-namorados de Ramona. Tudo normal em uma trama simples, com a exceção de que cada ex-namorado tem um super-poder próprio e precisa ser derrotado como em um jogo de videogame. A ação domina boa parte da trama e promove até bons momentos isoladamente.
“Scott Pilgrim Contra o Mundo” vem sendo considerado o filme indie do ano (sim, uma nova categoria), guardando comparações com “500 Dias com Ela” do ano passado, que é bem superior. Mesmo com boas tiradas e peças importantes bem realizadas como a trilha sonora de Nigel Godrich (Radiohead), o longa do diretor Edgar Wright é feito para um público que transmite o sinal desses tempos de efemeridade e distúrbio de atenção. E deve agradar somente a ele.
P.S: Bons tempos em que filme “indie” era “Alta Fidelidade”.

sábado, 6 de novembro de 2010

V Festival Se Rasgum - Hangar (PA) e African Bar (PA) - 12,13 e 14 de Novembro

Novembro é mês de Festival Se Rasgum. E de uma programação especial na quinta edição do evento que conquistou Belém com sua diversidade musical, trazendo entre suas apostas shows que vão do indie rock lo-fi ao ska-reggae, passando pelo brega, heavy metal, pop e guitarrada. O V Festival Se Rasgum traz a Belém Otto, Cidadão Instigado, André Abujamra, Emicida, Graforréia Xilarmônica, Cabruêra, Lê Almeida, Dubalizer, Graveola e o Lixo Polifônico e os shows combinados Odair José com Dead Lover’s Twisted Heart e Los Porongas com Dado Villa-Lobos, além de uma atração internacional, a norte-americana The Slackers. (Release oficial).
Programação completa:

SEXTA – 12.11 - Hangar - [A partir das 22h] André Abujamra (SP) Felipe Cordeiro (PA) Dona Onete (PA) The Hell’s Kitchen Project (MG) + DJ convidados Palco: Marcelinho da Lua (Bossa Cuca Nova – RJ) Patrick Tor4 Deck: Pedro D’eyrot (Bonde do Rolê – PR) DJs Meachuta

SÁBADO – 13.11 - [a partir das 20h] Otto (PE) Félix Y Los Carozos (PA) Cidadão Instigado (CE/SP) Nelsinho Rodrigues (PA) Odair José (GO) + Dead Lover’s Twisted Heart (MG) Graforréia Xilarmônica (RS) Cabruêra (PB) Lê Almeida (RJ) Soatá (DF) Dharma Burns (PA) Mostarda na Lagarta (PA)

DOMINGO – 14.11 - [a partir das 20h] The Slackers (EUA) Madame Saatan (PA) Los Porongas (AC) + Dado Villa-Lobos (RJ) Pio Lobato (PA) Emicida (SP) Graveola e o Lixo Polifônico (MG) Delinquentes (PA) Bruno B.O (PA) Dubalizer (SP) Projeto Secreto Macacos (PA) Paris Rock (PA)

LABORATÓRIO MÚSICA PARAENSE.ORG

SÁBADO – 13.11 19h - DJ David Sampler 20h - V.N – (Vida Noturna) 21h - DJ Pro.Efx 22h - Mestre Juvenal 23h - Machines Of Shiva 0h - DJ Zenildo (Brasilândia) 1h - Cocota de Ortega

DOMINGO – 14.11 19h - DJ João Brasil (Link Belém/Londres) 20h - Árvore Ar 21h - DJs Bem bom 22h - Sinimbú + Aíla + Nogueira 23h - DJs Bernardo (Bassemotion) / Albery (Tuntz) 0h - Yeman Jah Root 1h - DJ Waldo Squash, Maderito e Gang do Eletro

INGRESSOS À VENDA: Passaporte para as três noites: R$ 40,00 (meia* / 1º lote), R$ 50,00 (meia / 2º lote) e R$ 60,00 (meia / 3º lote) Ingressos antecipados por dia (apenas na semana do Festival): R$ 25,00 (meia*) para sábado ou domingo. Ingressos por dia (na hora): R$ 30,00. Pontos de venda: Ná Figueredo (Gentil Bittencourt, 449 e Estação das Docas) e no quiosque da Se Rasgum, no Boullevard Shopping (1º piso).

*Meia entrada para clientes Vivo, Estudantes da Estácio – FAP e quem apresentar postal do evento na hora da compra.

Mais informações em: http://www.serasgum.com.br

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

"Dreams" - Neil Diamond - 2010

A pergunta pode ser: “Quem precisa de um disco de covers do Neil Diamond em pleno 2010?” Provavelmente ninguém, mas até aí tudo bem, porque hoje na música não precisa-se de um monte de outras coisas. De discos ao vivos desnecessários a projetos chatos, de bandas novas alçadas à fama por quaisquer outros motivos que não a música a novos duetos de “astros” da música pop. Então a pergunta pode virar para “Que mal pode fazer um disco novo do Neil Diamond?”
O cantor e compositor que já vendeu mais de 100 milhões de discos na carreira e que está prestes a entrar no Hall da fama do rock ano que vem, havia lançado o belo “Home Before Dark” em 2008 antes de desembarcar nesse novo trabalho. “Dreams” traz como o próprio Neil Diamond afirmou: “canções que têm esperado por mim para registrá-las por 40 anos". O repertório vai de Beatles a Elton John, passando por Randy Newman, The Eagles e Leonard Cohen pelo caminho.
Logo na entrada Neil Diamonda recria “Ain’t No Sunshine” de Bill Withers e consegue dar uma cara interessante para um hit que já foi tão reinterpretado, como por exemplo por Paul McCartney e Michael Jackson (só para ficar em alguns), fazendo com que versos batidos como: “o sol não brilha quando ela vai embora, não faz calor quando ela está longe” soem novamente cantáveis. O acompanhamento vem luxuoso com violões, piano e pequenas orquestrações cortando o ar.
“Dreams” também passeia com certa maestria por “Blackbird” dos Beatles, “Feels Like Home” (em belíssima versão) de Randy Newman, “Love Song” de Elton John, “Hallelujah” (emocionante) de Leonard Cohen e “Don’t Forget Me” de Harry Nilsson. Em outras como “Midnight Train to Georgia” de Gladys Knight & The Pips, “Yesterday” dos Beatles e “Desperado” do Eagles as coisas não saem tão bem, mas não podem ser de todo desprezadas em contrapartida.
O melhor momento de “Dreams”, no entanto, fica por conta de “I’m Believer” feita pelo próprio compositor e que virou sucesso com os Monkees nos anos 60. Para quem está acostumado ao clima festeiro da canção, o tom contido aqui faz surgir algo totalmente novo. Neil Diamond canta com autoridade os próprios versos: “qual é a utilidade de tentar?/tudo que você tem é dor/quando eu quis sol/chuva eu tive”. “Dreams” é um “desnecessário” que vale bem a pena.
Sobre o “Home Before Dark” de 2008, passe aqui.
Site oficial: http://www.neildiamond.com

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"Sex With an X" - The Vaselines - 2010

Foram 21 anos desde o lançamento de “Dum Dum” pela Rough Trade em 1989, até que Eugene Kelly e Frances Mckee fizessem finalmente um disco novo com o Vaselines. O grupo escocês pouco durou, mas influenciou bandas como o Nirvana e outras mais recentes como o The Pains Of Being Pure At Heart. Por mais que tenham se reunido esporadicamente nesses 21 anos para turnês e shows ocasionais é com “Sex With an X” que o Vaselines registra de vez sua volta.
O álbum ganhou a produção de Jamie Watson, o mesmo responsável pelo primeiro trabalho de 1989. Gravado em apenas 13 dias, o Vaselines contou com o luxuoso acompanhamento de Stevie Jackson e Bobby Kildea do Belle and Sebastian na guitarra e no baixo, além do velho comparsa Michael McGaucghin no comando da bateria. São 12 canções que trazem o habitual rock encharcado de pop, com melodias simples e vocais divididos, além de uma boa carga de noise e anos 60.
O "culto" ao Vaselines que só cresceu realmente quando a banda acabou e foi “redescoberta” pelo Nirvana serviu como alavanca para o novo trabalho. Eugene Kelly em entrevista recente afirmou: “A fama da banda aconteceu depois que terminanos, nós estamos começando a apreciar o que perdemos 20 anos atrás. Agora nós temos uma audiência. Antes não havia realmente uma. Continuamos com o mesmo som, sem muitos acordes, com repetição, sem querer expandir o som.”
É essa manutenção da mesma sonoridade que é o grande charme desse retorno. Faixas como a meio autobiográfica “Sex With an X” e a mordaz “I Hate the 80's” (detonando a referida década com frases como: “nem tudo foi Duran Duran”) poderiam muito bem estar inclusas no registro de 1989. Em outras como “Such a Fool”, “Turning It” e “On Overweight But Over You”, o desejo e o desapontamento com o amor dão o tom para que as guitarras façam a cama para os doces vocais.
“Ruined” fala sobre o mundo do rock e seus desesperos próprios e não tão justificáveis. “The Devil's Inside Me” tem título de música do Cramps ou do The Reverend Horton Heat, enquanto cinismo é despejado em “My God's Bigger Than Your God”. “Sex With an X” é uma volta extremamente digna, passando a quilômetros de distância do oportunismo barato. Ouvir Eugene Kelly e Frances Mckee novamente duelando nos vocais é um raro prazer que deve ser apreciado constantemente.
Mais sobre a banda no blog, aqui.
Site oficial: http://www.thevaselines.co.uk

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Séries - "Boardwalk Empire"

A HBO está produzindo séries com uma qualidade bem acima da média. Suas séries vêm em menor leva que a de canais como a Sony e a Fox, mas quase que constantemente destacam-se mais. “Boardwalk Empire” é a bola da vez. Baseada no livro “Boardwalk Empire: The Birth, High Times, and Corruption of Atlantic City” de Nelson Johnson, ainda inédito por aqui, mostra a Atlantic City do começo dos anos 20, no início da Lei Seca que perdurou por 13 anos nos Estados Unidos.
Concebida e escrita por Terence Winter, que foi roteirista e produtor da excelente “Família Soprano”, a série também conta com a produção executiva luxuosa de Mark Whalberg, Stephen Levinson (de “Entourage”) e principalmente de Martin Scorsese, que como todos sabem se sente extremamente à vontade quando o assunto é máfia e gângsters. Scorsese inclusive dirige o primeiro episódio no qual apresenta os passos iniciais que servirão de base para o que virá.
O centro da trama é Nucky Thompson, interpretado pelo ótimo Steve Buscemi (não por coincidência o ator trabalhou em “Família Soprano”), que finalmente consegue um papel principal no qual pode mostrar todo o talento exposto em filmes como “Cães de Aluguel” e “Fargo”. Ele é o tesoureiro do condado local e além de forte influência política, exerce uma gama de serviços ilegais que vão desde prostíbulos até propinas comerciais e que só aumentam com a Lei Seca.
Nucky Thompson é um fanfarrão. Discursa para uma comunidade de mulheres contra o álcool, como também quebra a cabeça de um cidadão em uma de suas casas de jogos sem hesitar. Vive luxuosamente em um andar inteiro do Hotel Ritz e transita assim como o Tony Soprano de James Gandolfini (sim, mais uma referência) entre a bondade espontânea e a crueldade para com os negócios. Essa dualidade dá o tom dos primeiros episódios e Steve Buscemi tira de letra a missão.
Ao lado do personagem principal transitam outros gângsters da época como Armold Rothstein (Michael Stuhlbarg de “Um Homem Sério”) e um jovem Al Capone (Stephen Graham de “This Is England”, muito bem) antes de tomar o poder em Chigaco ao suceder seu chefe John Torrio quando este é assassinado. O jovem Jimmy (Michael Pitt de “Os Sonhadores”) também se destaca com sua ambição e humor inconstante, tendo tudo para se tornar um dos grandes nomes da série.
Com “Boardwalk Empire”, a HBO cria mais uma vez aquele campo onde televisão e cinema se cruzam e mostra que é completamente possível fazer algo criativo e bem realizado dentro do mundo da televisão, tão órfão de boas idéias. Mesmo com a semelhança para outras obras do gênero, consegue (pelo menos nos primeiros episódios) mostrar uma trama que prende o espectador causando ansiedade pelo próximo capítulo. Martin Scorsese e Terence Winter sabem o que fazem.