segunda-feira, 9 de abril de 2018

Quadrinhos: "Lua do Lobo", "O Sinal" e "Castanha do Pará"


Lançamento de 2017 da Panini Comics, “Lua do Lobo” (Wolf Moon, no original) recria o mito do lobisomem que passa a ser uma espécie de entidade que se transfere de corpo em corpo através dos tempos realizando atos horríveis nesse período em hospedeiros que escolhe meramente ao acaso e toma por possessão. Criação de Cullen Bunn com arte de Jeremy Haun e cores de Lee Loughridge, a história passou anos engavetada até que o selo Vertigo da DC bancou a aposta em 6 edições publicadas no primeiro semestre de 2015 nos EUA. O trabalho recebeu elogios contundentes e desembarcou no Brasil em um encadernado de 162 páginas com direito a esboços como extras. O condutor da história é Dillon Chase que quando estava possuído pela fera causou danos mortais a diversas pessoas, inclusive algumas próximas e queridas. A maneira que busca para aliviar toda culpa que carrega consigo é caçar cegamente essa besta pelos quatro cantos do país e quando a grande chance surge descobre que outros estão interessados na questão, o que dificulta muito mais as coisas. Com bom ritmo, arte funcional e cores bem adicionadas, “Lua do Lobo” é uma boa hq, mas distante dos grandes elogios que recebeu.

Nota: 6,0


Afrânio sempre esperou que a vida lhe proporcionasse algo mais. Parado no quarto já no alto dos 40 e poucos anos e levando uma vida sem muita graça, continua esperando que em um dia qualquer por algum desmando do destino sua existência sofrerá uma drástica guinada e enfim será um protagonista no mundo. Quando sonhos estranhos começam a invadir as noites, entende isso como a mensagem que aguardou por tanto tempo e passa a tomar atitudes que levarão as coisas por outro caminho. De início até que essas decisões remetem a coisas positivas, no entanto, depois tudo fica nublado. “O Sinal” é mais um bonito trabalho do quadrinista, cartunista e ilustrador Orlandelli (de “Grump” e “Chico Bento: Arvorada”). Com 96 páginas foi lançado no final do ano passado na CCXP através da Jupati Books, selo da Marsupial Editora. Como de costume Orlandelli mescla vida real e questões imaginárias para gerar uma história que pode ser entendida de outras formas e maneiras. Com o traço sempre agradável e a ótima maneira que direciona as cores, mantêm a sensibilidade ali escondida no meio do caos enquanto versa sobre a relação de cada um com as conquistas, anseios, ambições e decepções que norteiam a estrada que percorremos diariamente.

Nota: 7,5


Em 2017 o tradicional Prêmio Jabuti incluiu a categoria de quadrinhos e o primeiro trabalho a levar essa honraria foi “Castanha do Pará”, produção independente do professor e artista visual Gidalti Jr. que foi financiada através de crowdfunding e tem 84 páginas, capa dura e formato grande (22,5 x 30,5cm). Nascido em Belo Horizonte, mas criado em Belém, o autor criou uma fábula suja e atual que pode ser visualizada em qualquer estado do país além do mercado do Ver-O-Peso onde passa a maior parte da história. Castanha é um garoto que vive na rua, completamente marginalizado e sem suporte. Deixou a família para trás depois de uma tragédia praticamente anunciada e se vira entre as vielas do bairro da Cidade Velha. Com arte esplendorosa, toda pintada em aquarela e com as cores vibrantes tão presentes na cidade, o trabalho foi inspirado na obra “Adolescendo Solar” de Luizan Pinheiro. A narração feita por uma vizinha em conversa com a polícia acrescenta tons de humor a um drama real que conta com o descaso do poder público para se alongar acintosamente nos últimos anos não somente na vida do imaginário Castanha com sua cabeça de urubu, mas também em inúmeros outros jovens arremessados a própria sorte por aí.

Nota: 8,5


segunda-feira, 2 de abril de 2018

Quadrinhos: "Lembranças", "O Planta - Um Bípede Entre Plantas" e "Future Quest"


Chegou a hora dos irmãos Cafaggi se despedirem (pelo menos por enquanto) da Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali. Depois de presentearem velhos e novos fãs com “Laços” e “Lições” no projeto Graphic MSP é a vez do último “L” aparecer e encerrar a trilogia. Lançado no final de 2017 pela Panini Comics com 100 páginas, “Lembranças” apresenta a turminha já se deparando com situações como convívio social, namoricos e aceitação entre os pares, onde a amizade é novamente a força condutora para solucionar os desafios que surgem. Entre a construção de uma nova casa da árvore e a ansiedade e esforço para ir em uma festa daquelas imperdíveis, os autores utilizam personagens do vasto universo criado por Mauricio de Sousa e deixam pelo caminho diversas referências para serem descobertas calmamente. Com o mesmo tom geral das edições anteriores e a arte novamente sendo um dos pontos fortes, “Lembranças” fica aquém dos antecessores. A história que foca em questões corriqueiras do crescimento das crianças, infelizmente não prende tanto quanto das outras vezes e parece que falta algo que dê aquele charme maior. Não chega a ser ruim, longe disso, mas os Cafaggi acostumaram a se esperar sempre algo mais deles.

Nota: 6,0


“Os Contos do Planta” de 2015 chamou a atenção logo de entrada pela exuberante capa animada em 3D. O personagem era uma planta que queria mais da vida e com a ajuda de um cientista consegue isso com um corpo projetado para suas aventuras. A obra do escritor e ilustrador curitibano Gustavo Ravaglio era um campo fértil para metáforas sobre a vida real e convencia bastante. Em 2017 ele partiu em uma desafiadora missão e o resultado foi “O Planta – Um Bípede Entre Plantas” que contou com o apoio de financiamento coletivo além de incentivo cultural governamental. O zelo pela apresentação da edição está ainda mais forte, em capa dura com tintas douradas as 178 páginas estão contidas em papel de textura especial, entre outros luxos. Todavia, isso por si só não se sustentaria caso o roteiro não fosse divertido e interessante, o que também é. O protagonista se perde em outro universo e tem que lidar com as mais estranhas figuras para voltar para casa. No decorrer disso - e sem ser piegas o que é mais importante - se amplificam os questionamentos embutidos e as alegorias que estão escondidas ali no meio dessa jornada com tons de fantasia e ficção científica.

Nota: 8,0


A DC Comics possui os direitos sobre os personagens clássicos da Hanna-Barbera que embalaram a infância de tantas pessoas então a empresa resolveu conceber novas histórias em quadrinhos desses personagens fazendo algo como um reboot. O primeiro desses trabalhos foi “Future Quest” que saiu aqui em duas edições da Panini Books no ano passado. Essas edições reúnem em 336 páginas no total o ano completo publicado nos EUA entre julho de 2016 e julho de 2017 em doze revistas. Com roteiro a cargo de Jeff Parker (Shazam!) temos uma história que além de ter muita nostalgia e saudosismo embutidos, consegue a proeza de ir além e faz a aventura valer mesmo para quem nunca ouviu falar de Space Ghost, Jonny Quest, Mightor, Homem-Pássaro, Herculóides e Os Impossíveis. A turma da ficção científica da Hanna-Barbera é convocada para cuidar do OMNIKRON, uma entidade poderosa que tem como intuito destruir o mundo. Mesmo usando uma premissa tão clichê em revistas de super-heróis, Jeff Parker consegue criar algo saboroso e viciante. A arte de Evan Shaner, Steve Rude e Ron Randall e mais Steve Lieber e Ariel Olivetti completam esse quadro em um dos trabalhos mais divertidos que a DC colocou no mercado nos últimos anos.

Nota: 8,5



domingo, 1 de abril de 2018

Quadrinhos: "Trindade - Volume 1", "Thor - Vikings" e "Alho-Poró"


Mais um encadernado cobrindo o “renascimento” da DC Comics chegou nas bancas no início desse ano. Como já visto com várias revistas da editora, agora é a vez de “Trindade” ganhar o primeiro volume com 140 páginas e capa cartonada. Traz as seis primeiras edições dessa fase publicadas nos EUA entre setembro de 2016 e abril de 2017, escritas e desenhadas pela estrela em ascensão Francis Manapul (“Flash”) com auxílio de outros artistas. Na edição temos Batman, Mulher-Maravilha e Superman contra dois antigos rivais onde seus poderes e habilidades não valem quase nada para vencer. Os heróis repaginados dessa empreitada da DC estão dispostos a se conhecer melhor e superar algumas desconfianças, sendo que para tanto fazem uma refeição juntos na casa do Superman quando são surpreendidos em uma briga que é mais psicológica do que física (ainda que essa parte apareça). Mesmo com a participação dos principais nomes do seu panteão de histórias e contar com dois vilões clássicos, a história proposta por Manapul em nenhum momento empolga o leitor, o que é bastante desanimador pois esperava-se mais do autor ao mexer com tais personagens. “Trindade - Volume 1” é indicado somente para os fãs mais fervorosos. E olhe lá.

Nota: 4,0


Entre os meses de setembro de 2003 e janeiro de 2004 foi publicada nos EUA uma aventura mais visceral do Deus do Trovão. Com roteiro de Garth Ennis e arte de Glenn Fabry (ambos de “Preacher”), Thor recebeu em cinco edições uma história com muita magia, maldições, zumbis (antes de estarem tão na moda assim) e, claro, muita violência e o humor ácido do autor. No ano passado a Panini Books lançou isso por aqui em um encadernado de capa dura com 124 páginas. Ambientada na época dentro do selo “Marvel Max” que permitia enfoques mais adultos e violentos em cima dos personagens da editora, Garth Ennis criou uma trama repleta de bons momentos. Quando vikings zumbis desembarcam de surpresa sobre New York e destroçam todos os heróis que passam pela frente (até mesmo o Thor), o Dr. Estranho entra na jogada e expõe um plano mirabolante para acabar com a maldição que os invasores receberam e trazer paz novamente para a cidade. “Thor - Vikings” é contada de um modo que se torna um prato cheio para quem gosta da pegada do autor, além de contar com a exuberante arte de Glenn Fabry em todas as edições.

Nota: 7,5


O trabalho da quadrinista Bianca Pinheiro se caracteriza - entre outras coisas - pela sensibilidade e doçura que expôs em trabalhos como “Bear”, “Mônica: Força” e “Dora”. Já nas 56 páginas de “Alho-Poró” que foi publicado no finalzinho do ano passado pela editora La Gougoutte e teve financiamento através de crowdfunding a artista se aventura em uma história diferente daquilo que nos habituamos a ler dela. A trama reúne três amigas chamadas Márcia, Denise e Brenda que estão na missão de comprar os ingredientes necessários para fazer uma quiche de alho-poró. Peregrinando por supermercados atrás do que é preciso conversam sobre amenidades e sobre casos do passado. Nada demais até aí. E a história vai caminhando assim, sem parecer que vai decolar em algum momento, parecendo ser mais um trabalho sobre o cotidiano. Bom, isso até as páginas finais, onde a coisa muda completamente de figura. Em “Alho-Poró”, Bianca Pinheiro ousa ir por outros caminhos e faz isso muito bem. Tudo nessa nova empreitada é diferente: o traço, as cores, o papel, o tom (ainda que certa afabilidade permaneça ao fundo). É uma história que pede sequência e tem poder para se tornar algo bem maior.

Nota: 7,5