domingo, 29 de maio de 2016

"Entre o Mundo e Eu" - Ta-Nehisi Coates

Ta-Nehisi Coates nasceu e cresceu em Baltimore nos EUA. Quando criança e adolescente viu a violência e a criminalidade de muito perto, assim como o desrespeito aos negros em diversos setores. Cresceu, entrou em uma faculdade e ralou muito para ser escritor, onde encontrou o seu caminho, a sua vocação. Quando o filho faz 15 anos ele redige uma longa carta para ele, contando um pouco da vida, mas principalmente tentando explicar o que significa ser negro na América e junto com isso apresenta um ensaio sobre a questão da cor e do racismo nos EUA.

“Entre o Mundo e Eu” (Between the World and Me, no original) foi publicado ano passado e no mesmo ano ganhou edição nacional pela editora Objetiva com 152 páginas e tradução de Paulo Geiger. O texto do autor é incisivo, repleto de frases fortes e pensamentos que precisam ser lidos mais de uma vez para serem absorvidos na sua totalidade. Foi muito bem recebido por crítica e público e entrou na lista dos mais vendidos de jornais importantes, além de ter ganho o prestigiado National Book Award na categoria de não-ficção.

Os Estados Unidos são o foco principal dos disparos de Ta Nehisi-Coates, um país que apesar de hoje ter parte do aparato de repressão também nas mãos de negros, não deixa de exercer força contra estes. Um país que segue com uma mídia obediente e mesmo que cheia de teorias sobre tudo, ainda é vazia no seu âmago. “Nunca esqueça de que estivemos escravizados neste país por mais tempo do que temos sido livres”, lembra em certo momento ao filho.

E vai além. Em outra passagem afirma que “a América acredita-se excepcional, a maior e mais nobre nação que jamais existiu, um paladino solitário que se interpõe entre a cidade branca da democracia e os terroristas, os déspotas, os bárbaros e outros inimigos da civilização”. Porém, o pensamento que lhe nutre o coração e a realidade em que viveu o faz alertar ao filho que muitas ações ficam somente em palavras e enfático afirma que “boa Intenção é um salvo-conduto através da história”.

A preocupação maior do autor enquanto passeia pelos fatos da vida e objetiva que o filho visualize o cenário em que está inserido é o direito de assegurar e governar os próprios corpos. Sim, isso mesmo, parece simples, mas não é bem assim em uma “América Branca” que é arranjada de maneira a proteger o poder sobre esses corpos. Para o autor, destruir o corpo negro de maneira direta ou mesmo impondo limites virou uma tradição nefasta, uma herança absurda do país.

“Entre o Mundo e Eu” é um livro para ser lido pelo menos duas vezes. O tom do autor mesclando paixão, resignação, coragem e preocupação com o futuro é arrebatador e escancara que o racismo ainda existe e muito, mesmo que mascarado de outras formas e maneiras. O pior de tudo é negar isso, negar que o racismo é exemplo do que há de pior no ser humano, nos transformando diretamente em seres primitivos e sem razão. E, acima de tudo, é uma estupenda declaração de amor de um pai para o seu filho.

P.S: Ta-Nehisi Coates anda escrevendo a revista do “Pantera Negra” para a Marvel. Tudo a ver.


Nota: 9,0

domingo, 22 de maio de 2016

Quadrinhos: “Papa-Capim - Noite Branca” e “Uma Morte Horrível”

 

O selo Graphic MSP continua a todo vapor. Mais um produto da série que visa revitalizar os clássicos personagens de Mauricio de Sousa para os nossos dias chega ao mercado. Agora é a vez do indiozinho Papa-Capim repaginado pela mente de Marcela Godoy (“Fractal”, “A Dama do Martinelli”) e pelo traço e cores do craque Renato Guedes (“Superman”, “Vingadores Secretos”). A graphic novel tem 84 páginas e mais uma vez lançamento pela Panini Comics que dispõe as habituais versões em capa cartonada e capa dura. A trama apresenta o personagem principal, seu melhor amigo Cafuné e a paixonite Jurema mais velhos do que nas revistas, já adolescentes e próximos de encararem papéis mais importantes dentro da aldeia. Tudo corre razoavelmente bem, porém um mal sem nome começa a ameaçar todos. Primeiramente de modo súbito e depois avançando para um terror mais vigoroso, Papa-Capim se vê como potencial salvador da tribo contra essa escuridão secular. Para compor o roteiro do álbum, Marcela Godoy mergulhou nos mitos do folclore indígena tupiniquim, fazendo um trabalho interessante não somente do ponto de vista da composição do roteiro, como para deixar vivos esses mitos e lendas nacionais. Usou ainda como base textos do historiador Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) para criar os vilões da trama, como também embelezou o texto com um poema de Gonçalves Dias (1823-1864). A arte de Renato Guedes apresenta a já conhecida categoria do artista que utiliza habilmente os tons escuros que o trabalho pede e desenha sempre objetivando traços mais próximos do real. “Papa-Capim – Noite Branca” amplia o leque de estilos abrangidos dentro do projeto aproveitando de modo muito sagaz um personagem bem secundário do universo de Mauricio de Sousa.

Nota: 7,5


De um lado uma bonita jovem insatisfeita com a vida, com um trabalho que quase não consegue suportar, expectativas totalmente em baixa e morando com um namorado que além de grosso e estúpido passa o dia em casa sem correr atrás de nada. Do outro lado um charmoso e famoso escritor, recluso em uma casa que ninguém tem acesso e que sofre por não conseguir escrever mais do que duas linhas no papel. São esses dois leves extremos que se cruzam e dão o tom da graphic novel “Uma Morte Horrível” (Cadavre Exquis, no original), lançamento da editora Nemo desse ano, com 128 páginas e tradução de Fernando Scheibe. Publicado na França em 2010 é uma obra da quadrinista parisiense Pénélope Bagieu, hoje com 30 e poucos anos (nasceu em 1982). Com humor e diálogos eficazes e funcionais a autora une os universos de Zoé e Thomas para contar uma história cheia de coisas escondidas no armário e envolvendo insatisfações pessoais, paixão, narcisismo, traição e ganância tendo a literatura como personagem coadjuvante. O texto usa sabiamente toda a aura “mágica” que a literatura tem na França para compor uma história que surpreende o leitor quase que a cada passo, pois quando este pensa que se trata de apenas mais um romance banal, vê no fundo do copo algo mais. O traço de Pénélope Bagieu é simples, sem requintes, mas transpõe as emoções a que se ambiciona e enxerta um toque sempre leve e descompromissado ao álbum, o que acaba sendo de grande valia. “Uma Morte Horrível” é um trabalho que tem a capacidade de satisfazer não somente os leitores de quadrinhos, como também aqueles não acostumados com a nona arte.

Nota: 8,5

Twitter da autora: http://twitter.com/penelopeb



segunda-feira, 16 de maio de 2016

Quadrinhos: "Robô Esmaga" e “Campos de Batalha – Vol. 1”


Desde 2010 o carioca Alexandre S. Lourenço publica de maneira independente na web a tirinha “Robô Esmaga”, sendo premiado nacionalmente por esse trabalho. No ano passado a Editora JBC, mais conhecida pelo foco em mangás, publicou uma compilação dessas tiras em 84 páginas através do selo INK Comics (criado e administrado por ela). Nas tiras de Lourenço são explorados temas do cotidiano como o trabalho, a família, o ofício de quadrinhista, os amores e a nossa própria inadequação para com o mundo, para com aquilo que estamos fazendo no dia a dia. Com traço minimalista, rabiscado e sem se prender a fórmulas de quadros pré-estabelecidas no que tange a orientação e tamanho, apresenta também algumas outras facetas, como na ótima crítica social de “gigante”. Mas é olhando para esse nosso aceite (voluntário ou não) perante a sociedade e aquela vontade ali dentro do peito de dar uma bicuda em tudo que ele se sobressai de verdade. Tiras como “2-15”, “cinco centímetros”, “amarras” e “fabrízio” são especialmente arrebatadoras. Na verdade, ao ler “Robô Esmaga” é difícil para o leitor não se identificar pelo menos parcialmente com alguma das tiras. Mesmo concluindo a leitura em poucos minutos, fica aquela vontade de ler tudo de novo, para pegar algum sentimento que porventura possa ter passado despercebido. O trabalho de Alexandre S. Lourenço destaca-se por isso. Por gerar essa identificação e fazer isso com delicadeza e até arrancando um sorriso do leitor. É torcer que mais volumes com essa qualidade sejam publicados no futuro.


Nota: 7.5


“Battlefields” é uma grande série desenvolvida pelo quadrinhista Garth Ennis na Dynamite Entertainment. Publicada nos EUA desde o final de 2009, ela é dividida em pequenas minisséries de três capítulos todas vinculadas a segunda guerra mundial. Agora em 2016 a Mythos Editora publica as duas primeiras histórias em um encadernado de capa dura com extras em 164 páginas e com classificação adulta. “Campos de Batalha – Vol. 1” apresenta duas tramas desenvolvidas pelo irlandês criador de hq’s como “Crossed”, “The Boys” e “Preacher”, mostrando aspectos um pouco diferentes dessas obras, mas ainda com a violência como condutor (afinal, estamos falando em guerra), porém apresentada sobre outro viés. A primeira delas é “As Bruxas da Noite” com ilustrações de Russ Braun e cores de Tony Aviña. Uma história forte, vigorosa, com algum humor mais ácido, que trata da invasão do exército alemão nazista na extinta União Soviética, apresentando um esquadrão de aviação composto só por mulheres russas, que aterrorizam os soldados alemães enquanto estes avançam. Coesa e com um final repleto de clímax é o ponto alto da edição. A segunda história tem arte de Peter Snejbjerg e cores de Bob Steen e se chama “Querido Billy” e leva o cenário da segunda para a invasão japonesa à China e o envolvimento de britânicos e americanos em relação a isso, apresentando como personagem principal uma enfermeira repleta de ódio e com desejos de vingança aos japoneses por conta do que lhe aconteceu. Também com final em ponto elevado, fica um pouco abaixo da primeira pelo andamento como um todo, mas ainda sim se configura em uma boa história. Com capas do grande John Cassaday (Planetary), “Campos de Batalha – Vol. 1” apresenta um Garth Ennis com outra levada no âmbito geral, mas ainda assim esbanjando maestria pelas páginas.

Nota: 8.5


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Quadrinhos - "Quiral" e “Thor: O Deus do Trovão - Bomba Divina”


“Quiral” é um quadrinho nacional que utiliza como personagens principais um capitão e uma garota separados entre si por muitos e muitos anos, mas que no fundo, não estão tão separados assim como essa premissa nos leva a crer de início. Criação da dupla Eduardo Damasceno e Luiz Felipe Garrocho que dividem o texto e a arte, tem 44 páginas e foi lançada no decorrer do ano passado pela Editora Mino, mais uma empresa apostando no mercado de quadrinhos e fazendo isso com qualidade, o que é melhor ainda. Na trama uma jovem que gosta de aventuras marítimas e trabalha diretamente com o mar fazendo redes de pesca, lê em casa um velho diário de um capitão que mantinha a tripulação focada para caçar monstros marinhos em prol da comunidade. Com um leve toque de fantasia no meio, a dupla insere com sensibilidade e destreza questões como coragem e dever, sublinhadas pela amargura e pelo medo reunidos de algumas decisões. Para separar o passado e o presente, utilizam tons diferentes de cor para cada época que entrecortam nas páginas, uma saída que além de funcionar para um entendimento mais rápido, ajuda e muito no visual da obra, que fica mais bonito. O trabalho da dupla Damasceno e Garrocho já teve seu talento anterior demonstrado em obras como “Achados e Perdidos”, “Cosmonauta Cosmo” e na releitura feita para o Bidu em “Caminhos”, projeto da série Graphic MSP que recria os personagens de Mauricio de Sousa. Aqui em “Quiral” isso não é diferente, que além de ser uma ótima leitura e envolver quem a lê, serve para ratificar ainda mais o talento já citado da dupla.

Nota: 8.0


“Será um mundo melhor sem deuses. Nada de medo de danação eterna ou de anseio por recompensa futura. Nada de ódio entre crentes de fés rivais. Sem a mentira da eternidade para servir de muleta, não teremos escolha senão finalmente prezar o pouco e precioso tempo que temos. E dedicar a fé a nós mesmos”. Esse trecho está dentro do encadernado de capa dura “Thor: O Deus do Trovão – Bomba Divina” com 140 páginas lançado pela Panini Comics esse ano. Continuando o arco “Carniceiro dos Deuses” traz o final dessa jornada reunindo as edições originais publicadas lá fora entre maio e dezembro de 2013. Com direito a alguns extras esse conjunto de histórias contados por Jason Aaron no roteiro e com a arte de Esad Ribic e Butch Guice tem o poder de entrar para o rol das grandes histórias do personagem. Isso porque reúne de uma história característica do Thor, como também insere divagações mil sobre a relação das pessoas comuns com seus deuses, independente de que planeta (ou país estejam). Na busca de cancelar o plano de Gorr, uma entidade que trabalha movida a vingança e a dor, são reunidos Thor’s de diferentes pontos do tempo, o que acrescenta mais ainda já que visualiza inquietações díspares e apresenta reflexões sobre o passar do tempo. Jason Aaaron (Wolverine) costura esses pontos de maneira concisa e faz com que todas as reflexões que apresenta planem no ar e faça o leitor vez ou outra parar um pouco no meio das páginas. A arte acompanha o ritmo (as capas são fantásticas) com quadros bem estilizados e as cores variando entre a claridão e o sombrio, de acordo com o que pede a trama. Da série chamada “Nova Marvel”, Thor talvez tenha sido o melhor acerto da editora.

Nota: 9.0

sábado, 7 de maio de 2016

Quadrinhos: “Excalibur” e “Víuva Negra - A Mais Delicada Trama”


O trabalho do artista e roteirista Chris Claremont com os X-Men, redefiniu o grupo, alongou seus tentáculos e transformou a série em um sucesso estrondoso para a Marvel. Esse ícone da nona arte tentou outra ousada ideia com a habitual mão centralizadora por qual é conhecido criar outro desses braços dos X-Men em 1987. Junto com o artista Alan Davis responsável por uma fase esplendorosa do Capitão Britânia ao lado do gênio Alan Moore, Claremont criou uma nova equipe em um mundo que pensava que os mutantes do Professor Xavier estavam mortos. A equipe reunia além do já citado Capitão, a namorada transmorfa Meggan, Rachel Summers e os sobreviventes Noturno e Kitty Pride. Esse início foi publicado no Brasil em meados do ano passado pela Panini Comics em um encadernado com capa cartonada de 180 páginas reunindo as edições originais “Excalibur” de 1 a 5, além de “Excalibur Special Edition: The Sword is Drawn” lançadas entre março de 1987 e fevereiro de 1989. A trama começa com as óbvias diferenças e ajustes de um grupo que está se formando, com brigas, desavenças e até mesmo um triângulo amoroso. No entanto, a partir do momento em que percebem sua importância as coisas começam a fluir no combate a situações rotineiras e vilões malucos. Uma das grandes sacadas do autor na época foi usar todo o arcabouço de ideias produzidas antes por Alan Moore em Capitão Britânia. O tom amalucado, com algum humor e situações bem surreais dão o tom, apoiadas na sobriedade dos desenhos de Davis. Contudo, mesmo se reconhecendo alguns méritos e com a nostalgia envolvida, “Excalibur” é uma história que envelheceu mal e hoje cansa mais do que diverte, tanto pelas assertivas que expõe quanto pelos caminhos que explora. Vale para conhecer o trabalho, porém hoje, não vai muito além do que isso.

Nota: 5.0


Natasha Romanova sempre deixou o passado coberto com os véus mais pesados. Sua primeira aparição nos quadrinhos foi em 1964. Espiã russa, craque em dissimulação, armamentos e combate corpo-a-corpo, utilizava também da beleza também para conseguir objetivos. Começando como vilã, acabou por se tornar heroína (com vários senões, é verdade) e entrou para Os Vingadores. No cinema representada pela bela Scarlett Johansson, essa aura de mistério e as características citadas acima permaneceram e forjaram a personagem a um sucesso maior, levando a Marvel (em mais uma das suas repaginadas) dar nova atenção para a perigosa ruiva. O início disso a Panini Comics lançou por aqui no começo do ano no encadernado “Víuva Negra – A Mais Delicada Trama”, reunindo as edições “Black Widow” de 1 a 6 e o especial “All New Marvel Now! Point One 1”, publicados entre março e junho de 2014 nos EUA. Com roteiro de Nathan Edmondson (The Activity) as 148 páginas apresentam uma protagonista em busca de alguma redenção, por mais complicado que isso seja. Se redimir dos pecados do passado nem sempre é tarefa fácil e a Víuva Negra aprende isso. Em conjunto se vê também no meio de uma complexa trama trabalhando com a S.H.I.E.L.D, na qual suas habilidades, mesmo bem interessantes, podem não ser suficientes. Os desenhos de Phil Noto (Star Wars) são funcionais e o uso que ele dá as linhas rabiscadas e ao uso das cores, faz com que essa nova fase também tenha méritos visuais. Ao colocar a Víuva Negra fazendo o trabalho de espionagem que está acostumada a fazer, sem esquecer de explorar um pouco a sensualidade e, principalmente, não inventando fatos absurdos para o passado dela, deixando o mesmo ainda repleto de questões a serem levantadas, Nathan Edmondson acerta a mão e apresenta uma boa fase para a antiga espiã russa.

Nota: 7.0


domingo, 1 de maio de 2016

Quadrinhos: “Deadpool – Meus Queridos Presidentes” e de “Homem-Aranha – Negócios de Família”


Tudo pode acontecer com o Deadpool né? Já deu para perceber isso no decorrer dos anos, então nada mais normal (para ele) do que ter que enfrentar uma horda de zumbis poderosos composta por todos os ex-presidentes dos EUA já falecidos. “Deadpool – Meus Queridos Presidentes” é uma publicação nacional do início do ano em capa dura da Panini Comics com 140 páginas e faz um compêndio das edições do mascarado maluco de 1 a 6 lançadas nos EUA entre janeiro e maio de 2013. Com roteiro de Gerry Duggan e Brian Posehn, tem ilustrações de Tony Moore e cores de Val Staples. No divertido absurdo da história, os ex-presidentes são convocados do além por um maluco ex-agente da S.H.I.E.L.D que mexe com magia, para que estes salvem a América, que anda uma desgraça só. Bom, as coisas não saem bem como o planejado e a agência com vergonha (entre outras coisas) do ocorrido acaba convocando o Deadpool para salvar o dia. Claro que também que as coisas não fluem da maneira que todos pensavam e o mercenário tagarela vai arremessando corpos na mesma proporção que distribui suas piadas ácidas e comentários cruéis. Esse primeiro arco de histórias apresentou a nova fase do personagem que continua em alta voltagem até hoje. “Deadpool – Meus Queridos Presidentes” é diversão do início ao fim, com uma ou outra crítica espalhada ali pelo meio do caminho, e uma “repaginada” peculiar de personagens históricos e tão importantes. Inclusive, pode tranquilamente a alguns anos figurar entre as histórias clássicas do protagonista, mesmo que seja um mais do mesmo do que já se viu antes. Sem se atentar a isso, no entanto, cumpre o seu papel que é divertir o leitor. E cumpre muito bem.

Nota: 8,0


Um dos pontos fracos mais latentes do Homem-Aranha sempre foi a família. Desde o início lá atrás quando o tio é assassinado, o herói ficou obcecado pela segurança de todos aqueles ao seu lado. Usando essa “fraqueza”, os escritores Mark Waid (Demolidor) e James Robinson (Batman) criaram uma graphic novel com trama fechada que apresenta o aracnídeo tendo que lidar de maneira bem interessante com isso. Publicada originalmente nos EUA em 2014, a história ganha edição nacional nesse ano pela Panini Books com capa dura, tratamento cuidadoso e 116 páginas. A arte da hq é um caso à parte. Com desenhos de Werther Dell’Edera e arte pintada do magistral italiano Gabrielle Dell’Otto (de “Guerra Secreta”), a trama que já é boa, se amplifica ainda mais. Falando em trama, tudo começa com Peter Parker sendo salvo por uma misteriosa mulher, que mais a frente se verá ter relações familiares diretas com ele. Por trás de tudo está um zeloso plano do Rei do Crime (como a capa já denuncia o envolvimento dele), que ambiciona voltar para o reinado que deixou para trás. É bacana se deparar com uma boa história do Aranha, tão maltratado ultimamente nos quadrinhos, com um roteiro que se sustenta e traz o leitor para o jogo. Com direito a vários extras, a edição brazuca de “Homem-Aranha – Negócios de Família” é daquelas para se guardar na estante, ainda mais pelo deslumbrante trabalho visual apresentado. Se ainda hoje o escalador de paredes é um dos maiores nomes da Marvel, causando rebuliço até em outras mídias, dá para imaginar o quão grande ele seria se recebesse sempre o mesmo tratamento aqui dispensado pela dupla Mark Waid e James Robinson.

Nota: 9,0