sábado, 31 de março de 2012

"Habemus Papam" - 2011


É de se imaginar que o sumo pontífice do catolicismo seja um homem experiente, sem medos ou dúvidas e focado na condução da igreja sob o seu comando. É de se esperar também que ele saiba superar os desafios que a modernidade apresenta a uma instituição tão antiga e coordene esta perante os obstáculos com que lida diariamente. O papa ainda terá que ter o dom da palavra, conquistando novos adeptos e aplacando a ira dos descontentes. Porém, para Nanni Moretti, as coisas não são bem assim.

O diretor italiano de filmes como “Caro Diário” de 1993 e “O Quarto do Filho” de 2001, apresenta em “Habemus Papam” um raciocínio interessante. Ambienta esse novo trabalho no Vaticano logo após o falecimento de um papa e dentro do processo de conclave que elegerá o próximo regente. Nesse conclave estão reunidos cardeais de todo o mundo que durante os dias seguintes terão a responsabilidade de decidir sobre quais ombros cairá o peso e a honra de comandar a igreja católica no futuro.

Nanni Moretti dá uma revertida nessa história. O sucessor que o conclave escolhe aparece com ataques de pânico e incertezas sobre a própria capacidade. O Cardeal Melville (o experiente Michel Piccoli) é quem recebe o privilégio, mas parece surpreso e frágil para assumir o posto. O filme penetra diretamente na condição humana e em cima dela mostra que independente da posição que a pessoa esteja ocupando está suscetível a receios sobre o trabalho e na extensão direta disso, sobre a vida.

Para ajudar o papa a se sentir mais seguro e convicto das suas aptidões entra em cena o porta-voz do Vaticano (Jerzy Stuhr) e um psicanalista ateu interpretado pelo próprio Moretti. No desespero que estaciona em torno dos envolvidos, “Habemus Papam” caminha habilmente em tom de comédia por assuntos espinhosos como a real dimensão da Igreja Católica no mundo atual, assim como pelo verdadeiro show de fofocas e exibição que está inserido na disseminação da fé.

Quando o papa eleito escapa da Basílica de São Pedro na procura por paz e de forças para compreender pelo que está passando, começa a perceber que na verdade não entende quase nada sobre o mundo exterior. Nessa perigosa estrada que podia facilmente se converter em um opaco discurso, Nanni Moretti se mantém firme em apenas apresentar as questões e não tentar levianamente respondê-las e assim realiza um bom trabalho, onde a fragilidade humana não distingue posição, cor ou vestimentas.

Nota: 7,0

Assista ao trailer: 


quinta-feira, 29 de março de 2012

"Wilson" - Daniel Clowes


Wilson é um cara de 40 e poucos anos, solitário, que usa praticamente o mesmo estilo de roupa todos os dias e demonstra uma proeminente barriga e uma calvície em plena progressão. Na sua vidinha atual em Oakland, Califórnia, USA, dispara suas raras demonstrações de afeto apenas para a cadelinha que lhe faz companhia, enquanto tenta (sem muito sucesso) puxar conversas com outras pessoas.

É esse personagem descrito acima que dá nome a graphic novel de Daniel Clowes (de “Como Uma Luva de Veludo Moldada em Ferro” de 2002), que a Companhia das Letras pelo seu selo “Quadrinhos na Cia.” publica aqui este ano com 80 páginas e tradução de Érico Assis. Lançada lá fora em meados de 2010, a história rendeu prêmios e holofotes para o autor, além de uma injeção de ânimo na carreira.

“Wilson” foi imaginado enquanto Daniel Clowes cuidava do pai em um leito de hospital. Para passar o tempo foi rascunhando uma tira aqui, outra ali e percebeu que tinha criado algo interessante. Utilizando leves informações biográficas, concebeu sempre em tiras temáticas de 6 ou7 quadros, uma personalidade ranzinza, antipática e sarcástica, mas com humor desconcertante nas verdades que dita ao léu.

Os temas começam mostrando um pouco do indivíduo pelo viés da sua amargura e fracassadas tentativas de sociabilidade com o mundo. Após isso se misturam pela reviravolta de uma vida pacata e são transferidos para assuntos como morte, religião, casamento, filhos e solidão. Daniel Clowes alterna constantemente a maneira de desenhar e deixa as imagens com vínculo direto sobre aquilo que conversa.

No decorrer da leitura de “Wilson” é fácil vincular a obra com o universo explorado por Harvey Pekar (de “American Splendor”). O jeito rabugento e diferentemente cômico em relação ao cotidiano também foi desenvolvido de modo habitual (e com mais brilhantismo) pelo falecido quadrinista. Daniel Clowes se distancia do óbvio na nova empreitada e com uma índole particular diverte bem, mesmo sem ser espetacular.   

Nota: 7,5

Site do autor: http://danielclowes.com

Textos relacionados:

- "Os Beats" – Harvey Pekar, Ed Piskor e Paul Buhle, aqui.
- "Bob & Harv – Dois Anti Heróis Americanos" - Harvey Pekar e Robert Crumb, aqui.


terça-feira, 27 de março de 2012

"MPB na Era do Rádio" - Sérgio Cabral


Em 1996 o jornalista e historiador Sérgio Cabral (pai do atual governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho) lançou um livro no qual contava o início do rádio no Brasil e a alavancagem que isso representou para a música popular nacional. No ano passado a Lazuli Editora e a Companhia Editora Nacional republicaram a obra em uma edição mais caprichada, com inclusão de novas partes e completamente revisada. O saldo final é extremamente aprazível.

Sérgio Cabral é versado e doutorado quando o assunto é música tupiniquim, principalmente de décadas passadas. Fundador do Pasquim e ex-colaborador de alguns dos maiores jornais do país, já elaborou livros sobre nomes como Tom Jobim, Pixinguinha, Nara Leão e Ataulfo Alves. De prosa fácil e convidativa, consegue em apenas 144 páginas traçar um panorama do objeto a que se propõe, assim como fazer um pequeno tratado histórico da época que visita.

“MPB Na Era do Rádio” tem logo no começo uma interessante frase de Leonardo Da Vinci que serve como contraponto ao que será apresentado. Essa frase diz: “A música se evapora quando tocada”. Na época desse grande italiano (1452-1519) realmente a música se apresentava como fugaz, pois não havia como gravá-la. Depois de muito tempo foi que o cientista estadunidense Thomas Ava Edison construiu um fonógrafo, instrumento capaz de realizar tal proeza.

Sérgio Cabral atravessa o primeiro disco brazuca gravado em 1902 pelo cantor Baiano, passa pela criação e avanço das rádios privadas e públicas e vai até a bossa nova já nos anos 50. Pelo caminho esbarra com sutileza em nomes importantes para toda uma geração e, por conseguinte para a nossa própria música. Nomes como Ary Barroso, Almirante, Carmem Miranda, Cartola, Donga, Dorival Caymmi, Francisco Alves, Garoto, Lamartine Babo, Noel Rosa e Orlando Silva.

Dentre as páginas, dois pontos merecem evidência. Primeiro a relação da música com o Governo, principalmente com Getúlio Vargas e o Estado Novo. Censurada e às vezes beneficiada com esse “acordo’, os compositores e interprétes não tinham como não se correlacionar com o estado. Segundo, os primórdios da arrecadação dos direitos autorais sob o comando da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), que anos depois deixaria isso nas prestigiadas mãos do ECAD.

De leitura agradável e prazerosa, Sérgio Cabral versa sobre um tempo em que o rádio era o principal condutor de notícias e entretenimento para a população. Tempos em que ainda se geravam ídolos de abrangência nacional com frequência. Tempos em que o novo brigava contra o antigo e ia contra o racismo, conservadorismo e necessidades pessoais. Tempos, que se pensarmos bem, por mais longínquos que estejam, ainda guardam na essência pequenas semelhanças com os nossos dias.

Nota: 9,0

sábado, 24 de março de 2012

"Jogos Vorazes" - 2012


Sexta. 23 de Março de 2012. A primeira exibição de “Jogos Vorazes” (The Hunger Games, no original) era às 13hs. Uma hora e pouco antes, a fila na frente do cinema localizado em um shopping já era extensa e misturava sem clemência jovens de 14 anos em diante com alguns pais e avós que também se faziam presente. A algazarra envolvia conversas altas e pipocas no chão. Tudo isso para ver o filme inicial baseado nos livros que a escritora Suzzane Collins transformou em um pequeno fenômeno.

Com a espera na sala, a confusão inacreditavelmente conseguiu aumentar e envolveu a distribuição de senhas para um sorteio feito pelo fã clube depois da exibição, demonstração de quem sabia mais sobre a série e uma imensidão de spoilers, promovida ainda mais pela demora agravada pela quebra de algum equipamento. O caos estava montado. Cabia a alguns poucos elementos estranhos aquele universo, se adequar e (tentar) aproveitar a película, mesmo que isso se apresentasse como uma árdua missão.

“Jogos Vorazes” é a primeira adaptação cinematográfica da (atual) trilogia de Suzzane Collins. A direção do longo ficou com Gary Ross (do bom “Seabiscuit - Alma de Herói”) que tinha a tarefa de transpor para a grande tela a mistura de “reality show com gladiadores romanos” que encantou tanta gente mundo afora. Só que por trás dessa tarefa maior, o diretor também tinha que ser capaz de funcionar o universo e as cores que o livro supõe, como também inserir os lados mais interessantes da trama.

Esse lado mais interessante citado acima, ocupa um cunho mais crítico e político do que outras obras do mesmo estilo. Em um futuro remoto da humanidade, o governo assume um papel de coerção e domínio completo do poder. Nascido de uma guerra que dizimou milhares de pessoas, esse governo anualmente faz uma competição envolvendo 24 adolescentes oriundos dos 12 distritos que compõe esse mundo. Quanto maior o número do distrito, menor a qualidade de vida e a capacidade de sobrevivência.

Na nova edição do evento, Katniss Everdeen (a ótima Jennifer Lawrence de “Inverno da Alma”) acaba se oferecendo no lugar da irmã menor que foi escolhida. Mesmo sabendo que apenas um competidor sairá vivo da luta disfarçada de grande evento, ela não pensa duas vezes. Junto com ela vai Peeta Mallark (Josh Hutcherson de “Minhas Mães e Meu Pai”) e os dois são envolvidos em um cenário que varia de cômico a brutal e que serve como o pão e o circo que o estado usa para ajudar a controlar o povo.

O elenco de apoio do filme tem categoria de sobra e consegue se sobressair em vários momentos. Stanley Tucci e Toby Jones vivem dois apresentadores de tevê. Woody Harrelson é uma espécie de treinador que já venceu os jogos antes e até Lenny Kravitz se sai razoável como o estilista de Katniss. As cores das roupas e penteados dos indivíduos da capital caem muito bem como delineadores da alienação a que eles sucumbem e traçam um interessante paralelo, ainda que leve, para os nossos dias.

O resultado final de “Jogos Vorazes” estaciona um degrau acima dos filmes voltados para o mesmo nicho de público, com temas sublinhados que podiam ser a semente para despertar o início de um interesse além do entretenimento. Além da aventura bem construída (porém, apenas comum), a personagem de Jennifer Lawrence provoca discussões adicionais para espectadores ainda em formação. Infelizmente, como a sala fazia questão de afirmar com muito barulho a cada nova cena, esses espectadores estão mais interessados em estar na moda, ou em um novo “Crepúsculo”. Uma pena.

Nota: 7,5

Assista ao trailer: 

quinta-feira, 22 de março de 2012

"Jogador Nº 1" - Ernest Cline


O filme “Fanboys” dirigido por Kyle Newman e lançado em 2009, logo se tornou cult entre geeks e nerds do mundo todo. Em uma divertida história, o longa seguia um pequeno grupo de fãs de “Star Wars” até o Rancho Skywalker na missão de assistir o “Episódio I” da série (o início da segunda trilogia, que na verdade é a primeira). A maior parte desse roteiro foi escrita por Ernest Cline, nascido em 1972 na cidade de Ashland, no estado de Ohio nos Estados Unidos.

Desde então, Ernest Cline abraçou de vez a paixão por games e cultura pop em geral. O resultado seguinte desse caso de amor é publicado agora por aqui pela Editora Leya com 464 páginas e tradução de Carolina Caires Coelho. “Jogador Nº 1” (Read Player One, no original) fez um grande sucesso no país de origem do autor e já teve seus direitos vendidos para uma adaptação cinematográfica sob os cuidados da Warner Bros., o que é algo admirável em tão pouco tempo.

“Jogador Nº 1” é ambientado nos anos de 2044/2045, onde conforme rezam as profecias atuais o mundo está submerso a uma crise sem precedentes envolvendo energia elétrica e escassez de recursos naturais. O desemprego, a fome e a falta de moradia assolam o planeta e mais especificamente, consomem o país que era um consumidor voraz desses recursos. Dentro desse cenário, a maioria das pessoas só consegue ter um pouco de felicidade quando estão dentro de um imenso universo virtual.

Esse espaço virtual é chamado OASIS é foi construído por um gênio da tecnologia de nome James Halliday. Tímido e bastante recluso durante toda a vida, ele criou uma empresa extremamente lucrativa e ficou bilionário através dessa ferramenta de imersão social. Ao morrer deixou para trás como uma espécie de jogo, um testamento que servia para transferir ao ganhador todo o seu patrimônio, assim como a administração do OASIS. A população enlouqueceu nessa busca.

É nesse palco histórico que Wade Watts, mais conhecido como Parzival, vive. E junto com milhares de outros procura encontrar o prêmio que irá mudar a vida. Quando depois de 5 anos ele é o primeiro a ter o nome registrado no placar de pontos do jogo, a vida se transmuta automaticamente em outra. Essas mudanças são narradas por ele, com a intenção de contar a “real história” por trás de tudo e regride ao início para se estender por toda a jornada perigosa e aventureira que ele experimentou.

O grande chamariz de “Jogador Nº 1” não é o cenário geral, afinal de contas percebem-se diversas semelhanças com outras obras, mas sim os meios que são necessários para alcançar o fim. Para perseverar e se dar bem na busca desenvolvida por James Halliday, é preciso ser um expert nos gostos dele que se situam basicamente nos anos 80, em seus livros, seriados de tevê, jogos de computador, filmes, discos e todas as referências possíveis dentro de um cenário amplo de cultura pop.

Parzival se junta a outros companheiros (Aech, Art3mis, Daito e Shoto) e percorre um inigualável caminho que é permeado por coisas como o seriado “Caras & Caretas” até o disco “2112” dos canadenses do Rush, invadindo os filmes de John Hughes, o clássico Pac-Man e seriados japoneses. Na contramão disso, o autor acusa indiretamente o mergulho da humanidade em ilusões computadorizadas, renegando a vida real para um ambiente onde se esteja o menor tempo possível.

Ernest Cline surpreende com “Jogador Nº 1” e entrega ao leitor uma aventura dinâmica, interessante e nostálgica, bem mais do que se prometia no início. Sua leitura agrada não somente ao grupo de geeks e nerds dos quais orgulhosamente faz parte, como também a toda uma geração que viveu os anos 80 e vê essa época esmiuçada nas páginas. É como um baile de formatura antigo, porém vestido com roupas novas e muita tecnologia, que diverte e deixa um agradável odor de naftalina no ar.

Nota: 7,0

Site do autor: http://www.ernestcline.com 

terça-feira, 20 de março de 2012

“Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual” - 2011


São incontestáveis as barreiras que a internet quebrou (e quebra) na nossa vida. A possibilidade de estar conectado de modo instantâneo a qualquer pessoa do mundo e a facilidade de transpor informação talvez sejam as suas maiores virtudes. No entanto, essa mesma internet também serviu, por outro lado, para isolar ainda mais indivíduos que já não possuíam habilidade social, assim como encher de preguiça o corpo para fugir do confortável refúgio a frente do computador.

O filme argentino “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual”, que chegou recentemente em DVD trata sobre esse afastamento e essa solidão, encobrindo isto sobre os panos de uma relação amorosa de uma comédia romântica habitual. Porém, a maneira que o diretor e roteirista Gustavo Taretto trata esses temas na sua estreia cinematográfica, reside em um lugar remoto do mar de obviedades costumeiro e insere bom humor e um pouco de  reflexão a essa história comum.

No longa, Martín (Javier Drolas) passa basicamente todo o tempo em casa, trabalhando com os websites que cria e em cima dos quais ganha o pão de cada dia. Já Mariana (Pilar López de Ayala) é um arquiteta formada há dois anos, mas que nunca fez algo na sua área e sobrevive devido a um emprego de vitrinista nas lojas de Buenos Aires. Os dois saíram de recentemente de relacionamentos que não deixaram boas lembranças, apenas certo arrependimento pelo tempo desperdiçado em vão.

Para eles a internet é um alívio que serve como ocupação para também preencher os medos e fobias de cada um. Vez ou outra, uma forma diversa de alívio mais humana é arriscada, mas os resultados são desestimulantes. Usando as construções da cidade como metáfora para a sua situação, como também para a vida das pessoas em geral, os diálogos exercem uma análise sucinta sobre os modos atuais de convivência e faz com que, em determinada escala, o ouvinte se encha de pensamentos.

Com uma atuação sóbria dos atores e direção que flerta bem com maneirismos, “Medianeras” expõe dois momentos especiais com a música como pano de fundo. Primeiro com “True Love Will Find You In The End” de Daniel Johnston e depois com Marvin Gaye e Tammi Tarrel com o clássico “Ain’t No Mountain High Enough”. E deixa a impressão final de que como dizia o humorista Josh Billings “a solidão é um lugar bom de visitar uma vez ou outra, mas ruim de adotar como morada”.

Nota: 8,5

Assista ao trailer:

domingo, 18 de março de 2012

“We All Raise Our Voices To The Air” - The Decemberists - 2012


Nada mais natural para uma banda de rock, que depois de dez anos de carreira e um disco recente que a alçou para um número maior de pessoas, servindo como ingresso para sentar no grupo dos grandes, opte-se em sequencia por lançar um registro ao vivo. O Decemberists, grupo de Portland, Oregon, USA, seguiu esse caminho e o fruto é “We All Raise Our Voices To The Air”, um cd duplo com 20 canções e que também está disponibilizado em vinil triplo.

As gravações foram realizadas no ano passado em 12 cidades distintas como Nashville, Atlanta, Seattle e a terra natal. Nos concertos a formação oficial com Colin Meloy (vocal, violão e guitarra), Chris Funk (guitarra), Jenny Conlee (teclado e arcodeão), Nate Query (baixo) e John Moen (baterista), contou ainda com Sara Watkins (violino, guitarra e vocal) como membro adicional e mais um naipe de metais que funciona muito bem em faixas como “The Infanta”.

Com algumas pequenas liberdades como junção entre músicas, os dois discos exibem 20 faixas que retratam toda a carreira da banda até aqui. Da estreia “Castaways And Cutouts”(2002) tem duas, do “Her Majesty”(2003) aparecem três, do “Picaresque”(2005) são quatro canções, do “The Crane Wife”(2006) vem só a faixa título com suas três partes, do “Hazards Of Love”(2009) apenas uma e do registro mais recente, o ótimo “The King Is Dead”(2011), surgem sete.

Ainda temos “Oceanside”, música de abertura do Ep “5 Songs” de 2003 e “Dracula’s Daughter” do disco “Colin Meloy Sings Live”, que o líder do grupo lançou em 2008 (e que é apresentada lá por ele como a pior música que já escreveu), aqui  associada com “O Valencia!  do “The Crane Wife”. É interessante observar que a maioria das canções (11 no total) faz parte da, digamos assim, primeira metade da história da banda, que não renega nenhuma das suas obras.

Vários são os momentos de luminosidade como a versão intensa para “Leslie Ann Levine”, com Colin Meloy cantando quase um conto sobre uma menina que nasceu em um desfiladeiro, morrendo logo depois, e que 15 anos após isso não tem ninguém de luto por ela e fica vagando pelo lugar. “Calamity Song” (introduzida com uma canção do final do mundo), “Down By The Water”, “The Soldiering Life”, “Rox In The Box” e “The Rake's Song”, são outros bons destaques.

Porém, nem tudo são flores em “We All Raise Our Voices To The Air”. Das suítes com mais de 10 minutos que a banda tanto gosta de fazer, apenas “I Was Meant For The Stage” funciona realmente. Além disso, o repertório deixou de fora verdadeiras pérolas como “Here I Dreamt I Was An Architect”, “The Engine Driver” e “The Gymnast, High Above The Ground”. Todavia, isso não diminui o prazer, capricho e destreza que Colin Meloy e seu bando executam suas bonitas canções.

Nota: 8,0

Tem texto sobre o disco “The King Is Dead” no blog, aqui.

Site oficial: http://decemberists.com

Assista a banda ao vivo com “Calamity Song” (em outra versão sem ser a do disco ao vivo):

quinta-feira, 15 de março de 2012

“Kisses On The Bottom" - Paul McCartney - 2012


Quando se analisa uma obra, seja ela um livro, um disco ou até mesmo um filme, é sempre oportuno tentar qualificar a relevância desta não só para a área que está inserida, como também o que representa para a carreira dos envolvidos. No entanto, ao se tratar sobre “Kisses On The Bottom”, o novo trabalho de Paul McCartney, isso deve ser posto de lado. Digo isso, pois é o tipo de obra que não almeja nada além do que ser um tributo, um gesto de deferência com canções da primeira metade do século XX.

Há tempos que o ex-beatle queria fazer um álbum com o olhar voltado para as décadas de 20, 30 e 40 e agora resolveu tirar o projeto da cabeça e do papel. Para tanto convocou o experiente produtor Tommy LiPuma (Miles Davis) e convidou Diana Krall, que não somente foi tocar piano nas faixas como levou junto seus músicos. O resultado é um disco bem tocado e acabado, com o jazz como direção principal (e quase única) e Paul McCartney cantando de maneira suave e delicada, adequando bem a voz.

Depois da tríade de registros que colocou novamente qualidade na sua produção atual, composta por “Driving Rain” de 2001, “Chaos and Creation in The Backyard” de 2005 e “Memory Almost Full” de 2007, o velho Macca optou claramente por fazer um trabalho para ele mesmo. Se pensarmos bem, isso não tem nada de errado e ele tem todo o direito de tomar uma decisão dessas, afinal de contas está prestes a completar 70 anos e tem um currículo esplendoroso de serviços prestados para a música. Mas isso é suficiente?

A resposta é: provavelmente não. Por mais que se veja esforço e dedicação embutidos, o resultado é apenas bonito e não transmite aquela vontade de se ouvir novamente. Com uma escolha de repertório que estaciona longe da garagem da obviedade, ele reconstrói canções como “Home (When Shadows Fall)”, gravada por Nat King Cole e Sam Cooke, “Bye Bye Blackbird”, que constava no arsenal de Frank Sinatra e “Always” composta por Irving Berlin em 1925 e que já ganhou versões de nomes como Ella Fitzgerald.

Ele até se aventura em duas novas músicas, que se situam entre o que de melhor o álbum oferece. A bela e romântica “My Valentine” se enriquece com a guitarra de Eric Clapton e em “Only Our Hearts” é a vez de Stevie Wonder abrilhantar o resultado final. Casos raros em um trabalho que mesmo reconhecendo sua boa execução, não consegue emocionar. Como disse o escritor russo Leonid Pervomaisky, “pouco importam as notas na música, o que conta são as sensações produzidas por elas”. E essas sensações, infelizmente quase inexistem em “Kisses On The Bottom”.

P.S: Paul McCartney prometeu outro disco para esse ano. Só com inéditas. Vamos aguardar.

Nota: 6,0

Assista a um vídeo com “My Valentine”: 

terça-feira, 13 de março de 2012

"Furacão Elis" - Regina Echeverria


“Elis era uma grade ciclotímica, tinha uma arritmia de comportamento sem maiores explicações. Num momento estava puta, noutro rindo, noutro chorando”. A definição acima é de Ronaldo Bôscoli, primeiro marido oriundo do casamento realizado quando ela tinha 22 anos e ele 38. Durante os 36 anos de vida que se encerraram em 19 de janeiro de 1982, a gaúcha de Porto Alegre teve uma carreira fantástica, enérgica e fulminante.

“Furacão Elis” foi publicado pela primeira vez em 1985 e ganhou algumas reedições como em 1994, além de circular por anos pelo extinto Círculo do Livro. Em 2012, o falecimento da “pimentinha” (apelido dado por Vinicius de Moraes) completa 30 anos e a Editora Leya junto com a autora Regina Echeverria (de “Cazuza, Só As Mães São Felizes”) resolvem colocar no mercado uma nova edição revista, ampliada e detalhada em 272 páginas.

As folhas do livro cobrem toda a existência da cantora e vão desde a estreia frustrada aos 7 anos no Clube do Guri, programa na Rádio Farroupilha em Porto Alegre até o dia da morte devido a uma mistura de cocaína com álcool. Mesmo não se apoiando muito nas canções e no trabalho de forma mais ampla, optando mais pelo lado pessoal, a obra é vasta e narra de modo consistente a precoce carreira de Elis, que aos 15 anos já gravava o primeiro álbum.

Discursa sobre o deslumbramento da ida ao Rio de Janeiro e os altos salários dos programas de tevê. Passa pelo prêmio com “Arrastão” (de Edu Lobo e Vinícius de Moraes) no Festival da Tv Excelsior e invade o sucesso com Jair Rodrigues. Espalha-se pela obra-prima de “Elis e Tom” de 1974, assim como pelo clássico “Falso Brilhante” de 1976 e o show correto no Festival de Montreux em 1979, que depois se transformaria em um duelo inesquecível com Hermeto Pascoal.

“Furacão Elis” se aventura mais perigosamente quando viaja pela estrada pessoal. Da relação extremamente conturbada com a mãe, o pai e o irmão, que exibia momentos conflitantes de amor e ódio, até os casamentos. Primeiro com Ronaldo Bôscoli, um dos pais da bossa nova, que gerou o filho João Marcelo Bôscoli (produtor e sócio da Trama), e depois com o pianista César Camargo Mariano, que deu luz aos também cantores Pedro Camargo Mariano e Maria Rita.

Na espiral de conquistas, deslizes, problemas e alegrias, o livro de Regina Echeverria ambiciona (e consegue) mostrar todos os lados de uma personalidade ímpar da música nacional. Extremamente talentosa e explosiva, Elis Regina encantou o país com suas interpretações vibrantes e técnicas como pouca gente conseguiu. Como o produtor Luiz Carlos Miele disse certa vez, ela era “a primeira, a segunda e a terceira cantora do Brasil”. Difícil discordar dele.

Nota: 8,5

Assista Elis Regina cantando “O Bêbado e o Equilibrista”, um dos seus hinos, composto por João Bosco e Aldir Blanc:  

sábado, 10 de março de 2012

"John Carter - Entre Dois Mundos" - 2012


O norte-americano Andrew Stanton já gravou seu nome na história do cinema contemporâneo. Escreveu e dirigiu as animações “Procurando Nemo” em 2004 (e ganhou o Oscar com ela) e a pequena obra prima “Wall-E” em 2008. Também ajudou nos dois primeiros longas da franquia “Toy Story” e em “Monstros S.A”, consolidando-se com um dos principais nomes do mercado. Com essa consolidação alcançada, decidiu ir para novos desafios.

“John Carter - Entre Dois Mundos” é esse primeiro desafio, um filme real (apesar de também ostentar muita computação gráfica e efeitos) e com atores de verdade baseado na obra de Edgar Rice Borroughs, escrita exatamente há 100 anos. Para adaptar o texto daquele que também criou o Tarzan, Andrew Stanton convocou o vencedor do Pullitzer em 2001, Michael Chabon e Mark Andrews, responsável pelo storyboard de “Homem Aranha”.

Empreendimento bancado pela Disney com zelo e tratamento vip em quase todos os setores, consumiu astronômicos 250 milhões de dólares no orçamento, o que por si só já prova a aposta que foi feita em um projeto que durante muito tempo pulou de mão em mão em Hollywood devido ao custo extremamente alto. Enquanto isso, outras obras semelhantes e até mesmo inspiradas em Edgar Rice Borroughs foram ganhando as telas ano a ano.

A história se baseia em Taylor Kitsch (de “X-Men Origens: Wolverine”), capitão deserdado do exército sulista em 1863, que não quer mais se envolver com ninguém e com nenhuma causa que se apresente. Por culpa de um poder mágico, ele acaba transportado para o planeta Marte (“Basroom” no filme) e lá se depara com outra guerra civil acontecendo entre duas cidades rivais, colocando no meio uma raça de seres simples, verdes e de quatro braços.

Com um trabalho visual laborioso e bem construído, que conta com nomes como Chris Corbould (“A Origem”) e Kevin Campbell (alguns “Harry Potter” na carreira) por trás das criações, o filme agrada bem aos olhos, como nas cenas feitas no Lake Powell em Utah representando o rio de Iss do planeta vermelho. Entretanto, essa é uma das poucas coisas que realmente satisfazem, em conjunto com as cenas de lutas e perseguições que são desenvolvidas.

No mais, “John Carter - Entre Dois Mundos” é um trabalho que não acrescenta nada a nenhum dos envolvidos, não tem relevância ou importância alguma. Isso, claro, olhando pelo lado da qualidade artística e não financeira (que deve dar bons frutos). Mesmo estimulando os olhos, subestima o cérebro e as ideias com chavões largamente utilizados anteriormente e um roteiro sem estímulo evidente. Andrew Stanton bem que poderia ficar sem essa no currículo.

P.S: O filme ainda tem atores como Willem Dafoe, Thomas Haden Church e Mark Strong no elenco.

Nota: 4,0

Assista ao trailer:

quinta-feira, 8 de março de 2012

"Onze" - Mark Watson


Uma ação (ou a ausência dela) pode desencadear uma série de outros eventos. Esses eventos, mesmo não tendo relação direta com o fato principal, são filhos bastardos com poder suficiente para interferir de modo decisivo na vida dos envolvidos. Desconsiderando a conversa fiada que tal afirmativa pode levar, como também ponderações sobre teorias clichês, carmas ou versos sobre o destino, é baseado nesse primeiro entendimento que “Onze”, livro do britânico Mark Watson, se desenvolve.

Originalmente publicado em 2010 ganhou uma edição nacional no ano passado pela Rai Editora, com 248 páginas e tradução de Alexandre Soares Silva. Quarto livro desse comediante, apresentador de tevê e radialista inglês (e primeiro com edição nacional), “Onze” é uma obra que de ínicio levanta muitas suspeitas de onde pretende chegar e principalmente de que maneira utilizará uma fórmula, que em certo ponto, já poderia ser considerada desgastada (vide os filmes do mexicano Alejandro Iñarritu).

Surpreendentemente não é o que vemos. A propagação da teia que amarra os onze personagens que dão nome ao livro é planejada minuciosamente e captura o leitor capítulo a capítulo. Com um personagem mais forte que utiliza para guiar a trama, mas também desprender a ação que irá abranger a todos, Mark Watson preenche os espaços com bons diálogos e piadas bem feitas, que se analisadas mais friamente servem somente para aplacar todas as desilusões e desânimos que dão o tom da narrativa.

Esse personagem central é Xavier Ireland, um radialista que conseguiu transformar o horário da meia noite às quatro da manhã, em algo interessante. O foco do programa são os indivíduos que precisam de desafogo durante a madrugada londrina, seja por questões de trabalho, insônia ou simplesmente solidão e tristeza. Com conselhos para esses problemas, Xavier esconde os seus próprios que o fizeram mudar da Austrália cinco anos atrás e que agora se encontram soterrados em um homem diferente.

Ao lado de Xavier estão o ajudante gago e fracassado Murray, os vizinhos que ele não se preocupa tanto e uma mulher que entra ao acaso na sua vida, fazendo retornar os temores do passado. Suas ações interferem, sem que ele saiba, na vida de várias pessoas, indo de um jovem estudante obeso a uma psiquiatra enojada com o trabalho. E são essas ações que o autor costura com avidez e melancolia, construindo uma obra de colisão, reencontro e esperança que deixa o coração preso e apertado em uma pequena jaula.

Nota: 8,0


terça-feira, 6 de março de 2012

Música: "De 1962 a 2012: 2 discos e 50 anos"

Em 1962 o presidente dos Estados Unidos era John F. Kennedy, o país não tinha entrada de cabeça na guerra do Vietnã, os direitos civis dos negros parecia uma coisa distante e inalcançável e Martin Luther King ainda não havia proferido o seu discurso mais famoso e emblemático.

Em tempos que a concepção musical era completamente diferente da que vivemos hoje, dois artistas (um de Albany na Georgia, o outro de White Station no Mississipi) colocavam no mercado obras que lidavam com pressões e recomeços e que 50 anos depois ainda soam intensas e brilhantes.

“Modern Sounds In Country And Western Music” – Ray Charles

O último disco de Ray Charles pela Atlantic Records havia sido “The Genius After Hours” lançado em 1961. No ano seguinte, já de casa nova (ABC-Paramount), “Brother Ray” concebia um dos seus melhores álbuns. “Modern Sounds In Country And Western Music” trazia releituras soul e R&B para canções country e folk de autores como Hank Williams e Don Gibson. Com um arranjo de cordas bem dosado permeando todo o registro, a escolha se mostrou correta.

Desde o começo com o coro maravilhoso de “Bye, Bye Love”, hit com os Everly Brothers anos antes, até o encerramento com uma “Hey, Good Lookin’” de Hank Williams completamente bêbada de suingue, o músico mostrava uma qualidade excepcional. Sucesso de público e várias semanas em 1º lugar na parada norte-americana, ainda trazia toques de jazz em “Half As Much” de Curley Williams, a tradicional “Carelles Love” apoiada em uma big band e o esplendor sentimental de “I Can´t Stop Loving You” de Don Gibson.

Nota: 10,0

“Howlin' Wolf”- Howlin' Wolf

Apenas um disco completo de Charles Arthur Burnett, mais conhecido como Howlin’ Wolf, já tinha nascido antes desse trabalho de 1962, depois de anos tocando onde tivesse oportunidade. O álbum homônimo de 1962 (também conhecido posteriormente como “The Rockin’ Chair Álbum”) era uma reunião de singles já lançados pela Chess Records e gravados de modo sensacional por nomes como Willie Dixon, Buddy Guy e Freddy Robinson espalhados pelas faixas.

Willie Dixon, aliás, é o compositor de 9 das 12 canções, que na voz, guitarra e harmônica de Howlin’ Wolf auferiram um poder especial como a dramática “The Red Rooster”, o pop invocado de “Howlin' For My Darlin'”, a clássica "Back Door Man" ou a estupenda “Spoonfool”, entrelaçando bens materiais, amor e ganância e que até hoje não passa impune para quem ouve pela primeira vez. Frequentemente citado como influência por artistas de diversos estilos, foi aos 52 anos que deixou seu maior testemunho para o blues e para o mundo.

Nota: 10,0

Assista Ray Charles com “I Can´t Stop Loving You”:


Assista um vídeo com “Spoonfool” de “Howlin’ Wolf”:

sábado, 3 de março de 2012

Música: The Little Willies e Father John Misty


Após 6 anos da estreia, os Little Willies chegam a um novo registro chamado “For The Good Times”. O projeto paralelo capitaneado por Norah Jones (piano e vocais) conta ainda com Richard Julian (guitarra e vocais), Jim Campilongo (guitarra), Lee Alexander (baixo) e Dan Rieser (bateria). No debute de 2006 apresentavam-se canções de Kris Kristoffeson, Townes Van Zandt e Willie Nelson e mesmo repetindo alguns, agora essas canções se estendem para nomes como Loretta Lynn, Johnny Cash e Dolly Parton.

Ao revistar músicas que fizeram parte da vida de cada um, a banda funciona mais uma vez e finca os pés de vez no country com duas pequenas diferenças: o som surge mais descompromissado e menos agitado. Isso dá direito a versões penetrantes como “Permanently Lonely” de Willie Nelson ou a faixa que dá nome ao álbum de autoria de Johnny Cash, com Norah Jones dando um toque de jazz ao clima da balada, além da bonita “Lovesick Blues” de Irving Mills, aqui em um habilidoso dueto de Jones e Julian. 

Para escutar durante o trabalho.

Nota: 6,5


Joshua Tillman é um daqueles caras que são aficionados por música. Desde 2005 vem gravando discos aqui e ali. Durante alguns anos foi baterista do Fleet Foxes, mas optou recentemente em sair do grupo para seguir novos rumos. O resultado imediato é “Fear Fun”, disco chancelado pela Sub Pop e que ganha vida com o nome artístico de Father John Misty, que de acordo com o próprio músico não representa nada em especial, é apenas um nome como outro qualquer.

Dono de um timbre agradável de voz, J. Tillman remete em alguns momentos ao clima etéreo do folk da ex-banda (como nas duas primeiras faixas), porém se sai bem melhor quando procura horizontes mais áridos. Temos exemplos dessa qualidade na excelente e mórbida “Hollywood Forever Cemetery Sings”, no country indie de “Writing a Novel”, na slide guitar de “Misty's Nightmares 1 & 2” ou no toque bluesy de barzinho de estrada que “Well, You Can Do it Without Me” evoca.

Para escutar a noite em casa arremessado em algum lugar.

Nota: 7,0


Assista "Jolene" ao vivo com os Little Willies:


Assista ao clipe de “Hollywood Forever Cemetery Sings” do Father John Misty:

quinta-feira, 1 de março de 2012

"Drive" - 2012


O cinema é uma terra fértil para que os chamados anti-heróis se apresentem. São inúmeros os casos desse tipo, que em menor ou maior escala vão desde o Michel Poiccard de “Acossado” até o Travis Bickle de “Taxi Driver” e desembarca mais recentemente também nas adaptações dos quadrinhos como o Rorschach de “Watchmen”. Em “Drive”, filme do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, mais um desses casos ganha destaque.

Esse recente caso é interpretado por Ryan Gosling (“Namorados Para Sempre”) em uma atuação sóbria e franca, pinçada por poucas palavras e quase sem nenhuma cor preenchendo espaços. O personagem que não ganha nome em momento algum vive em Hollywood se dividindo entre o trabalho de dublê em filmes modestos e as tarefas de ajudante em uma oficina, de propriedade do seu “agente” Shannon (Bryan Cranston de “Pequena Miss Sunshine”).

Entre um trabalho e outro, o motorista faz bicos servindo a qualquer tipo de causa (geralmente ilegais) que atendam seus requisitos, que tem como destaque a disponibilização de 5 minutos para que os contratantes façam o que bem entender, mas que antes e depois disso não há responsabilidade alguma. Tudo vai na toada que ele imagina ser a ideal, até que sua vizinha Irene (Carey Mulligan de “Educação”) atravessa junto com o filho a cem por hora na sua frente.

No roteiro de Hossein Amini baseado em livro de James Sallis existe uma ânsia, um leve desespero embutido em cada ação. Desde o personagem principal ao qual não é apresentada sua origem ou ideias, passando pelo marido de Irene que sai da prisão repleto de dívidas para pagar (Oscar Isaacs) e chegando até a dupla de mafiosos (Albert Books e Ron Perlman) que vê seu cômodo castelinho de cartas se desmanchar perante decisões pouco sábias.

Enxertado com doses suficientes de violência, “Drive” tem na narrativa silenciosa, aquilo que pode-se classificar como um diferencial em conjunto com ótimas cenas e uma trilha sonora melancólica e eficiente. O resgate e proteção que o protagonista tenta repassar para aqueles que assim deseja, são calibradas com um sentido quase inexplicável de fatalidade e o transforma, com sua jaqueta indefectível de escorpião, em uma figura emblemática desse atual (insípido) cinema.

Nota: 9,0

Assista ao trailer: