Uma ação (ou a ausência dela)
pode desencadear uma série de outros eventos. Esses eventos, mesmo não tendo relação
direta com o fato principal, são filhos bastardos com poder suficiente para
interferir de modo decisivo na vida dos envolvidos. Desconsiderando a conversa
fiada que tal afirmativa pode levar, como também ponderações sobre teorias
clichês, carmas ou versos sobre o destino, é baseado nesse primeiro
entendimento que “Onze”, livro do britânico Mark Watson, se desenvolve.
Originalmente publicado em 2010
ganhou uma edição nacional no ano passado pela Rai Editora, com 248 páginas e
tradução de Alexandre Soares Silva. Quarto livro desse comediante, apresentador
de tevê e radialista inglês (e primeiro com edição nacional), “Onze” é uma obra
que de ínicio levanta muitas suspeitas de onde pretende chegar e principalmente
de que maneira utilizará uma fórmula, que em certo ponto, já poderia ser
considerada desgastada (vide os filmes do mexicano Alejandro Iñarritu).
Surpreendentemente não é o que
vemos. A propagação da teia que amarra os onze personagens que dão nome ao
livro é planejada minuciosamente e captura o leitor capítulo a capítulo. Com um
personagem mais forte que utiliza para guiar a trama, mas também desprender a
ação que irá abranger a todos, Mark Watson preenche os espaços com bons diálogos
e piadas bem feitas, que se analisadas mais friamente servem somente para
aplacar todas as desilusões e desânimos que dão o tom da narrativa.
Esse personagem central é Xavier
Ireland, um radialista que conseguiu transformar o horário da meia noite às quatro
da manhã, em algo interessante. O foco do programa são os indivíduos que
precisam de desafogo durante a madrugada londrina, seja por questões de
trabalho, insônia ou simplesmente solidão e tristeza. Com conselhos para esses
problemas, Xavier esconde os seus próprios que o fizeram mudar da Austrália
cinco anos atrás e que agora se encontram soterrados em um homem diferente.
Ao lado de Xavier estão o
ajudante gago e fracassado Murray, os vizinhos que ele não se preocupa tanto e
uma mulher que entra ao acaso na sua vida, fazendo retornar os temores do
passado. Suas ações interferem, sem que ele saiba, na vida de várias pessoas,
indo de um jovem estudante obeso a uma psiquiatra enojada com o trabalho. E são
essas ações que o autor costura com avidez e melancolia, construindo uma obra
de colisão, reencontro e esperança que deixa o coração preso e apertado em uma
pequena jaula.
Nota: 8,0
Site do autor: http://www.markwatsonthecomedian.com
Twitter: http://twitter.com/watsoncomedian
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