O cinema é uma terra fértil para
que os chamados anti-heróis se apresentem. São inúmeros os casos desse tipo,
que em menor ou maior escala vão desde o Michel Poiccard de “Acossado” até o
Travis Bickle de “Taxi Driver” e desembarca mais recentemente também nas
adaptações dos quadrinhos como o Rorschach de “Watchmen”. Em “Drive”, filme do diretor dinamarquês
Nicolas Winding Refn, mais um desses casos ganha destaque.
Esse recente caso é interpretado
por Ryan Gosling (“Namorados Para Sempre”) em uma atuação sóbria e franca, pinçada
por poucas palavras e quase sem nenhuma cor preenchendo espaços. O personagem
que não ganha nome em momento algum vive em Hollywood se dividindo entre o
trabalho de dublê em filmes modestos e as tarefas de ajudante em uma oficina,
de propriedade do seu “agente” Shannon (Bryan Cranston de “Pequena Miss
Sunshine”).
Entre um trabalho e outro, o
motorista faz bicos servindo a qualquer tipo de causa (geralmente ilegais) que
atendam seus requisitos, que tem como destaque a disponibilização de 5 minutos
para que os contratantes façam o que bem entender, mas que antes e depois disso
não há responsabilidade alguma. Tudo vai na toada que ele imagina ser a ideal,
até que sua vizinha Irene (Carey Mulligan de “Educação”) atravessa junto com o
filho a cem por hora na sua frente.
No roteiro de Hossein Amini
baseado em livro de James Sallis existe uma ânsia, um leve desespero embutido
em cada ação. Desde o personagem principal ao qual não é apresentada sua origem
ou ideias, passando pelo marido de Irene que sai da prisão repleto de dívidas
para pagar (Oscar Isaacs) e chegando até a dupla de mafiosos (Albert Books e Ron
Perlman) que vê seu cômodo castelinho de cartas se desmanchar perante decisões
pouco sábias.
Enxertado com doses suficientes
de violência, “Drive” tem na narrativa
silenciosa, aquilo que pode-se classificar como um diferencial em conjunto com ótimas
cenas e uma trilha sonora melancólica e eficiente. O resgate e proteção que o
protagonista tenta repassar para aqueles que assim deseja, são calibradas com
um sentido quase inexplicável de fatalidade e o transforma, com sua jaqueta indefectível
de escorpião, em uma figura emblemática desse atual (insípido) cinema.
Nota: 9,0
Assista ao trailer:
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