terça-feira, 24 de outubro de 2017

Quadrinhos: "Repeteco", "Thanos: Relatividade Infinita" e "Asa Noturna - Volume 1"


Depois do sucesso estrondoso de “Scott Pilgrim Contra o Mundo” com a união de diversos estilos e linguagens nos volumes que viraram filme em 2010, a expectativa sobre o que Bryan Lee O’Malley aprontaria depois era grande. “Repeteco” (Seconds, no original) foi publicada nos EUA em 2014 e no final de 2016 chegou ao Brasil pelo selo Quadrinhos na Cia. da Companhia das Letras com 336 páginas e tradução de Érico Assis. A protagonista é Katie, chef de cozinha que depois de ir bem com o primeiro restaurante parte para outro, mas cheia de dúvidas e receios. Quando as coisas começam a sair do eixo tanto no trabalho quanto na vida pessoal, o desespero invade e de súbito ele é suplantado por uma estranha visita. A partir daí, O’Malley elabora uma história bem ao seu estilo, com humor visual e no texto, a fim de esconder os anseios (retrato de uma geração) de alguém que cresceu e não lida muito bem com isso. No final, apesar de agradar, fica faltando alguma coisa, aquele algo mais que o trabalho anterior tinha de sobra.

Nota: 6,0


Leia um trecho direto do site da editora, aqui.


“Thanos: Relatividade Infinita” é o segundo tomo da mais recente trilogia cósmica comandada pelo mestre Jim Starlin para a Marvel dentro da linha OGN (Original Graphic Novels) onde a cronologia normal é um pouco desprezada em prol de histórias fechadas e com certa liberdade criativa. Sucedendo o início publicado em “Thanos: Revelação Infinita” novamente coube a Starlin o roteiro e os desenhos deixando a arte-final para Andy Smith e as cores com Frank D’Armata. Com lançamento pela Panini, capa dura e 116 páginas retoma a trama do ponto onde parou anteriormente e mostra Thanos na caça de entender a força estanha que sente pelo universo apresentando como contraponto um Aniquilador reformado e muito mais poderoso do que nunca tentando controlar essa força misteriosa. Novamente o cardápio estelar da editora se faz completamente presente com os Guardiões da Galáxia, por exemplo, além do adendo do sempre ácido Pip, o Troll e de um ainda confuso e poderoso Adam Warlock. Com a ótima arte de costume respaldada nas cenas de ação, melhora um pouco em relação ao livro anterior apesar do mais do mesmo.

Nota: 6,5

Sobre o primeiro capítulo da trilogia no blog, aqui


“Asa Noturna – Volume 1”, contraria a famosa assertiva do Barão de Itararé que diz: de onde menos se espera é que não sai nada mesmo. O encadernado da Panini de 164 páginas reúne as edições originais de “Nigthwiming” de 1 a 4 e de 7 a 8 publicadas nos EUA dentro da fase do renascimento e é uma grata surpresa. DicK Grayson que foi o primeiro Robin, envergou por um tempo os trajes do Batman e ultimamente andava dando uma de superespião, volta para os trajes do Asa Noturna com grande independência do mentor decidindo os próprios rumos que lhe levam para campos internacionais atrás da Corte das Corujas. Com roteiro de Tim Seeley (Batman Eterno), arte de Javier Fernández e cores do hábil Chris Sotomayor temos uma aventura clássica, com momentos de detetive, inclusão de um personagem em contraste com os ideais do protagonista - mas que esconde mais do que mostra - e um romance tentando se estabelecer ao fundo. Uma hq que apesar do deslize melodramático do final, ostenta algumas das melhores coisas que pode-se ver em uma revista de super-herói.

Nota: 7,0



segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Quadrinhos: "Cosmogonias", "O Guia do Pai Sem Noção" e "Condado de Essex - Completo"


Cadu Simões é paulista da cidade de Osasco. Produz quadrinhos já tem um bom tempo e no ano passado se aventurou em uma campanha de financiamento coletivo para reunir em uma única revista algumas das histórias já feitas no decorrer desses anos. O financiamento obteve êxito e “Cosmogonias” foi lançado no início de 2017 contendo cinco histórias em 30 páginas. É uma edição curtinha, mas que apresenta bem o autor para quem não o conhece ainda com as tramas tendo o bom humor e a criação de mundos e de seres como alicerces principais. Os artistas que desenham essas histórias, cada um ao seu estilo próprio, contribuem para o bom funcionamento da compilação com maior destaque para Jazz em “Cosmogonia” e Camila Torrano em “Onde Estão os Tatus-Bolinha?”. O autor está com projetos de uma aventura maior em andamento e pelo que foi “Cosmogonias” deixa uma boa expectativa no ar.

Saiba mais em seu site: http://cadusimoes.com

Nota: 6,0


As aventuras de Guy Delisle na China, Coréia do Norte e Myanmar renderam álbuns como “Shenzhen”, “Pyongyang” e “Crônicas Birmanesas”, onde de maneira bem humorada ilustrava sua estadia nesses países distintos da terra natal (Canadá), como também aproveitava para retratar sucintamente o modo de vida da população onde o governo infere diretamente na vida de cada um, na maioria das vezes com resultados ruins. Em 2017 a Zarabatana Books coloca outra obra do autor no mercado nacional, chamada “O Guia do Pai Sem Noção” com 192 páginas em preto e branco e formato pequenino (14x20cm). Nesse novo projeto que já está no terceiro volume na França e aqui estreia, Delisle dá uma relaxada geral nos temas mais densos e conta somente passagens engraçadas e inusitadas no trato e convivência com os dois filhos, Louis e Alice. Divertido e familiar em maior escala, serve bem para horas em que a leveza é suficiente.


Nota: 6,0


Jeff Lemire é dos nomes mais representativos dos quadrinhos atuais. Além de obras pessoais poderosas como “Sweet Tooth” e “O Soldador Subaquático” é responsável por títulos da Marvel como “O Velho Logan” e “X-Men”, que mesmo oscilando vez ou outra carregam seu toque. Porém, seu melhor trabalho remonta a estreia entre 2008 e 2009 quando os três capítulos que formam “Condado de Essex” foram lançados. É essa obra que podemos conhecer agora em edição caprichada da editora Mino com 512 páginas e vários extras. Em preto e branco constrói um pequeno épico sobre uma determinada região do Canadá e usa de lembranças para construir personagens fascinantes que logo caem no gosto do leitor. Com lirismo e boa dose de drama elabora uma trama que atravessa gerações para versar sobre dor, arrependimentos e algumas alegrias, sem nunca esquecer a finitude da vida. “Condado de Essex – Completo” é daquelas obras que tornam os quadrinhos algo sublime.

Nota: 10,0


- Mais sobre Jeff Lemire no blog, aqui



domingo, 22 de outubro de 2017

Quadrinhos: "Novo Super-Man - Volume 1", "A Realeza - Mestres da Guerra” e “Wytches”


Com o bonito e sutil “O Chinês Americano”, Gene Luen Yang ganhou prêmios (como o Eisner) e elogios onde a obra foi publicada. Coube a ele elaborar o roteiro do Superman chinês, projeto da DC voltado diretamente para o desejado mercado do país. O resultado disso podemos conferir em “Novo Super-Man – Volume 1” com 140 páginas que reúne as seis primeiras edições lançadas originalmente entre setembro de 2016 e fevereiro de 2017. Com a arte de Viktor Bogdanovic (Batman: Arkham Knight) trata-se de uma história de origem, onde o jovem arruaceiro Kong Kenan entra em um projeto secreto no qual ganha os poderes do homem de aço, como também passa a fazer parte de uma versão chinesa da Liga da Justiça. O roteiro construído por Luen Yang apresenta bom humor e pelo tom jovial conquistou o público adolescente, além, é lógico, do mercado que a DC visava desde o início. Contudo em termos gerais, a trama não apresenta nenhum elemento de destaque ou qualquer outra qualidade. É leitura rápida, sem muita inspiração e que serve somente para passar o tempo em dias com poucas opções. Caberá ao tempo mostrar se esse novo Superman será algo mais que isso.

Nota: 3,0


Pessoas com superpoderes já tiveram abordagens diversas dentro dos quadrinhos. Centenas de facetas já foram exploradas em todos esses anos, contudo a dupla Rob Williams (roteiro) e Simon Coleby (arte) criou algo dentro desse cenário com uma leve diferença. “A Realeza - Mestres da Guerra” que a Panini publica agora no Brasil em um encadernado de 148 páginas, compila as edições de 1 a 6 da minissérie do selo Vertigo da DC. Ambientada na segunda guerra mundial e usando esta como pano de fundo histórico mostra as conversas entre as grandes nações e como elas se envolveram no conflito partindo da ação de um príncipe britânico. Na história todas as famílias reais do mundo dispõem em suas fileiras de membros com os mais diversos poderes, o que justifica o domínio dessas casas em seus países. Quando o pacto de não envolvimento dos poderes na guerra é interrompido pela já citada ação do príncipe, a guerra se torna muito mais sangrenta do que poderia ser e envereda por caminhos inesperados. Com tons escuros ressaltados pelas cores fortes de J.D Mettler temos uma história de heroísmo, traição, conspiração e nobreza, que agrada em cheio a quem gosta de fatos históricos.

Nota: 7,0


“Wytches” reúne um timaço. Roteiro de Scott Snyder (Batman), arte de Jock (Os Perdedores) e cores de Matt Hollingsworth (Preacher) em um trabalho que começou a ser publicado sem pretensão de conquistar muitos fãs e acabou tendo uma repercussão bem maior do que fora imaginado. A Darkside Books dentro do selo especial dedicado aos quadrinhos que criou, publica no Brasil a obra pela primeira vez em uma caprichadíssima edição de capa dura, com 192 páginas, tradução de Érico Assis e diversos extras. A compilação apresenta ao público brazuca as seis primeiras edições de uma história que tem o terror como condutor em uma versão de bruxas radicalmente diferente daquela conhecida. Gira em torno da família Rook que se muda para uma pequenina cidade do estado de New Hampshire nos EUA para escapar de acontecimentos estranhos, o que de nada adianta, pois na floresta em volta da cidade há um mal secular que se retroalimenta de medo e covardia. O roteiro conduzido por Snyder é preciso e direto o que dá espaço para a arte e as cores brilharem em um processo de criação com resultado final esmagador. “Wytches” é daqueles quadrinhos que fogem do convencional, mas sem ir ao experimentalismo total mostram poder e apelo de conquista e envolvimento.

Nota: 8,5



segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Literatura: "O Triturador" e "Belas Maldições"


Finn Maguire tem 17 anos. É disléxico, tomou algumas decisões equivocadas na vida e trabalha em uma unidade dessas de fast-food como atendente. Não há muita esperança de melhora pela frente, a verdade é essa. Mora com o pai, um ator aposentado e pretenso roteirista que não consegue finalizar nada, com quem tem um relacionamento bom e amoroso. Ao chegar em casa em um dia aparentemente como qualquer outro encontra o pai na sala em meio a uma poça de sangue. E então tudo muda. Com essas diretrizes iniciais é que se edifica “O Triturador” (Crusher, no original), livro publicado esse ano no Brasil pela editora Bertrand Brasil, com 320 páginas e tradução de Ronaldo Passarinho. Lançado lá fora em 2012 é o primeiro trabalho do norte-irlandês Niall Leonard a chegar aqui. Roteirista de televisão e cinema usa dessa experiência para deixar a obra com ritmo em capítulos curtos que tem como principal objetivo não deixar o leitor se cansar ou se aventurar em discussões mais elaboradas. A partir do assassinato do pai, Finn Maguire se mostra disposto a achar as razões e os responsáveis. Inteligente e longe de ser um santinho, se aventura por uma Londres menos efervescente e conta com um golpe de sorte para cair exatamente onde pretendia estar. Entra então em uma gangorra de emoções que lhe afetarão de maneira bem delicada com o retorno de familiares sumidos e um romance cheio de questões obscuras batendo na porta. “O Triturador” tem como grande vantagem ser lido rapidamente, com trama ágil e eficaz no suspense simples que expõe. No entanto, não difere em nada de centenas de outras publicações do mesmo estilo, não apresenta nada que o torne especial se consolidando na típica história que depois de uns dias será esquecida completamente por quem leu.

P.S:  Como curiosidade o autor é esposo da escritora E. L. James de “Cinquenta Tons de Cinza”.

Nota: 5,0

Leia um trecho no site da editora, aqui


Um dos livros mais bacanas do Neil Gaiman ganhou reedição revisada nacional esse ano. “Belas Maldições” (Good Omens, no original) foi escrito em parceria com o já falecido Terry Pratchett e exibe 350 páginas nesta nova edição da editora Bertrand Brasil com tradução de Fábio Fernandes. A obra virará série de tevê em 2018 e contará com David Tennant e Michael Sheen no elenco vivendo os protagonistas: o demônio Crowley e o anjo Aziraphale. Na trama, o fim do mundo está próximo, o apocalipse final já é daqui a alguns dias. Tanto o anjo quanto o demônio sabiam que um dia isso acontecer, que a contenda final entre bem e mal chegaria, mas eles não querem nada disso pois se habituaram a vida que levam e aos prazeres que tem na vida terrena. Por estarem a tanto tempo em solo defendendo os interesses de cada lado os dois acabaram por estabelecer uma relação de respeito, consideração e até mesmo amizade. Por isso se unem para impedir o anticristo de provocar o derradeiro ato. Um detalhe: o anticristo tem somente 11 anos, não sabe disso e foi criado na família errada. Nessa aventura contra o tempo recheada com muito bom humor, acidez, sátiras e críticas a tudo que é coisa, os autores inserem personagens coadjuvantes tão interessantes quanto os principais como o caçador de bruxas Newton Pulsifer, o sargento Shadwell e a jovem Anathema Device, descendente de uma antiga profeta da qual vive recitando passagens oriundas de um velho livro. Destaque também para os quatro cavaleiros do apocalipse e suas representações. A parceria de Gaiman e Pratchett em “Belas Maldições” publicada pela primeira vez em 1990 na Inglaterra ainda diverte bastante, contudo, algumas das piadas perderam o sentido com o decorrer do tempo e não funcionam mais tão bem. Mesmo assim é leitura bem recomendável.

Nota: 7,5

Leia um trecho no site da editora, aqui

sábado, 7 de outubro de 2017

Quadrinhos - Resenhas Curtas: Titãs, Finda-Cosmos, Capitão Feio e Projeto Manhattan



TITÃS – VOLUME 1

Encadernado lançado pela Panini com 164 páginas e capa cartonada inclui as primeiras edições do grupo dentro do “Renascimento” da DC iniciado no ano passado. Com Dan Abnett no comando do roteiro e arte de Brett Boot apresenta como principal chamariz o retorno do flash Wally West ao universo. Nesse retorno a missão principal é fazer com que todos lembrem dele, como da própria equipe e da relação de amizade existente. Aliás, a amizade entre os membros é o condutor da trama e faz superar as adversidades que surgem. História bem fraca que vale somente pela volta do Wally West mesmo.
Nota: 2,0

FINDA - COSMOS

O Bananazebra é um coletivo de quadrinhos formado em Ribeirão Preto no estado de São Paulo já com algumas revistas concebidas. “Finda-Cosmos” é uma delas e ganhou edição agora em 2017 depois de uma campanha de financiamento coletivo ano passado. Com roteiro de Nilton “Kuresto”, arte de Guilherme Nakashima, arte-final de Felipe Sato e cores de Guilherme “Inky”, as 40 páginas conta a história de detetives bem peculiares que trabalham em cima de um roubo ocorrido. Praticamente ambientada em um bar essa ficção científica diverte bem, sem maiores pretensões e tem como maior destaque os personagens concebidos e suas referências. Vale conferir.
Nota: 6,0

CAPITÃO FEIO - IDENTIDADE

O Capitão Feio é o único vilão permanente dentro da Turma da Mônica, criação-mor de Mauricio de Sousa. E é ele que estreia mais uma edição do projeto Graphic MSP, em trabalho dos irmãos paranaenses Magno e Marcelo Costa (de “Matinê”), com 98 páginas e lançamento da Panini. Como de costume dentro do projeto o personagem é reinventado sem perder as origens. Na trama, vemos uma espécie de história de origem, mostrando que às vezes um vilão começa o caminho por ser mal compreendido. Com boa ação e essa pegada de aceitação por ser diferente, a hq é mais um bom trabalho no selo.
Nota: 6,5

PROJETO MANHATTAN – VOLUME 5

A Devir publicou em junho desse ano outro volume de “Projeto Manhattan”, com 152 páginas e que compreende as edições originais 21 a 25.  A série criada por Jonathan Hickman na história (Guerras Secretas) e Nick Pitarra na arte, parte da premissa que o projeto que empresta o nome ao título era uma fachada para ambições maiores como a ida ao espaço atrás de espécies alienígenas entre outras coisas fantásticas. Loucura pouca é bobagem e tudo segue deliciosamente maluco nesse volume, com novas figuras históricas entrando no meio. Com as excelentes cores de Jordie Bellaire continua como uma das coisas mais interessantes publicadas no país.
Nota: 8,5