terça-feira, 20 de novembro de 2018

Quadrinhos: "Os Defensores - Os Diamantes São Eternos", "Starlight - O Retorno de Duke McQueen", "O Outro Lado da Bola" e "Teocrasília"

 

O encadernado “Os Defensores - Os Diamantes são eternos” que a Panini Comics publica agora compila as edições de 1 a 5 lançadas nos EUA em 2017. Conta com roteiro do Brian Michael Bendis, arte do David Marquez e cores do Justin Ponsor e foi concebido para aproveitar a série da Netflix que carrega o mesmo nome. Na trama, Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e Demolidor juntam forças para derrotar o vilão Cascavel que ressurge poderoso e cheio de artimanhas. Em meio a essa tarefa nada fácil como o início logo atesta, o quarteto ainda tem que se preocupar com outras situações como o Justiceiro no seu encalço. Utilizando parte do rol de personagens urbanos existentes em Nova York, Bendis concebe uma aventura divertida, mas completamente esquecível logo em seguida e bem abaixo do que ele é capaz.

Nota: 5,0

O que fazer quando os maiores feitos ficaram em um passado distante e praticamente a única coisa que resta é se arrastar sobrevivendo? Em “Starlight: O Retorno de Duke McQueen” é isso que temos ao fundo da história à la Flash Gordon desenvolvida por Mark Millar com arte de Goran Parlov que a Panini Books lançou no final de 2017 com capa dura e 168 páginas. Originalmente publicada nos EUA em 2014 pela Image Comics é mais um dos projetos que levam o selo Millarworld e narra a história de um veterano que há 40 anos salvou todo um planeta de um ditador cruel, mas na Terra só a falecida esposa acreditou. Até os próprios filhos achavam loucura. Quando uma espaçonave para no jardim e o chama novamente às armas nesse outro planeta, Duke revive e parte em uma nostálgica aventura.

Nota: 6,0

Cris joga futebol em um dos maiores clubes do Brasil. É o camisa 10, o craque, o cara. Tem vida de popstar e presença constante na mídia. Mas, Cris guarda um segredo: ele é homossexual. Algo que no mundo extremamente machista da bola é mais que um pecado, chega a ser um crime. Quando um ex-namorado é assassinado a pressão explode e o faz revelar na televisão que é gay, pedindo justiça. Com roteiro de Alvaro Campos e Alê Braga e arte em preto e branco de Jean Diaz, “O Outro Lado Da Bola” da Editora Record é daqueles trabalhos que já nascem como fundamentais. Nas 216 páginas o trio mostra todo o preconceito enraizado na cultura do esporte mais amado do país, como aproveita para tratar sobre a sujeira e corrupção dos bastidores e outros temas tão fortes quanto esses.

Nota: 9,0

Imagine o nosso país daqui a alguns poucos anos governado por um regime teocrático, com um grupo de religiosos fundamentalistas na presidência ditando normas e leis e punindo todos que quiserem ter algum tipo de liberdade? Hoje isso nem parece tão distante assim e é o que torna “Teocrasília” do Denis Mello mais assustador ainda. Utilizando de financiamento coletivo e com publicação final pela editora Caligari, as 144 páginas dessa história trazem uma distopia plenamente possível pelos caminhos que o país toma. O autor mergulha fundo no trabalho e desde 2017 gera obras auxiliares para dar mais expansão a esse universo. Mescla fatos reais com imaginação futura em um traço que consegue ir do suave ao feroz de acordo com o que roteiro pede. Trabalho espetacular que abre mais os olhos para o cenário que nos espreita logo ali depois da esquina.


Nota: 9,0



segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Literatura: "O Colecionador", "Era Uma Vez Uma Mulher Que Tentou Matar o Bebê da Vizinha" e "O Sol Na Cabeça"


Publicado originalmente em 1963, “O Colecionador” (The Collector, no original) é um daqueles livros que mesmo depois de tanto tempo ainda exala frescor e perturbação. Estreia do falecido escritor inglês John Fowles (1926-2005) recebeu elogios mil na época, vendeu um bocado depois, virou filme, etc. e tal. Há alguns anos fora de catálogo volta em 2018 pelas mãos da Darkside Books em edição primorosa com 355 páginas, capa dura, tradução de Antônio Bibau e alguns extras saborosos como prefácio de Stephen King, projeto gráfico luxuoso e explicação de referências ao final. Agora é possível se deparar novamente com o confronto entre Frederick Clegg e Miranda Gray, sequestrador e sequestrada, o louco e sua loucura, o colecionador e a presa. Enquanto trava esse embate nada justo, o autor explora as mentes dos personagens em um jogo tenso e aproveita-se disso para ali na margem e sublinhas se estender em temas ainda incipientes de discussão ou em outros universais como o direito a ser livre.

Nota: 7,0

Liudmila Petruchévskaia nasceu em 1938 em Moscou. Foi criança na segunda guerra e cresceu na guerra fria e tudo que isso acarretava morando na URSS no que concerne a liberdade individual. Só começou a ser publicada a passos de cágado na segunda metade dos anos 80, contudo sofreu censura até o final dos 90. A autora que veio ao Brasil esse ano para a Flip foi publicada pela primeira vez por aqui pela Companhia das Letras em “Era Uma Vez Uma Mulher Que Tentou Matar o Bebê da Vizinha” que traz o subtítulo “Histórias e Contos de Fadas Assustadores”. Com 206 páginas e tradução de Cecília Rosas temos 21 contos divididos em quatro blocos. Neles, Liudmila conta histórias nada comuns com tons sobrenaturais para dar vazão a ideias nascidas dentro de uma vivência nervosa. Ainda que o amor apareça quase que constantemente ele não salva e contos como “A Vingança” e “Higiene” são tão assustadores quanto poderosos se sobressaindo em um fascinante conjunto.


Nota: 7,5

“O Sol Na Cabeça” do carioca Geovani Martins fez barulho nesse ano. O jovem autor nascido em 1991 recebeu elogios de nomes conceituados, foi tema de várias matérias, esteve na Flip e viu a estreia alcançar patamares elevados (está na segunda reimpressão e será publicado no exterior) além de, logicamente, inserir o cenário de expectativa para o futuro. A obra apresenta 13 contos em 120 páginas, saiu pela Companhia das Letras e é praticamente impossível sair impune dela. Seja pela linguagem contida, pelo ritmo e tensão sempre presentes ou pela veracidade que os contos exalam, “O Sol Na Cabeça” é vigoroso, um chute forte nas partes baixas. Sem definir nitidamente heróis ou vilões (apesar de deixar claro) destroça a desigualdade e racismo presentes no Rio e em tantas outras cidades do país. Contos como “Rolézim”, “Estação Padre Miguel” e “Sextou” ou mesmo os mais líricos “O Cego” e “O Mistério da Vila” nos mostram um autor afiado e cortante que deixa gosto de quero mais.


Nota: 8,0