domingo, 31 de janeiro de 2010

Jorge Ben Jor - Armazém 4 Píer Mauá (RJ) - 30.01.2010

O projeto Noites Cariocas se aliou ao Sesc do Rio de Janeiro nessa temporada de 2010 e diversificou sua área de atuação. Dessa vez, além de shows, passa por cinema, teatro e circo. O evento está acontecendo no Píer Mauá, dentro da Zona Portuária, um local bonito e prazeroso de se estar. Bastante amplo, o Armazém 4 tem uma vista privilegiada da cidade, o que acaba servindo como um diferencial nessa reunião de diversão e alegria dentro do verão.
Na esfera musical a programação do ano inclui entre outros, Lulu Santos, Paralamas do Sucesso, Nando Reis e Frejat (ok, a escalação podia ser mais ousada, eu sei), além do mestre Jorge Ben Jor, o show ao qual me dispus a comparecer neste último sábado de janeiro, dia 29. O deslocamento para o centro da cidade até chegar ao local, foi tranqüilo e na entrada o movimento estava calmo, sem nenhuma fila ou tumulto para perturbar a paz.
O espaço amplo do Armazém 4 tem um anfiteatro onde os shows acontecem. Fora isso, tem boate aberta e vários lounges bar. Bem bacana. Por volta da meia noite e meia, a banda do Zé Pretinho entra no palco seguida de Jorge Ben Jor. O anfiteatro lota rapidamente, por mais que o complexo de um modo geral não esteja cheio. Com uma versão resumida da banda do Zé Pretinho (apenas 5 integrantes e sempre de branco), o mestre inicia a festa.
Assistir Jorge Ben Jor ao vivo é sempre divertido. A coleção de hits e o seu suingue mágico não deixam ninguém parado. Crianças, adolescentes, adultos, pais, tios e avós são encontrados pela platéia. Ao meu lado um menino de uns 10 anos dançou a noite toda ao lado de uma senhora com mais de 40 que devia ser da família. Engatando sucessos como “País Tropical”, “Fio Maravilha”, “W Brasil” e “Engenho de Dentro”, a aura fica lá em cima.
Outras canções menos conhecidas aparecem, além de ótimas versões para “Os Alquimistas Estão Chegando” e “Menina Mulher da Pele Preta”. Jorge emociona em uma versão sweet soul de “Do Leme Ao Pontal” do amigo Tim Maia e incendeia tudo mais ainda quando com a distorção da guitarra no talo, invoca “Umbabarauma”. Aliás, a guitarra dele esteve alta e distorcida em várias passagens, criando um efeito sonoro interessante e até certo ponto pesado.
Depois de pedir cinco minutos de descanso, ele voltou para um bis que mais pareceu um segundo tempo. Foi logo avisando que ia atender aos pedidos e emendou mais clássicos como “Balança Pema”, “Bebete Vãobora” e “Ive Brussel”. A apresentação ultrapassou as duas horas e fez todo mundo dançar, cantar e sorrir. Mesmo não tendo a criatividade de outrora, Jorge Ben Jor continua com um dos shows mais bacanas do país. Diversão garantida.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

The Cranberries - Citibank Hall (RJ) - 28.01.2010

Na frente do The Cranberries a irlandesa Dolores O’Riordan conquistou uma legião numerosa de fãs no Brasil nos anos 90. Com músicas que viraram sucesso e tocaram bastante, a banda vendeu muito tanto aqui como mundo afora. Dos seus discos, sempre pode-se destacar duas ou três boas canções, sendo que sobressai-se na discografia o ótimo “To The Faithful Departed” de 1996, com uma visão mais política e mais pessimista. A banda parou com as atividades em 2003 e voltou em 2009 para uma nova turnê que desembarcou no Brasil agora.
Pela primeira vez no país, o grupo começou a viagem no verão escaldante do Rio de Janeiro. O lugar escolhido para o show foi o agradável (apesar de distante) Citibank Hall na Barra da Tijuca, dentro do complexo de um Shopping Center. Com a formação original atuando, que conta além de Dolores com Noel Hogan (guitarra), Mike Hogan (baixo) e Fergal Lawler (bateria) (mais um convidado, Denny de Marchi que se revezava entre o teclado e outra guitarra), a banda fez uma apresentação no máximo correta, mesmo tendo emocionado o público presente.
No meio do verão de 40 graus da cidade maravilhosa, Dolores subiu ao palco toda vestida de preto com uma camisa que trazia asas de anjos na costa e dava suporte para outra camiseta embaixo (engraçado é que em São Paulo ela se apresentou de camiseta. Vai entender). Começando com a fria “How” e fechando o bis com a forte “Dreams”, o Cranberries atravessou todos seus hits como “Linger”, “Free To Decide”, “Ode To My Family”, “Zombie”, “Salvation” (o melhor momento) e “Promises”, arrancando suspiros e coros emocionados em boa parte deles.
Mesmo com uma Dolores ensandecida no palco, pulando e correndo freneticamente a sensação foi de que faltou um algo mais. A voz da cantora continua potente e sendo a guia que conduz o resto, mas o show foi relativamente curto, em torno de uma hora e meia, para a primeira apresentação da banda no país. A própria Dolores saia constantemente do palco, o que não contribuia para o espetáculo em si. E ainda o relacionamento era frio entre os integrantes, a comunicação inexistia e parecia que tudo era apenas o cumprimento de uma obrigação.
O público do Citibank Hall, que incluía na sua maioria pessoas na casa de 30 anos, saiu feliz, com uns até afirmando ter visto o show da vida. Entendo, pois muitos ali escutavam a trilha sonora da sua juventude e talvez dos seus amores, mas honestamente e claro respeitando a vida de cada um, isso passou longe de acontecer. Mesmo com a entrega de Dolores, o Cranberries promoveu um espetáculo no seu geral mecânico e sem grandes surpresas. Correto, bem executado e com alguns momentos de brilho, mas bem longe do que poderia se esperar no ínicio.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

"Amor Sem Escalas" - 2010

Um filme com o nome de “Amor Sem Escalas” e um pôster com George Clooney mais duas mulheres, dá logo a impressão de uma comédia romântica trivial. Culpa da tradução sem sentido. O título original “Up In The Air” dá margem a várias interpretações e sai do filão das comédias românticas. “Amor Sem Escalas” é um filme que trata primordialmente sobre a vida e a forma que se vive. Trata de tempos modernos, onde a solidão se disfarça de várias formas.
O diretor Jason Reitman, responsável por bons filmes como “Obrigado por Fumar” e “Juno”, onde a acidez se entrelaçava com temas difíceis, sem deixar de ser divertido, usa novamente os ingredientes básicos da fórmula e constrói mais um bom trabalho na carreira. “Amor Sem Escalas” se insere em um momento específico dos Estados Unidos, onde a recessão agravada pela chegada da crise mundial toma força e causa desemprego país afora.
É nesse cenário que Ryan Bingham (um ótimo George Clooney) ganha a vida. Ele trabalha para uma empresa que é terceirizada na hora de demissões por outras empresas. Bingham viaja todos os EUA demitindo pessoas que nunca viu e com absoluta frieza, sem se importar com o depois. Particularmente faz isso muito bem. Para fazer seu serviço adotou uma série de medidas para agilizar a vida, já que passa a sua maior parte em aeroportos e hotéis.
Bingham gosta da sua vida. Sem laços mais fortes com ninguém, dá até palestras sobre como não se amarrar a nada. Certo dia em uma das suas viagens, seu chefe pede o retorno a sede da empresa em Omaha. Natalie Keener (Anna Kendrick) é a nova funcionária e vem com um plano drástico. Em vez dos prestadores viajarem o país, as demissões seriam feitas na própria empresa, usando a internet. É lógico que o personagem de Clooney não gosta e tenta mudar o jogo.
Para mostrar a Natalie qual é a realidade do seu serviço, Ryan Bingham parte com ela em uma série de viagens para demissões. Enquanto tenta mostrar o jogo, vai sutilmente se apaixonando por Alex Goran (Vera Farmiga em grande apresentação) com quem mantêm uma relação casual, mas que ganha em corpo quando ele a convida para o casamento da sua irmã, a qual nutre pouco contato e até certo desinteresse. Nesse ponto seu mundo começa mudar.
Em “Amor Sem Escalas”, Jason Reitman faz uma direção cheia de confiança e utiliza muito bem o roteiro e o trabalho dos atores. O único pecado é tentar vender uma redenção para alguns personagens que não tem como viabilizar. No entanto esse pecado é corrigido a tempo e o filme consegue fugir do final pragmático e hollywoodiano. Nos dias de hoje, a impessoalidade é uma grande moeda de troca, o que serve às vezes somente para disfarçar a solidão.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Melhores do Ano Scream & Yell - 2009

Salve, salve minha gente amiga...
O Scream & Yell do chapa Marcelo Costa colocou no ar o seu tradicionalíssimo especial com os melhores do ano. Tive o prazer de participar novamente. Neste ano, foram 68 votantes espalhados entre músicos, jornalistas de sites, revistas e jornais além de blogueiros e colunistas do próprio Scream & Yell.
Dá uma passada lá e confere:
Tambem dá uma conferida voto a voto, pois as listinhas são interessantes e dá para achar algo que tenha passado batido. Tem muita coisa boa espalhada.
A minha listinha pessoal está bem aqui ó: http://screamyell.com.br/site/2010/01/26/melhores-de-2009-adriano-mello-costa-2
Os melhores do ano do Scream & Yell é sempre bacanudo e traz um ótimo panorama do ano que passou. Muita gente boa votando. A lista aqui do Coisapop publico no dia 1º de fevereiro.
Paz Sempre!!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

“All The People...Blur Live in Hyde Park” - Blur - 2009

Nos anos 90 o Blur rivalizava com o Oasis no cenário do rock inglês em busca do título de maior banda do britpop. Enquanto os irmãos Gallagher alcançaram maior sucesso que a banda de Damon Albarn, o Blur construiu uma carreira mais sólida e criativa. Em 2003, já sem o guitarrista Graham Coxon chegou às lojas “Think Thank”, o último trabalho. Depois de um hiato de seis anos com seus integrantes se dedicando a outros projetos, o Blur voltou.
Primeiramente esse reencontro se resumiu a shows e uma nova turnê com a formação original, que conta além de Damon Albarn (vocal e guitarra) e Graham Coxon (guitarra e vocais), com Alex James (baixo) e Dave Rowntree (bateria). “All The People...Blur Live in Hyde Park” marca esse retorno em um disco duplo gravado ao vivo em pleno verão inglês, nos dias 2 e 3 de julho de 2009. Mais de 100.000 pessoas compareceram para uma bela festa.
Nos dois discos o Blur desfila toda a sua maestria em vários sucessos da carreira. A música do grupo funciona muito bem. A abertura do primeiro disco já vem com uma trinca arrebatadora: “She’s So High”, pérola do britpop contida na estréia “Leisure” de 1991, “Girls And Boys”, popzão para o delírio das massas e “Tracy Jacks”, ambas do aclamado “Parklife” de 1994. Obras primas como “Coffe And TV” e “Tender”, encerram com chave de ouro.
O segundo disco, abre com “Country House” do The Great Escape de 1995 e segue por canções mágicas do essencial “Modern Life Is Rubbish” de 1993 como: “Chemical World”, “Sunday Sunday”, “Advert”, “Popscene” e a bela “For Tomorrow”, além de hinos como “Song 2” (e seus “uh-uhs”) do “13” de 1999. “The Universal” é a responsável para fechar o show com emoção e brilhantismo. São 25 canções, mas o público ensandecido grita por mais.
No retorno, o Blur volta com um registro matador ao vivo, se mostrando afiado e ao que tudo indica de bem com a vida. São várias as interações com a platéia. “All The People...Blur Live in Hyde Park” é daqueles discos ao vivo que a gente faria questão de estar presente, pulando e cantando junto. Questão de que quando um hino como “End Of Century” começasse a tocar e o público cantasse em uníssono, sua voz fosse mais uma nesse mar de melodia.
Site Oficial: http://www.blur.co.uk

sábado, 23 de janeiro de 2010

"Invictus" - 2010

Clint Eastwood está se acostumando a entregar uma obra prima a cada novo filme seu. Sorte a nossa. Depois de filmes como “Sobre Meninos e Lobos”, “Menina de Ouro”, “A Conquista da Honra”, “Cartas de Iwo Jima” e “Gran Torino”, chega com mais uma pequena jóia chamada “Invictus”. Ambientado no primeiro ano de Nelson Mandela como presidente da África do Sul, Clint Eastwood emociona e provoca com inegável maestria.
Nelson Mandela foi libertado da prisão de Robben Island em 1990, onde passou 27 anos acusado de terrorismo. A África do Sul viveu anos e anos de Apartheid, um regime que negava aos negros os direitos políticos, sociais e econômicos. Ao sair da prisão com o fim desse regime esdrúxulo, Mandela marchou para unificar um país fragmentado e sem futuro eminente. Em 1994 foi eleito presidente na primeira eleição aberta a todos e governou até 1999.
“Invictus” conta um pouco dessa história, mas se foca no ano de 1995, onde Nelson Mandela tentava unificar uma nação, sem usar de vingança ou rancor guardado no coração. Em determinado momento fala: “O perdão remove o medo, por isso é uma arma tão poderosa”. Nesse ano especificamente, a África do Sul sediava a Copa do Mundo de Rúgbi, esporte preferido pelos brancos que no time nacional do Springboks tinha seu grande orgulho.
Para mostrar que seu governo não seria uma supremacia dos negros, Mandela tenta de todas as formas fazer um país e vê no Rúgbi uma arma poderosa. Convoca o capitão da seleção nacional François Pienaar para ser um aliado nesse processo e ganha sua admiração e confiança. Morgan Freeman está perfeito como Nelson Mandela. Simplesmente incrível. Matt Damon como Pienaar também está ótimo, apesar de parecer um pouco “fraco” para os padrões do esporte.
Baseado no livro de John Carlin, “Invictus” retira seu título do poema de mesmo nome escrito em 1875 pelo britânico William Ernest Henley. Quando estava preso, Mandela se apoiava bastante nesses versos fortes para sobreviver e seguir. Versos como: “eu sou o dono do meu destino, eu sou o capitão da minha alma”. Da mesma forma que o poema o ajudava, ele repassa para François Pienaar, que também o utiliza como motivação e inspiração.
“Invictus” é um filme poderoso, por mais que algumas poucas vezes deslize para agradar o grande público, como na hora em que os jogadores visitam a prisão ou nas cenas em câmera lenta na hora dos jogos (aliás, estes são retratados com uma realidade pungente). Nada que passe nem perto de diminuí-lo. É um filme onde superação, nobreza e igualdade estão presentes com grande força. Impossível não se emocionar. Clint Eastwood conseguiu de novo.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

" A Todo Volume" - 2009

Em 23 de janeiro de 2008 o diretor Davis Guggenheim (“Uma Verdade Inconveniente”) reuniu debaixo do mesmo teto um Deus, um Semideus e um humano com super poderes. Jimmy Page, The Edge e Jack White sentaram em um sofá e junto com suas guitarras, compartilharam histórias, riffs e distorções. “A Todo Volume” reúne de maneira esplendorosa esses artistas, levando o telespectador para uma viagem sobre o mundo da música.
O filme intercala momentos individuais como Jimmy Page em Londres, na casa que o “Led Zeppelin IV” foi gravado, The Edge em Dublin no local onde o U2 gravou “War” ou Jack White no Teneessee ouvindo blues antigos e brincando com suas guitarras imperfeitas. A viagem também passa indiretamente pelas bandas dos músicos, que acabam servindo como ótimas coadjuvantes, com imagens raras e alguns trechos de shows e apresentações.
A diferença entre os três fica bem definida no longa. Jack White ainda é um moleque rebelde que busca inspiração nos anos 30 e 40 e tenta fazer seu som parecer o mais espontâneo e puro possível. The Edge é a cara do U2, uma das maiores bandas que o rock já viu. É o técnico, o químico, o inventor. Ao lado das suas pedaleiras e parafernália eletrônica constrói a sonoridade que fãs do mundo inteiro se acotovelam para ver ao vivo.
Jimmy Page dispensa qualquer comentário. Com dezenas de lendas espalhadas em seu nome, o homem é a guitarra. É o instinto, a habilidade apurada. A guitarra é uma extensão do seu próprio braço. Em determinado momento, ele se levanta e começa a disparar o riff clássico e matador de “Whole Lotta Love”, enquanto Jack White e The Edge exibem sorrisos de admiração e satisfação. Nem empunham suas guitarras, deixam o Deus tocar.
“A Todo Volume” é muito bem dividido, mostra ao telespectador não só a forma que cada um toca sua guitarra, como a maneira que a paixão ocorreu e o reflexo disso em suas próprias bandas. Mesmo que o filme não fosse bom (o que definitivamente não é o caso), só os dois momentos finais valeriam tudo. Um jam ao som de “In My Time Of Dying” do Led Zeppelin e os três ao violão tocando a belíssima “The Weight” da The Band. Emocionante.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"O Macaco Ornamental" - Luís Henrique Pellanda

Não gosto muito de levar em consideração aqueles depoimentos sobre o livro que ficam na contracapa. Na grande maioria das vezes, as afirmações passam bem longe do conteúdo. No entanto, no livro de estréia do curitibano Luís Henrique Pellanda, acabei me rendendo nesse sentido. A contracapa traz observações de Moacyr Scliar, Fabrício Carpinejar e Luiz Ruffato. Os três não poderiam estar errados, acreditei. A aposta se mostrou bem feita.
Luís Henrique Pellanda nasceu em 1973 e entre outras coisas é jornalista, escritor e músico (participou da banda Woyzeck). “O Macaco Ornamental” é seu primeiro livro, lançado em 2009 pela Editora Bertrand Brasil com 192 páginas. Nele apresenta 14 contos, onde demonstra uma narrativa interessante, repleta de bastante energia. Seus contos abrangem as aspirações e dúvidas do ser humano, tendo o amor (sempre ele) como justificativa ou pretensão.
Em contos como o que dá nome ao livro e “Ingratidão”, atinge o leitor como um chute forte nas partes baixas. É como uma canção punk dos anos 70 com menos de 2 minutos repleta de sujeira e letra raivosa. É nesse ponto que se sobressai mais. Suas histórias curtas conseguem arriscar mais do que quando se alonga demais. Em “Caldônia Beach”, o mais longo de todos, roda em círculos e por mais que construa bem a narrativa, não consegue se sobressair.
Outros exemplos se apresentam. Em “Ursa” esbanja violência digna de um roteiro para Tarantino filmar. “Amigo vivo, amigo morto” fica passeando no limiar de um texto romântico, mas é a solidão que toma abruptamente conta no final. Curto, simples e direto. Em “Embaixadores de Xanadu” entra de cabeça no carnaval e nas crenças populares, refletindo bem o papel que estes têm nas vidas das pessoas, às vezes até de modo absurdo.
Em “O Macaco Ornamental”, Luís Henrique Pellanda mostra um olhar diferenciado sobre o ser humano e a forma em que vivemos (ou sobrevivemos). A epígrafe do livro, uma frase de Thomas Mann, extraída de “A Montanha Mágica”, dá bem o tom da obra: “Será que também da festa universal da morte, da perniciosa febre ao nosso redor inflama o céu desta noite chuvosa, surgirá um dia o amor?” “O Macaco Ornamental” faz pensar se surgirá.

domingo, 17 de janeiro de 2010

"O Seminarista" - Rubem Fonseca

Rubem Fonseca está a caminho de completar 85 anos em maio desse ano. Durante sua carreira lançou verdadeiras obras primas e ganhou respeito nacional e internacional. Depois de um certo tempo, ler os livros do autor se tornou tarefa mais fácil, ainda que não menos saborosa. Nos livros mais recentes, percebemos as suas manias e características bem à tona, logo na superfície. “O Seminarista”, lançado ano passado pela Editora Agir, não foge dessa regra.
Em 181 páginas, Rubem Fonseca narra a história de José, um matador profissional que fica cansado de tudo e como tem uma boa grana guardada resolve se aposentar. No meio do caminho dessa transição algumas situações acontecem para dificultar os planos de José, como uma paixão inesperada e a trama em que é adicionado ao tentar sair do seu ramo de trabalho. José, conhecido como “especialista”, precisa mais do que nunca dos seus “talentos” para escapar.
O título do livro refere-se ao fato do personagem principal ter sido seminarista antes de virar matador de aluguel e se reflete em diversas citações de latim e religião no decorrer da história. Em um thriller rápido e rasteiro, o autor preserva temas como a violência, a ironia cortante e o humor meio atravessado, situações pouco comuns e personagens que esbanjam cultura e conhecimento. Pelas ruas do Rio de Janeiro, cria um mosaico de informações ligeiras.
O grande problema de “O Seminarista” é que mesmo sendo divertido e prazeroso esbarra demais na carreira do autor. Comparando com o que já foi feito não passaria de uma pequena nota de rodapé. A própria trama apesar de esperta e repleta de ritmo, escancara seus rumos cedo demais para o leitor. Para quem está acostumado, por exemplo, com as aventuras de Mandrake, o detetive já consagrado pelo autor, as aventuras de José perdem de goleada.
Um ponto interessante do livro é que além de ganhar um site, onde o próprio autor lê uma parte do seu trabalho, o mesmo foi lançado também em versão para o Kindle (leitor de e-books da Amazon.com), sendo precursor nesse sentido. A velha mão de Rubem Fonseca ainda convence em “O Seminarista” e rende bons momentos, mas se analisado friamente, não passa apenas de um lampejo de criatividade deste grande nome da literatura nacional.
Site do livro: http://www.oseminaristaolivro.com.br
Mais Rubem Fonseca, bem aqui.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

"Sherlock Holmes" - 2010

Arthur Conan Doyle foi um escritor britânico que durante sua vida (1859-1930) tratou dos mais variados assuntos, indo de romances a poesias, de obras de não ficção a peças de teatro. No entanto, apesar dessa prolífica carreira ficou conhecido mesmo por ter concebido as histórias de Sherlock Holmes, o detetive presunçoso que ao lado do sempre companheiro Dr. Watson, usava de métodos dedutivos para solucionar casos e mais casos.
A obra famosa de Arthur Conan Doyle ganha uma versão atualizada para as novas gerações através do olhar do diretor Guy Ritchie (“Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” e “Snatch - Porcos e Diamantes”). Mesmo com todos os defeitos e senões que obras assim podem ter, o diretor acerta a mão na maioria do filme. Sherlock Holmes aparece sem a sua tradicional vestimenta e o velho e estiloso charuto é utilizado ocasionalmente algumas vezes.
O grande mérito do filme fica com Robert Downey Jr. no papel principal. O ator casa de maneira brilhante com esse personagem atualizado. Sem deixar a presunção de lado, atua entre o hilário e o magistral. Na concepção de Guy Ritchie, Sherlock Holmes é versado em várias artes marciais, assim como o Dr. Watson (interpretado de modo competente por Jude Law), que sai das sombras das histórias originais e ganha um papel de maior destaque.
Na trama, o detetive se vê no meio de um caso que envolve sacrifício humano e magia negra. O responsável é o Dr. Blackwood (Mark Strong) que desmascarado, acaba por entrar na cadeia para ser enforcado posteriormente. Acontece que ele ressuscita e volta mais forte ainda para concluir seus planos. Holmes precisa de toda a sua astúcia para além de desvendar o caso, sobreviver ao reaparecimento da antiga paixão e ladra Irene Adler (Rachel McAdams).
Ao tirar o Professor Moriarty, o maior inimigo de Holmes nas suas histórias do foco do filme, somente usando sua presença em algumas passagens, Guy Ritchie indica uma continuação. “Sherlock Holmes” é um ótimo exemplo de atualização de personagem “histórico” para os dias atuais feito de maneira inteligente. Não é perfeito, tem alguns problemas com cenas desnecessárias e até mesmo um pouco de ritmo, mas agrada e diverte bem na sua exibição. Já vale, né?

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"Preciosa - Uma História de Esperança" - 2010

“Sofrimento: Dor física ou moral; padecimento, amargura. Desgraça. Sinônimos de Sofrimento: agrura, desconsolação, desgosto, mágoa e pesar.” É isso que se acha quando buscamos o significado da palavra no dicionário. Grande parte desses significados podem ser encontrados na vida de Claireece Precious Jones, personagem central do filme “Preciosa - Uma História de Esperança” do diretor Lee Daniels, que chega ao país neste começo de ano.
O filme é baseado no romance “Push” da escritora Sapphire (pseudônimo de Ramona Lofton) que fez bastante sucesso na segunda metade dos anos 90. O filme causou certo furor lá fora, ganhando prêmios em festivais como o de Sundance. Muito do alarde inicial deve-se pelo fato de Oprah Winfrey ser uma das produtoras executivas, como também pelas participações de Mariah Carey como uma assistente social e Lenny Kravitz como enfermeiro.
Ambientado no bairro americano do Harlem no ano de 1987, “Preciosa” narra a história de uma menina de 16 anos com uma vida extremamente difícil. Além de ser muito obesa, o que por si só já não a transforma na mais popular das pessoas, sofre constante violência da sua mãe (interpretada com grande força por Mo’nique) e das pessoas a sua volta. Aos 16 anos já tem uma filha e está grávida de mais um bebê. O agravante é que o pai deles é o seu próprio pai.
Gabourey Sidibe interpreta Precious de maneira angustiante, quase sufocando o espectador com sua indiferença perante uma vida tão complicada. Uma adolescente que não sabe para onde o mundo está caminhando e só consegue uma pequena dose de alegria quando fantasia para si futuros inimagináveis. Em vários momentos ela dá a impressão de não estar nem aí para as coisas, como atesta várias vezes o seu desejo de morrer.
A vida dela começa a ganhar um pouco mais de luz no final do túnel quando entra em uma escola para alunos específicos, que merecem um acompanhamento mais pessoal. Na sua professora Mrs. Rain (uma cativante Paula Patton) acha um abrigo até então desconhecido por ela. No entanto, quando o futuro parece ganhar uma chance, por menor que seja, novamente Precious se vê atropelada por um caminhão de problemas e dúvidas.
Em “Preciosa”, o diretor Lee Daniels realiza um filme forte e poderoso, que tem dois méritos principais: Primeiro, foge do escapismo barato de redenção para os personagens. Eles são o que são, a vida é assim e tem que seguir em frente . Segundo, mesmo debaixo de tanta lama e desgraça consegue inserir algum humor, ainda que pesado, sem descuidar em nenhum momento daquilo que bem ou mal todo mundo carrega um pouco consigo: Esperança.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

"Eu Sou Legião" - Fabien Nury & John Cassaday

1942. A Alemanha vem moldando a Europa de acordo com as doutrinas de seu líder Adolf Hitler. O nazismo alastra seus tentáculos pelo continente e provoca terror e tristeza onde passa. No entanto, as forças que se opõem ao regime de Hitler continuam movimentando suas forças em várias operações secretas, para coibir essas maldades. É nesse cenário que se insere “Eu Sou Legião”, lançada pela Panini Comics em 2009 com 176 páginas.
Originalmente lançada pela editora francesa Les Humanoïdes Associés, a obra traz o roteiro de Fabian Nury e John Cassaday (da excelente “Planetary”) nos desenhos. As cores também ficam em boas mãos com Laura Depuy, que dá um show em todos os quadrinhos. Com tratamento de luxo dispensado pela Panini Comics, com direito a ótima qualidade do papel e capa dura, “Eu Sou Legião” é mais um dos bons lançamentos que desembarcaram no país em 2009.
A trama é dividida em três tomos: O Fauno Dançarino, Vlad e Os Três Macacos. Unindo história mundial, fantasia e órgãos de inteligência secreta, concebe-se um thriller de suspense bem amarrado e construído, sem entregar muito os pontos antes do final (apesar deste estar desenhado na mente do leitor). No meio da segunda guerra mundial, o nazismo investe em áreas diversas e conta com um projeto onde uma menina romena com poderes especiais é o foco.
Começando na Londres em 1942, com a morte de um ilustre conhecido da sociedade e o repasse da sua mente para outro corpo, Fabien Nury vai tocando sua história sem maiores atropelos ou falhas e até mesmo quando a fantasia, por via da entrada dos vampiros se faz presente, consegue segurar. A arte de John Cassaday é um caso a parte. Continua brilhante. Dá vigor e alterna em tons mais escuros os momentos mais intrigantes apresentados.
“Eu Sou Legião” é um bom exemplo de qualidade nos quadrinhos feitos fora da grande mídia, como também do mercado americano. Mesmo usando de temas bem batidos e usados de maneira constante, como a segunda guerra mundial e vampiros, consegue armar uma trama crível e convincente até certo ponto. A trama é tão boa, que amarra até fatos como a conhecida (e fracassada) Operação Valquíria pelo seu meio. Vale a leitura.

sábado, 9 de janeiro de 2010

"Zumbilândia" - 2010

Filmes de zumbis não são nenhuma novidade no cinema. Já foram explorados em produções caras ou em filmes B feitos na marra e na vontade, mas nunca saem de moda. “Zumbilândia” do diretor Ruben Fleischer é a mais nova produção olhando para essa área. Antes de um filme de terror (na verdade não chega nem a assustar, apesar de algumas cenas de sangue) é uma comédia que usa bem o humor negro para convencer e divertir.
Logo no começo o jovem Columbus (Jesse Einberg) aparece em um Estados Unidos com zumbis espalhados por todos os lados. Sem se preocupar em esclarecer como isso aconteceu mais detalhadamente (o que é um mérito, pois não enche a paciência e nem sai repetindo clichês), ele se preocupa somente em sobreviver. Para tanto, inventou algumas regras básicas, as quais sai contando enquanto as enumera e exemplifica na prática.
Na sua estrada encontra Tailahassee (um Woody Harrelson impecavelmente engraçado), que apesar das desconfianças iniciais acaba se juntando na luta da sobrevivência. Na verdade o personagem de Woody Harrelson é um eliminador de zumbis e mostra toda uma estrutura de forte e invencível, que como se vê lá na frente não é bem assim. Os dois, agora companheiros, estão bem armados e saem em busca de seus objetivos e destinos.
Tailahassee tem uma queda por um tipo de bolinho e toda vez que percebe a chance de conseguir algum, entra em qualquer roubada. Em uma dessas conhecem Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Bresvin), duas trapaceiras que passam a enganar a dupla constantemente. Os nomes dos personagens todos são de cidades americanas e demonstram bem como as diferenças surgem no quarteto durante o decorrer da película.
Em 87 minutos, “Zumbilândia” cumpre bem o papel de divertir. Além de situações engraçadas, tem uma trilha sonora que conta com nomes como Metallica, Van Halen, Velvet Underground e Willie Nelson. Bill Murray também faz uma ponta como ele mesmo na sua mansão em Beverly Hills e adiciona mais bons momentos. “Zumbilândia” é daqueles filmes para ver sem pretensão em um dia perdido da semana e dar algumas boas risadas para alegrar a vida.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

"Midnight Ride" - Paul Revere & The Raiders - 1966

Nos mesmos anos 60 em que os Beatles reinavam absolutos no mundo todo, uma banda americana mostrava junto dos Beach Boys (entre outras), que os grupos britânicos teriam uma concorrência forte e de qualidade nos USA. A banda se chamava Paul Revere & The Raiders e em 1966, com o seu quinto disco de carreira intitulado “Midnight Ride”, cravou para sempre na história do rock um daqueles discos atemporais e fundamentais.
Com um começo de carreira mais famoso por suas palhaçadas (por exemplo, as roupas que vestiam entre outras maluquices), o grupo foi ganhando em corpo e com “Just Like Us” de 1965, que antecedia seu grande clássico, já mostrava um poder vigoroso. Nas onze faixas de “Midnight Ride”, a banda molda seu pop com ajuda do country e talvez ali certas raízes do que o punk faria depois, principalmente no quesito da energia envolvida no processo.
A abertura com “Kicks” já é contagiante e abre o caminho para um conjunto de canções quase infalível. Casa o country com o pop assoviável em “There's Always Tomorrow”, faz uma balada daquelas para dançar juntinho em “Little Girl In The 4th Row” e senta a mão no rock em “Ballad Of A Useless Man”. “I'm Not Your Stepping Stone” que vem em seguida, mesmo não sendo própria é um dos melhores momentos. Simplesmente fantástica.
“There She Goes” é curtinha e funciona como um pequeno interlúdio para a segunda parte do disco que segue com a psicodelia melódica de “All I Really Need Is You”, o rock básico de “Get It On” e as guitarras de “Louie Go Home”, um blues meio torto. Para fechar “Take A Look At Yourself” e o toque jazzístico de “Melody For An Unknown Girl”. Saíram algumas versões com faixas bônus, mas nada que acrescente muito a original.
O Paul Revere & The Raiders praticamente não saiu da ativa desde a sua formação, mudando seus integrantes, mas mantendo uma carreira sólida mesmo que pouco divulgada, no entanto, nunca mais conseguiu alcançar o nível de “Midnight Ride”. Hoje como a banda ainda toca em cassinos e por convenções pelos Estados Unidos, fico imaginando como seria ouvir faixas como “Kicks” mesmo depois de tanto tempo. Ainda deve ser bacana.
Site Oficial: http://www.paulrevereraiders.com

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

"Coisapop Apresenta" - Caverna Club (PA) - 09.01.2010

Salve, salve...
O Coisapop em parceria com o chapa Elder Effe (Ataque Fantasma) está com um projeto para esse ano de 2010 chamado “Coisapop Apresenta”. A idéia consiste em realizar uma festa por mês sempre com três bandas se apresentando. O projeto visa não somente divulgar a música alternativa feita no Estado (mais precisamente em Belém) como também abrir mais um espaço para as bandas tocarem.
A história começa nesse sábado dia 09 de Janeiro, com as bandas Stereoscope, Turbo e Ataque Fantasma. Rock da melhor qualidade. O local será o Caverna Club (antigo Liverpool) na 14 de março próximo a Magalhães Barata. O ingresso é apenas e tão somente 10 reais. Estarei lá como DJ mandando umas sonzeiras boas. :)
Apareçam que a história vai ser boa!!
Paz Sempre!!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

"Chorume" - Numismata - 2009

“Brazilians On The Moon” foi lançado em 2003 e passou despercebido por muita gente. O álbum de estréia dos paulistas do Numismata esbanjava vigor e harmonia ao pegar o samba (sempre ele) e descontrui-lo usando psicodelia e modernidade. Seis anos depois o grupo retorna para o segundo disco, alcançando novos sons, mas mantendo o samba como condutor, por mais que apareça bem menos. “Chorume” é nome desse novo rebento.
O Numismata passou por mudanças na formação desde a estréia. Rodrigo Falcão deu lugar a Felipe Veiga na bateria e percussão e Carlos Russo entrou na percussão e vocal de apoio. Junto a eles estão os fundadores Piero Damiani (vocal e teclado), Adalberto Rabelo (guitarra e vocal), André Vilela (guitarra e vocal) e Carlos H. (baixo). O som da banda agora tem uma pegada mais forte, com uma maior influência do rock e progride para melhor.
Abre com “Todo o Céu e Essas Pequenas Coisas” que já tira uma parte do fôlego. Lembrando um pouco o Wado, traz uma melodia bonita e versos sobre São Paulo. Na sequência vem um petardo daqueles. O grande Luiz Melodia engrandece “Prejuízo” e junto com o Numismata dá um show. “O Inferno e Um Pouco Mais” tem sintetizadores nas mãos do convidado Kassin, enquanto tamborins e pandeiros se abraçam pelo meio e guitarras gritam aqui e acolá.
“Naif” começa bem, chega com os versos “ninguém me disse pra ser fraco, impulsivo ou pertinaz/ninguém me disse/ninguém me fez fazer besteira, nenhum mal, ninguém me fez” e segue em frente pungente e emotiva. “A Passos Largos” é uma balada clássica, fala sobre o final do amor e traz violinos pairando pelo ar. “Tanta Saudade” conta com Tatá Aeroplano brincando nos efeitos e “Anhanguera” é um sambão pra cima e cheio de categoria.
Para fechar o disco tem “Viralatas”, uma gostosa brincadeira cheia de nuances, “A Vida Como Ela É”, marchinha de carnaval contagiante com guitarras cortando, bom humor e Maria Alcina cheia de classe no vocal dividido com Pedro Damiani e mais a instrumental “Fernando”. Nesse “Chorume” o Numismata abusa de misturar estilos e influências, acertando em cheio no resultado final, construindo assim um ótimo registro.
“Chorume" está disponível gratuitamente na página da banda na Trama Virtual. Passa lá: www.tramavirtual.com.br/numismata .

sábado, 2 de janeiro de 2010

"La Casa Rosada de Alfonso El Pintor" - Alfonso El Pintor - 2009

O grupo argentino Alfonso El Pintor surgiu em 2005 com um disco que mais tinha cara de Ep, chamado “Buen Dia Te Quiero Mucho”. Esse registro de estréia trazia oito faixas, onde a maioria ultrapassava a casa dos 5 minutos e acabava soando meio confuso. No meio da confusão dessas passagens longas e até mesmo desnecessárias, percebia-se no entanto, certa qualidade escondida no meio de canções como “Calma” e “Lo Dificil.”
Os anos passaram, a banda mudou um pouco de integrantes e passou por alguns outros registros como o Ep “Vamos a Seguir Pintándonos” de 2006. Em 2009 somente como um trio, lança mais um trabalho, intitulado “La Casa Rosada de Alfonso El Pintor” (em uma brincadeira com a casa presidencial argentina) e mostra que aquelas qualidades escondidas lá na sua estréia, evoluíram e galgaram para um patamar bem interessante.
A área explorada pelo grupo é o indie pop, lembrando desde Belle And Sebastian até La Casa Azul. Em “La Casa Rosada...”, trazem dez canções doces e suaves que emanam tranqüilidade e alegria, servindo para relaxar um pouco o espírito. O disco traz faixas já regravadas em outras épocas, mas aqui todas superam suas versões anteriores. “Calma”, por exemplo, é uma belíssima canção, que com seus seis minutos convence e agrada.
Outras faixas como “Te Gusta El Rock”, vem carregadas de influências sessentistas e cabem perfeitamente na descrição de “canções de domingo”. Pop, estilosa, com melodia assoviável e instrumental competente. Em outras como “Noche Buena” a busca de uma poesia cotidiana segue em versos como: “me muevo por aqui/me muevo por allá/siguiendo la luna/buscando una idea(...)preparo acuarelas/me pongo a pintar”.
Outras canções também brilham mais, como “Nadie Lo Hará” e “Tu Felicidade”. Em seu segundo disco os argentinos do Alfonso El Pintor mostram uma música que não deve nada para bandas americanas ou européias. “La Casa Rosada...” é um álbum bonito, para ser escutado a qualquer hora do dia e servir um pouco de som ambiente para a vida. E o melhor de tudo é que essa pequena jóia está disponível gratuitamente para download no site dos caras. Passe lá.
Site Oficial: http://www.alfonsoelpintor.com.ar