segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

E que venha 2013!!


Salve, salve minha gente amiga,

Mais um ano chega ao fim e deixa para trás bons momentos para a cultura em geral. Tivemos ótimos trabalhos na música, cinema, literatura, quadrinhos e até mesmo na televisão. Que no ano que bate na porta esperando para entrar, isso aconteça em uma quantidade maior, afinal coisas boas são sempre bem vindas.

Que esse último dia sirva para repensarmos a vida, as nossas atitudes e o caminho que optamos em trilhar. Que as estradas que ainda vamos pavimentar pela frente estejam repletas de realizações e alegrias e que ao construir essas novas estradas, nunca nos esqueçamos do compromisso único de fazer desse mundo um lugar melhor para as gerações futuras. Isso é fundamental.

Em 2012, apesar de uma quantidade bem menor de textos (não deu para escrever tanto quanto eu queria), o Coisapop continuou crescendo no que tange a quantidade de acessos. O que se convencionou como uma regra desde que foi criado em 2005. Por isso o meu muito obrigado a todos que passaram aqui, concordando ou não com o teor dos textos. Um abraço virtual em todos os leitores, amigos e colaboradores que fazem com que isso seja levado em frente dia a dia.

Que nesse novo ano possamos honrar nossos sonhos e ideias como eles merecem.

Que venha um grande ano.

Paz Sempre.

domingo, 30 de dezembro de 2012

"O Impossível" - 2012


Final de ano. Uma ótima época para viajar com a família com o intuito de relaxar e aplacar um pouco a falta de atenção cometida durante o restante do ano devido ao trabalho, as coisas da vida em geral. Imagine só então ir para um lugar paradisíaco, repleto de belezas naturais. Um sonho, não é? Foi isso que pensou uma (entre tantas outras) família espanhola ao embarcar para as festas de 2004 com destino à costa da Ásia. E devido a um tsunami de proporções gigantescas, esse sonho virou um pesadelo.

É baseado nessa história real que o diretor espanhol Juan Antonio Bayona (do esquecível “O Orfanato”) criou seu novo filme “O Impossível”, que estreia por aqui agora no final de 2012. Sem apelar para milhares de efeitos especiais da catástrofe (apesar desses efeitos existirem), a trama tem como o foco a briga para escapar da imensidão de água que constantemente arremessa tudo e todos, para em um segundo momento se preocupar com o reflexo do desastre que separa famílias e produz corpos.

Para interpretar a família (convertida em britânica), outro acerto. O casal ficou com Ewan McGregor (“Trainspotting”) e Naomi Watts (“21 Gramas”), e os dois que já haviam trabalhado juntos no mediano “A Passagem” do diretor Marc Foster de 2005, aqui vão bem além e conseguem brilhar, principalmente a atriz inglesa. Os três filhos do casal também tem boas atuações, a saber: Tom Holland como Lucas, Samuel Joslin como Thomas e Oaklee Pendergast como Simon. Fragilidade e coragem na dose certa.

O roteiro de Sergio G. Sánchez (parceiro de Bayona em “O Orfanato”) tem essa habilidade de alternar a calamidade de maneira mais ampla com o sofrimento particular da família. Isso sem poupar o espectador de mostrar os graves ferimentos e toda a sujeira imposta pela lama e sangue. O roteiro também encontra tempo para adicionar outros personagens, como Karl (Sönke Möhring de “Bastardos Inglórios”), que em poucos minutos na tela consegue passar uma carga forte de dor e esperança.

“O Impossível” até apresenta algumas questões para espectadores mais ranzinzas discutirem, como colocar o foco em uma família europeia ao invés de moradores da região, ou a solução final com o tratamento médico envolvido, porém, nada disso tira a forte carga de emoção que o longa transpira a cada minuto e muito menos as atuações convincentes do elenco, que vive ali naquele momento o drama que milhares sofreram e que deixou mais de 200 mil mortes no rastro de destruição que a natureza impôs.

Nota: 8,0

Assista ao trailer legendado:

sábado, 22 de dezembro de 2012

Quadrinhos - "Sweet Tooth - Depois do Apocalipse" e "O Inescrito"

 

Desde que a Editora Panini assumiu a publicação das linhas da DC e da Marvel no Brasil, é inegável o bom trabalho que vem sendo feito. Há de se discordar de alguns pontos como o tempo de atraso ainda vigente nas publicações maiores, ou a equivocada junção de títulos para formar o mix das revistas, resultando às vezes em boas séries esquecidas. No entanto, isso são detalhes dentro de um todo. No geral, o trabalho é bem realizado e cada vez está mais amplo.

O selo Vertigo da DC é um dos que vem recebendo os melhores cuidados e a prova disso são dois recentes lançamentos inéditos por aqui. O primeiro é “Sweet Tooth – Depois do Apocalipse” de Jeff Lemire, e o segundo é “O Inescrito” de Mike Carey e Peter Gross. Os dois encadernados apresentam as cinco primeiras edições de cada, originalmente publicadas no decorrer de 2009 inicialmente. “O Inescrito” ainda ganha alguns textos e mais extras de esboços como bônus.

O primeiro volume de “Sweet Tooth” é “Saindo da Mata”. Nele, Jeff Lemire conta a história de uma terra sofrida, após quase todos os humanos serem extintos devido a uma infecção generalizada. As crianças que agora nascem no planeta são híbridos de humanos e animais. O foco está no jovem Gus (que carrega traços de cervo na anatomia), que depois de ver o pai falecer começa a ser caçado, pois a espécie dele é altamente valorizada nesse mundo novo. É quando entra o velho Jepperd.

Jepperd é um homem forte, que por razões bem próprias, resolve salvaguardar a vida de Gus e conduzi-lo a uma reserva para sua espécie. Nessas primeiras edições a série ainda se apresenta e exibe cores escuras e boas passagens de ação, tratando praticamente de sobrevivência e busca de identidade. Quem já leu mais (através de importados ou dos sites de scan da rede), sabe que tudo engrena a partir dessas primeiras revistas, ganhando contornos mais dramáticos. Vale a espera.


“O Inescrito”, por sua vez, já começa apoderando-se do leitor. Mike Carey e Peter Gross apresentam Tommy Taylor, um jovem que vive do sucesso do desaparecido pai, um escritor responsável por uma franquia de extremo sucesso com um jovem bruxo, onde o filho foi o molde para a criação. A história do jovem bruxo é uma alusão direta a Harry Potter, e rende algumas tiradas inspiradas, enquanto também é usada para uma crítica das adorações extremas da sociedade.

Viajando pelo universo da literatura e fazendo desse universo a afiada faca que corta a linha entre fantasia e realidade, “O Inescrito” é original dentro da prerrogativa a que se propõe. Com direito as fantásticas capas de Yuko Shimizu abrindo as edições, viajamos por um mundo onde até o falecido escritor inglês Rudyard Kipling (mais aqui) serve como alavanca para o desenvolvimento da trama. E entre todas essas citações, temos um dos grandes trabalhos dos quadrinhos da atualidade. 


P.S: “Sweet Tooth – Depois do Apocalipse” tem 132 páginas e custa R$ 15,90. Já “O Inescrito” tem 148 páginas e custa R$ 18,90. Ambas primeiras edições podem ser encontradas em bancas de revistas.

Site da Panini direcionado ao selo Vertigo: http://hotsitepanini.com.br/vertigo

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

"Astronauta Magnetar" - Danilo Beyruth

Em setembro de 2009, a Panini resolveu homenagear os 50 anos de carreira de Maurício de Sousa. A primeira tirinha dele foi publicada em 18 de julho de 1959 e a editora que trabalha com a Turma da Mônica nos últimos anos resolveu prestar um tributo a sua obra. Para tanto, chamou diversos artistas que participaram dos álbuns “MSP 50”, “MSP+50”, “MSP Novos 50” e “Ouro da Casa”. Dentre as criações de Maurício, o Astronauta foi um dos mais visitados. Nomes como Fábio Moon, Gabriel Bá e Renato Guedes fizeram suas versões do personagem lá em 2009.

A recepção de público e crítica foi tão boa que deu a origem a um selo chamado “Graphic MSP”, onde os personagens de Maurício de Sousa ganhariam versões em álbuns maiores, em histórias mais amplas, com um maior direcionamento também para o público adulto. O primeiro filho desse interessante projeto é “Astronauta Magnetar”, escrita e desenhada pelo paulista Danilo Beyruth (da premiada “Bando de Dois”), com cores de Cris Peter. O formato é grande (19x27,5cm) e conta com 82 páginas, incluindo textos explicativos e esboços de desenhos.

Na trama desenvolvida por Danilo Beyruth, o Astronauta aparece lidando de maneira conflituosa sobre a solidão a que se designou em troca das aventuras espaciais, em troca de conhecimento. Lembra-se do avô no começo e em determinado momento mais adiante vê amigos, família e a amada Ritinha refletidos na sua frente. A solidão, que sempre foi companheira nas histórias da Turma da Mônica, aqui aparece amplificada. Quando ele erra e bota a vida em risco na busca de estudar um fenômeno chamado magnetar, essa solidão chega com tudo.

No meio do nada (literalmente), o Astronauta precisa de toda força para não enlouquecer. É um náufrago em pleno espaço e para sair desta desconfortável e desesperada posição tem que usar seu intelecto e espírito aventureiro. Com a ajuda de cores fortes e proporcionando uma bela junção entre quadrinhos e roteiro, Danilo Beyruth coloca o leitor dentro do jogo, dentro do pequeno cosmo de angústia que o personagem está inserido. Drama e aventura andam lado e lado e mostram autoridade para agradar os leitores mais jovens, como também o público adulto.

Nota: 8,0

Site de Danilo Beyruth: http://evilking.net
Site de Maurício de Sousa: http://www.monica.com.br/mauricio-site

Matérias relacionadas no blog:

- “Bando de Dois” – Danilo Beyruth 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

"1974 - Red Riding" - David Peace


Edward Dunford é um jornalista policial do Condado de Yorkshire na Inglaterra nos anos 70. No final de 1974 consegue sua primeira grande cobertura, envolvendo um caso de assassinato entre irmãos, o que o leva a ficar conhecido na região e o faz prospectar um futuro melhor. Porém, nem tudo são flores e seu pai falece na mesma época e um caso brutal envolvendo a morte de uma garotinha que teve asas de cisne costuradas nas costas, bate a porta e mexe radicalmente com o possível futuro.

Lançado originalmente em 1999 no Reino Unido, o livro “1974 – Red Riding” é o primeiro de uma série de quatro que tratam sobre assassinatos impetuosos neste território inglês. Aqui no Brasil chega esse ano, através da Benvirá, um selo da Editora Saraiva. Com 448 páginas e tradução de Rodrigo Peixoto, é a partida inicial para entrar no universo imaginado pelo escritor David Peace, um universo onde palavras como perdão e cortesia fazem pouco sentido diante do poder do dinheiro.

Essa série já foi adaptada para o cinema em 2009, trazendo Andrew Garfield (o novo Homem Aranha) no papel do jornalista. No entanto, saiu aqui no Brasil direto em DVD e não causou praticamente emoção nenhuma. David Peace também escreveu “The Damned Utd” (ainda inédito por aqui), que narra as desventuras de Brian Clough à frente do outrora glorioso time de futebol Leeds United e que também virou filme com Michael Sheen no papel principal. E nesse caso específico, um bom filme.

Mas voltando ao livro em si, ele apresenta Edward Dunford dentro do contexto exposto no primeiro parágrafo e entre 13 de dezembro de 1974 e a véspera de natal daquele ano, o insere um dentro de um jogo de gato e rato, onde nada se apresenta gratuitamente e fica absolutamente fácil se perder na enormidade de interesses hostis e informações falsas. O jornalista está em um redemoinho composto por álcool, violência e sexo e nem mesmo percebe que está se afundando mais e mais.

Utilizando uma narrativa versátil e veloz, David Peace deixa o leitor confuso e desnorteado, tanto quanto o personagem principal. Tendo o Reino Unido dos anos 70 como pano de fundo - e aqui se entenda música (Elton John e David Bowie são referências constantes) e política - ele consegue se distanciar da vala meio comum dos romances policiais e apresenta algo que se por um lado não é extremamente novo, por outro apresenta muito vigor e nenhum pudor para expor as piores facetas da humanidade.

Nota: 7,5

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

"Silver Age" - Bob Mould - 2012


Bob Mould tem uma lista primorosa de serviços prestados a música. Desde o final dos anos 70 quando montou o Husker Dü, nunca deixou de produzir e gravar discos. No decorrer desse caminho, a primeira banda acabou, ele montou o Sugar que também acabou e então abraçou de vez a carreira individual. O seu rock agressivo, porém com fartas doses de melodia, influenciou um bocado de gente relevante dentro do cenário (como Kurt Cobain do Nirvana, por exemplo).

No entanto, fazia tempo que Bob Mould não lançava um trabalho realmente enérgico e com um nível de excelência espalhado completamente por todas as faixas. Talvez, isso não ocorresse desde “The Last Dog And Pony Show” de 1998. Isso muda com “Silver Age”, o décimo (ou décimo-primeiro, dependendo da visão) registro solo da carreira. Com apenas ele na guitarra, Jason Narducy no baixo e Jon Wurster na bateria, o resultado é potente e eficaz.

Essa, digamos assim, retomada da melhor forma, passa por alguns motivos que valem ser citados. Em 2011 ele participou do (ótimo) disco “Wasting Light” do Foo Fighters, cantando e tocando guitarra em “Dear Rosemary”. No mesmo ano recebeu uma bonita homenagem em show de nomes como Craig Finn (The Hold Steady) e durante 2012 saiu excursionando tocando o “Copper Blue” de 1992 do Sugar na íntegra, em comemoração aos 20 anos. Isso mexeu com a vontade.

“Silver Age” exibe 10 faixas em quase 40 minutos e trabalha nas letras temas como dúvidas sobre o caminho seguido e desesperança com o mundo a nossa volta, mas quase sempre ostenta no final um sentimento de ir em frente, de não baixar a cabeça. Isso acontece em faixas como “Star Machine” e a canção que dá nome ao trabalho, por exemplo. O pano de fundo sonoro disso tudo é um rock básico envolto ao punk e ao garage, com aquela conhecida proporção pop.

Algumas canções desse “Silver Age” são verdadeiras aulas. Tente escutar “The Descent” e “Briefest Moment” e não lembrar o Foo Fighters, ou “Angels Rearrange” e não remeter a bandas de punk-pop. Depois de álbuns bons mas não tão brilhantes assim (como os últimos “District Line” de 2008 e “Life And Times” de 2009), Bob Mould volta a grande forma e até canta nos versos finais da última faixa “First Time Joy”, um “aqui vamos nós de novo”. Que bom. A música agradece.

Nota: 8,5

Site oficial: http://bobmould.com

Textos relacionados no blog:
- Música: “District Line” (2008) – Bob Mould
- DVD: “BackAnd Forth” – Foo Fighters

Assista ao clipe de “The Descent”:

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

"A Máquina de Goldberg" - Vanessa Barbara e Fido Nesti


A vingança é um prato que se come frio, afirma o velho dito popular. Ao ler “A Máquina De Goldberg” é fácil lembrar-se dessa antiga frase. O álbum em quadrinhos é o primeiro de um novo projeto da editora Companhia das Letras, através do seu selo Quadrinhos na Cia., que é inteiramente dedicado à nona arte. Esse projeto visa reunir escritores e desenhistas relativamente novos. A estreia fica nas mãos da jornalista Vanessa Barbara (“O Livro Amarelo do Terminal”) e do ilustrador Fido Nesti (“Os Lusíadas” em quadrinhos).

O roteiro de Vanessa Barbara acompanha um menino gordinho, fã de punk rock e sem muito traquejo social na estadia em um acampamento de férias chamado carinhosamente de “Montanha Feliz”. Getúlio (o garoto em questão) não está muito a vontade com essa verdadeira missão, onde além de suportar todas as zombarias dos colegas de classe, também tem que lidar com a perseguição implacável do professor de educação física e responsável pelo acampamento, um ex-militar e ex-boxeador nada confiável.

Em meio a luta pessoal para “sobreviver”, Getúlio invade a casa do zelador do acampamento, um senhor estranho e calado de nome Leopoldo, que guarda alguns segredos. Entre esses segredos está a dedicação espartana em criar máquinas de Goldberg, assim conhecidas por transformarem rotinas banais (como abrir uma porta, por exemplo) em complicados sistemas de evolução. Esse tipo de projeto foi imaginado há mais ou menos uns cem anos atrás pelo cartunista e inventor estadunidense Rube Goldberg (daí o nome).

Para uma máquina de Goldberg ser realmente interessante, tem que conter as junções mais absurdas possíveis. Amostras disso nós podemos ver na abertura do seriado infantil “Castelo Rá-Tim-Bum” (vídeo aqui) ou mais recentemente em um comercial caprichado da Red Bull (vídeo aqui). No caso da obra em questão ela inclui dezenas de bugigangas se intercalando e serve não somente como uma grande personagem coadjuvante, como a via que proporcionará a vingança esperada por Leopoldo e, por conseguinte, Getúlio.

“A Máquina de Goldberg” trata sobre adequação e comportamento juvenil e traz a vingança para fazer parte como condutora das motivações. Com uma premissa inicial boa (apesar de comum), o trabalho se perde no meio do caminho e acaba não convencendo por completo. Isso ocorre principalmente devido à mistura (sem explicação aparente) na identidade dos personagens, variando características estrangeiras e nacionais, assim como pelas medianas soluções encontradas para elaborar o desfecho.  

Nota: 6,0

Leia um trecho no site da editora: