quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

E que venha 2010!!

“Salve, salve minha gente amiga...”
Mais um ano que acaba. Que o ano que está chegando seja do caralho. Um puta 2010. Que façamos novas promessas e possamos cumprir as antigas. Que tenhamos amor no coração, idéias na cabeça e saúde para esbanjar. Que a família esteja unida e os amigos proporcionem grandes momentos. E claro e sempre importante que a música feita seja boa, que os livros instiguem e que os filmes tragam satisfação. Que toda cultura seja apreciada e emocione.
Que a nossa vida faça cada vez mais sentido.
Um sincero abraço a todos que passam pelo Coisapop. Que em 2010 esse laço esteja cada vez mais forte. Feliz 2010 a todos!
Paz Sempre!!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

“Plano de Fuga Pra Cima dos Outros e de Mim” - Letuce - 2009

O ano de 2009 foi muito interessante para a música nacional. E quando ia acabando eis que surgiu por aqui mais um disco para engrossar esse caldo. Trata-se de “Plano de Fuga Pra Cima dos Outros e de Mim”, estréia dos cariocas do Letuce (agora só com um “t” no nome). Formado em 2007 pelo casal de namorados Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos, o Letuce esbanja amor e bom humor pelas doze canções que compõem este primeiro álbum.
As músicas misturam Rio de Janeiro com Tropicália, música francesa com guitarras, samplers com bossa nova, rock nacional dos anos 80 com eletronices, revestidos em uma embalagem que vive mudando. As letras versam basicamente sobre amor (sem soar piegas ou até mesmo previsível), mas em várias passagens trazem divertidas frases, ministradas com categoria e charme por Letícia Novaes que as canta em português, inglês e até francês.
Entrecortada com as músicas próprias o Letuce manda duas ótimas releituras. Primeiro subverte “Caso Sério” da Rita Lee (virou “Seriuse Affaire”) em um mar de calmaria e tempestade, com guitarras explodindo ocasionalmente e cantada em francês. O resultado fica incrivelmente bom. Depois é a vez de “Acontecimentos”, sucesso de Marina Lima nos anos 80, que ganha uma versão bonita e com efeitos eletrônicos. Balada dos tempos modernos.
Das composições próprias, todas têm algum encanto específico que por menor que seja acaba conquistando o ouvinte. Pode ser o ritmo leve e doce de “Horizontalizar” ou o balanço funkeado de “Piscina Haikai”. Pode ser o violão dedilhado de “Seresta Quentinha” ou “De Mão Dada” e sua cadência deliciosa e atraente. E não para por aí. Ainda tem mais destaques como “Êxodo Lunar”, “Ballet Da Centopéia”, “Tuna Fish” e “Darwin's Fairy Tale”.
“Plano de Fuga Pra Cima dos Outros e de Mim” é completamente indicado para ser escutado a dois. Seja em casa, viajando no carro ou falando besteiras em qualquer lugar. Serve também muito bem para aquelas noites tranqüilas na frente do computador. Ou como pano de fundo para uma boa leitura. Ou seja, serve para quase todo lugar, pois é música boa, feita e conduzida por um sentimento nobre e cada dia mais desvalorizado chamado amor.
My Space: http://www.myspace.com/letuceletuce

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

"A Vida Íntima de Pippa Lee" - 2009

“A Vida Íntima de Pippa Lee” é o novo filme da diretora Rebecca Miller, que assina também o roteiro que é adaptado de um livro seu. Rebecca é filha do famoso dramaturgo americano Arthur Miller e em 2005 com “O Mundo de Jack e Rose” surpreendeu com um trabalho simples, vigoroso e bonito. Nesse mais recente trabalho, no entanto, a diretora não consegue repetir a mesma intensidade despejada anteriormente e acaba se perdendo, onde poderia conseguir bem mais.
Pippa Lee (Robin Wright Penn) é uma dona de casa próxima aos 50 anos e ao que tudo indica leva uma vida feliz e tranqüila, sem maiores percalços. Casada com um bem sucedido editor de livros, interpretado por Alan Arkin (“Pequena Miss Sunshine”) e com dois filhos que já ganharam o mundo para tocar a própria vida, se muda junto com o marido para uma tranqüila região onde a maioria dos habitantes são idosos. Busca sossego e recuperação para o esposo, depois dele sofrer um ataque cardíaco.
Após alguns minutos é que percebemos que a vida de Pippa Lee não é tão simples assim. O filme começa a intercalar o presente com memórias da personagem principal sobre o seu passado, que inclui uma infância complicada por uma família plastificada e uma juventude vivida de maneira inconseqüente, com drogas em demasia. O mundo de Pippa começa a cair também no presente, com ataques de sonambulismos, sua relação com a filha e com o esposo e principalmente a enfadonha sensação de cansaço de tudo.
O elenco de “A Vida Íntima de Pippa Lee” reúne nomes como Keanu Reeves, Wynona Ryder, Juliane Moore, Monica Belucci e Mike Binder, o que mostra o prestigio que a diretora ganhou. A história de uma mulher que superou o passado, vê sua vida mudar completamente e tenta partir para ser feliz mais uma vez, poderia render um filme bem melhor, calcado principalmente na atuação dos atores, porém passa longe disso. Na maioria do tempo é chato e caminha sem conseguir chegar a lugar nenhum.
Também traz algumas formatações típicas do circuito alternativo americano, que não ajudam em nada, como o uso de uma animação em certo momento ou a utilização de cenas surreais para acompanhar os personagens, como a história do nascimento de Pippa Lee. São formas já tão utilizadas que só funcionam se bem exploradas, o que não é o caso específico. Com “A Vida Íntima de Pippa Lee”, Rebecca Miller não consegue convencer e perde a oportunidade de anotar mais um bom trabalho na carreira.

sábado, 26 de dezembro de 2009

"As Crônicas de Nárnia" - C.S. Lewis

Porque ler um livro de fantasia depois dos 30 anos? O que isso acrescentará em termos de conhecimento? Essa é a pergunta que me peguei fazendo ao pegar em mãos “As Crônicas de Nárnia” do irlandês C. S. Lewis para começar a ler. O livro traz em volume único e com as ilustrações originais, todas as sete aventuras lançadas nos anos 50 e agrupadas na ordem que o autor identificou como a melhor. A Editora Martins Fontes reuniu nesse ano tudo em 752 páginas, que pode ser encontrado a venda por preços bem baratos.
C. S. Lewis viveu entre 1898 e 1963 e produziu uma obra vasta em campos como a literatura medieval e cristã, ganhando bastante respeito por isso. Essas duas áreas acabaram convergindo em “As Crônicas de Nárnia”, juntamente com temas como a mitologia grega e os tradicionais e conhecidos contos de fadas. Contemporâneo e amigo de J.R.R. Tolkien (de “O Senhor dos Anéis”), o autor construiu uma obra que apesar de defeitos é considerada por muitos como um clássico da literatura infanto juvenil.
Quando criança sempre gostei de livros de fantasia, onde mundos imaginários e mágicos são vivos e despertos. Acredito até que parte da vontade que carrego de fazer o bem, seja por conta disso. As obras de C. S. Lewis passaram batidas por mim na época. Ler hoje as aventuras de um lugar onde animais falam e existem faunos, centauros, feiticeiras e gigantes, ainda é bem saborosa, pois pode-se dar ao luxo de fazer correlações com mais coisas do que quando se era criança. É bom de passar o tempo.
O mundo de C. S. Lewis só escorrega forte em dois pontos, mas que podem ser entendidos como o reflexo da época. Primeiro a forma que as mulheres são retratadas em algumas passagens e depois e mais grave ainda, o racismo embutido. Em um país vizinho da brilhante Nárnia, existe a Calormânia, país onde “pessoas de pele escura” vivem e conduzem maldades e maus tratos. Essa Calormânia na visão do autor é desprovida do bem e representa o que muitos imbecis até hoje ainda pensam sobre determinados países. Burrice pura.
Fora isso, a obra é carregada de significados religiosos, principalmente de livros como o “Gênesis” e “Apocalipse”. Em suma, “As Crônicas de Nárnia” depois de tanto tempo continua sendo um livro prazeroso de ser lido, apesar dos “senões” já falados. Dois títulos da série já ganharam uma boa adaptação para o cinema e o terceiro está por vir. E respondendo a pergunta feita no começo, ler um livro de fantasia depois dos 30 serve para escapar nem que seja por algumas horas da realidade nem sempre louvável do nosso dia a dia. E assim recompensa.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Feliz Natal!!

Salve, salve minha gente amiga...
“Então é Natal...”. Chegou mais um natal, época boa de agradecer e dar uma olhada para a nossa vida. Época de paz e família. Para todos os visitantes, leitores, comparsas e amigos que visitam o Coisapop, desejamos ótimas festas natalinas.
Paz Sempre!!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

"Avatar" - 2009

“Avatar” é o nome do novo rebento do diretor James Cameron de “Titanic”. Acho que isso quem gosta de cinema já deve saber há um bom tempo. O filme que vinha sendo pensado pelo diretor há vários anos, finalmente ganha corpo e invade as telas do mundo todo. É um trabalho que pode ser apreciado por vários aspectos. É ao mesmo tempo um romance, um filme de ação e um libelo pacifista e ambiental. É bom então? Depende.
“Avatar” precisa ser visto de maneira básica e simplista por dois prismas. O primeiro reside no visual e na área tecnológica e inovações que acaba por introduzir, como novas técnicas de filmagens e equipamentos, baseados em um orçamento fantástico, um dos maiores de todos os tempos. O segundo é a história em si. A forma que o roteiro conduz a trama e parte na busca de prender o espectador e envolvê-lo com os rumos que serão tomados.
Pela primeira visão, “Avatar” é um filme fantástico. Visualmente deslumbrante, encanta com suas cores e formas. As cenas de ação são de perder o fôlego, onde em certos planos parece que estamos inseridos realmente nas perseguições e batalhas. Pelo segundo lado, o roteiro deixa muito a desejar, sendo um grande amontoado de clichês cinematográficos, sem maiores profundidades e repleto de frases feitas e personagens caricatos.
O longa se passa no ano de 2154, onde o ex-fuzileiro Jake Sully (Sam Whortington), adere a um programa de expansão de uma grande companhia em um planeta distante (Pandora). Jake perdeu o movimento das pernas e quando seu irmão gêmeo morre, ele decide aceitar o convite. O projeto consiste em fazer interface com um habitante de Pandora criado geneticamente e “operá-lo” para se comunicar com os locais. O processo lembra um pouco “Matrix”.
Ao chegar ao planeta, Jake se vê no meio de uma briga entre a ciência, comandada pela Dra. Grace (Sigourney Weaver) e o executivo da empresa interpretado por Giovanni Ribisi. Um quer entender a cultura local, o outro através de seu braço militar comandado pelo Coronel Quaritch (Sthepen Lang), quer somente a riqueza que está debaixo do solo do planeta. Jake Sully entra no mundo dos Na´vi para atender esses desejos e acaba aceito por eles.
Dentro da cultura local o ex-fuzileiro começa a se envolver demais com os costumes e entender a forma que o povo se comunica com sua fauna e flora (em uma ótima sacada de integração total entre as espécies). Além disso, é óbvio, se apaixona. A escolhida é Neytiri (Zoe Saldana), filha do líder do clã. A partir disso, Jake não quer mais voltar a sua forma humana e luta lado a lado com os Na’vi para impedir os humanos de saquearem o seu planeta.
O personagem de Sam Whortington, pode muito bem ser o de Kevin Costner em “Dança com Lobos” ou o de Tom Cruise em “O Último Samurai”, só para ficar em alguns exemplos. Todos os personagens característicos se fazem presente. O militar durão. O executivo que só pensa em lucro. Os cientistas bonzinhos preocupados com o povo. A invasão de uma cultura atrás de seus bens. Clichês atrás de clichês são arremessados na tela sem dó nem piedade.
É claro que nos dias de hoje mensagens sobre a importância da paz e de se cuidar do meio ambiente são sempre desejadas. Mas as coisas soam tão ocas que não convencem. No final, “Avatar” é um filme que é tão, mas tão belo de se ver, que até o roteiro pode ser deixado de lado. O impacto que as inovações tecnológicas implantadas por James Cameron trarão só o tempo dirá. Por enquanto é ir para o cinema, deixar a história de lado e se encantar com esse outro mundo.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

"Gênesis" - Robert Crumb

Um dos grandes nomes da arte underground ilustrando o livro mais mainstream de todos os tempos. O que esperar disso? Ainda mais quando o artista em questão é Robert Crumb e o livro, o primeiro do Antigo Testamento, o “Gênesis”, alicerce de boa parte da cultura ocidental e do cristianismo? Muito se falou e se comentou desde o anúncio da obra até os quatro anos que foram consumidos para sua elaboração, chegando ao lançamento deste em 2009 pela Editora Conrad no Brasil, com 216 páginas, simultaneamente com outros países.
Robert Crumb é de fundamental importância para o circuito alternativo e a contra cultura. Obras suas como Mr. Natural e Fritz The Cat são quase imortais. A parceria com Harvey Pekar na série “American Splendor” é outro exemplo de qualidade acima da média. O “Gênesis” é o livro que inicia a Bíblia e versa entre outras coisas sobre os sete dias em que Deus criou o mundo, Adão e Eva, Caim e Abel, a Arca de Noé e Sodoma e Gomorra, temas que tomam parte do inconsciente coletivo de uma parte relevante do mundo.
A união de coisas ao mesmo tempo tão díspares e conflitantes, resulta em uma obra que fascina e instiga. Ao recriar o “Gênesis”, Robert Crumb deve ter se controlado bastante para não tomar certas liberdades. E realmente o texto que lemos respeita a história como está contida no livro original (que é uma junção de vários outros, mas isso é outra história). As liberdades que Crumb se dá direito estão nos desenhos e ilustrações, tanto nas paisagens criadas meticulosamente, quanto nos personagens como Abraão, Jacó, Raquel e José.
Por ter seguido quase que a risca o original, o texto em vários momentos cansa, pois tem descrições detalhadas das constituições das famílias, com seus filhos e filhos. Em outras passagens como nos capítulos finais que narra a vida de José, exibe um ritmo forte e repleto de nuances. Robert Crumb capricha nos detalhes e se atem a expressões que dão uma interpretação toda especial, como nas feições das pessoas quando Deus aparece para conversar com elas ou quando alguma coisa muito fora do normal acontece nas suas vidas.
Na sua recriação do “Gênesis”, Robert Crumb não está diante do seu melhor trabalho ou o mais importante. Mas é mais uma obra brilhante sim, com uma arte fascinante em cima de histórias milenares e cheias de vida e vigor. Seu retrato das traições, incestos, sexo e violência, podem assustar uns enquanto outros tendem a acreditar que ele podia ter mexido mais no texto, deixado mais ao seu estilo. Ao meu ver, a obra dosa bem os dois lados e está no ponto certo, caso raro para qualquer artista. Como bem escreveu o jornal inglês “The Guardian”, Crumb é gênio.
Mais sobre Robert Crumb no Coisapop, passe aqui.

sábado, 19 de dezembro de 2009

"The Last Waltz - O Último Concerto de Rock" - 1978

Em casa olhando a coleção de DVD’s para rever algum, optei por “The Last Waltz - O Último Concerto de Rock” que já não via há algum tempo. Depois de assistir novamente a essa pequena obra prima de Martin Scorsese, escrever algumas palavras sobre ele é um caminho óbvio. Lançado em 1978, o documentário conta a história do último show dos canadenses da The Band, que tem pelo menos um clássico na carreira, o álbum “Music From Big Pink” de 1968 e fez história acompanhando Bob Dylan por vários anos.
O show aconteceu em 25 de novembro de 1976 (era Dia de ação de graças nos USA) no Winterland Balroom em São Francisco e marcou o fim da banda depois de dezesseis anos de carreira. Robbie Robertson (guitarra e vocal), Rick Danko (baixo, violino e vocal), Levon Helm (bateria e vocal), Richard Manuel (piano, órgão, bateria e vocal) e Garth Hudson (órgão, piano e saxofone) fizeram desse encerramento uma tremenda festa que contou com músicos convidados do mais alto calibre, em performances históricas.
A The Band promovia um rock fortemente influenciado pelo folk e o country e ainda são considerados influência para muita gente nova. No filme de despedida, Martin Scorsese (então com filmes com “Taxi Driver” no currículo), sempre apaixonado por música, comanda um time de feras para que a obra ganhasse a qualidade que apresenta. Intercala o show com entrevistas, que na maioria das vezes, são descompromissadas e sem forçar barra alguma, além de outras passagens gravadas em estúdio com a banda ao vivo.
São diversas passagens memoráveis. No dueto com o grupo gospel The Staples em “The Weight”, a coisa fica sublime. Neil Young emociona com “Helpless”. Neil Diamond faz o coração parar um pouco em “Dry Your Eyes”. Muddy Waters dá show em “Mannish Boy”. Eric Clapton incendeia com uma incrível “Further On Up The Road”. Van Morrison arrebenta em “Caravan”. Bob Dylan exibe sua aura mágica em “Forever Young”. E o final é apoteótico, com “I Shall Be Released” com todos no palco e com direito até a Ringo Starr na bateria.
“The Last Waltz - O Último Concerto de Rock”, além de ser um filme bonito e recheado de grandes momentos para quem gosta de música, exibe também uma outra época do rock, completamente diferente do mundo tão hypado e efêmero no qual vivemos hoje. As mudanças que aconteceram nesses poucos mais de 30 podem servir de análise para entender o processo musical de hoje e talvez o que virá pela frente. “The Last Waltz - O Último Concerto de Rock” é o tipo de filme para ganhar um lugar de destaque na sua casa. Obrigatório.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

"Frascos Comprimidos Compressas" - Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta - 2009

Nos últimos anos o samba vem aparecendo cada vez mais como influência para a música pop nacional, mais particularmente para o rock. De Los Hermanos a Caetano Veloso, vem sendo adicionado intensamente na mistura, em vários casos com grandes resultados e em outros apenas uma tentativa vã de estar na moda. Quando o novo disco dos baianos do Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta começa a tocar e a música “Você Sabe Dessas Coisas (Nega)” passa, a sensação inicial é de que o grupo tenha aderido ao segundo caso.
Essa sensação inicial acaba logo na segunda música e assim se estende até o final. A primeira faixa por carregar um título que remete a Paulinho da Viola e até mesmo uma certa semelhança de melodia com “Aquarela Brasileira” do Ary Barroso lá pelo meio, acaba dando essa falsa impressão. O grupo que estreou muito bem em 2005, volta adicionando ao seu rock denso uma forte mão de samba e de mpb, principalmente dos anos 70, e com isso consegue além de alterar o seu som, ir mais adiante e cravar um ótimo disco.
“Frascos Comprimidos Compressas” tem a produção do competente Pedro Sá e traz Ronei Jorge (vocal e guitarra), Edson Rosa (guitarra e vocal), Sérgio Kopinski (baixo e vocal) e Maurício Pedrão (bateria), juntamente com o convidado Juninho Costa na guitarra para um registro inspirado. A partir da segunda faixa “Quem Vem Lá”, apresenta uma consistência que a estréia não conseguia mostrar. Grande culpa disso vem da produção que teve como ser mais elaborada, uma vez que o projeto “Petrobrás Apresenta” financiou o álbum.
As canções agradam quase que na totalidade e trazem pequenas características que as tornam mais charmosas ainda. “Vidinha”, por exemplo, remete a Chico Buarque, cotidiana e real. A faixa título tem um instrumental forte e versos bem encaixados. “Tão Sabida Que Eu Nem Sei” namora com Novos Baianos. “Aquela Dança” brinca com axé, traz riff forte de guitarra e refrão para cantar junto. “Ó Você Dizendo” é um sambinha torto com mais um bom trabalho das guitarras e um “pa-ra-pa-pa”, pra engrossar o caldo e regar felicidade.
Até “Tão Forte” (com Lia Bordelo no vocal) acabar e encerrar o disco de maneira pop e meio lisérgica, “Frascos Comprimidos Compressas” reflete bem uma banda que depois de quatro anos consegue se superar e ainda se mostrar mais criativa. Melhor ainda, mesmo com a usual mistura de samba e mpb com rock, foge bem da banalidade. Com melodias bem construídas e um instrumental limpo, onde as guitarras são o maior destaque, Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta é mais um exemplo de boa banda nacional sem o merecido destaque.
Disco disponível gratuitamente para download no site oficial da banda: http://roneijorgeeosladroesdebicicleta.com

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

"Bafafá de Natal" - Centro Cultural Cidade Velha (PA) - 19.12.2009

Salve, salve minha gente amiga...
Final de ano sabe como é né? Festa atrás de festa. Neste sábado, no Centro Cultural Cidade Velha (antiga Saravejo) em frente a Praça do Carmo, aqui em Belém, rola uma ótima pedida para entrar nesse ritmo de final de ano.
É o "Bafafá de Natal" com as bandas Clepsidra, Norman Bates e Suzana Flag (que tá com o disco novo saindo do forno já, já...). Ingressos apenas a R$ 10,00 e na lista amiga (mande email para: asoociaprorock@gmail.com) só cincão. Vale muito. Vê se não perde.
Paz Sempre!!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

"Aconteceu em Woodstock" - 2009

Os famosos três dias de paz, amor e música do festival de Woodstock ganham uma nova cara nos cinemas. Uma cara divertida e despretensiosa pelas mãos do diretor Ang Lee (de “O Tigre e O Dragão” e “O Segredo de Brokeback Mountain”). Baseado no livro homônimo de Elliot Tiber (também recém lançado por aqui), “Aconteceu em Woodstock” mostra um lado do festival em que os shows que deram fama ao evento são apenas coadjuvantes.

Ang Lee conta como um jovem (Elliot Tiber, vivido por Demetri Martin) conseguiu “salvar” aquele que se tornaria o maior festival de música de todos os tempos. Um ponto interessante é que o livro onde o filme se baseia é bastante forçado no seu início, onde narra a vida do autor e o vínculo com a cena gay de Nova York da época. Essa parte foi totalmente limada do longa, o que já contribui e muito para o bom desenrolar da película.

Indo para a história em si, vemos um jovem vendo o futuro indo embora enquanto enterra esforços e dinheiro em um falido hotel dos pais, interpretados muito bem por Imelda Stauton e Henry Goodman. Quando o festival de Woodstock perde a licença para acontecer em uma cidade vizinha, Elliot entra em contato com Michael Lang (Jonathan Groff), o organizador da amalucada viagem, oferecendo sua área para que as coisas rolem por lá.

O local da família acaba não agradando, mas ele coloca no circuito o vizinho, o já lendário Max Yasgur (vivido por um ótimo Eugene Levy) que acaba alugando seu espaço. O resto, meus caros, virou história. Ang Lee se baseia então na onda de construção para que tudo acontecesse e surpreende ao deixar um ritmo descompromissado, usufruindo de todas as chances que as situações absurdas envolvendo sexo e drogas podem sugerir de engraçado.

O filme também mexe bem na estrutura do livro, acerta ao cortar a vida pessoal de Elliot Tiber, mas talvez erre em suprimir outras partes engraçadas e criar alguns novos personagens. Outros personagens como a segurança Vilma (vivida por um surpreendente Liev Schreiber) ganham um destaque bem maior. O lado mais sujo também fica de fora, como as negociatas e a falta de comida e condições de higiene pessoal. Aceitável, afinal trata-se de uma comédia.

Outro ponto é a trilha sonora que podia aparecer mais, mesmo assim traz nomes como The Doors, Grateful Dead e Tim Hardin (e calma... “Freedom” do Richie Havens toca nos créditos finais). Com “Aconteceu Em Woodstock”, Ang Lee atesta parcialmente sua versatilidade e competência, passeando agora pelo campo da comédia. Seu novo filme vale a sessão, mesmo sendo um pouco superficial. No final é uma tremenda e saborosa bobagem.

A resenha do livro em que o filme foi baseado, está bem aqui.

domingo, 13 de dezembro de 2009

"Umbigo Sem Fundo" - Dash Shaw

David e Maggie Loony são um casal comum de americanos. Tiveram uma vida razoavelmente tranquila e criaram seus três filhos sem maiores atropelos e de acordo com a doutrina que o seu país reza. Os filhos cresceram e lhe deram netos, nada mais normal. O que não é muito normal, é que depois de 40 anos de casados e com mais de 70 de idade, David e Maggie resolvem se separar. E o que é pior, sem nenhum motivo aparente a não ser o simples cansaço.
“Umbigo Sem Fundo” de Dash Shaw é mais um título lançado no país pela Companhia das Letras, através do selo “Quadrinhos na Cia”, no qual vem fazendo um ótimo trabalho. A história ganhou uma roupagem bonita e vem contada em mais de 700 páginas. A arte de Dash Shaw apesar de não ser a mais bela de todas, traz um traço bem peculiar com o qual o leitor acaba se acostumando. Com um tom de sépia envolvendo a arte em preto e branco, cria-se um efeito bem bacana.
“Umbigo Sem Fundo” é mais um trabalho dos quadrinhos que explora temas do cotidiano, sem super heróis ou tramas policiais como pano de fundo. Dash Shaw usa uma tradicional família americana para expor vários defeitos e disfuncionalidades de toda família. Os três filhos do casal, Dennis, Claire e Peter, são pequenos universos que funcionam de maneira diferente em relação aos pais e sem muita comunicação fraterna. Peter se acha tão excluído que é retratado com cara de Sapo na obra.
Ao saber do divórcio dos pais, os três filhos vão passar uns dias na casa em que foram criados para entender e assimilar o processo. Cada um reage de maneira diferente e espelhada pelo tratamento recebido quando criança. Dennis não entende, procura explicações a toda hora. Claire fica passiva, enquanto Peter, bom, Peter tem um mundo só dele para cuidar e não liga muito. No meio disso ainda tem Jill, a filha de Claire, que parece ser o único oásis de sabedoria no grupo.
Os quadrinhos estão caminhando a passos largos para um novo nível. Em obras como “Umbigo Sem Fundo” a coisa fica bem clara. O roteiro desta graphic novel podia muito bem ganhar os cinemas pelas mãos de diretores como Mike Leigh, sem fazer feio. Para ajudar sua narrativa Dash Shaw vai subvertendo os quadros de tamanho conforme a intensidade do momento, ou simplesmente opta por passar vários deles mostrando apenas paisagens. Vale a leitura.
Outras resenhas sobre lançamentos do selo “Quadrinhos na Cia”? Passe aqui e aqui.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

"Julie & Julia" - 2009

Julia Child e Julie Powell. As duas são americanas e casaram com um homem companheiro, que lhes ajuda a tocar a vida em frente. As duas se perdem no meio do caminho e precisam se reencontrar. E para ambas esse reencontro se dá graças a culinária. A diretora Nora Ephron usa essas duas histórias, ambas reais, para criar um dos filmes mais deliciosos (em todos os sentidos) do ano. “Julie & Julia” consegue divertir, emocionar e fazer pensar sobre a vida.
Baseado em fatos reais, “Julie & Julia” conta a história de duas mulheres em anos distintos que acharam uma razão de viver na culinária. Julia Child revolucionou a cozinha americana em 1961 com um livro (junto com Louise Bertholle e Simone Beck) que trazia 524 receitas francesas para serem feitas por donas de casas comuns. Um tremendo sucesso depois de sua autora ter amargado preconceito e desconfiança quanto sua habilidade nessa área.
Julie Powell, vive nos dias atuais de maneira ordinária. Tenta se encontrar enquanto amarga um trabalho sem grandes alegrias e a mudança para um novo bairro. Suas amigas parecem bem melhor de vida se comparadas a ela. Julie Powell está perdida. Decide então se dedicar a um projeto pessoal que lhe dará prazer. Como adora cozinhar, resolve fazer as 524 receitas do livro de Julia Child em 365 dias. Para tanto, usa um blog como ferramenta de controle.
Julia Child é interpretada de maneira magnífica por Meryl Streep. Julie Powell é cheia de graça e desespero sem sentido nas mãos de Amy Adams. A dobradinha que dá nome ao filme tem como suporte um elenco extremamente competente. Stanley Tucci vive Paul Child, o marido de Julia. Chris Messina vive Eric Powell, o marido de Julie. Os dois maridos são na verdade o alicerce por trás do sucesso das esposas, revertendo a máxima de que atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher.
Tendo como base principal, dois livros: “Minha Vida Na França” de Julia Child e Alex Prud’homme e principalmente “Julie & Julia” de Julie Powell, o filme se constitui em uma prazerosa viagem pela vida de duas mulheres tão diferentes e tão iguais ao mesmo tempo. Mulheres repletas de garra, força, sonhos e medos agarrados a eles. Um filme forte do inicio ao fim. Do roteiro aos personagens, da direção a montagem. Um filme literalmente para dar água na boca.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

"Os 40 Melhores Discos da Década" - Scream & Yell

Salve, salve minha gente amiga...
O Scream & Yell (http://www.screamyell.com.br) do chapa Marcelo Costa, fez uma eleição para eleger os 40 melhores discos da última década. Foram 68 participantes, entre os quais tive o prazer de estar incluso no meio de muita gente boa.
O resultado final está aqui: http://screamyell.com.br/site/2009/12/09/os-ultimos-dez-anos-na-musica-pop
Aqui a listinha individual de cada um dos 68 votantes, que é bem interessante de ser vista: http://screamyell.com.br/site/2009/12/09/melhores-da-decada-os-68-votantes
A minha particular está aqui: http://screamyell.com.br/site/2009/12/09/melhores-da-decada-adriano-mello-costa
Na boa, essa lista final ficou bem melhor do que as últimas sobre o mesmo tema que andaram saindo por aí nas últimas semanas. :)
Divirtam-se!
Paz Sempre!!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"MTV Apresenta: Autoramas Desplugado" - Autoramas - 2009

Diversão. Essa é primeira palavra que me vem na cabeça quando alguém cita o Autoramas. A banda de Gabriel Thomaz e Bacalhau, conta agora com Flavia Couri no baixo e lança mais um disco para que o termo “diversão” continue vindo quando citam seu nome. “MTV Apresenta: Autoramas Desplugado” é uma produção da MTV no velho formato de seus programas, mas nesse caso específico com um grande plus, a parceria com a Trama, que disponibilizou o registro para download gratuito dentro do projeto Álbum Virtual.
No seu disco desplugado, evidente que os Autoramas não usam instrumentos elétricos, mas a postura é basicamente a mesma de costume. Sempre em pé, sem maiores cenários ou arranjos de cordas passando pelas músicas, o grupo de Gabriel Thomaz senta a mão na maior alegria. Melhor ainda, não regravam nenhum de seus maiores sucessos (pelo menos no cd) como “Você Sabe”, “Fale Mal de Mim” ou “Carinha Triste”. A mistura de anos 60, jovem guarda, surf music, ironia e bom humor está mais afiada do que nunca.
Temos duas músicas novas, a bacana “Gente Boa” e a para cima “Samba Rock do Bacalhau”, uma homenagem ao baterista, junto com três covers: “I Saw You Saying (That You Say That You Saw), que fez um tremendo sucesso com o Raimundos e é de Gabriel com Rodolfo, “Galera do Fundão” dos tempos do Little Quail And The Mad Birds e a poderosa “Eu Vou Vivendo” dos gaúchos do Walverdes. No Dvd ainda tem mais uma: “No Claro e No Escuro”, música do impagável Reginaldo Rossi, lançada nos anos 60.
As participações especiais que sempre são inerentes a esse tipo de trabalho, também se fazem presente. Frejat dá nova vida a “Sonhador” do “Vida Real” de 2001, Humberto Barros e Jane DeLuc (“A Mulher Misteriosa”) dão um toque meio flamenco a “Hotel Cervantes”, Big Gilson espalha uma saborosa slide guitar pela ótima “A 300 Km/H”, a melhor faixa do último disco “Teletransporte” de 2007 e Erika Martins (Ex-Penélope) esbanja doçura em “Música de Amor” do “Nada Pode Parar os Autoramas” de 2003.
E tem outras faixas como “Muito Mais”, “Copersucar” e “A História da Vida de Cada Um” para deixar o negócio mais azeitado. O Autoramas fez mais ou menos tudo que se esperava deles em um projeto como esse. Nada de apelações comerciais, instrumentos e mais instrumentos no palco, ou participações de artistas com destaque na atualidade nas faixas. Simplesmente fez o que faz melhor. Rock n’ roll da melhor qualidade para você levar no carro, no celular ou na bolsa, a fim de despejar bom humor e diversão para qualquer dia do ano.
Link do Álbum Virtual da Trama onde o disco está disponível gratuitamente para download, aqui.
Site Oficial: http://autoramas.uol.com.br My Space: http://www.myspace.com/autoramas

domingo, 6 de dezembro de 2009

"Tudo Pode Dar Certo" - 2009

“Tudo Pode Dar Certo” (“Wathever Works”) é o mais recente trabalho do diretor Woody Allen e vem após o seu melhor filme nos últimos anos, o bonito “Vicky Cristina Barcelona”. Nesse novo trabalho, que tinha o roteiro engavetado desde os anos 70, Allen volta para sua querida Nova York depois de alguns anos para contar uma história leve, uma comédia romântica sem grandes surpresas, mas bem divertida e repleta das ótimas frases e sacadas que sempre podemos esperar em um filme com a marca do diretor.
Boris Yellnikoff (interpretado por Larry David, um dos criadores de Seinfeld) é um senhor nada simpático ou alegre. Mora em Nova York e leva a vida ensinando xadrez para crianças desde que abandonou sua vaga de professor de universidade, onde dava aulas de física e “quase foi indicado para um prêmio Nobel”, nas suas próprias palavras. Sempre reclamando e resmungado aos quatro cantos, tem uma imagem pessimista da vida (e as vezes muito, mas muito real) e destila seu veneno para os amigos que ainda o aturam.
É interessante citar que Boris já tentou se matar, o que o deixou manco para o resto da vida. Contando sua história para o espectador e interagindo com este em certos momentos, Boris vai contando parte da sua vida recente. Certo dia quando chega em casa, encontra uma jovem linda do interior, Melodie Celestine (a sempre bela Evan Rachel Wood), pedindo abrigo na soleira da porta. Apesar de relutar por alguns minutos, resolve deixar a garota passar uns poucos dias na sua casa, enquanto ela tenta se ajustar na cidade grande.
E é claro que Boris se envolve com Melodie. Desse ponto em diante, Allen dá algumas escorregadas no roteiro e deixa passar certos aspectos, mas as boas piadas e a interpretação de Larry David (mesmo quanto tenta copiar o jeitão do diretor quando este atua) vão valendo o filme. Quando os pais de Melodie, interpretados por Patrícia Clarkson e Ed Begley Jr. entram no jogo, o filme ganha novamente em ritmo e dá uma boa melhorada. É interessante ver como a amada Nova York do diretor, atua novamente bem como coadjuvante.
Em “Tudo Pode Dar Certo”, Allen não cria um daqueles filmes em que ligamos de modo entusiasta para os amigos recomendando ao sair do cinema (como em “Vicky Cristina Barcelona”, por exemplo), mas consegue divertir. O personagem principal, Boris Yellnikoff, é um tradicional neurótico do diretor e com seu sarcasmo e chatice vale boa parte do filme. Apesar de não tão inspirado em “Tudo Pode Dar Certo”, a fase do diretor é tão boa que mesmo quando faz algo mais ou menos, ainda é melhor do que a grande maioria.
Mais sobre Woody Allen no Coisapop: “Match Point”, “O Sonho de Cassandra” e “Vicky Cristina Barcelona”.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

"Banda Gentileza" - Banda Gentileza - 2009

A pluralidade da música pode ser encontrada em cada esquina do mundo de hoje. Um mundo que mais do que nunca abre as portas para que estilos se misturem e criem uma sonoridade diferenciada. Os curitibanos da Banda Gentileza enveredam por esse caminho desde a sua formação, que já traz na bagagem dois Ep’s gravados ao vivo. Com a estréia que carrega o mesmo nome do grupo nesse ano, demonstra uma mistura interessante e bem feita de vários estilos e concepções, vestidos com uma faceta pop e plenamente consumível.
O sexteto é formado por Heitor Humberto (vocal, guitarra e cavaquinho), Emílio Mercuri (guitarra, viola caipira, violões e bandolim), Artur Lipori (trompete, guitarra e baixo), Diego Perin (baixo), Tetê Fontoura (saxofone e teclados) e Diogo Fernandes (bateria e percussão). Por algum tempo carregou o nome de Heitor, seu principal compositor no nome, mas optou pela simplificação para a estréia, que contou com a produção de Plínio Profeta, de trabalhos anteriores com Lucas Santtana, Lenine e Pedro Luis e a Parede.
A abertura com as faixas “Coracion” e “O Indecifrável Mistério de Jorge Tadeu” (essa já valeria só pelo nome) é matadora. Para sair cantando junto. A lembrança com Los Hermanos nessa dobradinha se faz presente, no entanto, no decorrer do disco se extingue e avança por muitos outros lados. A Banda Gentileza é tudo ao mesmo tempo agora. Cake, Arcade Fire e Frank Zappa se envolvem e se relacionam com Fellini, Mutantes, Mpb, música caipira e marchinhas de carnaval. Até Reginaldo Rossi é citado com “Garçom”
Depois da citada dobradinha inicial, as três próximas faixas dão uma pequena caída e o disco só volta a brilhar com a balada irônica e pungente “Teu Capricho, Meu Despacho”. Daí para frente o registro ganha em força e assim segue até o final, seja pelo samba maneiro de “Preguiça” (da ótima passagem: “ao longo de todos esses anos/eu já tracei muitos planos/mas em prática eu não coloquei nenhum”), do brega rock de “33 B”, do nonsense de “Sempre Quase” ou do samba pesado e grooveado de “Maior Com Sétima”.
As letras são outro bom destaque. Com boas doses de ironia e sarcasmo fogem do habitual lugar comum. Na sua estréia a Banda Gentileza arruma, desarruma e depois desarruma mais ainda suas influências para construir uma sonoridade própria, uma identidade pessoal. O grupo acerta muito mais do que erra e consegue cravar agora um dos discos da música nacional no ano que passa. Duvida? Bote a já citada “O Indecifrável Mistério de Jorge Tadeu” para tocar, deixe acabar e tente não repetir ou sair cantando seus “lá-lá-lás”.
Site oficial, com disco gratuito para download: http://www.bandagentileza.com.br .

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"Quando Chegar o Natal" - Ataque Fantasma

Salve, salve...
O chapa Elder Effe do Ataque Fantasma, avisa que a banda acaba de gravar uma música para as festas de final de ano a convite do clássico programa Balanço do Rock, aqui da Cultura FM de Belém.
Com a participação de Ulysses Moreira na bateria, o grupo está disponibilizando gratuitamente no seu espaço na Trama Virtual, aqui ó:
http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=76875
Clica lá para baixar. Ficou bonitona a música.
Mais sobre o Ataque: My Space: http://www.myspace.com/ataquefantasma Fotolog: http://www.fotolog.com.br/ataquefantasma

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"Anticristo" - 2009

O diretor dinamarquês Lars Von Trier sempre causa barulho com seus filmes. Com “Anticristo”, o seu mais novo rebento não foi diferente. O longa já recebeu vaias e aplausos e foi bastante comentado e discutido. Particularmente gosto muito do trabalho do diretor. Filmes como “Dançando no Escuro” de 2000 e principalmente a dobradinha “Dogville” (2003) e “Manderlay” (2005), tem um mérito indiscutível, não sendo obras de fácil acesso, mas de uma incrível inteligência no que tange ao seu conteúdo e forma.
No entanto, nem esse gosto pessoal pelo trabalho do diretor é capaz de fazer “Anticristo” agradar. No seu novo filme, Lars Von Trier parece perdido em um roteiro falho e pretensioso e tenta se ancorar em cenas fortes de violência, sexo e mutilação, que por mais que causem extremo desconforto, só agravam o problema, pois é um desconforto que não nasce de uma arte que instiga e perturba, mas sim de um acúmulo de equívocos. Somente em poucos momentos as cenas se sobressaem e o talento retorna.
A trama gira em torno de um casal sem nome interpretado por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg. Os atores são o único ponto positivo. As duas atuações são intensas e repletas de coragem e força. Ela é uma escritora famosa e ele é um psicanalista. Enquanto os dois estão fazendo sexo, seu pequeno filho acaba por cair (ou se jogar) de uma janela direto para a morte. Desse ponto em diante cria-se uma história em que o drama psicológico pela culpa vai consumindo pouco a pouco, até ganhar contornos de desespero, medo e loucura.
Para conseguir superar o problema os dois viajam para uma cabana no meio de uma floresta, onde ele tenta ajudá-la a superar a morte do filho. Ela na verdade culpa tanto ele quanto a si mesma pelo acontecido e só consegue achar algum conforto no sexo, que está longe de ser algo natural para os dois nessa fase. O clima fica cada vez mais pesado, ganha em tensão e o roteiro passa a adicionar diversos pontos subjetivos, que além de não possuir explicação aparente, ajudam e muito para o tremendo desencontro que acaba sendo o filme.
A culpa realmente corrói se não for bem administrada e que se siga em frente apesar dela. Citando Shakespeare: “não há culpados, o que há são desgraçados”. A vida do casal de “Anticristo” se resume mesmo a isso: uma desgraça. Tremenda e infernal desgraça. Nas entrevistas sobre o filme, o próprio Lars Von Trier acha que as coisas não saíram muito bem em certos aspectos. “Anticristo” é o tipo de filme para ser esquecido. Suas idéias (ou a falta delas) e pretensões devem ser colocadas em uma caixa para ser jogada fora sem nenhuma pena.
Sobre "Manderlay", passe aqui.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"Islands" - The Mary Onettes - 2009

Em 31 de maio de 2007 eu resenhava o primeiro disco dos suecos do Mary Onettes com visível satisfação. O disco era completamente indicado para ouvir naquela festinha com amigos em que os anos 80 são tema e no som temos The Smiths, The Cure, A-ha, Duran Duran, Joy Division, etc. e tal. Apesar das músicas serem meio “descaradas” como escrevi, ainda assim era bem prazeroso deixar o disquinho tocando por algumas horas. Em 2009, os suecos chegam ao seu segundo registro que ganha o nome “Islands” e a coisa muda de figura.
Quando as duas primeiras músicas “Puzzles” e “Dare” (que já aparecia em um Ep bem bacaninha desse ano) acabam de tocar, a impressão é que algo como um “Manual Prático Para Festas Oitentistas - Volume II” ganhasse corpo. Mas (e esse “mas” é daquele que não é bom de ser adicionado), a partir daí a coisa se perde um pouco. A banda deixa de lado influências melhores e se concentra em temas meio tristes, sombrios, com aquelas letras chatas de contemplação, característica tão forte da época, acabando assim com a diversão.
Philip Ekstrom (vocal e guitarra), Henrik Ekstrom (baixo), Petter Aguren (guitarra e teclados) e Simon Fransson (bateria) não conseguem repetir o êxito da estréia. Em muitos momentos o abuso de teclados e climas mais oníricos enchem a paciência. As boas melodias ainda estão presentes, o que vindo de bandas da Suécia não chega a ser grande surpresa. Em faixas como “Once I Was Pretty” e “Bricks” até que a coisa flui mais ou menos, mesmo sem carregar as mesmas cores com que foram pintadas há dois anos.
No entanto, em outras como “Symmetry”, “Cry For Love”, “Whatever Saves Me” e “The Disappearance Of My Youth”, aquela influência “descarada” ganha corpo de “cópia deslavada”, e pior ainda, sem grande inspiração. Em “Islands” o Mary Onettes acerta no máximo em 30% do trabalho, o que convenhamos é muito pouco. Nem as melodias bonitas e o vocal forte de Philip Ekstrom salvam essa nova empreitada. Para quem esperava algumas pequenas pérolas como “Pleasure Songs” e “Lost”, o melhor é esquecer e deixar para a próxima.
Sobre a estréia do grupo, passe aqui.
Site oficial: http://www.themaryonettes.net My Space: http://www.myspace.com/themaryonettes

sábado, 28 de novembro de 2009

"35 Doses de Rum" - 2009

Solidão, dependência afetiva, medo, família. Temas que freqüentemente se correlacionam mundo afora a cada dia, a cada momento. Usando esses temas, a diretora francesa Claire Denis, constrói no seu mais recente trabalho, pontes que ligam esses pontos de maneira silenciosa, conservadora e respeitosa. Em certo ponto essas pontes são mais brutais que um espancamento público ou uma troca de tiros entre policiais e bandidos. O silêncio que Claire Denis usa é forte e devastador, ao mesmo tempo em que paradoxalmente acalma e afaga.
“35 Doses de Rum” se passa na França com uma pequena incursão na Alemanha. Nele, conhecemos Lionel (Alex Descas), que não é de falar muito, prefere observar e ganha a vida como motorista de trem. Mora em um lugar de classe média baixa junto com sua filha Joséphine (Mati Diop), que além de cursar faculdade trabalha em uma loja da megastore Virgin. Quando o filme vai passando percebe-se que Lionel é viúvo e criou a filha boa parte do tempo sozinho, filha pela qual nutre uma dependência que passa e retorna por ela mesmo.
A vida de Lionel é simples. Não tem grandes luxos ou amigos. Seu círculo de convivência resume-se aos colegas de trabalho e a dois moradores do seu prédio. A taxista intrometida Gabrielle (Nicole Dogue), que é uma amante habitual e Nóe (Grégorie Colin), um vizinho andarilho que é um pouco apaixonado por Joséphine. Para traçar o relacionamento entre os personagens, Claire Denis usa de uma câmera que não se preocupa somente em focar rostos e expressões, mas também detalhes pequenos como mãos, janelas e pratos.
Em uma passagem de extremo lirismo em um bar enquanto toca “Nightshift” do The Commodores, os quatro personagens principais vão se sucedendo em pequenas danças nas quais os olhares denunciam todos os sentimentos que estão ali doidos para explodir, mas não conseguem se demonstrar e acabam sendo contidos mais e mais ainda, até chegar a um ponto em que tem que se rebelar. A tensão especificamente dessa cena é o ápice de um filme que vai encantando ao provocar uma inquietação estranha e desconcertante.
Claire Denis afirma (talvez sem essa pretensão) com “35 Doses de Rum”, a grande cineasta que o mundo canta nas suas esquinas, mas que nós brasileiros não conhecemos tanto, pois seus filmes acabam não sendo lançados muito por aqui. Ao explorar o silêncio de maneira ensurdecedora e avassaladora, a diretora francesa adiciona a sua filmografia um retrato delicado e complexo da relação entre pai e filha, que expressa todo seu amor e dependência mútua através de pequenos gestos e movimentos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

"There Is No Enemy" - Built To Spill - 2009

O Built To Spill está de disco novo. A banda de Doug Martsch está de volta e parece querer retomar a boa forma que exibiu nos anos 90, com clássicos como “Keep It Like Secret” de 1999. “There Is No Enemy” é o sétimo disco de estúdio desses americanos de fórmula sonora pop e repleta de experimentalismo e improvisações. Doug Martsch, líder e principal cabeça pensante do grupo, se dedicou muito para o novo trabalho e toda essa dedicação parece ser recompensada quando as onze faixas vão se sucedendo.
A camada sonora coberta de texturas, barulhos e ótimas guitarras é a base perfeita para o grupo diluir suas belas melodias e poesia meio marginal. A abertura de “Aisle 13” com os efeitos se alternando até entrar um riff simples e eficiente de guitarra, já lembra o velho Built To Spill que se perdeu um pouco nessa década. Doug, com seu vocal característico, canta versos de decepção em passagens como “...todos os dias algo estranho que eu não posso explicar acontece comigo...” Nada mais típico.
Em faixas como “Life's A Dream”, aquele toque de maestria aparece novamente com toda a força. Melodia bonita e um solo de guitarra fascinante servem para Doug despejar esperança, que por mais que pareça juvenil a primeira vista, não é nada gratuita. “A vida não é nada mais que um sonho...”, canta o vocalista em determinado momento. Se olharmos bem para trás e nas coisas que movem o nosso caminho, podemos aceitar que seja isso mesmo. Repito, por mais que pareça juvenil a primeira vista.
As canções com mais de cinco minutos que são tão comuns na sua carreira, aparecem de sobra neste “There Is No Enemy”, como na setentista “Good Ol' Boredom”, na lisérgica “Oh Yeah”, na viagem melancólica de “Done” (...a solidão está ficando difícil de perceber, parece que nunca chega ou que nunca sai...) ou na derradeira “Tomorrow”, com seus sete minutos e quarenta segundos. Em outras como “Pat”, diferente disso, a banda soa rápida, curta e grossa, como o Dinosaur Jr. do inicio da carreira. Versatilidade é um ponto chave.
Com “There Is No Enemy”, Doug Marchst e seus comparsas (Brett Nelson, Scott Plouf e Jim Roth) mostram um disco extremamente prazeroso. Bem tocado, produzido e criativo. Não chega a fazer frente para alguns trabalhos essenciais do grupo, no entanto também não faz feio na sua discografia, principalmente olhando para os dois registros anteriores. É sempre bom ver uma banda como o Built To Spill de disco novo. É colocar para tocar e deixar se envolver pelas viagens sonoras que ela sempre foi craque em proporcionar.
Site oficial: http://www.builttospill.com My Space: http://www.myspace.com/builttospill
Sobre o “Keep It Like Secret”, passe aqui.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

"Nem Vem Que Não Tem: A Vida e o Veneno de Wilson Simonal" - Ricardo Alexandre

A vida de Wilson Simonal ganhou bastante divulgação e comentários em todas as esferas da mídia nacional depois do lançamento do filme “Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei”. O artista que na segunda metade dos anos 60 e comecinho dos anos 70 era provavelmente o maior ídolo popular do país, entrou para a história infelizmente menos por seu talento musical e mais pelas acusações de ser delator de companheiros para o DOPS na ditadura militar, o que resultou em uma queda vertiginosa na sua carreira.
Essa vida repleta de brilho e de inúmeros erros está agora também nas livrarias. “Nem Vem Que Não Tem: A Vida e o Veneno de Wilson Simonal” chega pela Editora Globo (é até engraçado depois do que é contado no livro) com 392 páginas. Escrita por Ricardo Alexandre, diretor de Redação da Revista Época São Paulo e autor de “Dias de Luta - O Rock e o Brasil Nos Anos 80”. Com inúmeras pesquisas de campo e entrevistas com personagens vinculados, cria-se um mapa detalhado sobre todos os fatos da vida do cantor.
O tom inicial de Ricardo Alexandre chega a incomodar um pouco, como se saísse em defesa de Simonal ao invés de mostrar imparcialidade. No entanto, isso vai sendo corrigido aos poucos e resulta no fim de tudo em uma narrativa funcional, que a partir da segunda metade se preocupa em mostrar os dois lados. A fase de construção do ídolo do país é deliciosa. Simonal com sua marra e qualidade, conquista uma nação com suas canções, que apesar de taxadas por muitos como alienadas eram musicalmente brilhantes.
A influência de Sérgio Mendes, os tempos com o grupo Som Três e a parceria com César Camargo Mariano, os shows memoráveis, o garoto propaganda do país, o dueto inesquecível com Sarah Vaughan, os elogios de Quincy Jones. Tudo isso passa como se não tivesse fim. Mas teve. Em certo dia, Simonal convidou seus “amigos” do DOPS para dar uma prensa no seu contador, que movia uma ação trabalhista contra ele. O resultado foi um processo grave contra o cantor que desandou toda a sua carreira e vida.
O Pasquim nas mãos de Jaguar (um tremendo canalha, conforme o livro) e Henfil (que publicou uma história sugerindo que o cantor se matasse) colaboraram e muito para o desenrolar dos fatos e “honrar” o título de “dedo-duro” a Simonal, título que carregou até o final da vida, por mais que não se conseguisse provar nada contra ele. Tudo foi resolvido no campo dos boatos e da imprensa, que em tempos de ânimos tão acirrados como os da ditadura não dispensaria nunca um artista com ligações tão fortes com o exército brasileiro.
É claro que Simonal errou ao contatar o DOPS para coagir seu contador e deveria ser punido por isso. Mas não foi por isso que sofreu a vida toda. Lógico que Simonal não era um garoto exemplo. Era marrento, adorava se exibir com mulheres e carrões, literalmente “se achava”, e isso o fazia tomar algumas decisões totalmente erradas e entender que era maior do que era. Mas de tudo que já foi dito sobre o cantor, percebe-se que o rótulo de “dedo-duro” nunca foi justo, por mais que seja admissível que essa fama tenha fundamento.
Todo mundo foi anistiado depois da ditadura. Menos Simonal. Essa é a dura verdade. O cantor passou o resto da vida tentando recuperar uma imagem perdida. Se não fossem os filhos Patrícia, Wilson Simoninha e Max de Castro, além de amigos como Chico Anysio e Roberto Carlos, tudo seria pior. Simonal morreu em 2000, deixando para trás uma obra de grande valor artístico. Nem anjo, nem demônio, Wilson Simonal merece ser reconhecido como o grande artista que foi e ter seu lugar reservado na história da música brasileira. O livro de Ricardo Alexandre é mais um passo para isso.

domingo, 22 de novembro de 2009

"À Procura de Eric" - 2009

Eric Bishop (Steve Evets) é um inglês comum de classe média baixa. Mora na cidade de Manchester onde exerce a profissão de carteiro e é fã fervoroso do Manchester United, principalmente de um antigo ídolo, o francês Eric Cantona, que brilhou nos anos 90 e foi responsável pelo ressurgimento do time, hoje um dos maiores do mundo. Eric Cantona talvez seja mais lembrado pela voadora que deu em um torcedor do Crystal Palace e o deixou suspenso por nove meses do futebol. Mas fora isso, o francês jogou muita bola mesmo.
A vida de Eric Bishop não anda lá essas coisas. Tudo vai de mal a pior. Vive em uma fase negra desde que sua mulher se foi e o deixou cuidando de dois enteados que só lhe dão dor de cabeça. Além disso, a sua filha com a mulher que mais amou na vida há mais de 30 anos, precisa da sua ajuda para acabar de se formar, o que força o velho carteiro a encontrar novamente a tal mulher que tanto amou e dividir a guarda da sua neta enquanto a filha não pode. Isso provoca uma forte ansiedade que lhe faz sofrer inclusive um acidente de carro.
Eric Bishop está mal, acabado e não consegue se erguer nem com a ajuda dos amigos. A única forma que encontra para relaxar é roubar um pouco de maconha do enteado mais velho e fumar sozinho. Para sua surpresa em uma dessas paradas para relaxamento, o seu ídolo maior lhe aparece. Ele, Eric Cantona, o “Rei Eric”, adorado pelos torcedores do Manchester até hoje. Vivido pelo próprio jogador, o ídolo começa a ajudar o fã com várias pérolas de auto-ajuda e uma forte obstinação em fazê-lo encarar a vida novamente.
Partindo desse ponto surreal e com toques de fábula moderna, o diretor Ken Loach guia um filme divertido e emocionante. “À Procura de Eric” é um filme sobre seguir em frente, sobre mudar de vida, sobre enfrentar de vez os fantasmas do passado e encontrar um novo caminho. E acima de tudo, por mais besta e banal que possa parecer nos dias de hoje, é sobre buscar a felicidade. O roteiro de Paul Laverty quase não escorrega e se ancora na ótima atuação de Steve Evets como o personagem principal para seguir bem.
A relação de fã e ídolo explorada em “À Procura de Eric” é inusitada e provocativa, se alongando para vários outros lados de maneira bem agradável, como a relação com a família, a importância de bons amigos na vida e o novo futebol que com suas marcas e patrocinadores acaba afastando antigos torcedores dos estádios. E ainda por cima para quem gosta de futebol, o filme é recheado com golaços e jogadas maravilhosas desse francês prepotente e metido a besta chamado Eric Cantona, que repito, acima disso jogava muita bola.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"Hushaboo" - Iris Leu - 2009

Sabe aquela história do disco que alguém indica, você torce o nariz, mas resolve dar uma chance? Pior ainda, depois dessa primeira chance nada de mais acontece e então você arquiva o registro. Mas, em um dia como outro qualquer você procurando uma música para sacar no player enquanto trabalha, decide escolher novamente o disco e “tchã, tchã, tchã”, a coisa funciona e passa a seguir repetidamente tocando por mais outros dias.
Clichêzão, eu sei. Mas os clichês acontecem de vez em quando, não é mesmo? O disco em questão é “Hushaboo” estréia da cantora e compositora Iris Leu. Oriunda de Dallas nos Estados Unidos, essa mulher com rosto de menina e feições asiáticas, traz na sua estréia 10 canções que agradam muito. São 46 minutos de melancolia e beleza flertando constantemente, enquanto se entrelaçam no piano e vocal com uma segura banda de apoio.
A banda de apoio em questão consiste em Earl Darling, Taylor Tatsch e Cooper Heffley. A música de Iris Leu remete a vários pontos distintos. Lembra Bjork, Sarah McLachlan, Norah Jones e até mesmo a Dolores O’Riordan do Cranberries. Com o piano como condutor, mistura pop com jazz e música clássica (culpa da formação da moça), em uma pequena salada que se não ostenta nada de extraordinária é feita com bastante competência.
Basicamente há duas divisões no trabalho. Uma mais ritmada com a ótima “For Keeps” que abre o disco com uma guitarra que dá um plus todo especial e outra mais repleta de tristeza com “After All Is Done”, que conduzida sozinha por Iris Leu no piano, emociona bastante. No meio disso ainda há momentos bem bonitos como a balada pop classuda de “Four Sessons” ou o groove meio Stevie Wonder de “Twentyone”.
“Hushaboo” pode não agradar a primeira audição, acabando por entrar no balaio de gatos de tantas cantoras do mesmo estilo. No entanto, se escutado com calma mostra qualidades que acabam o credenciando para novos momentos. É um disco para ouvir a noite principalmente, sem festa, alarde ou champanhes sendo estouradas. Um disco para ser escutado quando a luz estiver mais baixa e os ânimos meio encobertos e pouco despertos.
My Space: http://www.myspace.com/irisleu

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Minha Fama de Mau" - Erasmo Carlos

“Meu papel no mundo é fazer canções cantando o amor que trago do berço...”, escreve Erasmo Carlos em determinado momento no seu livro “Minha Fama de Mau”, que recentemente ganhou vida através da Editora Objetiva, com 368 páginas. O Tremendão abre seu coração no que ele mesmo define como um apanhado de memórias e não uma autobiografia da sua vida. Com muito bom humor e amor no coração conta alguns “causos” da sua história.
“Minha Fama de Mau” realmente se apresenta como um apanhado de memórias do cantor e compositor, vindo desde a infância no Bairro da Tijuca, passando pelo estrelato e fama na Jovem Guarda, pela eterna parceria e amizade com Roberto Carlos e a seqüência da sua carreira. Em muitos momentos parece que estamos diante de uma conversa de bar, com trocas de passagens e acontecimentos, tudo sempre preenchido com muita leveza e descompromisso.
O livro adota uma postura completamente light e superficial de tudo que o Tremendão passou. Usa e abusa somente da devoção de Erasmo para com as mulheres e toda a aura de sexo que envolvia a doce e meiga Jovem Guarda. Momentos difíceis da sua vida passam longe de ser comentados com muita profundidade, como o suicídio da esposa e eterna paixão Narinha e a doença da sua mãe por quem sempre devotou um amor intenso e admirável.
Algumas vezes essa postura leve cansa um pouco, pois traz histórias tão cotidianas da vida em família que não levantam interesse algum. Mas esse é o Erasmo. O eterno gente boa, tranqüilo, o amigo de todo mundo. Talvez por essa imagem ele nunca coloque diretamente o pé na porta, como por exemplo Eric Clapton fez na sua excelente autobiografia. Descontando essas passagens que não valem assim tanto a pena, existem outras engraçadíssimas na mesma quantidade para compensar.
As passagens com Tim Maia são sempre as mais surreais, como a que fecha o livro de maneira lírica e fantástica. Amigos de infância (foi Tim que ensinou a Erasmo os primeiros acordes), Tim não cansou de pregar peças no velho parceiro. Carlos Imperial é outra figura com grandes momentos. A farsa que foi montada para a divulgação do clássico “Vem Quente Que Estou Fervendo”, além de ser uma sacada de marketing genial, beira a fantasia.
O eterno amigo Roberto Carlos não aparece tanto, mas quando isso ocorre é citado com imenso carinho e dedicação. Mais casos vão preenchendo as páginas. Rita Lee, Jorge Ben e Gilberto Gil, entre tantos outros dão a cara nas conversas de botequim do Tremendão. “Minha Fama de Mau” não traz nenhuma revelação bombástica ou dramas pessoais terríveis. Isso até certo ponto pode pesar contra, mas as risadas que aparecem regularmente acabam valendo bem mais. Afinal, sorrir faz bem a saúde.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

4º Festival Se Rasgum - African Bar (PA) - 13,14 e 15 de Novembro

Sexta feira, 13 de novembro de 2009. Por volta das 20:00hs chegava ao complexo do African Bar, situado no centro de Belém, para mais uma edição do Festival Se Rasgum, a quarta sendo mais exato. A escalação do ano trazia nomes de diversas vertentes e musicalidades, o que gerava uma expectativa interessante. Logo no primeiro passeio a estrutura chamou a atenção, com uma praça de alimentação mais diversificada e internet disponibilizada para os presentes através de um dos patrocinadores do festival. Boa sacada.
A programação de sexta começou com atraso. Devido a problemas com a chuva que caiu mais cedo isso acabou por alterar a ordem das apresentações e gerar certo desconforto. No entanto a superstição da data do dia acabou por aí. Quando a banda de Belém, The Baudelaires, subiu ao palco, as coisas começaram a engrenar. Abrindo o festival, a banda trouxe um powerpop bem bacana. Poderia funcionar melhor se optassem em cantar mais em português.
Em seguida o Ataque Fantasma tomava conta do palco principal. Com pouca gente ainda presente, o show não foi tão empolgante, no entanto, instrumentalmente deve ter sido a melhor das várias apresentações que já vi. O som estava limpo e permitia escutar tudo nitidamente. E é sempre bom escutar canções como “Central”. Com a seqüência dos shows quebrada pelos imprevistos, o Gork apareceu logo cedo no segundo palco e carregou a primeira grande apresentação do festival.
André Abujamra toca o projeto junto com o baterista Loco Sosa e o baixista Jesus Sanchez. A brincadeira com o rock mais pesado rendeu ótimos momentos. As letras cheias de maluquices de André funcionaram bem, o público endossou e o show foi divertidíssimo. Os mineiros do Dead Lover’s Twisted Hearts, que eu não conhecia antes, subiram logo após e foram discretíssimos. Talvez funcione em um lugar mais fechado, mas no Festival Se Rasgum não deu liga. Pausa para tomar mais uma cerveja.
O Pro.EFX com Arcanjo Ras trouxe uma proposta interessante de se ver. Reggae, Rap e Dub servido em boas doses. Não foi espetacular mas rendeu bons momentos. Saí no meio para o Espaço Laboratório, onde o Eletrola, banda seminal dessa nova geração do rock paraense e que rendeu bandas como Johny Rockstar, Turbo e Clube da Vanguarda Celestial posteriormente, fazia o primeiro show depois de anos da separação. O Espaço Laboratório foi pequeno. Show Impecável. “Revel” e “Não Olhe Para Mim” emocionaram muito.
A Nação Zumbi que ia fechar a noite, subiu antes para alegria dos muitos fãs presentes. O grupo mesclou momentos de discos mais recentes como “Fome de Tudo” com clássicos da época que Chico Science ainda comandava o barco. Tiro certeiro, apesar de eu já ter visto shows bem melhores anteriormente. Mas a Nação traz esse grande mérito, mesmo quando não está tão inspirada, consegue ser bem acima da média. “Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada” foi o grande destaque.
O Cérebro Eletrônico veio depois e fez um show extremamente competente e divertido. Canções como “Dê” foram fortemente cantadas. Quando o Juca Culatra & Power Trio iniciavam seu show, o cansaço já era tão intenso que não deu para agüentar. Sai antes do fim e ainda perdi o Tecnoshow e o Bonde do Rolê, que muitos amigos elogiaram no dia seguinte. Para ser bem honesto, acabo por acreditar que não perdi tanta coisa assim, mas...o sábado viria pela frente. Dos três dias de festival, a escalação de sábado era a mais versátil. Começou novamente atrasada por alguns motivos técnicos e as duas primeiras bandas, duas paraenses, Aeroplano e Dharma Burns, mostraram um som correto, mas nada que chamasse mais a atenção. O primeiro bom show da noite viria com o Radiotape, banda mineira que após uma elogiada estréia trouxe seu powerpop para Belém. Show bem executado, com canções para cantar junto e com direito a uma versão matadora de “Rock n’Roll Star” do Oasis.
O Johny Rockstar entrou no segundo palco e fez até aquele momento, o melhor show do festival. Eliezer, Natanael, Elder e Ivan (um monstro na bateria), tocaram um espetáculo irrepreensível. Forte, pop, enérgico. E lá vai o público cantar faixas como “Alcalina” e “Vingança Dos Chatos”. Muito bom. Os paulistas do Milocovik que tocaram depois, foram responsáveis pelo pior show da noite. Tudo inverso ao Johny Rockstar. Fraco e insosso. Perdi as duas últimas músicas, enquanto pegava mais uma cerveja e me posicionava para o Marku Ribas.
Instrumentalmente falando, talvez o Marku Ribas tenha sido o grande nome do festival. Banda cheia de classe. O baterista Esdras Nenén Ferreira abusava da sua qualidade. O queixo as vezes ficava meio caído. Com suas histórias e seu samba remodelado, convenceu e ganhou o público que sem preconceito foi assistir. O que veio a seguir foi um momento único. A apresentação de Pinduca, um ícone do carimbó e da música regional paraense foi apoteótica. Nunca fui lá muito fã do cara, mais o que ele fez no Se Rasgum é digno de respeito.
As músicas de Pinduca estão gravadas no inconsciente da esmagadora maioria dos paraenses. Foi hit atrás de hit. Todo mundo querendo dançar e se sacudir ao som do carimbó. Em músicas como “A Marcha do Vestibular” e a versão de “La Bamba”, a catarse foi geral. Totalmente fora da sua habitual praia, Pinduca fez o melhor show do 4º Festival Se Rasgum. O Digital Dubs com o B Negão e o Ras Bernado subiu depois, mas tirei sua apresentação para descansar um pouco e comer alguma coisa para revigorar.
Os gaúchos da Comunidade Nin-Jitsu fizeram todo mundo dançar. O funk com guitarras altas do grupo funcionou e até B Negão apareceu para dar canja. O final com “Melô do Analfabeto” e “Detetive” foi bem recebido. O projeto Música Magneta foi bastante comentado depois, mas também optei por descansar devido ao avançado da hora e esperar pelo Pato Fu. Com duas horas de atraso, Fernanda Takai, John Ulhoa, Ricardo Koctus, Xande Tiametti e Lulu Camargo subiam para encerrar a segunda noite.
O Pato Fu fez um ótimo show, apesar de o público ter curtido mais tranquilamente, sem se empolgar tanto, afinal o cansaço já era predominante. Fernanda brincou, dançou, tocou e brindou o público com sua habitual simpatia. Em músicas como “Canção Para Você Viver Mais” emocionou bastante. A banda até tocou “Mamãe Ama é o Meu Revolver” do seu longínquo segundo disco, “Gol de Quem?”. O final teve “Sobre o Tempo” e “O Filho Predileto do Rajneesh”. Era cinco da manhã quando acabou e o público migrava para o seu merecido descanso.
O Clube da Vanguarda Celestial, elogiada banda do Natanael (que já havia tocado no festival com o Ataque Fantasma, Johny Rockstar e Eletrola) abriu o último dia em uma apresentação pouquíssimo inspirada, principalmente do baixista Bob Stone. Os amapaenses do Godzilla também não conseguiram convencer. Apesar do som vigoroso, pareceu meio confuso na maioria das vezes. Os paraenses do Sincera chegaram na seqüência e agradaram os fãs que pulavam na frente do palco com seu rock mais adolescente.
O Inverso Falante, outra banda paraense, fez um show mais interessante logo depois. Os músicos são bons instrumentalmente e convencem bem. O Amp de Pernambuco trouxe as guitarras em primeiro plano. Apesar de não fazerem nada de novo, o grupo agradou com uma forte energia. Ótimo show. Os uruguaios do Hablan Por La Espalda traziam uma boa expectativa por tudo que se comentara antes, mas só conseguiu agradar em alguns momentos. A herança progressiva da banda, acaba soando chata as vezes. Quando atiram no hard rock, acertam mais.
Jayme Katarro subiu com o seu Delinqüentes para comandar o primeiro grande show de domingo. Não sei quantas vezes já vi o grupo em ação, mas nunca vi uma apresentação ruim. Dessa vez não foi diferente. Hardcore na alma, com entrega e perfeita comunhão entre artista e público. Em canções como “Planeta dos Macacos” a roda de pogo tomou conta. Os cariocas do Matanza seriam a próxima banda. O grupo do vocalista Jimmy tem um público fiel em Belém e por conta disso o seu show foi outro dos grandes do festival.
O público pulava, cantava e jogava cerveja uns nos outros, tudo como reza o espírito do Matanza. Palmas eram escutadas com grande freqüência. O Stress, lendária banda paraense que remonta ao final dos anos 70, foi o penúltimo show da noite. Roosevelt Bala e seu baixo agenciaram outro bom show, com o público cantando junto clássicos como “Mate O Reú”. De responsa. A ultima banda a se apresentar e assim encerrar a maratona musical dos três dias do festival foi o Velhas Virgens.
Seminal banda da putaria do rock nacional, o grupo comandado por Paulão tocou seu hard rock com muita propriedade. Showzaço. O melhor da noite. As guitarras em primeiro plano introduziam músicas como “Abre Suas Pernas” para delírio dos fãs que cantavam junto. A banda brincava, frescava e incitava enquanto o público envergava as últimas cervejas do Se Rasgum de 2009. A vocalista Juliana Kosso toda vez que subia causava alvoroço. O Velhas Virgens é rock da mais alta estirpe, bagaceiro e sem a mínima frescura.
A quarta edição do Festival Se Rasgum foi a melhor estruturada de todas. O único senão ficou por conta dos atrasos que permearam todo o evento e que em dias como sábado foram relevantes. O cancelamento dos shows do Trio Manari do Pará e dos baianos do Retrofoguetes também devem ser mencionados. No entanto, nada disso tira o brilho do evento. Shows memoráveis passaram por essa edição, que acabou por ser a melhor até agora. Um banho de ecletismo musical e bom gosto. Que venha 2010.
P.S: Para não deixar de dar uma de Rob Fleming, segue abaixo um Top 5 dos melhores shows dessa edição:
1-Pinduca (PA) 2-Velhas Virgens (SP) 3-Johny Rockstar (PA) 4-Gork (SP) 5-Pato Fu (MG)
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