Quando o Audioslave foi criado em meados de 2001 por Chris Cornell (vocais), ex-Soundgarden e três integrantes do Rage Against The Machine, no caso Tom Morello (guitarras), Tim Commerford (baixo) e Brad Wilk (bateria), muita gente torceu o nariz, afinal de contas, projetos como esse geralmente dão certo. Hoje, cinco anos depois, dois discos lançados (os excelentes “Audioslave” de 2000 e “Out Of Exile” de 2005) e um DVD de um show histórico em Cuba, a descrença faz parte do passado, a banda assume o posto de uma das maiores da atualidade com seu som vigoroso e ao mesmo tempo melódico. “Revelations”, o novo disco do quarteto lançado mês passado está figurando entre os mais vendidos dos USA, galgando mais um degrau e se consolidando em detrimento de tantas modas passageiras que vez ou outra tomam de assalto o mercado. Com o Audioslave o rock definitivamente não morreu. Não só sobrevive nos guetos e na independência como também no mainstream. Esse novo disco talvez seja o que melhor resume a mistura entre as ex bandas dos integrantes, aliando a melodia e o peso do Soundgarden com o ritmo e a energia do RATM. O som dá uma aliviada, ganha em diversidade, amplia mais o horizonte e utiliza o funk como ferramenta musical em faixas como “One and The Same” e “Moth” que fecha o disco. Abrindo com a faixa que dá nome ao disco, a guitarra de Tom Morello se alterna entra o dedilhado e a batida, abrindo espaço para o vocal sempre arrebatador de Chris Cornell, entrando com os versos: “You know what to do/ You know what I did...”. Destaques maiores ainda também para “Original Fire”, que lembra bastante o RATM, “Somedays” e Nothing Left To Say But Goodbye”. Pode-se perceber o Audioslave de sempre em “Sound Of a Gun”, cantar junto com a quase doce “Until We Fall” com seus violões e efeitos e chutar o balde com a letra de “Wide Awake” que tem como pano de fundo o furacão Katrina para falar do governo Bush. Pode ser que esse não seja o melhor dos álbuns da banda (mesmo brigando cabeça a cabeça por isso), mas com certeza é o que melhor define sua fusão de idéias. Rock de qualidade para ser ouvido em alto e bom som, mexendo a cabeça, ditando o ritmo com o pé na bateria imaginária e notar falando sozinho “Que sonzeira boa!!” Afinal quem tem Tom Morello de guitarrista e Crhis Cornell de vocalista já começando ganhando o jogo de pelo menos uns 2 a 0.
quarta-feira, 25 de outubro de 2006
terça-feira, 24 de outubro de 2006
"Vizontele" - Yilmaz Erdogan (2006)
segunda-feira, 23 de outubro de 2006
"Manderlay" - Lars Von Trier (2005)
O dinamarquês Lars Von Trier é um grande cineasta, daqueles que qualquer trabalho chama a atenção, levando a discussões (positivas ou negativas, mas sem passar despercebido) desde que apareceu completamente ao mundo com o filme “Dançando no Escuro” de 2000. Um dos fundadores do movimento “Dogma 95”, que insiste em um cinema mais simples e natural, no entanto com muita criatividade. Em 2003, o diretor iniciou sua trilogia denominada “EUA – Terra das Oportunidades” com o filme “Dogville”, que surpreendeu com sua abordagem cética e cínica dos americanos, dentro de uma concepção diretiva quase teatral, passando inclusive pelos cenários, ou a falta deles se preferir. Ano passado, a saga de Grace (agora interpretada por Bryce Dallas Howard de “A Vila” no lugar que era de Nicole Kidman) continua em “Manderlay”, ambientado em uma cidade sulista que recebe a visita desta e de seu pai (Willem Dafoe) com seus gangstêres a procura de novos horizontes. “Manderlay” é uma fazendo que ainda continua mantendo a escravidão dos negros em 1933, mesmo depois da abolição tempos atrás. Mais uma vez Grace ao enxergar que as coisas estão erradas na sua visão, começa a fazer parte dessa intricada relação entre patrões e empregados que parece ser bem mais complicada do que o seu sentido de certo indicava. Von Trier consegue melhorar bastante sua receita cinematográfica, dirigindo seu elenco em atuações soberbas como a de Bryce Dallas Howard e singelamente Danny Glover como Wilhelm, o mais velho dos escravos e que no decorrer do filme demonstra ser uma ótima surpresa. Com um enredo bem arrumado, a receita de crítica social envolta a papéis bonitos e laços de presente, esbanja cinismo e um falso conformismo. Um tema sempre atual como o do racismo que tem raízes tão profundas quanto mal cheirosas nos USA, a terra que abre chance a todos, mas ao mesmo tempo caça aqueles que formam sua nação. Parafraseando um epílogo do clássico “V de Vingança” de Alan Moore, “Manderlay” é para aqueles que não desligam a tv quando o noticiário começa e continua achando que tudo é como acha que devia ser. Agora é esperar o final da trilogia marcada para o ano que vem com “Wasington” e se deliciar com a mais recente obra prima do diretor.