Anos 50. Um milionário resolve
por capricho gastar uma parte da fortuna para abrir um jornal. O ambicioso projeto
terá sede em Roma na Itália e se espalhará por todo o mundo em língua inglesa,
adotando como foco a excelência e a credibilidade. Esse é o mote inicial que
conduz a trama de “Os Imperfeccionistas”
do escritor inglês Tom Rachman, que ganhou edição nacional no ano passado pela
Editora Record com 384 páginas e tradução de Flávia Carneiro Anderson.
Os capítulos do livro são
dedicados individualmente a um personagem do jornal, indo do chefe de redação
até a diretoria. São 11 pessoas que têm um trecho da vida contado durante os
anos de 2006 e 2007, fase em que o livro se desenvolve. Entre esses capítulos existem
outros menores, onde os bastidores da criação do jornal aparecem e indicam não
somente o processo árduo de continuidade, como também os reais motivos por trás
de uma empreitada tão arriscada.
Tom Rachman já foi correspondente
internacional em vários lugares, como também editor, o que lhe garante domínio
para escrever sobre o momento que impulsiona a obra. Os jornais estão à beira
da falência e sobreviver sem olhar para o mundo virtual é impossível. Aliás,
vencer olhando para o mundo virtual também é bem difícil. Os tempos são outros
e se reinventar é preciso, além de ser vital para que ideias continuem sendo
expressas e tenham o devido retorno financeiro.
Essa reinvenção é justamente o
que não ocorre no jornal em Roma. Sem site na internet e sem colaboradores
capazes espalhados pelo mundo, a ladainha corporativa de redução de custos e
corte de pessoal paira sobre todos. A tiragem despencou para a metade do que já
alcançou um dia e a almejada credibilidade está sendo arrancada com erros
grosseiros de escrita e matérias sem inspiração. No meio desse tiroteio
silencioso estão os funcionários, a mola mestre do negócio.
É em cima dos funcionários que “Os Imperfeccionistas” se expande.
Amarrando os dramas pessoais vividos por cada um com a situação profissional,
Tom Rachman cunha um panorama de desilusão e desgosto com a vida, mesmo que em
alguns casos isso esteja encoberto por ambições profissionais ou simples
desinteresse. Não há felicidade no livro. Esse é um artigo em falta. As
conquistas que ocasionalmente aparecem são motivadas por algum desastre ou
desatino.
De modo geral a trama é
interessante e prende a atenção. O autor correlaciona todos os fatos e
personagens deixando poucas arestas a aparar. Em passagens como a da leitora
Ornella de Monterecchi ou do correspondente em Paris, Lloyd Burko, “Os Imperfeccionistas” alcança um
patamar realmente elevado ao mostrar que a vida é implacável ao passar, por
mais que se busquem artifícios para ocultar. O jornal pena para aprender essa máxima,
assim como as pessoas envolvidas.
Nota: 8,5
Site do autor: http://tomrachman.com