segunda-feira, 18 de novembro de 2013

“O Ancião Que Saiu Pela Janela e Desapareceu” - Jonas Jonasson

Quem só fala a verdade nem vale a pena escutar”, assim o jornalista e escritor sueco Jonas Jonasson introduz o seu livro “O Ancião Que Saiu Pela Janela e Desapareceu”, lançado este ano por aqui pela editora Record. Com 364 páginas e tradução de Bodil Margareta Svensson, o livro originalmente foi publicado em 2009 na Suécia e posteriormente foi traduzido para 35 países alçando o patamar de best-seller com mais de 4 milhões de cópias vendidas no mundo todo.

A história é construída em torno do centenário Allan Karlsson que justamente no dia em que completa 100 anos em 2005 resolve fugir do asilo que mora, porque não estava muito a fim de comemoração, o que causa um desespero geral na diretora do local e no prefeito que estava doido para se promover a custa do fato na pacata cidade em que governa. O fato envolve a polícia local e a imprensa e acaba ganhando proporções bem maiores que somente um sumiço.

Por um daqueles acasos inexplicáveis do destino, o ancião se vê de posse de uma mala contando alguns milhões de coroas suecas e meio sem pretensão, meio sem pensar direito, embarca em um trem que vai lhe levar para a grande aventura da vida. Porém, como descobrimos depois enquanto o autor mescla a atualidade com o passado, a existência de Allan Karlsson foi repleta de outras peripécias e de casos difíceis de serem assimilados como verdadeiros.

Da juventude onde sobreviveu através da empresa de explosivos que criou nas décadas iniciais do século XX, o personagem principal desembarcou justamente dentro do local onde os EUA estavam desenvolvendo a bomba atômica, e isso leva a repensar tudo que sabemos sobre esse acontecimento. Foi novamente meio sem querer, meio sem pensar direito, que Allan Karlsson deu a dica necessária para a construção da arma nuclear. E isso o leva a muitas coisas mais.

Os fatos narrados no passado são muito superiores aos da atualidade, pois o autor cruza momentos históricos e personalidades como Joseph Stalin, Mao Tsé-Tung, Winston Churchill e Richard Nixon (entre outras) com participações implausíveis e inimagináveis do nosso simpático velhinho. E aproveita para desfilar uma boa zombaria sobre os egos das nações e da humanidade em geral que levam a decisões estapafúrdias, ainda mais quando envolvem política e religião.

Nos acontecidos recentes a destreza da narração sucumbe um pouco, mesmo que essa zombaria com a política acabe ainda sendo jorrada em bom volume enquanto o longevo protagonista vai formando uma equipe de amigos e inimigos tão improvável quanto os causos que conta sem muita displicência. O passeio com tons de fábula é comandado por uma espécie de Forrest Gump, se esse não fosse tão bom moço e se permitisse tomar umas vodcas diariamente.

Em seu livro de estreia Jonas Jonasson alcança uma saudável união de aventura com ironia, de crítica política rasteira com bom humor, de sarcasmo com contemplações sobre a vida. Além de Allan Karlsson e o grupo de coadjuvantes que lhe circundam, a verdade (ou a dúvida em relação a ela) é uma das grandes personagens da trama. “O Ancião Que Saiu Pela Janela e Desapareceu” usa isso com sabedoria e agrada bastante, afinal o verdadeiro pode às vezes não ser verosímil e ainda assim render uma boa história.

Nota: 8,0

A editora Record liberou gratuitamente um trecho do livro para leitura no site. Olha aqui: http://www.record.com.br/images/livros/capitulo_rHqglg.pdf

domingo, 17 de novembro de 2013

Resumo - VIII Festival Se Rasgum - Belém (PA) - 2013

Desenvolvimento é um processo dinâmico de melhoria, que implica uma mudança, uma evolução, um crescimento e avanço, assim nos ensina o dicionário. E a palavra resume muito bem a 8ª edição do Festival Se Rasgum em Belém, no Estado do Pará. A cada ano o festival se desenvolve mais e vai mudando a proposta para chegar a um nível que consiga conciliar boas atrações, conforto do público, viabilidade do negócio e inovação musical. E a versão de 2013 teve muito de tudo isso.

A programação ficou mais ampla, se estendendo por cinco dias em três locais distintos, sendo um dos dias de graça. Isso permite ao público escolher melhor as atrações que quer assistir e atrai outra parcela diária que não está acostumada (ou não aguenta) uma maratona de 3 dias. Os shows iniciaram mais tarde, às 21:00hs ao invés das 18:00hs, o que contribui para que quem venha de fora usufrua a cidade de uma maneira melhor, tornando a experiência mais ampla. E nada de apresentação acabando de manhã, facilitando a recuperação e fazendo do show algo a ser apreciado sem tanto cansaço.

Enxergo a 8ª edição como uma evolução, um desenvolvimento, uma insistência profunda da produção em continuar diversificando as atrações e unindo o antigo com o novo, o inusitado. O espaço da maioria dos dias continua um acerto (e a presença de público confirma isso), a limpeza é algo a salientar e os atrasos foram muito poucos nesta edição se comparamos com as passadas que tiveram show varando a manhã do dia seguinte. Isso é extremamente benéfico a todos.

E mesmo faltando ao segundo e ao último dia do Festival Se Rasgum desse ano e perdendo atrações que queria assistir como Coletivo Radio Cipó, Manoel Cordeiro e Os Desumanos e Lucas Santtana, coloco abaixo um Top 10 entre os shows que assisti (em ordem de preferência):

1 – Tom Zé
2 – Tulipa Ruiz
3 – Jards Macalé
4 – Astronauta Pinguim
5 – Los Peyotes
6 – Bárbara Eugênia
7 – Projeto Secreto Macacos
8 – Madame Saatan
9 – Pélico
10 – The Baudelaires

Vida longa ao Festival. Que essa “cuíra” por fazer sempre algo novo não se acabe.


Mais sobre os outros dias, você acompanha nas postagens abaixo.

sábado, 16 de novembro de 2013

VIII Festival Se Rasgum - Hangar - Belém (PA) - 15.11.2013

Uma das marcas da maioria das edições do Festival Se Rasgum é a diversificação. E isso ficou bastante evidente no Hangar durante todo o quarto dia da versão de 2013. Os shows começaram pontualmente às 21:00hs com a apresentação do paraense Arthur Espíndola. Com um trabalho autoral prestes a ganhar disco que mistura samba de raiz, com um pouco de jongo e alguns refrãos bem assimiláveis, tivemos um show aprazível que acabou com “Conto de Areia” do também paraense Toninho Nascimento e que tanto sucesso fez na voz da inigualável Clara Nunes.   

Posteriormente foi a vez do Madame Saatan ascender ao outro palco do evento. A vocalista Sammliz falou sobre os 30 minutos de show e sobre o horário, e mesmo não aparentando estar muito satisfeita com ambas as coisas comandou a banda em uma exibição possante, como de costume. Sendo gentil com público, se movimento no palco de acordo com os riffs cortantes do hábil Ed Guerreiro e, evidentemente, cantando muito, Sammliz provou mais uma vez ser a melhor cantora do rock brazuca em atividade atualmente. E não abre muita margem para discussão nesse quesito.

Se os 30 minutos de palco podem ser considerados poucos para o Madame Saatan, o mesmo não pode ser dito para o gaúcho Astronauta Pinguim. Produtor experiente, ótimo músico que passou por inúmeras bandas como apoio (a de Júpiter Maçã foi uma delas), ele foi responsável por uma das apresentações mais imprevisíveis do festival. E os 30 minutos lhe caíram perfeitamente enquanto passeava por um repertório que unia anos 80, pós-punk, eletrônica e muita experimentação (com direito a Theremin e tudo), que resultaram em dos grandes shows do dia e do festival.


Enquanto as camadas sonoras ainda eram absorvidas pela mente, no outro palco os experientes Los Peyotes da Argentina começavam a imprimir freneticamente sua música a todos. Um show caótico, com guitarra no último volume, gritos, caras e bocas dos integrantes, sujeira de garagem misturada com o pop sessentista, roupas iguais e muita energia. O vocalista gordinho, feio, baixo e com cabelo horrível logo se tornava um cara a ser admirado. Tirando a desnecessária inclusão de Pelé e Maradona em determinado momento, o quinteto causou um rebuliço danado.

Na preparação para um dos shows mais esperados desta roupagem, a paraense Zebrabeat, tocou e convenceu no palco deck, com sua mistura instrumental de música brasileira e latina, o que levou até a cover de Fela Kuti. Bem interessante. E quando o relógio passava um pouquinho da meia noite, foi a vez de Bárbara Eugênia subir ao palco ciceroneada por uma banda eficaz e versada que contava com Davi Bernardo na guitarra, Clayton Martins na bateria, Jesus Sanchez no baixo (esse, um habitué de terras paraenses) e o Astronauta Pinguim nos teclados.

De shortinho curto e coração pintado no rosto, a artista começou com “Coração” e “A Chave” e apesar dos pequenos problemas de som no início, conseguiu engatar o show da maneira que queria. Chamou Pélico para cantar “Roupa Suja”, emendou versões do brega “Porque Brigamos (Diana)” e encerrou com “As Curvas da Estrada de Santos”, hino de Roberto e Erasmo Carlos. Tendo a banda como destaque maior, Bárbara Eugênia fez uma exibição onde a fofurice e a temática hippie vão ficando mais de lado (o que é bom) e apesar da empatia total com o público, ainda escala os degraus para dominar melhor o espaço de palco, como, por exemplo, Tulipa Ruiz mostrou no dia anterior.

Após a bonita, mas contida, apresentação de Bárbara Eugênia, chegava a vez do maior nome da edição de 2013 aparecer. Tom Zé, aquele que entrou na terra por uma caverna chamada nascer, dispensa apresentações e enfeitiçou o público com o seu palavreado, com sua verborragia, suas canções e inúmeras histórias. Em uma carreira tão vasta como a do baiano ícone do tropicalismo, é normal que algumas canções que você queira ouvir fiquem de fora. Porém, todas aquelas que não poderiam faltar estiveram presentes, por assim dizer.

No repertório estiveram “Dois Mil e Um”, “Tô”, “Menina, Amanhã de Manhã”, “Vá Tomar” (em uma versão incrível), “”Hein?”“, “Augusta, Angélica e Consolação” e “Politicar”, entre outras. As canções foram preenchidas com as loucuras inerentes ao artista que ainda consegue surpreender a própria banda com algumas decisões em palco. E com uma exibição impecável, Tom Zé teceu palavras bonitas para Belém e seu povo, mas principalmente mostrou que ser autêntico e original, fazendo canções nada ortodoxas (mesmo que na essência sejam comuns), é suficiente para deslumbrar a noite de quem sai de casa para assistir a um show de música.

Todas as fotos retiradas do Facebook do evento (não consegui achar nenhuma foto bacana do Tom Zé, por isso não tem):http://www.facebook.com/serasgum

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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

VIII Festival Se Rasgum - Hangar - Belém (PA) - 14.11.2013

 
Depois de um dia com entrada gratuita na Estação das Docas com shows de Fragor, Coletivo Radio Cipó e Iconili, o 8º Festival Se Rasgum desembarcou no Centro de Convenções do Hangar para mais uma rodada de apresentações. Um espaço muito aconchegante, com fácil acesso (ainda que a saída continue um pouco problemática), ar condicionado no palco maior e com o palco secundário de frente para a cidade com um laguinho em volta, além de tudo muito limpo e organizado e bebidas a um preço extremamente acessível se compararmos com outros eventos da mesma natureza.

Com respeito ao horário (o que foi algo muito bem-vindo durante a programação, já que os atrasos foram administráveis e não teve nada daquelas longas esperas de algumas versões anteriores), o norte-americano Alex Minoff fez um show que ao acabar de tocar a última nota, muita gente já tinha se esquecido do que tinha escutado. Depois foi a vez dos locais do All Still Burns, que entre o peso do metalcore e algumas boas pitadas de melodia, fizeram um bom show e começaram a balançar um pouco o público.

Na sequência, o Baudelaries apresentou as canções do recém lançado disco “Charlie”, além de engatar com outras mais antigas como “Little Rino” e “She’s a Queen”. Com um trabalho novo muito bem feito, o powerpop do grupo começa a funcionar melhor ao vivo e provoca assim sorrisos na platéia. Depois de um grande show no Festival de 2010, o Projeto Secreto Macacos ganhou um horário melhor para sua exibição. Optando por um setlist menos pesado e com maior experimentação, o grupo novamente convenceu com sua proposta instrumental, se afirmando como uma das boas coisas que o estado tem hoje a oferecer. Um show robusto.


Caminhando para os últimos shows da noite, o paulista Pélico subiu ao palco do deck para apresentar principalmente as canções do excelente álbum “Que Isso Fique Entre Nós” de 2011. Começou de maneira meio tímida, mas a partir da terceira ou quarta canção a apresentação deslanchou em competentes versões ao vivo de músicas como “Levarei” e “Vamo Tentá”. Ao final dava para escutar ao lado comentários do tipo: “gostei, vou correr atrás para conhecer melhor”, o que é, afinal, uma das coisas bacanas de um festival.


Penúltima atração da noite, os baianos do Vivendo do Ócio já ganharam o público na primeira música, o que causou relativo espanto pela quantidade de fãs que vibravam a cada novo verso. O grupo que foi formado em 2006 e tem três discos na bagagem jogou para o público e se permitiu até a uma versão de "Xirley” da Gaby Amarantos. A proposta que mistura punk, emo, pop e um pouco de hardcore (com algum açúcar) não é das mais criativas ou instigantes e o show acaba sendo bem razoável, mesmo que a energia utilizada e os gritos dos fãs possam indicar o contrário.

A missão de encerrar o terceiro dia cabia a Tulipa Ruiz. Já com passagens anteriores pela cidade, a cantora dava sequência a turnê do disco “Tudo Tanto” do ano passado e fez uma apresentação impecável. A cidade de Belém presenciou em quase uma hora e meia uma artista com total domínio do seu ofício e no auge da carreira até agora. A devoção do público era recebida com uma simpatia suprema e retribuída em um vocal cristalino e hábil, braços voando do corpo, cabelos sendo esfregados pelo rosto e uma admirável capacidade de administrar a exibição dosando bem as canções e os climas entre uma e outra.

Entre a abertura e (o encerramento) com “É”, Tulipa Ruiz concebeu interpretações intensas de “Pedrinho”, “Víbora”, “A Ordem das Árvores” e “Expectativa”, além de uma arrebatadora “Só Sei Dançar Com Você”, com o povo entoando os versos através dos espaços do Hangar. No final, ainda se deu ao direito de descer do palco e trafegar pelo meio das pessoas que ali cantavam junto com ela. O terceiro dia do Festival Se Rasgum se encerrou assim, promovendo a tão sonhada comunhão entre um artista e seu público, envolvida por uma brilhante capa de qualidade e competência. Marcante.

P.S: Todos as fotos retiradas do Facebook do evento: http://www.facebook.com/serasgum

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- Shows: 6º Festival Se Rasgum(2011)   

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Arthur Nogueira e Jards Macalé - VIII Festival Se Rasgum - Belém(PA) - 12.11.2013


A 8ª edição do Festival Se Rasgum em Belém chega novamente com uma proposta diferente do ano anterior. Agora, a programação musical é mais espaçada e perdura por cinco dias em três espaços diferentes, tendo pelo meio um dia gratuito e outro em um teatro. Isso sem falar das habituais oficinas de profissionalização e neste ano uma mostra de cinema, harmonizando a cultura em geral mais um pouco na proposta original.

Na abertura musical do festival, a escolha ficou com o Teatro Estação Gasômetro tendo como atrações o paraense Arthur Nogueira (atualmente morando no eixo Rio-São Paulo) e um senhor de 70 anos chamado Jards Macalé. Começando às 20:35, Arthur subiu ao palco junto com o antigo parceiro Renato Torres (da banda Clepsidra e outros projetos) e abriu com um trecho do livro “Moby Dick” de Herman Melville, lido pelo amigo e poeta Antônio Cícero no som. Aliás, uma das marcas do trabalho do músico é justamente essa união entre música e poesia.

Em um show enxuto, o músico paraense cantou muito bem como de costume e apresentou boas versões do seu trabalho em faixas como “Gratuito”, assim como na releitura de “Cara” da Marina Lima, ambas constantes no álbum “Mundano” de 2009 (que você encontra gratuitamente para download aqui: http://www.amusicoteca.com.br/?p=1309). Após uns 40 minutos o show terminava de maneira elegante e abria caminho para vermos o que Jards Macalé aprontaria no palco.

Munido apenas de um violão, o carioca, ícone da música popular brasileira mas que sempre trafegou mais pelo lado do grupo dos “malditos” (é altamente recomendável assistir ao documentário “Jards” sobre a vida do músico), ofereceu ao público todas as canções mais poderosas da carreira, tais como “Farinha do Desprezo”, “Mal Secreto”, “Vapor Barato”, “Gotham City” e “Negra Melodia”. Todas com roupagens extremamente diferentes e experimentais, o que fazia o público não conseguir acompanhar a maioria ao (tentar) cantar junto.

Entre a ironia e o escracho, a alegria e a rabugice, Jards Macalé parecia multiplicar o violão que amparava nos braços e promovia uma apresentação singular e repleta de intensidade e vigor. Fazendo o público rir, contando um caso aqui e outro ali, o músico entregava não somente um repertório brilhante, como também fugia da obviedade dos corinhos e palmas. Quando isso acontecia era travestido, recortado e provocado pelo próprio artista que pediu que lhe dessem vaias depois de “Gotham City” para lembrar-se do IV Festival Internacional da Canção em 1969.

Histórias como a de que Wally Salomão se arrependeu dos versos “eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus” contidos em “Vapor Barato”, ou da relação com as divas da Mpb Gal Costa e Maria Bethânia, afirmando depois que havia prometido não “falar mais mal dos coleguinhas”, acertavam em cheio o público, enquanto por outro lado expurgava canções de Carl Perkins, Noel Rosa, Wilson Baptista (uma música que achou na internet, definindo a rede mundial de computadores como “coisa foda”), Dominguinhos e Luiz Gonzaga.

No final do show ainda chamou Arthur Nogueira para cantar uma virtuosa interpretação de “Último Desejo” de Noel Rosa, para depois engatar sozinho uma ensandecida “Let’s Play That” e fechar com “Juízo Final” do Nelson Cavaquinho, já clássica nos seus shows. Em uma hora e vinte minutos, Jards Macalé bagunçou com o violão, entortou suas músicas, foi engraçado ao seu estilo e o mais importante, passou longe de fazer uma exibição monótona, muito pelo contrário. Inquieto e endiabrado, abriu o festival com chave de ouro.

Nada mal para uma terça-feira.


P.S: Só para dizer que nem tudo foram flores, o telão ao fundo das apresentações causou incômodo ao expor a bacanuda arte do festival desse ano em efeitos visuais dignos de proteção de tela do Windows em alguns momentos. O que não combinava em nada com o que estava sendo tocado. A logo poderia ter ficado só parada. Às vezes, menos é mais, mas isso é ser rabugento e eu não tenho nem o charme e nem o talento de um Jards Macalé para tanto.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

"O Oceano no Fim do Caminho" - Neil Gaiman

Não é incomum dentro do universo da literatura e do cinema, nos depararmos com um personagem que ao regressar por um motivo qualquer para a região onde passou a infância e a adolescência, acabe se redescobrindo, ou ganhe forças para redefinir a vida. Verdade seja dita, esse é um expediente bastante utilizado. É tendo esse recurso como ponto de origem que o inglês Neil Gaiman partiu para escrever seu novo romance, depois de oito anos sem ter algum projeto deste tipo. O fruto desse retorno é “O Oceano no Fim do Caminho”.

Lançado aqui no país esse ano pela Editora Intrínseca na mesma data do mercado norte-americano, o livro tem 208 páginas e conta com a tradução de Renata Pettengill. Nele, o renomado criador de “Sandman” no final dos anos 80 e de “Deuses Americanos” de 2001, entra mais uma vez no mundo que conhece tão bem, que é o da fantasia usando a realidade como muleta para acontecer e se desenvolver. Quem já conhece algum trabalho do autor, seja nos quadrinhos, seja em prosa, não irá se surpreender com a ambientação.

O personagem principal do livro é atraído para a cidade natal por causa de um funeral. Essa cidade fica na pacata Sussex, região sudeste da Inglaterra. Sem se interessar muito pelo acontecimento em si, esse cara de meia idade começa a dirigir a esmo para aliviar a mente e meio sem querer, meio conscientemente, acaba indo rumo a uma casa que mudou praticamente o caminho da vida e agregou situações que o levaram a ter sucesso na carreira, mesmo que atualmente ele não lembre muita coisa sobre esses tempos idos.

Chegando a uma antiga fazenda encontra uma senhora, que vai fazer com que as lembranças da infância e de episódios fantásticos voltem à tona e sejam narrados para o leitor. O fato que desencadeou tais episódios foi a morte de um minerador de Opala dentro do carro do pai, e é esse ponto que correlaciona a cadeia de eventos que virá a surgir. Contrapondo encantamentos com a existência real, Neil Gaiman escreve um livro sobre como a infância é definidora para a formação da pessoa, e como mesmo sem perceber, essa infância fará parte de toda a vida.

Com 53 anos completados há poucos dias, Gaiman é um autor que já deixou seu nome registrado na história recente da cultura pop, principalmente nos quadrinhos. Com toda uma aura lhe cercando, imprimiu características próprias e uma boa quantidade delas podem ser encontradas em “O Oceano no Fim do Caminho”, como a predileção por usar três mulheres como personagens (até o nome Hempstock vemos de novo), a briga pela aceitação de coisas que não conhecemos (como em “Livros da Magia”) e o embate entre personalidades fortes e outras em construção.

Já com adaptação cinematográfica garantida (pela produtora Playtone, do ator Tom Hanks), “O Oceano no Fim do Caminho” é um livro que até pelo seu volume é fácil de ser consumido, mas que surtirá um efeito mais acentuado em quem não está acostumado com o universo de fantasia do autor. Para aqueles que já conhecem esse universo a algum tempo, apresenta-se apenas como mais um produto em um nível de qualidade inferior ao que já foi visto antes. Neil Gaiman pode bem mais do que isso e não precisa requentar seus pratos.

Nota: 6,5

A Editora Intrínseca criou uma página especial sobre o livro. Veja aqui: http://www.intrinseca.com.br/neilgaiman

Site oficial do autor: http://www.neilgaiman.com

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Festival Planeta Terra - Campo de Marte (SP) - 09.11.2013

 

“Come on, come on, come on, get through it, come on, come on, come on, love’s the greatest thing…”

Passava das 10 da noite do dia 09 de novembro e pelo menos metade das 27 mil pessoas (público estimado divulgado pelo evento) entoava em coro a canção cantada pelo inglês Damon Albarn do Blur. Pouco antes, um baixinho da Califórnia havia feito um show surpreendente, mesclando de maneira totalmente equilibrada seus experimentalismos e uma vertente mais pop do seu repertório, com direito até a uma versão de “Billie Jean” do Michael Jackson. Foi assim, com momentos como esse, que a versão 2013 do Planeta Terra apresentou suas armas.

A mudança do Planeta Terra para o Campo de Marte provocou muitas dúvidas iniciais que foram dirimidas pouco a pouco no decorrer do festival. Questões como limpeza, estrutura básica e principalmente acesso foram pontos extremamente positivos. Há de se reclamar ainda, e com muito direito, de problemas como a espera para retirada de ingressos, filas para compra de comidas e bebidas, assim como os preços praticados. São pontos que costumeiramente são ressaltados como aspecto negativo, contudo é justo afirmar que isso ocorreu em uma escala menor.

Indo para o lado da música, ao chegar via metrô no espaço, o primeiro embate foi logo com as (e os) fãs da Lana Del Rey. Uma das atrações mais badaladas do festival, deixou até certo susto pela intensidade com que seus “seguidores” se multiplicavam com suas cores, flores e sentimentos juvenis em um sol escaldante das 15 horas da tarde. O sol, aliás, foi um personagem muito bem-vindo a esta edição e apesar da quantidade de sombra disponível ser quase tão disputada como uma final da Liga dos Campeões da Europa, o sol fez seu papel aumentando a alegria (diretamente vinculada à quantidade de cerveja consumida).


A banda nacional O Terno fez um show corretinho, mas que não conseguiu deslanchar. Porém, cravou o primeiro registro musical digno de nota com a versão para “Trem Azul” do Lô Borges, com os versos da canção saudando o sol que nos dourava a cabeça. B Negão veio em seguida e comandando os Seletores de Frequência fez o que está acostumado e jogou o público para cima com a mistura bem brazuca de funk e soul. Caiu como uma luva, mesmo para aqueles que esperavam ansiosamente pela sua diva adentrar o palco e não tinham muita intimidade com aquilo que saia das caixas.


O Palma Violets, molecada britânica influenciadíssima pelo punk inglês de bandas como o The Clash, fez um show que oscilou entre o divertido e o deslocado. Sua mistura enérgica de baixo pulsante, vocais dobrados e instrumentos não tão bem tocados assim cairia melhor em um lugar menor e com umas 200 pessoas na platéia, o que não chega a ser um demérito.  E assim entre uma cerveja e outra, chegava a hora dos escoceses do Travis subir ao palco. Com dois membros vestidos como se estivessem tocando em Londres, as expectativas de um show sem graça pairava desconfortavelmente no ar.

Felizmente, Fran Healy estava em uma tarde inspirada e conseguiu engatar um show agradável e com boa versão dos hits, resultando em uma apresentação que podemos definir de maneira simples, como é a proposta da banda, como bonita. O guitarrista Andy Dulop até deu alguns pulos completamente “ousados” na empolgação, o que deve ter rendido algumas boas doses de relaxante muscular no hotel. Essa empolgação foi decisiva para que canções como “Driftword”, “Closer”, “Sing” e principalmente “Side”, “Why Does It Always Rain On Me” e “Happy” encantassem o público presente em meio aos aviões que subiam e desciam próximos ao Campo de Marte.

Quando chegou a hora da Lana Del Rey subir ao palco, a histeria tomou conta. Jovens gritavam exasperadamente enquanto a bela (e põe bela nisso) moça dava os primeiros passos em direção ao público. Se esforçando ao máximo para parecer simpática logo no início e assim ganhar de imediato a quem lhe assistia, optou por imediatamente descer do palco, beijar fãs, dar autógrafos (sim, isso aconteceu) e se enrolar com a bandeira brasileira. Se musicalmente a proposta não diz nada e é completamente esquecível – para ser bem condescendente -, Lana Del Rey agregou muito com o que os seus fãs proporcionaram, criando um clima absolutamente desejável para um festival.


Enquanto os fãs ainda se esgoelavam no palco principal, Beck Hansen começava o show que fecharia o palco secundário. Com uma banda enxuta e uma aposta em um som mais orgânico, com baixo, guitarra e bateria se destacando, o geniozinho engatou logo seus dois maiores hits (“Devil’s Haircut” e “Loser”) entre as três primeiras canções da apresentação, o que deixou todos apreensivos em como ele se comportaria a seguir. E de maneira surpreendente até, pode-se afirmar isso sem medo, Beck fez o melhor show do festival se conseguirmos retirar da exibição do Blur toda a carga emocional que lhe envolveu.

Se redimindo do fraco show no Rock In Rio de 2001, Beck dessa vez teve um desempenho poderoso do início ao fim, muito disposto e sem nunca deixar cair o nível. O som resplandecia na mesma intensidade das caixas sonoras. E entre as covers de “Tainted Love”, consagrada pelo Soft Cell (que rendeu o espirituoso comentário “não sabia que essa era dele” de alguém ao meu lado) e “Billie Jean” do Michael Jackson, presenteou a quem assistia com versões estupendas de canções como “Hotwax”, “The Golden Age”, “Lost Couse” e “Where It’s At” que encerrou a exibição cravando um ar de incredulidade no rosto do público.

Com uns 5 minutos de atraso, o Blur subia para fechar o festival com a tarefa de fazer um espetáculo realmente inesquecível como todos esperavam. Com tudo conspirando a seu favor, bastava que a banda estivesse realmente em um bom dia para que as coisas funcionassem. E assim aconteceu. Do começo com “Girls & Boys” ao encerramento com “Song 2”, os ingleses não vacilaram em momento algum. O público envolveu-se de tal modo com a exibição que as conversas paralelas, as fotos e as filmagens contínuas, deram um tempo e de modo raro nos nossos dias não perturbaram ou tiraram o foco do que realmente interessa.

O convite para explodir de “Parklife” (com o ator Phil Daniels nos vocais) foi difícil de não ser aceito, assim como era complicado resistir a cantar “To The End”, “End Of Century” e “The Universal”, ou entoar o coro em “For Tomorrow” ou “Tender”, esta segunda podendo ser classificada sem medo como o grande momento do festival. O Blur não levou em conta as desaforadas camisas do Oasis que circulavam pelo espaço e saiu de São Paulo com a tarefa plenamente cumprida de proporcionar momentos memoráveis, e, assim como o Beck, cunhou a revanche em um show potente na segunda passagem pelo país.

Assim, entre o sol, as fãs da Lana Del Rey, as canções do Travis, a energia do Beck e a emoção do Blur, o Planeta Terra encerrou mais uma edição comprovando ainda ser o melhor festival existente no Brasil. Contudo, ainda não foi dessa vez que veio com a perfeição que pede-se (com absoluta coerência e razão), visto o investimento envolvido e a necessária relação de respeito com o consumidor, mesmo que esses pontos negativos tenham surgido, como já escrito acima, em uma escala menor e isso já é alguma coisa para ser ressaltada.

No final, na saída do Campo de Marte após a apresentação do Blur, muitos pareciam realmente ter endossado o nome do local e aparentavam ter acabado de aterrissar de uma viagem para outro planeta regada a abraços, lágrimas, pulos, sorrisos e pulmões gastos pelo uso demasiado e sem contenções.

P.S: Fica difícil e até sem sentido engatar um Top 5 do Festival, devido a quantidade de apresentações. Seria óbvio demais. Então fica abaixo um Top Top (em ordem de preferência) das melhores canções dessa edição, uma coletânea a ser montada posteriormente:

1 – “Tender” – Blur
2 – “Billie Jean” – Beck
3 – “Side” – Travis
4 – “The Universal” – Blur
5 – “Devil’s Haircut” – Beck
6 – “Lost Cause” – Beck
7 – “Song 2” – Blur
8 – “Parklife” - Blur
9 – “Trem Azul” – O Terno
10 – “(Funk) Até o Caroço” – B Negão e os Seletores de Frequência

Todos as fotos foram retiradas do site oficial do evento, aqui.

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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

"Thor: O Mundo Sombrio" - 2013

“Thor” de 2011 era um filme que agradava mais a aqueles já habituados ao universo do personagem nos quadrinhos do que aos demais. O tarimbado e competente Kenneth Branagh acertou em algumas coisas na direção, como na recriação de Asgard e nas cenas de lutas, entretanto pecou em deixar pairando sobre o longa aquele clima de romance de novela, mesmo que se leve em consideração que lá na essência, a vida desse vingador sempre teve a mesa servida com boas porções dos temas que compõem qualquer produção novelesca.

“Thor: O Mundo Sombrio” é a continuação do filme de 2011. Lançado recentemente por aqui, chega logo após o sucesso do filme dos Vingadores no ano passado e mostra o Loki (Tom Hiddleston, o melhor em cena novamente) sendo preso por Odin (Anthony Hopkins) nas masmorras do reino, fato esse diretamente vinculado ao filme do grupo de heróis. Assim, as coisas parecem que estão tomando jeito e Thor (Chris Hemsworth) vai socando inimigos e arremessando seu martelo em algumas criaturas, para assim retornar com a paz nos Nove Reinos.

Mas, é lógico que a paz ia acabar, senão não teríamos filme, não é? E a trama que é apresentada para que essa tranquilidade recém instaurada termine, novamente arremessa um longa do personagem para o romance barato e trivial como desencadeador de todas as tragédias que se apresentarão. Jane Foster (Natalie Portman, que já foi muito mais bonita do que aqui) assume um papel de destaque total quando uma perigosa e antiga arma invade seu corpo enquanto ela corre atrás de anormalidades em Londres. Anormalidades, também conhecidas pelo nome de Thor.

O ressurgimento dessa arma perdida era o que o elfo negro Malekith (Christopher Eccleston) queria para despertar e traçar a vingança contra Asgard, que teve origem eras atrás pelas mãos de Bor (Tony Curran), pai de Odin, e logicamente, avô de Thor. Essa vingança representa nada mais, nada menos, que o fim do universo como conhecemos e para tentar impedir essas forças maléficas, o Deus do Trovão precisa se aliar com o próprio irmão renegado, o que representa na verdade a única parte realmente boa da continuação dirigida por Alan Taylor.

Sim, mas quem é Alan Taylor? Alan Taylor, o diretor que substitui Kenneth Branagh no comando, tem uma carreira quase inexpressiva no cinema, onde o maior destaque fica por conta de “As Novas Roupas do Imperador” de 2001, porém exibe uma alta rodagem na televisão. Por exemplo, já dirigiu episódios de séries do quilate de “Família Soprano”, “Guerra dos Tronos” e “Boardwalk Empire”. No entanto, essa alta experiência em outra seara não foi suficiente para fazer um bom filme, e até colabora em contrapartida para o péssimo resultado final, pois parece que ele quis fazer algo mais palatável e errou a mão.

Mais do que “Thor” de 2011, “Thor: O Mundo Sombrio” é um filme que só vai ter alguma graça (e olhe lá) para quem é bem fã dos quadrinhos e vai vibrar com as passagens de coadjuvantes como Fandral, Volstagg, Tyr, Hogun e Lady Sif, ou com a inclusão das criaturas de pedras (saca o Korg?), com a boa sacada com o Capitão América ou com a milésima aparição “escondida” de Stan Lee. Além disso, é mais um filme comum de ação, sem nada de excepcional, com uma trama fácil, soluções confusas, romance explorado sem inspiração, e atuações fracas, onde só Tom Hiddleston se sobressai no meio da mediocridade.

Aliás, é por causa de Loki, que ainda pode-se guardar – com receio, é verdade – um pouco de esperança para o próximo filme da franquia.

Nota: 5,0

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sábado, 2 de novembro de 2013

"Gravidade" - 2013

O mexicano Alfonso Cuarón levantou grandes expectativas com o filme “E Sua Mãe Também” de 2001. Na sequência disso desembarcou logo em uma franquia milionária e foi responsável por “Harry Potter e O Prisioneiro de Azkaban” de 2004. Na franquia do famoso bruxinho, conseguiu até imprimir algumas das suas tonalidades prediletas, mas ainda assim era um filme de Harry Potter em toda a essência mais ampla e irrestrita. As expetativas sobre o trabalho do diretor caíram, mas ganharam algum fôlego novamente com “Filhos da Esperança” de 2006.

De lá para cá, Alfonso Cuarón trabalhou com documentários, tevê e produziu alguns filmes. Porém, a próxima carta do diretor a ser arremessada na mesa é “Gravidade” (“Gravity”, no original), lançado recentemente aqui no país. Visitando novamente o universo da ficção científica, mas com aspectos bem mais sucintos e críveis, o mexicano fez um daqueles filmes para se orgulhar. Escrito por ele e pelo filho, “Gravidade” (que deve ser visto obrigatoriamente em 3D pra cima), compensa todas as expectativas geradas em algum momento anterior.

Apesar da fotografia exuberante, o ponto mais alto de “Gravidade” é envolver o espectador no tenso clima que aparece na tela. Fazendo uma analogia rápida com um filme recente, é como se “Santuário” de 2011 do diretor James Cameron fosse elevado à décima potência. Não por acaso, um dos maiores entusiastas do filme foi o idealizador de “Avatar”. Quando os problemas começam a acontecer em pleno espaço, e o filme se converte em um clássico – porém, muito eficiente – de superação pessoal e dos limites, a sala fica em extremo silêncio, coisa raríssima para os dias atuais.

Na trama somos apresentados a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) e ao Tenente Matt Kowalski (George Clooney), que junto com a voz de Ed Harris no controle da missão em Houston representam quase que a totalidade do elenco. Durante uma missão de reparo e instalação de novas tecnologias, todos são surpreendidos por uma chuva de destroços que arrasa a tudo e a todos. A partir disso, a questão é tentar se virar como pode, se reinventar e ser forte para tentar sobreviver em meio às adversidades apresentadas. Um clichê eterno que no filme não soa nada banal.

Em “Gravidade”, George Clooney exibe sua habitual (ou quase isso) competência e simpatia, no entanto é em Sandra Bullock que Alfonso Cuarón arregimenta todo o trabalho. Com uma atuação na cadência certa entre o desespero e a aceitação, a atriz exibe mais uma vez aquela fagulha de talento que vimos em “Um Sonho Possível” de 2009. Com um papel que exigia muito de qualquer ator, ela ostenta uma forma física impecável e faz a citada fagulha de talento se transformar em uma pequena fogueira. E só por essa façanha, Alfonso Cuarón já merece inúmeros aplausos.

Nota: 8,5

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