sábado, 30 de junho de 2012

"Fracasso de Público - Adeus" - Alex Robinson


“Muitas amizades, se chegam ao ponto em que terminam, não terminam em terremoto, mas em erosão. O tempo que passavam juntos, que normalmente você vê como algo natural, passa a ser algo que precisa ser agendado. Lentamente, você percebe que a intimidade que costumavam compartilhar se perdeu em algum lugar. Cada vez mais, só se fala do passado.”

O trecho acima é de Ed Velásquez em “Fracasso de Público - Adeus”, as últimas 204 páginas que a Gal Editora utiliza agora em 2012 para publicar a premiada história de Alex Robinson, que começou a ser desenhada e escrita quando ele tinha seus 20 e poucos anos nos Estados Unidos. O nome original é “Office Box Poison” e teve início na pequena editora Antarctic Press, para depois surgir como encadernado pelas mãos da Top Shelf.

Foi quando saiu pela Top Shelf que a história alcançou reconhecimento, prêmios e status. O crítico Matt Singer da Village Voice disparou que o autor era “o Robert Altman dos quadrinhos” e não é raro ver comparações com séries como Seinfield ou Friends. Mesmo dentro do exagero que toda comparação pode trazer embutida quando é proclamada, nesse caso específico até que isso não ocorre tanto, pois o trabalho é realmente bem singular.

Alex Robinson criou uma dezena de jovens adultos que em um determinado período da vida (semanas, meses, anos) se relacionam com amizade, amor e, claro, sentimentos menos nobres como desprezo e ódio. Esses personagens ganharam experiências do próprio autor, mas também de um mundo que durante os anos 90 sofreu a remarcação de alguns valores e a transformação crescente da maneira com que os relacionamentos se sustentavam.

Em “Adeus” as dúvidas sobre a vida que se quer levar e o caminho que é necessário ser escolhido não se extinguem. Pelo contrário, são majoradas com outras dúvidas mais urgentes ainda, naquilo que chamamos de crescimento. Mesmo Irving Flavor, o azedo e velho escritor que busca reconhecimento pela criação de um herói de sucesso, está cada vez mais em uma encruzilhada que não tem o poder de comandar, apenas de sucumbir.

Depois de “Heróis Mascarados e Amigos Encrencados” de 2009 e “Desencontro de Titãs” de 2010, a Gal Editora proporciona a chance de ver como o mundo tratou o futuro de Sherman, Ed, Jane, Stephen, Dorothy e os demais personagens que se envolveram no nosso dia a dia. Seus problemas e confusões são apenas reais e cotidianos, mas carregam algo de especial consigo, e por esse algo a mais o gosto que fica é de grande saudade.

Nota: 9,0


Mais sobre “Fracasso de Público” no blog, aqui.

Assista a um vídeo de promoção do álbum:


sexta-feira, 29 de junho de 2012

"O Festim dos Corvos - As Crônicas de Gelo e Fogo - Livro Quatro" - George R.R. Martin


Quando chegava ao fim as quase 900 páginas de “A Tormenta de Espadas”, o terceiro volume das crônicas de gelo e fogo do escritor George R. R. Martin, o leitor tinha no seu âmago uma mescla de assombro e expectativa. A primeira dessas sensações residia no rumo que a trama havia tomado, principalmente pela opção de se embrenhar cada vez mais em sujeiras, traições e maldades diversas. Já a segunda, passava pelo que viria a se aprontar no quarto livro da série, onde definitivamente não deveria haver limites.

Esse livro seguinte da série, chamado “O Festim dos Corvos”, foi publicado originalmente no exterior em 2005 e ganhou edição nacional no começo desse ano pela Editora Leya, com tradução de Jorge Candeias. Nas 644 páginas da obra, George R. R. Martin concentra seus esforços mais na capital de Westeros, Porto Real. Como escreve logo nas primeiras páginas, essa opção foi necessária, pois o volume imaginado para esse próximo passo estava demasiadamente grande e não tinha como ganhar corpo físico.

Sendo assim, personagens fortes como Jon Snow e Stannis Baratheon, assim como a mãe dos dragões Daenerys Targaryen, ficam praticamente sumidos, aparecendo somente em citações ou muito raramente em poucas passagens. Na contramão disso, as casas das dinastias Martell, Tyrell e Greyjoy ganham mais destaque e tem seus segredos e alianças revelados, principalmente os Greyjoy das Ilhas de Ferro, que precisam encontrar um novo Rei enquanto disputam com a ferocidade costumeira esse título.

Ao reunir suas energias em Porto Real, olhando mais para as maquinações da Rainha Regente Cersei Lannister dentro de sua quebradiça corte, “O Festim dos Corvos” vai aquém das expectativas e não consegue superar o seu antecessor, parando assim a crescente que os livros da série obtinham a cada volume. A sujeira e a falsidade ainda estão presentes, mas ganham tons mais de novela mexicana do que da rispidez anterior, com uma quantidade bem pequena de diálogos espirituosos dos envolvidos.

Os caminhos indicados ostentam uma nova conjuntura para o final dos pretensos sete volumes totais, porém não são suficientes para agradar como anteriormente. Há de se considerar, no entanto, que esses fatos devem ser analisados em conjunto com o quinto volume “A Dança dos Dragões” com lançamento previsto para esse mês de junho, pois ele se passará na mesma ordem cronológica. Sobra então esperar que Jon Snow e Daenerys Targayen devolvam o alto nível que “O Festim dos Corvos” não conseguiu manter.

Nota: 6,0

Site oficial do autor: http://georgerrmartin.com

O site da Editora Leya disponibiliza um trecho para leitura, aqui