domingo, 26 de junho de 2016

Quadrinhos: “Bucky Barnes: O Soldado Invernal - O Homem Na Muralha” e "Fungos"

 

Durante os eventos de “Pecado Original” da Marvel, descobriu-se que Nick Fury na verdade tinha um serviço mais secreto ainda que todos aqueles já apresentados outrora. Ele era uma espécie de defensor da terra contra potenciais ameaças alienígenas que nunca foram apresentadas a ninguém. Depois do que ocorreu nessa boa saga, o encargo de ser essa primeira e solitária linha de defesa caiu nos ombros de Bucky Barnes, o antigo parceiro do Capitão América, mais conhecido ultimamente como Soldado Invernal. Sendo figura importante da editora nos últimos anos não somente nos quadrinhos, mas nos dois primeiros filmes do sentinela da liberdade, o personagem anda em alta o que justifica uma revista solo e sua publicação aqui no Brasil. Com 116 páginas e capa cartonada, a Panini Comics lançou recentemente o encadernado “Bucky Barnes: O Soldado Invernal – O Homem Na Muralha”, onde mostra as cinco primeiras edições dessa nova série publicada nos EUA entre dezembro de 2014 e abril de 2015. Com roteiro de Ales Kot e arte de Marco Rudy apresenta-se uma viagem entre mundos, tempo e espaço, com participações especiais de Daisy Johnson (Tremor), Namor, Lóki e o vilão Ossos Cruzados, além de um Nick Fury do futuro. A trama consiste em Bucky buscando a explicação para um atentado que sofreu e, durante essa busca, acaba descobrindo que o cenário é bem mais amplo do que esperava, acarretando inclusive em danos estruturais gravíssimos em um preocupante futuro. O que de início aparece como uma premissa interessante e com várias potencialidades acaba se perdendo completamente durante as edições em um roteiro confuso e uma arte pretensiosa que não contribui em nada para que a trama avance, deixando o resultado final bem abaixo do esperado.

Nota: 4,0


James Kochalka é um dos quadrinhistas independentes mais admirados e prolíficos dos Estados Unidos. Vencedor de prêmios respeitáveis dentro dos quadrinhos como o Eisner e o Harvey, o autor de “American Elf” e “Dragon Puncher” finalmente tem seu trabalho lançado no país. “Fungos” (Fungus, no original) é uma das suas obras mais recentes e foi publicado lá fora pela conceituada Retrofit Comics, sendo que aqui no Brasil chega por conta da Editora Mino com 144 páginas, formato 15x21cm, tradução de Dandara Palankof e ótimo tratamento editorial. O artista que também é músico e tem uma banda de rock há um bom tempo (a James Kochalka Superstar) concebeu a história ao som de discos de bandas variadas como Girl Talk e Sigue Sputinik como explica no preâmbulo. Feito depois de uma pesquisa pelos ásperos e desabridos pântanos no estado do Maine, vemos dois fungos e outras pequenas criaturinhas conversando e divagando sobre questões que vão do comportamento a religião, da internet aos quadrinhos. Em preto e branco e com quadros tradicionais, o autor apresenta um humor simples, honesto, quase pueril às vezes, mas que dá margem a várias reflexões que variam de pessoa para pessoa de acordo com idade e concepção de vida. As piadas com o Facebook e com os tempos modernos de e-mails e tudo mais são simplesmente geniais. James Kochalka influenciou diversos outros autores de quadrinhos hoje e essa influência se expande até desenhos animados de sucesso como “A Hora da Aventura”, onde o criador Pendleton Ward é seu fã confesso. “Fungos” é uma obra que apesar de aparentar ser simplória nas primeiras páginas, ganha força no decorrer da leitura e melhora muito mais em uma segunda passagem, levando a obra a um grau de qualidade elevado e valioso.

P.S: A Mino disponibilizou um capítulo extra da obra. Leia, aqui.

Nota: 8,0



sábado, 18 de junho de 2016

Quadrinhos: “O Outro Cão que Guarda As Estrelas” e “Constantine: Hellblazer – Fantasmas do Passado”

 

Em 2008 o artista japonês Takashi Murakami lançou o mangá “O Cão Que Guarda Estrelas”, que posteriormente em 2014 ganhou edição nacional. A obra foi um sucesso de crítica e público, chegando até a virar filme, diga-se de passagem, com todo o mérito. Uma história emocionante e repleta de significados. Devido ao sucesso o autor se aventurou se não por uma continuação, mas em uma nova trama correlacionada diretamente a primeira. “O Outro Cão que Guarda As Estrelas” (Zoku Hoshi Namoru Inu, no original) chegou às livrarias japonesas em 2011 e ano passado ganhou edição nacional pela mesma JBC Editora com 176 páginas e tradução de Denis Kei Kimura. O foco agora é o que aconteceu com o outro cachorrinho que foi abandonado junto com o Happy, o protagonista anterior. Ele acaba sendo recolhido por uma reclamona senhora e essa parceria mudará a vida de ambos. Também apresenta outros personagens secundários oriundos de “O Cão Que Guardas Estrelas” e relaciona as duas coisas. Mesmo sendo algo que pode ser lido separadamente, esse novo trabalho de Takashi Murakami só existe em função do primeiro e utiliza das mesmas sensações e toques para criar a atmosfera e ambiente. Sensível e delicado, o livro exibe bons momentos, porém em uma análise fria é apenas mais do mesmo, novas variações sobre o mesmo tema, que buscam esticar uma obra de sucesso retirando ainda mais água de um poço que já parecia ter secado. Se isso é uma decisão válida artisticamente é complicado se afirmar, porém seria interessante ver Takashi Murakami deixando o seu maior sucesso em paz enquanto busca novas histórias com o toque lírico que possui. Lógico e evidente que boa parte dos fãs deve discordar disso e querer sempre mais, contudo isso é uma outra questão.

Nota: 6,0


John Constantine é uma das grandes criações do selo Vertigo da DC Comics. Oriundo da cabeça de Alan Moore na metade dos anos 80 é o exemplo absoluto do anti-herói, repleto de sarcasmo, cinismo e muitas atitudes nada lisonjeiras. De lá para cá, o mago já foi personagem de histórias fantásticas e quase nunca suas tramas são ruins, um fato e tanto devido a longevidade e a passagem por dezenas de autores distintos. “Constantine: Hellblazer – Fantasmas do Passado” que a Panini Comics lança esse ano aqui com 140 páginas em capa cartonada reúne as edições originais da revista de número 1 a 6 publicadas nos EUA entre junho de 2015 e janeiro de 2016 (e mais uma edição especial). Nessa nova roupagem pelas mãos dos roteiristas Ming Doyle e James Tynion IV e dos desenhistas Riley Rossmo e Vanesa Del Rey, Constantine está novamente perambulando pelo mundo sem muito o que fazer e sem local certo para onde ir até que os fantasmas que lhe acompanham representando todos os que morreram por culpa das suas burrices e trapaças começam a morrer novamente. Para que isso pare de ocorrer e ele tenha novamente sossego parte pelos submundos reais e da magia para descobrir quem está causando tanto estardalhaço. O que vemos a partir daí é um mergulho no passado e a reativação de antigos laços, para o bem e para o mal. Nessa nova visão que vem logo após o evento intitulado “Convergência” e inicia a fase do personagem na nova empreitada da editora chamada “DC & Você” (DC You, no original), as feições do mago estão um pouco diferentes e volta à tona com grande força a sua bissexualidade, há tempos renegada. Entre monstros, demônios, piadas e músicas temos uma boa história, com arte escura e repleta de sombras, mostrando um recomeço com vigor para o personagem.

Nota: 7,0

terça-feira, 7 de junho de 2016

Quadrinhos: "Ninguém Me Convidou" e "Entre Umas e Outras"


Allan Sieber nunca foi muito próximo do pai. Não que eles tivessem brigado ou algo do tipo, mas como ele mesmo afirma nunca foi o preferido da casa. Mesmo sem esse vínculo tão grande, foi através do pai que o autor de “Preto no Branco” e “Vida de Estagiário” adquiriu o amor pelos quadrinhos lendo da coleção do velho, coisas como The Spirit e Fantasma. No decorrer da década passada, Allan começou a entrevistar o pai e ouvir suas centenas de histórias e peripécias em Porto Alegre como ilustrador e fotógrafo dos anos 40 até meados dos anos 90. O resultado disso é o álbum “Ninguém Me Convidou”, que já havia sido publicado pela editora Conrad em 2010, mas saiu de circulação por erros de impressão. No ano passado a Mórula Editorial recolocou a obra no mercado com 116 páginas e um trabalho cuidadoso com muitos textos e artes da época que Jouralbo Sieber (sim, esse é o nome dele) batalhava pelas ruas gaúchas. “Ninguém Me Convidou” é uma espécie de biografia de Jouralbo, que conta com a maioria dos desenhos dele e o texto também, sendo que este foi lapidado e convergido para o formato dos quadrinhos pelo filho. Contudo, vai além e pode ser entendido como o retrato de uma época, com tudo o que isso acarreta, de costumes ao trabalho em si, ainda longe da existência de computadores e programas de edição. E a obra acaba vingando mais por aí, com os traços dos desenhos remetendo aqueles anos, focando o realismo, temos uma pequena amostra de como as coisas funcionavam anteriormente. O trabalho conjunto de pai e filho produzido pelos Sieber não é dos mais instigantes, mas tem valor e, acima de tudo, serve como um tratado de reaproximação.

P.S: A parceria deu tão certo que outro álbum está a caminho.

Nota: 6,0


Twitter de Allan Sieber: http://twitter.com/fakeallansieber 



Sair de casa nunca é fácil. Deixar para trás alguns confortos tem seu custo, ainda mais quando se vai para outra cidade e ficam os amigos, os lugares prediletos, a vida. Depois é preciso crescer, encarar a busca por trabalho, ralar para pagar contas, economizar tudo que for possível, sonhar com um lugar legal para morar enquanto se arruma em alguma espelunca, criar novos laços de amizade, até que um dia as coisas começam a dar certo, começam a andar. Histórias desse tipo são comuns tanto nos livros, cinemas ou quadrinhos. Histórias de crescimento, da transição da adolescência para a vida adulta. E para ser bem honesto esse tipo de enredo depois de um tempo começa a ficar repetitivo e chato. Porém, não é isso que ocorre em “Entre Umas e Outras” (Drinking at The Movies, no original), graphic novel de 208 páginas, com tradução de Eduardo Soares e lançamento nacional pela editora Nemo. Indicada para o Eisner Awards (um dos prêmios mais importantes dos quadrinhos), o álbum é escrito e desenhado em preto e branco pela norte-americana Julia Wertz, autora da cultuada série “The Farty Party” (ainda inédita no Brasil). E por quais motivos essa obra não é enfadonha como tantas? Pelo mais simples deles: pela sua autora. Julia que deixou São Francisco rumo a Nova York para começar outra vida é uma pessoa que apesar de todas as agruras e rasteiras que recebeu apresenta isso com extremo bom humor e inteligência. Meio estranha e esquisita, usa traços juvenis carregados de expressão no olhar para narrar todas as desventuras em preto e branco. Com comentários rápidos e fulminantes, síndrome de Peter Pan e uma boa carga de tragicomédia (além de muito álcool), a autora expõe situações que todo mundo se identifica ao menos uma vez. Faz ri e emociona em um dos melhores lançamentos do ano por aqui. Vale muito.

Nota: 9,0

Twitter da autora: http://twitter.com/Julia_Wertz