terça-feira, 7 de junho de 2016

Quadrinhos: "Ninguém Me Convidou" e "Entre Umas e Outras"


Allan Sieber nunca foi muito próximo do pai. Não que eles tivessem brigado ou algo do tipo, mas como ele mesmo afirma nunca foi o preferido da casa. Mesmo sem esse vínculo tão grande, foi através do pai que o autor de “Preto no Branco” e “Vida de Estagiário” adquiriu o amor pelos quadrinhos lendo da coleção do velho, coisas como The Spirit e Fantasma. No decorrer da década passada, Allan começou a entrevistar o pai e ouvir suas centenas de histórias e peripécias em Porto Alegre como ilustrador e fotógrafo dos anos 40 até meados dos anos 90. O resultado disso é o álbum “Ninguém Me Convidou”, que já havia sido publicado pela editora Conrad em 2010, mas saiu de circulação por erros de impressão. No ano passado a Mórula Editorial recolocou a obra no mercado com 116 páginas e um trabalho cuidadoso com muitos textos e artes da época que Jouralbo Sieber (sim, esse é o nome dele) batalhava pelas ruas gaúchas. “Ninguém Me Convidou” é uma espécie de biografia de Jouralbo, que conta com a maioria dos desenhos dele e o texto também, sendo que este foi lapidado e convergido para o formato dos quadrinhos pelo filho. Contudo, vai além e pode ser entendido como o retrato de uma época, com tudo o que isso acarreta, de costumes ao trabalho em si, ainda longe da existência de computadores e programas de edição. E a obra acaba vingando mais por aí, com os traços dos desenhos remetendo aqueles anos, focando o realismo, temos uma pequena amostra de como as coisas funcionavam anteriormente. O trabalho conjunto de pai e filho produzido pelos Sieber não é dos mais instigantes, mas tem valor e, acima de tudo, serve como um tratado de reaproximação.

P.S: A parceria deu tão certo que outro álbum está a caminho.

Nota: 6,0


Twitter de Allan Sieber: http://twitter.com/fakeallansieber 



Sair de casa nunca é fácil. Deixar para trás alguns confortos tem seu custo, ainda mais quando se vai para outra cidade e ficam os amigos, os lugares prediletos, a vida. Depois é preciso crescer, encarar a busca por trabalho, ralar para pagar contas, economizar tudo que for possível, sonhar com um lugar legal para morar enquanto se arruma em alguma espelunca, criar novos laços de amizade, até que um dia as coisas começam a dar certo, começam a andar. Histórias desse tipo são comuns tanto nos livros, cinemas ou quadrinhos. Histórias de crescimento, da transição da adolescência para a vida adulta. E para ser bem honesto esse tipo de enredo depois de um tempo começa a ficar repetitivo e chato. Porém, não é isso que ocorre em “Entre Umas e Outras” (Drinking at The Movies, no original), graphic novel de 208 páginas, com tradução de Eduardo Soares e lançamento nacional pela editora Nemo. Indicada para o Eisner Awards (um dos prêmios mais importantes dos quadrinhos), o álbum é escrito e desenhado em preto e branco pela norte-americana Julia Wertz, autora da cultuada série “The Farty Party” (ainda inédita no Brasil). E por quais motivos essa obra não é enfadonha como tantas? Pelo mais simples deles: pela sua autora. Julia que deixou São Francisco rumo a Nova York para começar outra vida é uma pessoa que apesar de todas as agruras e rasteiras que recebeu apresenta isso com extremo bom humor e inteligência. Meio estranha e esquisita, usa traços juvenis carregados de expressão no olhar para narrar todas as desventuras em preto e branco. Com comentários rápidos e fulminantes, síndrome de Peter Pan e uma boa carga de tragicomédia (além de muito álcool), a autora expõe situações que todo mundo se identifica ao menos uma vez. Faz ri e emociona em um dos melhores lançamentos do ano por aqui. Vale muito.

Nota: 9,0

Twitter da autora: http://twitter.com/Julia_Wertz






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