domingo, 17 de janeiro de 2016

Cinema: "Ricki And The Flash: De Volta Para Casa" e "Creed: Nascido Para Lutar"


Vamos a escalação: A estupenda Meryl Streep no papel principal, o magistral Jonathan Demme (“Silêncio dos Inocentes”) na direção e a habilidosa Diablo Cody (“Juno”) no roteiro. Não tem como dar errado, não é? E realmente não deu. “Ricki And The Flash: De Volta Para Casa” apresenta Streep como uma mulher de meia idade que durante a noite se transforma em líder de uma banda de rock que toca no bar da cidade. Divorciada e independente mantêm um romance complicado com o guitarrista Greg (o músico Rick Springfield que assina a ótima trilha sonora) e além disso ainda guarda na mochila o sonho de ser a rockstar que nunca foi. Ao receber uma ligação do ex-marido Pete (Kevin Kline) avisando que a filha tentou o suicídio após o final do casamento, ela pega um avião com as economias que ainda tem e se manda para ajudar. Esse reencontro familiar é muito bem coordenado e explora as inversões do roteiro, sendo que o maior exemplo é a própria Ricki que mesmo aparentando toda uma aura libertária em volta de si é na verdade reacionária e com pontos de vista conservadores e até mesmo racistas. Essa dualidade está presente nos personagens principias e dita o ritmo dessa comédia dramática permeada com muita música. Além de ser um filme sobre família e sua relação com ela, versa também sobre perdão, sobre aceitar seu lugar no mundo, sobre entender que a vida passa e nem sempre termina do jeito que sonhamos. Talvez deslize um pouco no final no que tange a resolução dos problemas apontados durante a exibição, ou até mesmo caia inevitavelmente em um ou outro clichê, mas isso não deixa de fazer de “Ricki And The Flash” um bom filme. No mais, só o fato de ter Meryl Streep empunhando uma guitarra na frente de uma banda de rock cantando “My Love Will Not Let You Down” do Bruce Springsteen já vale muito.

Nota: 7,0


“Rocky: Um Lutador” estreou em 1976 com roteiro de Sylvester Stallone e direção de John G. Avildsen. O filme foi um grande sucesso, alçou o ator para o estrelato e rendeu o Oscar de melhor filme, ator e edição para o trabalho. De lá em diante outros seis filmes trataram do universo do lutador meio burro, que supera todas as dificuldades com obstinação, coragem e um coração enorme. Os quatro primeiros longas são carregados com essas características, coisa que o sexto filme (“Rocky Balboa” de 2006) também exibe em menor escala. “Creed: Nascido Para Lutar” (somente “Creed”, no original), é o novo trabalho da franquia e apresenta o lutador agora como treinador. Essa artimanha já havia sido tentada sem sucesso em “Rocky V” com resultado sofrível, porém aqui é muito melhor explorada. No filme, Rocky continua cuidando do seu restaurante sem muita empolgação e longe do filho. Já toca a vida no piloto automático quando aparece o jovem Adonis Johnson (Michael B. Jordan) em sua porta, filho de Apollo Creed, o maior adversário e amigo do lutador. Após alguma relutância o treinamento inicia e o jovem Adonis parte para cima do ringue em lutas que não devem nada as originais da franquia, sendo inclusive mais realistas por conta da tecnologia e da câmera do diretor Ryan Coogler (que também assina o roteiro em parceira com Aaron Covington e o próprio Stallone). “Creed: Nascido Para Lutar” apresenta tudo que fez sucesso anteriormente e honra o passado. O charme, as dúvidas, a superação, a briga do mais fraco contra o mais forte, a busca incessante pelo sonho. Com trabalho impecável da dupla Jordan e Stallone emociona bastante, principalmente aqueles que viram os longas anteriores, deixando a tarefa de não lagrimar durante a projeção quase impossível.

P.S: Por conta do filme, Stallone concorre ao Oscar de ator coadjuvante esse ano.

Nota: 8,5

Assista aos trailers legendados:


sábado, 9 de janeiro de 2016

"Os Oito Odiados" - 2016


“Os Oito Odiados” (The Hateful Eight, no original) é o oitavo filme do diretor Quentin Tarantino e lá se vão 24 anos do primeiro, o ótimo “Cães de Aluguel” de 1992. Nesse período esse americano do Tenessee virou cult, se transformou em símbolo na cultura pop e amealhou críticos vorazes na mesma proporção que fãs fervorosos. Com um cinema contundente, permeado por um estilo próprio montado na soma de diversos estilos alheios, (quase) sempre com diálogos eficazes e trazendo a violência como protagonista e a vingança como coadjuvante, é difícil um filme seu passar batido.

O último filme do diretor havia sido “Django Livre” de 2012, outro bom trabalho mas que se perdia um pouco no final com uma extensão maior do deveria. “Os Oito Odiados” pode ser entendido como uma sequência do último longa, por ter mais ou menos o mesmo ambiente e tratar de temas comuns como o racismo e a relação dos EUA com ele desde a libertação dos escravos no século XIX. Mas não necessariamente se resume a isso, pois pelo formato que se desenvolve remete a outros trabalhos como a já citada estreia com “Cães de Aluguel”.

O filme se passa após o fim da guerra civil norte-americana no meio de muita neve no estado do Wyoming. O caçador de recompensas John Hurt (Kurt Russell) está a destino da cidade de Red Rock para enforcar Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), uma criminosa que vai lhe render 10 mil dólares de saldo. No meio do caminho o cocheiro vê um homem na estrada e faz a carruagem parar. Mesmo avesso a esse tipo de medida, John acaba convencido a dar carona pois esse homem conhece de longe, assim como sabe da fama do Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), que supostamente carrega no bolso uma carta de Abraham Lincoln.

Enquanto Hurt e Warren vão conversando de modo bem peculiar dentro da carruagem, outro homem é encontrado abandonado na estrada, dessa vez o saqueador Chris Mannix (Walton Goggis) que afirma que será o novo xerife de Red Rock e acaba se juntando a trupe. Chegando no Armazém da Minnie, um entreposto antes do destino final, o quarteto da carruagem e o cocheiro não encontram quem esperavam e sim mais quatro homens (interpretados por Tim Roth, Michael Madsen, Demian Bichir e Bruce Dern) que em teoria estão lá cuidando do local e também para se defender da forte nevasca.

A maior parte das 3 horas e 7 minutos se desenvolve dentro desse armazém, uma soma de taverna, bar, dormitório e restaurante. Enquanto todos estão presos no mesmo espaço, Quentin Tarantino mostra imensa destreza para criar os diálogos que vão desde sacadas bestas até piadas mais pesadas, gerando um clima crescente de desconfiança e tensão, mas fazendo isso aos poucos, sem pressa, esticando o clímax sempre um pouco mais a frente e colocando o telespectador entre risos, espanto e ansiedade pelo que virá.

Logicamente a violência e a vingança estão presentes em “Os Oito Odiados”, contudo as duas são exibidas em menor escala (em menor escala para os filmes do diretor, que fique claro), o que não quer dizer que muito sangue ainda não jorre na tela. Muitos dos detratores de Tarantino batem de modo constante nessa tecla, de que ele usa a violência de modo gratuito, sem muita necessidade, no entanto o seu cinema tem na violência demasiada importância, ela é estilizada, amplificada, visual. É para que isso que se destina e cumpre bem seu papel.

Em “Os Oito Odiados” Tarantino volta a ter um grande trabalho no currículo, com poucos deslizes e perfeitamente adequado a sua maneira de fazer cinema. Com referências diversas e homenagens pelo caminho, como por exemplo ao grande Ennio Morricone que tem um tema executado logo no início. Extrai do elenco do qual é bastante ciente das suas possibilidades, atuações ótimas como a de Samuel L. Jackson e Tim Roth, e mais uma vez mete o dedo em uma ferida sempre aberta dos Estados Unidos da América enquanto se diverte no comando.

Nota: 8,5

Assista a um trailer legendado: