Uma jovem chega a Hollywood e a
primeira coisa que faz é encomendar uma limusine para circular pela cidade
atrás de casas de famosos e celebridades. Repassa um endereço específico ao
motorista e vai conversando sobre esse tema o que leva o telespectador a crer
nesse momento que se trata de mais uma deslumbrada com o mundo da fama. Só que
essa impressão é descartada quando chegam ao endereço e lá não tem nada, só um
grande espaço vazio. A partir disso começa uma história onde o buraco é muito
mais embaixo.
A jovem se chama Agatha Weiss
(Mia Wasikowska de “Alice no País das Maravilhas”) e mantém relação com uma
família famosa composta por um arrogante ator adolescente (Evan Bird), a
dedicada e conturbada mãe (Olivia Williams) e o pragmático pai (John Cusack)
que tem horário na tevê e explora técnicas de autoajuda como fonte de
rendimentos. Para fechar o ciclo temos uma atriz decadente (interpretada
brilhantemente por Juliane Moore) para quem Agatha vai trabalhar, e o motorista
da limousine com quem ela inicia um relacionamento (Robert Pattinson).
Esse é o mote de “Mapas Para as Estrelas” (Maps to The Stars, originalmente), o
novo filme do diretor canadense David Cronenberg lançado lá fora no ano passado
e com estreia recente aqui no Brasil. Na superfície o roteiro de Bruce Wagner (“Luta
de Classes em Beverly Hills”) trata de um drama familiar e pessoal, mas é só
passar um pouquinho da primeira camada para invadir um mundo sujo, frágil e com
relações construídas por puro interesse, afinal é um filme de Cronenberg e se
uma coisa que o seu cinema faz com maestria desde “Scanners” de 1981 é gerar incômodo.
“Mapas Para as Estrelas” sucede o ótimo “Cosmópolis” de 2012 (onde
Robert Pattinson também estava em uma limusine), mas avança um pouco mais na
experimentação e trabalha uma trama de desajuste social, pressão psicológica e
esvaecimento profissional, junto com incesto, drogas, abusos sexuais e
violência. Como sempre, Cronenberg faz ótimo trabalho com os atores que escolhe.
Juliane Moore está excelente como a atriz saturada Havana Segrand, assim como
John Cusack como o Dr. Stafford Weiss e Mia Wasikowska em um papel onde a
dubiedade é a grande sacada.
“Mapas Para as Estrelas”, porém, traz um problema embutido no
exagero de algumas situações. Mesmo que se perceba esse exagero como necessário
para expor uma Hollywood doentia e superficial, ainda assim a carga é
demasiada, principalmente quando são inseridas visões de pessoas mortas com
frequência em mais de um personagem. No mais, ainda assim é um trabalho que instiga
o telespectador a sair um pouco do habitual e só por isso já vale a pena ser
visto, além do que, um filme mais ou menos de David Cronenberg vale mais do que
a maioria do que temos hoje por aí.
P.S: O filme rendeu o prêmio de Melhor Atriz para Juliane Moore no
Festival de Cannes e uma indicação de Melhor Diretor para David Cronenberg no
mesmo festival.
Nota: 7,0
Textos relacionados no blog:
- Cinema: “Cosmópolis” - 2012
Assista a um trailer legendado: