segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Quadrinhos: "American Jesus: O Eleito", "Cesariana", "Tabu" e "Malvados"


“American Jesus: O Eleito” que a Panini Comics publicou em 2019 com 96 páginas em edição de capa dura com extras é um dos primeiros trabalhos de Mark Millar (“Os Supremos”) e conta com a arte de Peter Gross (“O Inescrito”). Originalmente lançado nos EUA como “Chosen” pela Dark Horse foi renomeado depois. Na obra, o autor procura abordar como um conto moderno a chegada de Jesus nos nossos tempos na pele de um garoto chamado sugestivamente de Jodie Christianson. Com um argumento para lá de interessante a história não ganha maior força e é conduzida de modo regular, sendo que até mesmo a grande reviravolta não chega a surpreender o leitor mais atento. Esse tema seria abordado de modo muito mais incisivo e brilhante pelo Sean Murphy em “Punk Rock Jesus” anos depois. Aqui, vale somente a arte sempre magnífica de Peter Gross e a ideia geral. Nada além.

Nota: 5,0



A adolescência é uma fase complicada. Por mais que as alegrias estejam presentes pelas esquinas, em boa parte dos casos os dissabores, dúvidas e deslocamentos são em quantidade maior enquanto se busca achar um caminho, uma rota confiável a seguir. É nesse ponto da vida que estão Lucas, Cesar e Ana, os personagens principais de “Cesariana” do quadrinista Lucas Marques. Publicada no ano passado com incentivo do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal e exibindo a marca da Aerolito Editorial temos um trabalho pesado e bem intenso nas 154 páginas. Em uma história em preto e branco carregada de tonalidades biográficas e que levou alguns anos para ficar pronta a angústia e a dor vão de encontro a amizade, a música, a esperança, enquanto Lucas tenta entender as crises dos seus amigos e confronta a sua fé com as coisas maiores que a vida pode (e deve) oferecer.

Nota: 7,0



Em 2019 a editora Mino lançou uma coleção com 3 hq’s curtas de 40 páginas cada, escritas e desenhadas por jovens autoras que usaram como tema assuntos vistos como delicados para a sociedade de modo geral. “Tabu” é composto por “Piracema” da Jessica Groke, “Juízo” da Amanda Miranda e “Cina” da Lalo. O fato de serem curtos não diminui a energia e a impetuosidade dos trabalhos, todos elaborados em preto e branco. “Piracema” fala sobre sexualidade, descoberta e medo, “Juízo” trada de inadequação, hereditariedade, desconforto e escolhas e “Cina” - que é a mais tocante - discorre de modo inteligente sobre envelhecer, sobre a finitude do nosso tempo por esse plano e sobre o poder de decidir o que fazer com a própria vida. O projeto é daqueles que exibem virtudes de onde quer que se analise - seja pela iniciativa ou por tocar em temas melindrosos – e vale bastante.

Nota: 7,5

Instagram das autoras:


Pouca gente retratou tão bem o Brasil nos últimos 15, 16 anos como o carioca André Dahmer. E de maneira particular na tirinha dos “Malvados”. Em janeiro desse ano o autor decidiu que não ia mais publicar os personagens pois entendeu que o formato se esgotou, então o álbum lançado pelo selo Quadrinhos na Cia. com 384 páginas em 2019 se torna ainda mais relevante. Nessa coletânea de 368 tirinhas é exibido um vasto repertório temperado com escárnio, acidez e em especial com doses cavalares de realidade, uma realidade exibida sem molduras bonitas ou adereços coloridos, e sim com a essência crua exibindo sem pudor algum a bunda para fora. Nas tirinhas dos “Malvados” não há qualquer espaço para crenças bobas, frases feitas, pensamentos bonitinhos ou lugares comuns dessa sociedade que a cada dia está mais doente e contagiosa. Nenhum assunto é proibido e nada sai incólume dessa extraordinária série.

Nota: 10,0


Veja um trecho aqui: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/65067.pdf  





Nenhum comentário: