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terça-feira, 6 de março de 2012

Música: "De 1962 a 2012: 2 discos e 50 anos"

Em 1962 o presidente dos Estados Unidos era John F. Kennedy, o país não tinha entrada de cabeça na guerra do Vietnã, os direitos civis dos negros parecia uma coisa distante e inalcançável e Martin Luther King ainda não havia proferido o seu discurso mais famoso e emblemático.

Em tempos que a concepção musical era completamente diferente da que vivemos hoje, dois artistas (um de Albany na Georgia, o outro de White Station no Mississipi) colocavam no mercado obras que lidavam com pressões e recomeços e que 50 anos depois ainda soam intensas e brilhantes.

“Modern Sounds In Country And Western Music” – Ray Charles

O último disco de Ray Charles pela Atlantic Records havia sido “The Genius After Hours” lançado em 1961. No ano seguinte, já de casa nova (ABC-Paramount), “Brother Ray” concebia um dos seus melhores álbuns. “Modern Sounds In Country And Western Music” trazia releituras soul e R&B para canções country e folk de autores como Hank Williams e Don Gibson. Com um arranjo de cordas bem dosado permeando todo o registro, a escolha se mostrou correta.

Desde o começo com o coro maravilhoso de “Bye, Bye Love”, hit com os Everly Brothers anos antes, até o encerramento com uma “Hey, Good Lookin’” de Hank Williams completamente bêbada de suingue, o músico mostrava uma qualidade excepcional. Sucesso de público e várias semanas em 1º lugar na parada norte-americana, ainda trazia toques de jazz em “Half As Much” de Curley Williams, a tradicional “Carelles Love” apoiada em uma big band e o esplendor sentimental de “I Can´t Stop Loving You” de Don Gibson.

Nota: 10,0

“Howlin' Wolf”- Howlin' Wolf

Apenas um disco completo de Charles Arthur Burnett, mais conhecido como Howlin’ Wolf, já tinha nascido antes desse trabalho de 1962, depois de anos tocando onde tivesse oportunidade. O álbum homônimo de 1962 (também conhecido posteriormente como “The Rockin’ Chair Álbum”) era uma reunião de singles já lançados pela Chess Records e gravados de modo sensacional por nomes como Willie Dixon, Buddy Guy e Freddy Robinson espalhados pelas faixas.

Willie Dixon, aliás, é o compositor de 9 das 12 canções, que na voz, guitarra e harmônica de Howlin’ Wolf auferiram um poder especial como a dramática “The Red Rooster”, o pop invocado de “Howlin' For My Darlin'”, a clássica "Back Door Man" ou a estupenda “Spoonfool”, entrelaçando bens materiais, amor e ganância e que até hoje não passa impune para quem ouve pela primeira vez. Frequentemente citado como influência por artistas de diversos estilos, foi aos 52 anos que deixou seu maior testemunho para o blues e para o mundo.

Nota: 10,0

Assista Ray Charles com “I Can´t Stop Loving You”:


Assista um vídeo com “Spoonfool” de “Howlin’ Wolf”:

terça-feira, 24 de agosto de 2010

"In My Tribe" - 10.000 Maniacs - 1987

Durante os anos 80 muitas bandas lançaram discos que com o tempo receberam a alcunha de “clássico”, alguns merecidamente e outros nem tanto. O 10.000 Maniacs, banda de Nova York está no primeiro grupo. Formada em 1981, lançaram seis discos de inéditas durante sua primeira fase com a excelente Natalie Merchant como vocalista. Depois da sua saída, por mais que o núcleo criativo permanecesse o mesmo por um tempão, os álbuns ficaram apenas razoáveis.
Além de Natalie Merchant, o 10.000 Maniacs tinha o já falecido Robert Buck (guitarra), John Lombardo (guitarra), Steven Gustafson (baixo), Dennis Drew (teclado) e Jerome Augustyniak (bateria). Com um rol de fãs famosos como o DJ John Pell e Michael Stipe do R.E.M o grupo trilhava uma carreira de relativo sucesso até que “In My Tribe”, seu quarto álbum de estúdio chegou em 1987. Venderam mais de um milhão de cópias e ganharam um respeito bem maior.
Todo esse sucesso foi merecido. “In My Tribe” é um discaço. Nele a banda dosou de maneira brilhante suas influências de rock clássico americano, college rock, folk e pop. Os instrumentos estão tão bem encaixados que parece que levaram anos para chegar a esse resultado. Natalie Merchant com sua voz de um timbre peculiar e alcançando notas que a maioria das cantoras da época não conseguia chegar, interpretava as letras encharcadas de poesia da banda.
O álbum já começa com uma trinca de respeito: “What's The Matter Here?”, “Hey Jack Kerouac” e “Like The Weather”. Nelas temos impotência perante o mundo, busca de um lugar e uma felicidade disfarçada se diluindo nos arranjos de Robert Buck e John Lombardo. Em “Cherry Tree” invoca livros que não são suficientes para salvar sua vida, destronando a intelectualidade tão vigente e pretensiosa do seu circuito pessoal. Nada de Messias ou salvadores.
Em “Dont’t Talk” com as guitarras duelando em uma das melhores músicas da banda, Natalie canta “não fale(...)eu prefiro ouvir alguma verdade esta noite do que entreter suas mentiras” e vai derrubando em versos bem construídos, tijolo por tijolo, um amor falsificado. Em “Gun Shy” aponta sua voz em quase um conto contra o exército e garotos que se vão em guerras imbecis. E tinha mais pérolas como “A Campfire Song”, com direito a Michael Stipe nos vocais.
Em 1992 com “Our Time In Eden” o 10.000 Maniacs construiu outro ótimo disco com músicas como “These Are Days” e “Candy Everybody Wants”, mas foi em “In My Tribe” que alcançaram a perfeição. Natalie Merchant saiu em 1993 depois do “MTV Unplugged” e talvez esse seja o disco mais conhecido no Brasil, pois vendeu muito e trazia uma versão de “Because The Night” da Patti Smith e Bruce Springsteen, sendo essa uma injustiça que requer reparação.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"Possum Dixon" - Possum Dixon - 1993

Tivemos bandas primorosas nos anos 90. Algumas alcançaram fama e estrelato e outras tiveram pouco reconhecimento, ainda que tivessem tido relativo sucesso. Aqui no Brasil, por exemplo, foi a década que os lançamentos começaram a chegar em uma proporção honesta e os importados estavam a um preço justo. Não se compara a propulsão da música em tempos de internet e downloads por todo lugar, mas era uma grande coisa para a época.
Uma dessas bandas foi o Possum Dixon. Vindo de Los Angeles nos Estados Unidos, foi formada em 1989 por Robert Zabrecky (vocal e baixo) e Celso Chaves (guitarra), que retiraram o nome de um assassino que teve a história exibida em um programa de TV. Depois entraram Robert O’ Sullivan (guitarra, piano, harmônica e vocais) e Richard Treuel (bateria). Em 1993, o grupo estreou pela Interscope Records com um disco homônimo seminal.
“Possum Dixon”, o disco, unia punk, new wave e pós punk com muita energia, melodias arrebatadoras e refrões grudentos. Devo, Talking Heads, The Police e Blondie caminhavam de mãos dadas na visceral música do grupo. Robert Zabrecky, compositor da maioria das canções, era um Elvis Costello meio desajustado, que faltava se matar no palco atrás do seu baixo. As letras versavam sobre amor, perda e o cotidiano louco e meio irreal da sua cidade natal.
O disco traz onze faixas, que com exceção feita a brincadeira experimental de “John Struck Lucy” eram potenciais hits, singles certeiros. A produção feita em conjunto com Earle Mankey que trazia trabalhos anteriores com bandas como The Dickies e The Runaways, adubava a pegada punk e a urgência que permeia todas as canções. O início com a bateria forte de “Nerves” engatada em seqüência com “In Buildings”, já abre um sorriso no rosto.
“Watch The Girl Destroy Me”, o quase sucesso da banda vem depois, com refrão para ser cantado em plenos pulmões. “She Drives” e “We’re All Happy”, usam cinismo e soam pop’s e rápidas, com seus fraseados curtos de guitarra. “Invisible” é uma balada torta e estranha inserida dentro do cenário apocalíptico de Los Angeles. “Pharmaceutical Itch”, lembra (bem) o The Police e traz o baixo suando na frente, enquanto a banda explode atrás.
“Executive Slacks” é bem humorada, uma new wave descarada e caótica. “Regina” tem um toque latino, um clima meio “La Bamba” embalando um refrão bastante calhorda. Para cantar junto. A já citada “John Struck Lucy” é uma pequena viagem experimental de menos de um minuto, que abre caminho para “Elevators”, encerrando o disco com um dos refrões mais grudentos do trabalho e repleta de desconstruções de ritmo no seu andamento.
O Possum Dixon lançou mais dois discos antes de acabar, “Star Maps” em 1996 e “New Sheets” em 1998, que apesar de serem bons (principalmente o último) já não exalavam o mesmo odor. Problemas pessoais, drogas e brigas internas causaram o término precoce. Todos seguiram sua vida (Robert Zabrecky mantêm, por exemplo, uma sólida carreira de ator e mágico!!), mas provavelmente conceberam o maior testemunho artístico das suas vidas em 1993.

terça-feira, 16 de março de 2010

"Closer" - Joy Division - 1980

Corria o ano de 1976 na Inglaterra e o movimento punk estava em plena ascensão, principalmente na capital Londres. Próximo dali na cidade de Manchester se formava o embrião de uma das bandas mais enigmáticas e importantes da história do rock. Dessa cidade cinzenta e industrial surgia o grupo que seria a partir de 1977 conhecido como Joy Division. Apesar de uma carreira curta e trágica, os ingleses deixariam seu nome gravado.

O Joy Division tinha em Ian Curtis um vocalista problemático e brilhante, que desfiava sua verve poética e desesperadora em cima de uma base forte, construída por Bernard Summer (guitarra e teclado), Peter Hook (baixo) e Stephen Morris (bateria). A sonoridade era influenciada pelo movimento punk e por Velvet Underground e David Bowie, conjuntamente com as eletronices dos alemães do Kraftwerk. O resultado era estranho e poderoso.

“Closer” chegou as lojas em julho de 1980 e se tornou um álbum póstumo, pois por problemas na sua distribuição acabou saindo após o suicídio de Ian Curtis em 18 de maio do mesmo ano. Tudo isso serviu mais ainda para aumentar a aura sobre o registro. As letras do vocalista parecem mais sombrias e tristes por conta disso e refletem a personalidade conflitante deste, que foi tão bem retratada no filme “Control” do diretor Anton Corbijn.

O disco abre com a bateria meio tribal de “Atrocity Exhibition” até a entrada de um baixo vigoroso comandar o cenário. Ian canta em determinado momento: “você verá os horrores de um lugar distante/conhecerá os arquitetos da lei frente a frente/verá chacinas numa escala que nunca viu/e todos que dão duro pra suceder/este é o caminho, entre”. O convite para entrar nesse mundo nas próximas faixas é tanto assustador quanto irresistível.

Em “Isolation” (uma das melhores músicas da banda), a insatisfação chega com versos como “mãe eu tentei, por favor acredite em mim/estou fazendo o melhor que posso/me envergonha as coisas que tenho feito/me envergonha a pessoa que sou”, para depois o nome da canção ser repetido. “Passover” e “Colony”, as duas que vem a seguir são de uma tremenda falta de fé na humanidade e no mundo, via os olhos da religião e até mesmo do amor.

“A Means To An End” (onde a Legião Urbana se “inspirou” na introdução de “Ainda é Cedo”) traz talvez o Ian Curtis mais despido do disco ao cantar “eu depositei minha confiança em ti”, enquanto Bernard Summer corta a canção com fraseados fulminantes de guitarra. “Heart And Soul” é outra cacetada que até hoje bandas e bandas se influenciam. “O presente está bem fora de controle. Coração e alma, um irá quebrar.” A resposta já se sabe.

“Twenty Four Hours” trata poeticamente sobre “aquilo que uma vez foi amor”, alternando momentos de caos sonoro com texturas mais calmas. Em “The Eternal” o Joy Division soturnamente reflete sobre o tempo e a morte inevitável, para depois fechar com mais descrença e questionamentos em meio aos teclados de “Decades”. E assim depois de 44 minutos se encerra a viagem conturbada e repleta de momentos grandiosos de “Closer”.

Depois do suicídio de Ian Curtis, os remanescentes do quarteto montaram o New Order e construíram uma carreira preciosa e duradoura. Os desdobramentos da música do Joy Division ecoaram em bandas como Legião Urbana, Radiohead e Franz Ferdinand, só para ficar em alguns de muitos e muitos outros casos. “Closer” faz 30 anos em 2010 e permanece demonstrando uma força incrível nas suas canções. Discoteca bem mais do que básica.

Sobre o filme “Control”, passe aqui.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

"Midnight Ride" - Paul Revere & The Raiders - 1966

Nos mesmos anos 60 em que os Beatles reinavam absolutos no mundo todo, uma banda americana mostrava junto dos Beach Boys (entre outras), que os grupos britânicos teriam uma concorrência forte e de qualidade nos USA. A banda se chamava Paul Revere & The Raiders e em 1966, com o seu quinto disco de carreira intitulado “Midnight Ride”, cravou para sempre na história do rock um daqueles discos atemporais e fundamentais.
Com um começo de carreira mais famoso por suas palhaçadas (por exemplo, as roupas que vestiam entre outras maluquices), o grupo foi ganhando em corpo e com “Just Like Us” de 1965, que antecedia seu grande clássico, já mostrava um poder vigoroso. Nas onze faixas de “Midnight Ride”, a banda molda seu pop com ajuda do country e talvez ali certas raízes do que o punk faria depois, principalmente no quesito da energia envolvida no processo.
A abertura com “Kicks” já é contagiante e abre o caminho para um conjunto de canções quase infalível. Casa o country com o pop assoviável em “There's Always Tomorrow”, faz uma balada daquelas para dançar juntinho em “Little Girl In The 4th Row” e senta a mão no rock em “Ballad Of A Useless Man”. “I'm Not Your Stepping Stone” que vem em seguida, mesmo não sendo própria é um dos melhores momentos. Simplesmente fantástica.
“There She Goes” é curtinha e funciona como um pequeno interlúdio para a segunda parte do disco que segue com a psicodelia melódica de “All I Really Need Is You”, o rock básico de “Get It On” e as guitarras de “Louie Go Home”, um blues meio torto. Para fechar “Take A Look At Yourself” e o toque jazzístico de “Melody For An Unknown Girl”. Saíram algumas versões com faixas bônus, mas nada que acrescente muito a original.
O Paul Revere & The Raiders praticamente não saiu da ativa desde a sua formação, mudando seus integrantes, mas mantendo uma carreira sólida mesmo que pouco divulgada, no entanto, nunca mais conseguiu alcançar o nível de “Midnight Ride”. Hoje como a banda ainda toca em cassinos e por convenções pelos Estados Unidos, fico imaginando como seria ouvir faixas como “Kicks” mesmo depois de tanto tempo. Ainda deve ser bacana.
Site Oficial: http://www.paulrevereraiders.com

terça-feira, 13 de outubro de 2009

The Beatles Stereo Box Set [Original Recording Remastered] - 2009

Dia desses batendo papo no bar com uns amigos, a conversa invariavelmente passou pela música e enquanto discutíamos sobre os bons lançamentos de 2009, um velho amigo disparou: “Ah, caras. O melhor lançamento de 2009 é a coleção dos Beatles remasterizada. Nem dá para discutir.” Todos que estavam na mesa sem exceção deram risada e acabaram por concordar com o comentário que botava fim na pequena discussão.
Sem saudosismos baratos ou gratuitos, dá para entender e levar em consideração o comentário acima. O ano corrente apesar de ainda não proporcionar um excelente trabalho, apesar de trazer bons discos de Wilco, Franz Ferdinand, Minus 5, Morrisey, Raveonettes, Harlem Shakes e The Pains Of Being Pure At Heart, não teve nada de espetacular. E se abusarmos de má vontade talvez esse raciocínio possa ser estendido para alguns anos anteriores.
Isso leva a duas conclusões: Primeira: Os Beatles ainda são a maior banda do mundo. Fato, apesar de clichê. Segunda: O rock atual carece muito de qualidade, mesmo que várias bandas/artistas (a exceção da regra) se destaquem em trabalhos competentes e bonitos. Ao ouvir todos os discos remasterizados em sequência, percebe-se como a evolução do quarteto de Liverpool foi acontecendo de maneira assustadora e como discos até menos valorizados são incríveis.
Sinceramente não dá para saber quantas outras remasterizações ainda virão pela frente, tendo em vista todas que já ocorreram até aqui, o que dá para saber é que fica difícil não ter essa coleção em casa para substituir a antiga. São 12 cds mais o “Magical Mystery Tour” de 1967, além da coletânea “Past Masters” compiladas em volume único. Os livrinhos de encarte trazem notas históricas e fotos raras. Ou seja, um luxo indispensável para os fãs.
Com mais de 600 milhões de discos vendidos em toda a história, os Beatles são uma fonte inesgotável de renda em qualquer esfera de comércio. Isso é inegável e a exploração da marca sempre será feita. No entanto, fica difícil resistir quando o assunto são músicas de uma qualidade absurda, ainda mais quando vivemos em tempos de bandas alçadas a fama e esquecidas em semanas (ou dias). “Beatles Remasterizado”: O melhor lançamento do ano. Podes crer. É a mais pura verdade.
Site Oficial: http://www.thebeatles.com

terça-feira, 8 de setembro de 2009

“Keep It Like A Secret” - Built To Spill - 1999

Os anos 90 deram a luz a discos clássicos como o “Nevermind” do Nirvana, “Siamese Dream” do Smashing Pumpkis, “Modern Life Is Rubbish” do Blur, “Definitely Maybe” do Oasis e “Ok Computer” do Radiohead. No final desses anos 90, mais precisamente em 1999, outra obra prima ganharia vida. Estou falando de “Keep It Like A Secret” dos americanos do Built To Spill, banda comandada pelo guitarrista e vocalista Doug Martsch.
Antes do lançamento de “Keep It Like A Secret”, o Built To Spill vinha de dois bons discos, “There's Nothing Wrong With Love” de 1994 e “Perfect From Now On” de 1997, onde receberam boas criticas e cativaram fãs. Mas foi no disco de 1999 que uniram brilhantemente todas as suas características. As influências de Pavement, Dinosaur Jr. Neil Young, Flaming Lips e música progressiva, se aliam a uma pegada mais pop e caminham de mãos dadas como se fossem irmãs.
Nesta época, Doug Marscht tinha apenas a companhia de Brett Nelson no baixo e Scott Plouff na bateria, mas ao escutar o disco parece que eles se multiplicam. A guitarra ensandecida encontra no baixo sólido um companheiro para viajar tranquilamente, enquanto a bateria promove um show à parte, acelerando, parando, criando um ritmo próprio. “Keep It Like A Secret” fundamentaria muita coisa desse indie rock que os anos 00 conhecem.
Entre as 10 faixas é difícil sobressair alguma. Com esforço, pode-se versar sobre “The Plan” onde o vocal ímpar de Doug Marscht conduz uma melodia pop, enquanto os instrumentos estouram ao fundo, ou “Carry The Zero”, uma das grandes músicas do rock dos anos 90, tranqüila e forte, complexa e encantadora, ou então ainda “You Were Right”, trazendo na sua forma uma tensão que vai se sobrepondo enquanto as guitarras vão desconstruindo tudo.
Ao contrário dos discos citados no primeiro parágrafo, “Keep It Like A Secret” não ganhou a mesma notoriedade, não alcançando um público tão grande, uma daquelas constantes injustiças da música. Depois dele, Doug Marchst aumentou a banda e continuou mantendo uma certa regularidade, inclusive com um esperado disco para esse ano. Mas, até agora, foi há dez anos, com letras dissonantes e complicadas, que o Built To Spill cravou seu lugar no rol das obras primas do rock.
Site oficial: http://www.builttospill.com My Space: http://www.myspace.com/builttospill

sábado, 29 de agosto de 2009

“Layla And Other Assorted Love Songs" - Derek And The Dominos - 1970

No começo dos anos 70, Eric Clapton aos 20 e poucos anos já tinha garantido seu nome na história do rock. O currículo trazia clássicos como “John Mayall´s Blues Breakers With Eric Clapton” de 1966, junto com o grande John Mayall e na frente do Cream, com os comparsas Jack Bruce e Ginger Baker, presenteou o mundo com “Disraeli Gears” de 1967. Cansado do centro do furacão que era o Cream e de uma tentativa fracassada em outro super grupo, o Blind Faith, o músico resolveu respirar novos ares.
Junto com o tecladista Bobby Whitlock, o baixista Carl Radle e o baterista Jim Gordon, antigos conhecidos com os quais havia tocado algumas vezes na banda Delaney And Bonnie And Friends, Clapton criou um grupo imaginário, onde a idéia era revigorar-se, encontrar novamente o prazer na música e cunhar mais alguns blues para tocar por aí. Assim surgia o Derek And The Dominos, que em 1970 fez seu único e essencial disco.
Para completar o trabalho do álbum duplo “Layla And Other Assorted Love Songs”, Duane Allman do Allman Brothers foi convidado para tocar guitarra e abrilhanta ainda mais o resultado final. Fugindo e sofrendo de um amor proibido por Patty Boyd, esposa do amigo George Harrison e ingressando no inferno das drogas mais pesadas (heroína) pela primeira vez na vida, Clapton fez o que muitos consideram seu melhor álbum.
“Layla And Other Assorted Love Songs”, tem 14 faixas e já traz na abertura uma grande canção, “I Looked Away”, que tem um sabor pop, sendo a primeira entre as cinco parcerias do disco com Whitlock, parceria que rendeu frutos por mais alguns anos. Depois disso é show atrás de show, com músicas inéditas e regravações viscerais como “Key To The Highway” do bluesman Big Bill Bronzy e “Little Wing” de Jimi Hendrix.
Dois momentos merecem destaque especial. “Bell Bottom Blues”, traz a assinatura que o músico tanto usou ao longo dos anos e um solo de guitarra para emocionar. “Nobody Knows You When You're Down And Out”, começa com a guitarra quase que em um lamento para emendar versos como: “porque não, não, ninguém te conhece/quando você está pra baixo e pobre/em seu bolso, nem um centavo/e quanto aos amigos, você não tem muitos”. Versos que fariam tanto sentido mais a frente na sua carreira.
E é claro que não dá para não falar de “Layla”, um clássico absoluto dessa história chamada rock n’ roll, feita para a quimera Patty Boyd, com Clapton suplicando: “Layla/estou ajoelhado, Layla/implorando, querida por favor, Layla/querida, conforte minha mente preocupada?”, com direito a um solo esplendoroso de Duanne Allman. O Derek And The Dominos acabou algum tempo depois e Eric Clapton tocou sua carreira com maestria, apesar de quase nunca mais esbanjar a absurda qualidade vista nesse disco de 1970.
Mais Eric Clapton? Passe aqui.

domingo, 26 de abril de 2009

"Enter The Vaselines" - The Vaselines - 2009

Quando na esteira de “Nevermind”, o Nirvana lançou uma coletânea de lados b e covers chamada “Incesticide” em dezembro de 1992, duas canções chamavam a atenção: “Molly´s Lips” e “Son Of A Gun”. As músicas eram covers da banda escocesa The Vaselines, que Kurt Cobain admirava bastante, chegando a afirmar algumas vezes que Eugene Kelly, o líder do grupo, era um de seus compositores favoritos.
O Nirvana serviu para mostrar para um número bem maior de pessoas, uma banda que poucos conheciam. Em 2009, passados mais de 16 anos do lançamento de “Incetiscide”, o Vaselines ganha uma ótima coletânea editada pela Sub Pop e que já nasce com o status de essencial. Em 1992, já tinha saído outra coletânea, chamada “The Way Of Vaselines”, mas que não se compara a esse disquinho duplo “Enter The Vaselines” de 2009.
A banda oriunda de Glascow na Escócia, foi formada em 1986 por Eugene Kelly e Frances McKee, que sempre se mantiveram como o núcleo criativo nos poucos mais de 4 anos que a formação original perdurou. Lançaram dois eps, “Son Of A Gun” de 1987 e “Dying For It” de 1988, mais o álbum “Dum Dum” de 1990, gravações que fazem parte na integra dessa nova coletânea, ao lado de um outro disco contendo demos e versões ao vivo.
As guitarras, o noise, o vocal compartilhado de Kelly e Mckee envoltos a melodias doces e delicadas são o grande mérito da banda. Além das já citadas e conhecidas “Son Of A Gun” e “Molly´s Lips”, “Jesus Wants Me For A Sunbeam” também foi gravada pelo Nirvana, deste vez no excelente “MTV Unplugged in New York”. Mas “Enter The Vaselines”passa longe, bem longe de ser somente isso.
Temos os violões de “Rory Rides Me Raw”, o college rock meio punk de “Teenage Superstars”, a guitarra e o flerte com o tecnopop de “You Think You're A Man”, a melodia envolta a sujeira de “Slushy”, o híbrido country-punk-shoegaze de “Oliver Twisted”, o rock garageiro de “Dum-Dum”, o noise experimental de “Lovecraft” e as distorções de “Dying For It (The Blues)”.
Eugene Kelly tocou outros projetos como o “Captain America” e o “Eugenius”, além de tocar com Lemonheads e Mogwai e trabalhar solo, mas foi no Vaselines que deixou seu nome escrito na história do rock. Ano passado, Kelly e McKee voltaram (passando no Brasil inclusive),com integrantes do Belle And Sebastian tocando com eles, mais uma reverência para uma banda meio obscura e desconhecida, mais repleta de qualidades. “Enter The Vaselines” é discoteca básica.
My Space: http://www.myspace.com/thevaselinesband

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"Bert Jansch" - Bert Jansch - 1965

Em tempos que o folk volta a ser influência para um monte de artistas, entrando na mídia com seus violões, letras e lirismo, indo de Fleet Foxes até o brazuca Vanguart, nada melhor do que buscar um trabalho oriundo da fonte para os ouvidos. Encontrar o folk ainda sem grandes orquestrações, apenas com a parceria entre músico e instrumento soando como um se fossem um só.
“Bert Jansch” lançado em 1965 pelo escocês Herbert Jansch, nascido em 03 de novembro de 1943 é um dos destes trabalhos. Na sua estréia o músico fez 15 canções de puro lirismo, com momentos realmente comoventes. O seu violão brilhantemente tocado, aparece como uma parte sua, uma extensão do corpo. As canções passam jogando tanto com simplicidade quanto com devoção.
O disco foi realizado na casa do seu produtor, registrado por apenas um simples gravador e vendeu somente 150 mil cópias, esbarrando mais uma vez na velha história do reconhecimento tardio de grandes obras. Tente passar imune por faixas como “Oh How Your Love Is Strong”, “I Have No Time”, “Dreams of Love”, “Needle of Death”, “Running, Running from Home” ou “Angie”.
Depois da estréia, Bert Jansch continuou produzindo ótimos discos como “It Don´t Bother Me”, também de 1965, “Birthday Blues” de 1969 ou “Moonshine” de 1973, além de fazer parte do grupo folk Pentagle de 1968 a 1973, banda que tem um clássico no currículo, o disco “Basket Of Light” de 1969. Artistas como Johnny Marr, Jimmy Page, Neil Young e Bernard Butler são fãs confesso do músico.
“Bert Jansch”, o disco, foi lançado em um ano com álbuns como “A Love Supreme” de John Coltrane, “Rubber Soul” dos Beatles, “Highway 61 Revisited” do Bob Dylan e “My Generation” do The Who, só para ficar em alguns e mesmo perante obras tão avassaladoras tem um brilho próprio e especial, carregado de melodias bonitas e arranjos arrebatadores.
Site Oficial: http://www.bertjansch.com

quarta-feira, 18 de junho de 2008

"Groovin´" - The Young Rascals - 1967

Não conhecia o The Young Rascals até me deparar com a faixa Groovin´ em uma coletânea de bandas dos anos 60, mais ou menos uns três anos atrás. A faixa me arrebatou de tal maneira que me vi obrigado a ir atrás de mais informações da banda, que ficou como uma pequena jóia rara no meio da minha coleção de arquivos digitais.
Ano passado no livro “1001 discos...”, lá estava o disco que contêm a música citada. Esta pequena jóia poderia ser admirada por outras pessoas e quando vi seu registro no livro, fiquei um bocado alegre. Coisas da música. O disco em questão se chama “Groovin´” e foi lançado em 1967, sendo o ponto alto da carreira de uma banda que primou sempre pela irregularidade na carreira e ótimos singles.
Misturando R&B e soul com o pop e o rock, o quarteto americano cunhou onze faixas de grande beleza. “A Girl Like You”, a responsável por abrir o trabalho poderia ter muito bem ser dos Beach Boys, uma canção que mexe com metais, teclados e aquele sabor pop magistral. “Find Somebody” que vem depois, chega repleta de tons psicodélicos, em uma lisergia a lá Byrds.
“I´m So Happy Now” abre com os metais em primeiro plano, para dar continuidade com violões e uma letra otimista e pra cima. “Sueño” é outra viagem, com abertura flamenca, cheia de palmas, invade com um vocal mais limpo e destacado. “How Can I Be Sure” brinca com o soul em uma linda balada que seria regravada várias e várias vezes nos anos seguintes.
Depois temos a infindável beleza da faixa título. Daria para escrever alguns parágrafos sobre essa canção. Os pássaros cantando na entrada, os backing vocals, o ritmo tranqüilo, o clima de uma manhã de domingo pairando no ar e invadindo a alma. “If You Knew” passeia entre os anos 50 e toques de gospel. “I Don´t Love You Anymore” tem aquele clima de baile, que dá logo para imaginar um casal dançando no meio da pista.
“You Better Run” é um rock mais nervoso, flerta com o blues, consistindo em uma das melhores canções do trabalho, com suas guitarras, teclados e o vocal forte. “A Place In The Sun”, tem quase 5 minutos, a maior faixa do disco, é um soul maravilhoso, uma balada poderosa. “It´s Love” vem namorando com o jazz e vai se transformando em arranjos que vão se alterando e voltando ao ponto inicial.
Eddie Brigati (vocais), Felix Cavaliere (Teclados e vocal), Gene Cornish (Guitarra) e Dino Danelli (Bateria) apesar da já citada irregularidade na sua carreira, criaram em 1967, uma pequena obra prima, que mais de 40 anos depois ainda esbanja vitalidade e transcende beleza por todos os lados.
Para o disco, siga o link.

quarta-feira, 12 de março de 2008

"Let´s Stay Together" - Al Green - 1972

Em 13 de abril de 1946, nascia nos EUA um garoto que recebeu o nome de Albert Greene. Criado desde cedo com a música ao seu lado e na sua vida, cantando desde os nove anos, seria responsável 26 anos mais tarde por um dos clássicos eternos da soul music, já conhecido como Al Green e gozando de relativo prestigio no seu meio.
“Let´s Stay Together” saiu em 1972, sendo o terceiro disco da carreira solo do cantor, alcançando ótimos lugares na parada de sucessos da época. Green cantava com enorme maestria, completamente versátil transitava entre vários tons e falsetes como poucos. Esbanjava sensualidade ao mesmo tempo em que devotava paixão e força à sua música.
Sua parceria com o produtor Willie Mitchell se tornou lendária, chegando ao seu ápice nessa obra. A tríade que abre o disco é simplesmente irresistível, a faixa-título (sim, é aquela canção que fez parte de “Pulp Fiction” do Tarantino) vem seguida de “La-La For You” e “So You´re Leaving”. De tirar o fôlego.
Todas as nove faixas presentes merecem destaque. Seja o suingue e os metais sangrando forte em “I´ve Never Found A Girl”, a sensualidade subjetiva de “What Is This Feeling” ou a romântica “Old Time Lovin´”, com excelente trabalho de backing vocal, remetendo diretamente aos anos 50 e 60.
Tem ainda a bonita regravação de “How Can You Mend A Broken Heart” dos Bee Gees, com orquestrações e um vocal quase sussurrado que passa dos seis minutos de duração, “Judy” mais uma canção com o carimbo do artista e para fechar essa pequena obra prima o balanço retorna em grande estilo com “It Ain´t No Fun To Me”, com os metais em altíssimo volume.
Não muito tempo depois do lançamento desse disco, algumas situações aconteceram na vida de Al Green, que o fizeram enveredar pelo caminho da música gospel, outra eterna paixão. A partir disso ganhou a alcunha de “Reverendo” e passou a conquistar fiéis e mais fiéis que simplesmente não conseguiam resistir aos vocais perfeitos e a excelente música que lhes chegava.
Na entrada do seu site oficial está escrito: “Reverend, Singer, Songwriter, Musican, Legend”. Só cabe a mim concordar.
Site: http://www.algreenmusic.com

terça-feira, 24 de abril de 2007

"Painted From Memory" - Elvis Costello & Burt Bacharach - 1998

Tem discos pelo qual tenho um imenso carinho, um ciúme enorme, não empresto e não repasso nem sobre tortura. Um destes discos é “Painted From Memory”, lançado em 1998 por simplesmente Elvis Costello e Burt Bacharach. Um disco fantástico, sublime, um dos melhores de sua década sem dúvida, um disco que faz você acreditar na palavra beleza sem pestanejar.

Elvis Costello é o tipo de artista que desde sua estréia em 1977, com o clássico “My Aim Is True”, provavelmente nunca lançou um disco ruim em 30 anos de carreira, passeando entre o rock clássico, jazz, soul, blues, folk e pop com maestria cativando sempre baseado na sua voz rouca.

O maestro Burt Bacharach é um dos maiores nomes do pop de todos os tempos, seus trabalhos estão entre os melhores produzidos na seara do pop (pop mesmo), suas músicas foram cantados por ídolos das ultimas décadas, fazendo suas orquestrações famosas ao redor do mundo.

Os dois se conheceram quando Elvis Costello foi convidado para compor a música tema de “A Voz de Meu Coração” (biografia mais ou menos travestida da cantora Carole King). Desse ponto, nasceu “Painted From Memory”, onde o talento de Bacharach parece ter sido feito para dar corpo a voz de Costello. Impressionante e arrebatador.

Tente ficar imune ao poder de canções como “In The Darkest Place”, “Tears At The Birthday Party” ou “What´s Her Name Today?”. Se conseguir passe por “God Give Me Strenght” ou “The Long Division”. Se ainda persistir imune, procure um médico urgente, pois seu coração está com problema, tente pela última vez com a belíssima “Toledo” e caso nada aconteça, sinto lhe informar que levaram seu coração embora e você não notou ainda.

Para escutar de manhã antes de ir para o trabalho, no ônibus a caminho de casa, de noite tomando um bom vinho, do lado da pessoa amada ou na janela olhando para o mundo. Ou seja, para escutar sempre.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

"Kind of Blue" - Miles Davis - 1959

Para começar o ano, dando uma renovada geral e acalmando a alma nesse dia primeiro, nada melhor do que um clássico daqueles de mão cheia. “Kind Of Blue”, lançado em 1959 pelo trompetista Miles Davis, continua insuperável mesmo depois de tanto tempo. Miles já era um gênio do jazz em 1959, tendo começado sua carreira no bebop, e sendo fundador do estilo denominado como “cool jazz”. Com um quinteto de feras formado por Cannonball Aderley no Sax Alto, John Coltrane no Sax Tenor, Paul Chambers no Baixo, James Cobb na bateria e Bill Evans no piano (com exceção de Freddie Freloader", tocado por Wyn Kelly), Miles reinventou sua música. “Kind Of Blue” talvez tenha sido o primeiro disco da história a ser gravado todo no improviso, sem ensaios ou coisa do tipo. Momentos antes das sessões de gravação, Miles aparecia com o esboço e a estrutura inicial dos temas que iam ser desenvolvidos. Inacreditável como tudo parece ter sido ensaiado a exaustão, pois os temas se subdividem e caem um sobre o outro gerando uma camada de rara beleza sonora. Em conjunto ou nos solos, cada músico toca como se tivesse uma mão divina sobre eles. Música de encher a alma, de iluminar o coração. Totalmente indicado para iniciar ou terminar um dia, e para celebrar sempre o talento de tantos craques que ao comando de um mestre do jazz produziram um obra prima que durará gerações e gerações. Viaje tranquilo com canções eternas como "So What" e "All Blues".

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

"Return to Cookie Mountain" - TV On The Radio (2006)

De vez em quando nos deparamos com um disco difícil, daqueles que não andam muito depressa e que logo vai sendo removido do som. Depois você resolve dar mais uma chance e parece que as coisas vão se acertando, quanto mais o álbum toca mais nuances são descobertas, arranjos encantam e te cativam. Isso aconteceu recentemente com “Return To Cookie Mountain” do TV On The Radio, banda de Nova York, oriunda do Brooklyn que lança seu segundo álbum pela gravadora Interscope. Para esse disco não dei só uma chance, foram diversas tentativas e sempre empacava no comentário “pretensioso e nada demais” basicamente. Até que alguns dias atrás o negócio mudou de figura. Coisas da música.
Formado por Kyp Malone (guitarras e vocais), Tunde Adebimpe (vocais), Jaleel Bunton (bateria e percussão), Gerard Smith (baixo) e David Sitek (guitarras, pianos, programações e produção), esse quinteto que já havia lançado em 2004 o bem comentado, “Desperate Youth, Blood Thirsty Babes”, se supera criando um disco que pode mudar muita coisa daqui pra frente.
O som da banda soa como se David Bowie encontrasse o Radiohead em “Ok Computer”, com a mixagem do Massive Attack e a produção de Brian Eno, com lançamento pela Motown. Difícil de imaginar que isso seria possível caber em um disco. Mas coube. E de maneira quase sobrenatural.
Nesse caldeirão de art-rock, soul e pitadas de blues com vocais ora em falsete ora como se fosse uma grande canção de Marvin Gaye, cortesia de Malone e Adebimpe, é como se diversas camadas sonoras distintas fossem sobrepostas uma a uma com muito zelo gerando o resultado final. Camadas que coexistem quase que sem porquê.
A tríade que abre o disco poderia muito bem resumir a idéia de fazer música do TVOTR, “I Was a Lover”, “Hours”(a grande canção do disco) e “Province”(fascinante, com cortesia dos backing vocals de Bowie), entram num clima de ambientação própria que emerge o ouvinte para um lugar distante daqui, simulando efeitos, produzindo psicodelia em média escala e discordando perigosamente de alguns conceitos.
As letras também merecem destaque, como o conteúdo político social de “A Method” e as divagações de “Wash The Day” além de outros bons destaques do disco como “Wolf Like Me”(o que mais se aproxima de rock) e “Let The Devil In” (pelo seu ritmo induzido), permeando um caminho repleto de experimentações e criatividade.
Assim como “Revolver” dos Beatles, “Pet Sounds” dos Beach Boys, “Ok Computer” do Radiohead, “Blue Lines” do Massive Attack ou “Mellow Gold” do Beck, “Return to Cookie Moutain” entra pelo mesmo anseio de inovar, partindo da idéia de recriar e remexer diversas sonoridades congruindo para um quadro que não fora pintado antes com as cores que se está utilizando e misturando.
Em um ano de tantos discos bons e outros excelentes, o TV On The Radio ganha um lugar de destaque por tudo aquilo que a sua música propõe. Ou não propõe. Depende de você.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

"Crooked rain, crooked rain" - Pavement - 1994

O ano era 1994. Não existia Rapidshare, Emule, Soulseek e coisas do tipo. Se você quisesse algum disco importado de uma banda que tinha lido pelas entrelinhas da Bizz ou publicações da época, tinha que ir atrás para comprar ou pedir para aquele seu amigo nerd que se achava o tal em música e que antes de te emprestar ia implorar mil vezes para você tomar cuidado, muito cuidado. Sorte que nessa época o dólar estava quase igualado ao emergente Real, do plano de mesmo nome que levantou e reorganizou a nossa economia apesar dos efeitos colaterais que produziu. Dentro desse contexto nacional, uns californianos malucos lançavam lá fora um disco daqueles que o tempo não consegue apagar nem desvalorizar, um disco que ficaria para sempre guardado na memória. Com o nonsense título de “Crooked Rain, Crooked Rain” (algo “chuva perversa, chuva perversa”), o Pavement, banda do talentoso Stephen Malkmus instituía um clássico dos anos 90. A banda já tinha produzido um grande trabalho em seu disco de estréia “Slanted and Enchated” em 1992, mas parecia que as doideras, experimentações e influências precisavam ser lapidadas. Isso veio em 1994. Aliando as influências que passeavam por Lou Reed, Pixies, Sonic Youth, Yo La Tengo, Bob Dylan e até mesmo o progressivo com muita ironia e despretensão, arremessadas e remexidas em uma caixa onde a melodia reinava produzindo efeitos arrebatadores, a banda foi responsável por semi-hinos do underground como “Cut You Hair”, onde destilava sarcasmo nos versos: “...nada de cabelo comprido / músicas siginificam muito / quando músicas são compradas...”. Desde a abertura com a bateria quebrada e o riff meio low-fi de “Silence Kit” até o épico “Filmore Five” que fecha o disco, Malkmus e sua trupe produziam pérolas pop encobertas por extensões, paradas, mudanças de ritmo e doses precisas de microfonia. Apoiado pelos dois bateristas (sim, a banda tinha dois), Steve West e o “mad” Bob Nastanovich, pelo baixo inquieto de Mark Ibold e pela guitarra ao mesmo tempo desconexa e frenética de Spiral Stairs, Malkmus destorcia quase poesias, desalinhava melodias, costurava acordes e construía um universo novo, ainda que respaldado por todas as suas influências. Sendo irônico quando não devia ser (em “Range Life” detona Smashing Pumpkis e Stone Temple Pilots), gritando sem nada pré-determinado (“Unfair”), emocionando ao contar agruras e desagruras de um cotidiano imaginário (“Gold Sound Z”), fazendo jazz torto porque queria fazer (“5-4=Unity”) ou evocando Lou Reed quando menos se esperava (“Heaven´s Truck”), Malkmus era o cara. Depois de “Crooked Rain...”, o Pavement alçou um público maior, tocou em grandes festivais e continuou lançando bons discos, sempre com sua marca registrada meio que adicionando uma contra-fórmula que passou a ser copiado por tantos outros. Depois de umas férias, a banda anunciou sua separação, deixando para trás uma carreira que não teve nenhum disco ruim no seu currículo. Malkmus continua lançado projetos solos ou tocando com os The Jicks, sempre com qualidade, mas sem alcançar o ápice de tempos atrás. O Pavement era como uma espécie de anti-héroi que mesmo sem querer e sem saber ao certo porquê, encantava ouvidos ao redor do mundo com sua música e suas histórias.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

“Whenever You´re Read” - Flop - 1993

Existem aqueles discos que você compra, passa um monte de tempo divulgando aos quatro ventos que se trata de uma banda que todos precisam descobrir, ninguém acredita em você, o disco não vende, a banda some e você automaticamente vai arrumando novas paixões musicais. Depois de uma daquelas arrumações na cdteca para tirar o pó, eis que você o vê quase que dizendo “Você lembra de mim?”. Isso aconteceu essa semana com “Whenever You´re Read” da banda americana Flop. Lançado em 1993 pela EPIC, esse segundo trabalho (a banda acabou em 1995 depois de mais um registro) é uma obra prima do rock dos anos 90. Entenda-se o momento. Estávamos em 1993, o Nirvana tinha bagunçado com a música mostrando depois de muito tempo que podia se fazer barulho com pop e alcançar milhões de discos vendidos, trazendo consigo todo o movimento do grunge e a trupe de Seatlle com bandas como Pearl Jam, Soundgarden, Mudhoney, Alice In Chains e muitas outras. As gravadoras estavam correndo atrás do “novo” Nirvana a todo momento, a toda hora. O Flop era dos arredores de Seatlle, existia desde 1989, já tinha produzido algumas músicas legais e foram contratados pela EPIC para o lançamento do segundo álbum. Nisso, Rusty Willoughby (vocalista e guitarrista responsável por 95% das músicas), Nate Johnson (Bateria), Bill Campell (Guitarra) e Paul Schurk (Baixo), embarcaram na idéia e lançaram o excelente “Whenever You´re Ready”. Fugindo de tudo aquilo que se convencionou chamar de grunge, sua música ia mais para o lado do punk-pop do Husker Dü, com pitadas de powerpop, de bandas dos anos 60 e do som garageiro dos anos 70. Utilizavam muito bom humor (músicas com títulos como “A Popular Donkey”, “En Route To The Unified Field Theory" e “Z2 + C”), letras sarcásticas e certo humor negro, além de imbecialidades juvenis e comportamentos amorosos (o projeto gráfico meio nonsense do disco que o diga). Seja pelo punk de “A. Wylie” (hit pessoal dessa época, constava em todas as minhas fitas, sim... fitas), pelo vocal distorcido e as palmas de “A Fixed Point”, o hard rock quebrado de “Night of The Hunter”, o punk-hardcore de “Eat”, ou a entrada circense que antecede o rock cru de “The Great Valediction”, tudo é puro deleite sonoro. A banda podia ter conquistado o sucesso que nunca viu, canções de qualidade para isso não faltavam como “Port Angels”, onde um baixo de jazz salta para guitarras de um quase heavy metal, o pop puro e descartável de “Woolworth”, a mini ópera rock de “Parts I e II” ou a melancolia recheada de sarcasmo de “Regrets” onde Rusty canta “I have got a car/ I no have got a opinion/ I don´t have regrets baby/..../ I have got no friends...”
Mas como tantas outras acabou ficando no ostracismo, seus integrantes ainda continuaram a fazer música independente, nunca sem alcançar o brilho desse disco. Seja pelo baixo pulsante, riffs de guitarras e viradas de bateria ou pelas distorções, backing vocals e principalmente as melodias grudantes envolvidas na teia sonora. Disco dificil de ser achado, mas que vale muito a pena. Cometa um crime, mas escute. Pode confiar.

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Clube da Esquina

"Os sonhos nao envelhecem...", originally uploaded by Kalnaab.

Oriundo de Minas Gerais, o Clube da Esquina foi um dos grandes movimentos musicais brasileiros, tendo sua importância no mesmo patamar da Bossa Nova e da Tropicália. Movimento que fundiu culturas, abriu horizontes, pavimentou ideologias e se fez relevante até os dias de hoje pelo mundo afora. Tudo começou mais ou menos pelos idos de 1963, quando um certo Milton Nascimento chegou da cidade de Três Pontas e foi morar em Belo Horizonte, no mesmo prédio que os irmãos Borges moravam. Fez amizade com Márcio Borges, seu parceiro de vida e de tantas canções e com o mais novo dos irmãos (eram doze ao todo), um garotinho de talento chamado Lô Borges. Os ensaios eram sempre realizados na casa dos Borges, moldando uma forte amizade que se tornaria fundamental e agregando ainda outros jovens músicos como Toninho Horta e Beto Guedes, que seriam mais ou menos o núcleo central do clube. Influenciados pela música negra, brasileira, jazz e principalmente pela mais recém descoberta, uma banda inglesa chamada The Beatles (conhecem?), moldaram um som único de uma beleza visceral. Milton se revelava como o grande músico do grupo que cada vez crescia mais, agregando nomes como Flavio Venturini, Ronaldo Bastos, Fernando Brant e Tavinho Moura. Eram tempos difíceis, a ditadura instalada no país depois do golpe de 1964, se ainda não era escancarada já anunciava seus primeiros sinais de repressão e de censura, esboçando todo o drama que a liberdade de expressão e a cidadania do país sofreriam do decorrer dos anos. No entanto, faltava a esse grupo ser batizado, essa reunião precisava ser identificada por um nome e eis que na esquina da Rua Divinópolis com a Rua Paraisópolis no bairro de Santa Teresa, em uma tarde bucólica, foi fundado o Clube da Esquina. Em 1972, entraram em estúdio juntos para gravar “Clube da Esquina”, que tinha na capa apenas um menino branco junto com um negro sentados na capa, já antecipando o que poderia se esperar. São desse álbum canções como “Tudo que você poderia ser” (Um anti-hino contra a ditadura), “O Trem azul”, “Um girassol da cor de seu cabelo” e “Nada será como antes”. Os músicos lançaram-se em carreiras solo, mas em 1978, Milton que já gozava de prestígio (vide “Travessia”) lançava o duplo “Clube da Esquina 2”, reunindo a velha turma e novos integrantes, com canções do porte de “Maria, Maria”, “Nascente” e “Tanto”. Por mais que o grupo nunca mais se reunisse totalmente, eles nunca deixaram de participar dos discos uns dos outros. O Clube da Esquina deixou um legado fundamental para a nossa música, um legado de criatividade e beleza, um legado de como se fazer boa música. Não é a toa que sua influência está evidente hoje em trabalhos de bandas do porte de Skank e Los Hermanos. Discos fundamentais: 1967- Travessia – Milton Nascimento. 1972- Clube da Esquina – Milton Nascimento, Lô Borges, entre outros. 1972- Lô Borges – Lô Borges. 1978- Clube da Esquina 2 – Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, entre outros. 1978- Amor de Índio – Beto Guedes. Para maiores informações sobre o assunto é sempre bom ler o livro escrito pelo Márcio Borges, “Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina”, que estava no olho do furacão, uma verdadeira aula de história, recheado de grandes e pitorescos momentos.

Ou acesse o site: http://www.museuclubedaesquina.org.br, onde existem informações mil.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

Revolver - The Beatles - 1966

Revolver - The Beatles, originally uploaded by Kalnaab.

Que os Beatles foram os maiores da historia, isso e aquilo, você já deve ter escutado milhões de vezes. E vez ou outra também você já deve ter se perguntado “Será que eles são tudo isso mesmo?” “Será que há motivo pra tanta reverência assim ?” Escute “Revolver” e perceba que eles realmente mereciam ser chamados de “Fab Four”. Na nossa opinião esse disco de 1966 é o melhor da carreira da banda, uma tarefa difícil escolher, para quem gravou álbuns como “Sargent Pepper´s Lonely Hearts Club Band”, “White Álbum”, “Beatles for Sale”, “Help”, “Rubber Soul”, entre outros. Nesse disco os Beatles que já eram um fenômeno, enlouquecendo platéias pelo mundo, resolveram abusar do experimentalismo, misturando, jazz, folk, musica indiana, blues, motown, música erudita, orquestrações, novas técnicas de estúdio, letras mais elaboradas e acabaram cometendo um disco para influenciar gerações. Vamos a um rápido passo a passo : Taxman = Composição de George, abre o disco, com um rock n´ roll meio nonsense, com músicos indianos tocando junto com eles, com direito a Paul tocando guitarra e tudo. Eleanor Rigby = Belíssima canção de Paul, com os vocais sobrepostos dele e de Harrison, cheia de orquestrações conduzidas pelo produtor George Martin, ambientam o universo de solidão de forma perfeita. I´m only Sleeping = Cantando por John, a música tem um ritmo meio lento, sendo que Harrison toca o solo de trás pra frente. Love You To = Um toque meio indiano, por culpa da citara tocada por Harrison, conduz essa canção que fala de reflexão, de mudanças, cantada por Jonh. Here, There and Everywhere = Uma balada mais do que perfeita composta por Paul, com arranjos complexos e harmonias distintas entre si. Até hoje Paul toca essa música em seus shows. Yellow Submarine = O momento de “descontração” do disco, inspirada em meio a muitas sessões “médicas” do disco, a musica é perfeitinha que só, cantada pelo Ringo, e contando com o coro de quase todos do estúdio. She Said, She Said = Feita em mais uma das “viagens” de Jonh, conta um verso maravilhoso ; “...Eu sei o que é estar morto....”,que tal? Good Day Sunshine = Com influências de jazz, essa canção foi a primeira incursão dos Beatles ao estéreo. And Your Bird Can Sing = Com vocais dobrados, mixagens ao contrário de George, essa música é uma das mais experimentais do álbum. For no One = Simplesmente uma das melhores canções compostas em todos os tempos. Feita por Paul (um grande mestre em melodias), completamente erudita e barroca, com direito a piano tocado por Paul e tudo, belíssima. Dr. Robert = O doutor do titulo dessa canção, era nada mais do que o cara que arrumava as coisas para Lennon, muito bem sacada. I Want to tell you = Nessa música tem ate pandeiro, bem romântica, fala do desejo de se ter a pessoa amada. Got to Get you Into My life = Composta por Paul, com naipe de metais vibrando, influências do som black da Motown, os Beatles demonstram toda sua versatilidade, nesse “soul de branco”. Uma de nossas prediletas. Tomorrow Never Knows = A canção mais psicodélica fecha o disco com chave de ouro. Experimentações mil, coro, letras inspiradas em Timothy Leary (Guru dos anos 60), Jonh cantando por um alto falante, fazem dessa música um clássico absoluto. Para quem ainda não escutou esse disco, não deixe que ninguém descubra esse crime e escute logo e para quem acha que os Beatles foram só quatro caras que só cantavam músicas bobas, cheias de “yeah, yeah”, ouça esse disco e mude urgentemente seus conceitos. Discoteca cem vezes básica.

terça-feira, 8 de novembro de 2005

"Daydream Nation" - Sonic Youth - 1987

Daydream Nation, originally uploaded by Kalnaab.

Quando se fala de Sonic Youth, as primeiras palavras que vem a cabeça são microfonia e distorção. Entretanto, essa banda vai muito além do que isso.

O que andou rolando por aqui essa semana, é a obra prima, o verdadeiro clássico do Sonic Youth, falamos de “Daydream Nation” álbum de 1987. Esse disco deu uma nova direção as bandas independentes, em um momento onde o mundo se dividia entre o heavy metal, o hard – rock farofa e a decadência das bandas dos anos 80, mostrando que era possível fazer boa musica sem precisar de instrumentos de ultima geração, estúdios poderosos, grandes gravadoras ou principalmente tocar na rádio.

Mostrou que bastavam boas idéias e uma grande vontade de fazer somente o que se tivesse a fim, unindo guitarras altamente distorcidas escondendo belas melodias, a simbiose perfeita entre noise e harmonia, poesia marginal inspirada principalmente no Velvet Underground e musicas sem formas pré – definidas, com refrões repetidos.

O disco abre com “Teenage Riot”, musica que se tornou hino de uma geração, que falava sobre a apatia da juventude, tem “Candle” e “Total Trash”, verdadeiras preciosidades do rock alternativo, tem a cacetada “Trilogy” que encerra o disco, tem Kim Gordon maravilhosa em “The Sprawl”, entre outras. Não é a toa que Kurt Cobain, Silverchair, Smashing Pumpkis, Pixies, para citar somente alguns, idolatram tanto esse disco.

É certo que o Sonic Youth fez outros belos discos como “Dirty”, “Goo” e “Evol”, mas é em “Daydream Nation” que a banda consegue fazer da sua música algo para mudar uma geração em seu comportamento. Discoteca muito mais do que básica....