“Elis era uma grade ciclotímica,
tinha uma arritmia de comportamento sem maiores explicações. Num momento estava
puta, noutro rindo, noutro chorando”. A definição acima é de Ronaldo Bôscoli,
primeiro marido oriundo do casamento realizado quando ela tinha 22 anos e ele
38. Durante os 36 anos de vida que se encerraram em 19 de janeiro de 1982, a
gaúcha de Porto Alegre teve uma carreira fantástica, enérgica e fulminante.
“Furacão Elis” foi publicado pela primeira vez em 1985 e ganhou algumas
reedições como em 1994, além de circular por anos pelo extinto Círculo do
Livro. Em 2012, o falecimento da “pimentinha” (apelido dado por Vinicius de
Moraes) completa 30 anos e a Editora Leya junto com a autora Regina Echeverria
(de “Cazuza, Só As Mães São Felizes”) resolvem colocar no mercado uma nova edição
revista, ampliada e detalhada em 272 páginas.
As folhas do livro cobrem toda a existência
da cantora e vão desde a estreia frustrada aos 7 anos no Clube do Guri,
programa na Rádio Farroupilha em Porto Alegre até o dia da morte devido a uma
mistura de cocaína com álcool. Mesmo não se apoiando muito nas canções e no
trabalho de forma mais ampla, optando mais pelo lado pessoal, a obra é vasta e
narra de modo consistente a precoce carreira de Elis, que aos 15 anos já
gravava o primeiro álbum.
Discursa sobre o deslumbramento da
ida ao Rio de Janeiro e os altos salários dos programas de tevê. Passa pelo
prêmio com “Arrastão” (de Edu Lobo e Vinícius de Moraes) no Festival da Tv
Excelsior e invade o sucesso com Jair Rodrigues. Espalha-se pela obra-prima de “Elis
e Tom” de 1974, assim como pelo clássico “Falso Brilhante” de 1976 e o show
correto no Festival de Montreux em 1979, que depois se transformaria em um
duelo inesquecível com Hermeto Pascoal.
“Furacão Elis” se aventura mais perigosamente quando viaja pela
estrada pessoal. Da relação extremamente conturbada com a mãe, o pai e o irmão,
que exibia momentos conflitantes de amor e ódio, até os casamentos. Primeiro
com Ronaldo Bôscoli, um dos pais da bossa nova, que gerou o filho João Marcelo
Bôscoli (produtor e sócio da Trama), e depois com o pianista César Camargo
Mariano, que deu luz aos também cantores Pedro Camargo Mariano e Maria Rita.
Na espiral de conquistas,
deslizes, problemas e alegrias, o livro de Regina Echeverria ambiciona (e
consegue) mostrar todos os lados de uma personalidade ímpar da música nacional.
Extremamente talentosa e explosiva, Elis Regina encantou o país com suas
interpretações vibrantes e técnicas como pouca gente conseguiu. Como o produtor
Luiz Carlos Miele disse certa vez, ela era “a primeira, a segunda e a terceira
cantora do Brasil”. Difícil discordar dele.
Nota: 8,5
Assista Elis Regina cantando “O Bêbado
e o Equilibrista”, um dos seus hinos, composto por João Bosco e Aldir Blanc:
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