sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"No Buraco" - Tony Bellotto

Tony Bellotto está com 50 anos e acredito que não tenha muito do que se queixar. Fez (e ainda faz) parte de uma das bandas mais importantes do rock nacional, embora nos últimos anos o Titãs não represente nem 10% do que foi outrora. É casado com uma mulher linda, tem filhos e uma bem sucedida carreira de escritor, onde teve inclusive alguns livros adaptados para o cinema. Entrou até nos chamados tempos modernos e mantêm um blog de crônicas no site da Veja.
O que levaria então o bem sucedido Bellotto a criar um personagem como Teo Zanquis, o guitarrista e escritor fracassado que é o personagem principal do seu sétimo romance, “No Buraco”? Vá saber. Talvez seja para exorcizar antigos medos de uma vida sem sucesso ou contar casos obscuros e divertidos da época do rock brazuca dos anos 80 com nomes diferentes. Ou ainda, quem sabe, simplesmente juntar um monte de idéias separadas para somente se divertir.
“No Buraco” (Companhia das Letras, 250 páginas), apresenta o já mencionado Teo Zanquis, ex-guitarrista de uma banda oitentista que teve um mega sucesso e só, para acabar esquecida pelo tempo, como tantas outras. Só o nome da banda (“Beat-Kamaiurá”) já é uma sacanagem muito bem feita com o período. E o mega sucesso então? Sente só esse refrão: “Trevas de luz, trevas de luz, onde foi que eu perdi o chão?, trevas de luz, trevas de luz, até quando a escuridão?”.
O livro se divide em três frentes. A primeira tem o ex-guitarrista contando sua história em narrativa com a cara enfiada na areia de Ipanema. A segunda traz a relação dele com uma pequena (mas com uma grande bunda) coreana que vende discos em uma loja da galeria do rock no centro de São Paulo. A terceira e mais divertida mostra causos e histórias dos anos de músico, mostrando rolos acontecidos no Chacrinha, em excursões e qualquer bodega que a banda dele tocava.
Sem querer ou almejar ser muito linear, “No Buraco” é uma junção de pequenos contos separados que se unem na lógica meio bizarra e completamente catastrófica de Teo Zanquis. Espirituoso e bem humorado, Tony Bellotto caminha tranquilamente pelo que se convencionou chamar de “cultura pop” no seu novo livro. Evidente que não é um supra-sumo da literatura, mas serve (muito) bem para passar o tempo em alguma sala de espera ou a caminho do trabalho.
P.S: Os “causos” podem ser associados a várias figuras dos anos 80 e a própria entrada com a citação “Tudo isto aconteceu, mais ou menos.” (de Kurt Vonnegut), dá essa dica.
Blog do autor na Veja: http://veja.abril.com.br/blog/cenas-urbanas

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