quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"Liebe Paradiso" - Celso Fonseca e Ronaldo Bastos - 2011

O cineasta polonês Roman Polanski disse certa vez que criar e recriar eram a mesma coisa. Esse é um bom princípio para entender a decisão de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos em reinventar seu álbum “Paradiso” lançado em 1997 e que ganha nova versão em 2011. O segundo rebento da parceria entre os cariocas, situado entre “Sorte” de 1994 e “Juventude/Slow Motion Bossa Nova” de 2002, foi revisitado em conjunto com uma vasta gama de convidados e conquistou um nome maior: “Liebe Paradiso”.

Geralmente obras com essas características têm como olhar principal o aproveitamento barato de algum nicho de mercado ou suspiros finais de quem já está com a criatividade agonizando. Definitivamente não é o caso aqui. A labuta levou dois anos e envolveu os criadores com o engenheiro de som Duda Mello e o produtor uruguaio Leonel Pereda. Com muito esmero na elaboração, as concepções sonoras foram revistas em uma roupagem diferenciada e o resultado é um trabalho bem diferente do seu guia.

No bom “Paradiso” de 1997, 10 intimistas canções se apresentavam com a levada da mpb alinhada com a da bossa nova e Celso Fonseca cantando todas as faixas compostas sempre na companhia de Ronaldo Bastos. Em “Liebe Paradiso” um time de peso passa pelos instrumentos como Marcos Valle, Arthur Maia, Sacha Amback, Domenico Lancelotti e Márcio Montarroyos, como também algumas músicas adquirem intérpretes como Luiz Melodia, Nana Caymmi, Paulo Miklos, Adriana Calcanhotto e Sandra de Sá.

Na comparação entre os dois discos, que se torna inevitável, apenas o samba triste “Alma de Pierrô” e a balada noturna “Out Of The Blues” permanecem mais ou menos parecidos. As demais sofrem alterações que combinadas com a melhor produção, as fazem nascer novamente. A ótima “Você Não Sacou”, por exemplo, vira um intrincado pop rock cantado pelo titã Paulo Miklos em toda a esperteza da letra que diz: “já subi a Penha de joelhos, mas você não mudou/já enchi um saco de conselhos, mas você não sacou”.

Outras amostras dessa mutação aparecem na divertida “Denise Bandeira”, que vira um sambão bem mais alegre, em “Polaróides” que ganha um embalo mezzo funk/soul e um surpreendente vocal de Sandra de Sá (que consegue controlar um pouco o habitual histrionismo) e principalmente em “Ela Vai Pro Mar”, que com uma interpretação arrasadora de Luiz Melodia estaciona a quilômetros de distância da anterior, encantando ao olhar mais para o jazz, com a presença notável do trombone de Vittor Santos.

A dupla ainda faz cama, mesa e banho para que Nana Caymmi assombre com extrema habilidade a climática “Flor da Noite” e insere trechos do escritor alemão Goethe na atmosfera lounge de “Paradiso”, além de musicar um poema do escritor britânico John Keats em “A Thing Of Beauty/Juventude”, que junto com “O Tempo Não Passou” (originalmente gravada em “Sorte” de 1994 e aqui interpretada corretamente pela Adriana Calcanhotto) são as únicas que não faziam parte do álbum concebido em 1997.

Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, esses dois cariocas separados por 8 anos de diferença (o primeiro nasceu em 1956 e o segundo em 1948), quebram em “Liebe Paradiso” alguns paradigmas, pois atingem um ponto bastante elevado na carreira mediante a arriscada opção de recriar um disco que já tinha um conceito de apreciação. Nas 12 canções nele inseridas provocam o antigo ao mesmo tempo em que acenam com um sorriso nos lábios para o contemporâneo, sem esquecer de honrar a qualidade da música acima de tudo.

Página do disco no Facebook: https://www.facebook.com/liebeparadiso  

Assista ao clipe de “Ela Vai Pro Mar”: 

Nenhum comentário: