sexta-feira, 30 de março de 2007

"Neon Bible" - Arcade Fire - 2007


“Tempos sombrios estão nos esperando pela frente...”, a frase que poderia sair tanto de um filme de Harry Potter (e saiu mais ou menos assim), como do Mestre Yoda em Star Wars ou ainda de algum pastor apocalíptico em uma de suas pregações é o sentimento que resume “Neon Bible”, segundo disco do Arcade Fire, combo canadense encabeçado pelo protótipo de gênio Win Butler que estremece os pilares do pop desde 2004.

Muito se falou sobre esse album antes mesmo de ele sair, uma vez que o primeiro disco da banda “Funeral” foi uma grata, bela e fenomenal surpresa quando do seu lançamento. Saber se o segundo disco seria melhor que o primeiro era a grande questão, ainda mais com promoções bizarras no youtube, gravação dentro de uma igreja, álbum vazado antes, muito antes do tempo e outras coisas mais. Então, eis que aqui cometo a primeira heresia desse texto, “Neon Bible” é superior a “Funeral” por mais impossível que isso possa parecer.

O novo disco além da excelência pop, e aqui falamos de um pop cheio de climas estranhos, ambientes controversos e com um ar pesado mas que nos deixa respirar tranquilamente na medida do possível, enquanto as letras flertam com temas como um quase desespero, crenças mal feitas, desejos sucumbidos, desastres naturais, guerras hediondas e depois de tudo isso uma espécie de apocalipse que vem pela frente.

Aqui cometo a segunda heresia. Daqui há alguns anos olharemos para trás e veremos nesse disco um divisor de águas por ser tão estranho e ao mesmo tempo tão normal retratando tempos de medo, de violência, de tragédias climáticas e de uma imensa falta de fé no ser humano. O combo formado por Win Butler, Régine Chassagne, Richard Reed Parry, William Butler, Tim Kingsbury, Sarah Neufeld e Jeremy Gara (além de muitos, muitos outros), conseguiu fazer um disco sombrio é verdade, mas imensamente belo.

Canções como “Black Mirror” que abre o disco, “Neon Bible” e seu tom cataclísmico e “Ocean Of Noise”, uma espécie de encontro entre o Velvet Underground e Jim Morrison nas suas maiores viagens, representam alguns dos momentos desse disco envolto a mandolins, violas, fagotes, pianos, orgãos de igreja, harpas e evidente a textura rock de guitarra, baixo e bateria. É crer para ver, ouvir para se encantar, pensar para temer, gostar para se admirar.

O que dizer da belíssima entrada de “Intervention” (uma das canções que mais escutei esse ano) ou do rock oitentista e soturno de “The Well And The Lighthouse”?. Será que dá para ficar imune a força da letra de “Windowswill” ou ao semi country embaçado pela voz de Butler em “Antichrist Television Blues”?. E a soberba "No Cars Go"? Se no seu disco anterior o Arcade Fire explorava os dramas familiares e inseria mudanças de ritmos com alguns gritos na sua fórmula, aqui seus olhos se voltam para os piores momentos do mundo atual e uma roupagem sonora mais contida e com melodias mais trabalhadas (se é que isso podia acontecer).

O hype está generalizado em cima desse disco e da banda há tempos, mas não corra dele por causa disso e aqui cometo a terceira heresia: O Hype é plenamente justificável nesse caso. “Neon Bible” é de maneira brilhante o melhor disco de um ano que mal começou e já tem pérolas de Wilco, Son Volt, BRMC, Weeping Willows, Dinossaur Jr., Grant Lee Philips, Apples In Stereo e tantos outros que já chegaram e muitos que ainda virão. Não é nada fácil.

E para terminar esse texto cometo a quarta e última heresia: O Arcade Fire é hoje banda mais relevante do mundo.

E que venha o final do mundo como nós conhecemos, pois a sua trilha sonora já chegou.

Site oficial:
http://www.arcadefire.com .

quarta-feira, 28 de março de 2007

"Strangelet" - Grant Lee Phillips - 2007

A classe devia ser fundamental na vida. Não uma classe esnobe e soberba, mas aquela natural e encantadora. Um disco com classe é um privilegio para poucos, com charme suficiente para ficar no player alguns dias e desacelarar um pouco em nós, essa síndrome de ficar mudando de discos a todo momento para acompanhar o que aparece pelos blogs e comunidades da internet.

O americano Grant Lee Phillips pode ser considerado um desses poucos, pois vez ou outra arremessa sua nobreza em belas canções. Foi assim quando ainda tinha sua banda, o Grant Lee Buffalo que nos brindou com a pequena obra prima “Fuzzy” em 1993, ou quando já em carreira solo lançou “Mobilize” em 2001 ou “Virginia Creeper” (que traz a melhor música do cantor para mim, “Mona Lisa”) em 2004.

Ano passado, foi a vez do cantor brindar suas músicas favoritas em um disco de covers intitulado “Nineteenneighties”, que passou quase que despercebido pelo público. Eis que essa semana entra no mercado americano “Strangelet” o novo trabalho de Grant Lee Phillips, recheado das habituais referências do universo folk rock das décadas de 60 e 70 e com a qualidade que aprendemos a apreciar.

“Runaway” abre tensa e nervosa em meio a violões até ganhar ritmo com a bateria e com o a palavra título sendo repetida com a já falada classe pelo cantor. “Soft Asylum (No Way Out)” chega com uma beleza magistral. “Fountain Of Youth” emula Elvis Costello, enquanto “Hidden Hand” tem toques de Neil Young. “Chain Lightning” se faz apaixonar pelas orquestrações que a conduzem.

“Raise The Spirit” tem aquele clima dos anos 80 que o artista tanto gosta de explorar (e o faz muito bem), “Same Blue Devils” é uma baladona com ecos de Bob Dylan e The Band, “Johnny Guitar” tem os toques mais rock do disco em uma canção deliciosa e semi perfeita, “So Much” fecha o álbum com maestria conduzida pelo estilo tradicional do cantor.

Quando coloquei “Strangelet” para tocar no trabalho ontem pela manhã, fui me tocar de tirar somente perto das 13:00hs, ao me dirigir para almoçar, voltando e apertando o play de novo. Um disco que me merece a alcunha de soberbo sem dúvida, mostrando o artista em ótima forma e que traz para os ouvintes toques de classe, extrema classe.

P.S: E desconsidere essa capa horrível :)

Site oficial:
http://www.grantleephillips.com
My Space:
http://myspace.com/grantleephillips

Veja e escute “Soft Asylum (No Way Out)” logo abaixo.

Grant Lee Phillips

terça-feira, 27 de março de 2007

"Make Another World" - Idlewild - 2007

Sempre que me deparo com um disco que tenha duração em torno de 40 minutos, já escuto este de maneira diferente. Esse negócio de colocar muita música em cd, pelo simples fato de caber nele é responsável por transformar possíveis grandes discos em trabalhos medianos pois acabam gerando canções menos inspiradas que poderiam muito bem ter ficado de fora.

O disco novo do Idlewild lançado este mês tem 34 minutos espalhados em 10 faixas, o que colabora bastante para o ótimo resultado final. A banda escocesa formada em 1995, liderada pelo vocalista Roddy Womble e contando com Rod Jones e Allan Stewart nas guitarras, Gareth Russell no baixo e Colin Newton na bateria traz “Make Another World” para o mercado.

O Idlewild sempre foi uma banda excelente, com grandes influências de R.E.M (principalmente), Husker Du e o pós punk dos anos 80. Seus álbuns apesar de nunca terem recebido um grande reconhecimento do público cativaram fãs ao redor do mundo, discos como “The Remote Part” de 2002 são pequenas obras primas desta década, no entanto a banda vinha de um lançamento um tanto quanto inconsistente em 2005, intitulado “Warning/Promises”.

Neste “Make Another World” a banda abraça novamente as suas influências do R.E.M com uma paixão que não demonstrava já há algum tempo, fazendo um belo disco. As guitarras dão o toque para abrir com “In Competition For The Worst Time” e “Everything (As It Moves)”, a reverência para com a banda de Michael Stipe e Cia. aparece em canções como a faixa titulo, a excelente “If It Takes You Home” e a balada “Once In Your Life”. “Finished It Remains” fecha o disco, trazendo aquele rock básico, sem grandes firulas, mas com um apelo crescente na melodia e no refrão.

Depois que o álbum acaba a certeza que fica é que bandas tão honestas e cientes da sua sonoridade como o Idlewild sempre serão importantes. Roddy Womble depois do belíssimo disco que lançou solo no ano passado, volta com tudo, com a voz sempre acima da média da maioria e trazendo novas canções para tocarem no nosso dia a dia. É bom ter o Idlewild de volta.

Site Oficial da banda: http://www.idlewild.co.uk/ .
My Space: http://www.myspace.com/idlewild .

segunda-feira, 26 de março de 2007

"High Times (Singles 1992 - 2006)" - Jamiroquai - 2006

Dentro das minhas divagações musicais disponho discos dentro de grupos que não guardam identidade sonora entre si. Dentro desses grupos pessoais, tem o “Discos Para Se Ouvir na Segunda Feira”, que podem ser de qualquer estilo desde que sejam leves, pop por natureza e consigam tirar a ressaca estampada na cara, melhorando o humor.

Olhando por esse lado um disco que se enquadra bem nisso é a coletânea “High Times (Singles 1992-2006)” da banda inglesa Jamiroquai lançada no ano passado. O Jamiroquai é o caso de banda que as esquisitices do vocalista são sempre mais comentadas que seu próprio som, deixando este em segundo plano.

Jay Kay, seu vocalista (e hoje com uma fortuna estimada em U$ 60 milhões) realmente é totalmente dados a estrelismos meio extremos, o última deles foi uma recente declaração em que afirma ter “desistido da música”, no entando isso sempre meio que abafou o som de sua banda que apesar dos altos e baixos teve ótimos momentos.

E nada melhor do comemorar somente os altos do que uma coletânea de singles como esta. Sucessos como “When You Gonna Learn”, “Virtual Insanity”, “Cosmic Girl” e “Allright” estão lá ao lado de canções menos conhecidas como “Space Cowboy” e "Radio”, mas não menos interessantes.

A banda que surgiu no movimento Acid Jazz no inicio dos anos 90, sempre bebeu na fonte do jazz, soul e funk, aliando toques de discoteca em alguns casos e em outras algumas modernices mais recentes. Se nunca conseguiu emular seus ídolos, pelo menos Jay Kay fez com sua banda uma declaração de amor musical para com eles.

Essa coletânea pode ser a única coisa que você tenha da banda e já estará valendo a pena pois traz um conjunto de ótimas músicas como descritas acima leves e totalmente pop, prontas para descontrair o ar pesado da segunda feira e colocar um pouco mais de alegria no começo da semana.

Bastante recomendável. Site da banda: http://www.jamiroquaimusic.com/
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quinta-feira, 22 de março de 2007

"The Weirdness" - The Stooges - 2007

“The Stooges” lançado em 1969 é um dos grandes discos de todos os tempos do rock. Seminal, visceral e repleto de energia influenciou geração após geração e fez de Iggy Pop um mito, uma espécie de anti herói sujo e canalha, peça fundamental na história do rock. Eis que mais de 33 anos depois do último e excelente “Raw Power”(1973) a banda lança um novo disco.

“The Weirdness” traz de volta Iggy Pop ao lado dos irmãos Ron Asheton na guitarra e Scott Asheton na bateria, além do baixista Mike Watt que já está com eles há algum tempo. A produção ficou por conta de Steve Albini, que “limpou” muito o som da banda, sempre caracterizado pela podreira, pelos estilhaços de acordes voando e ensurdecendo.

A grande sacada ao ouvir esse disco é não comparar com aquele Stooges de 30 anos atrás. Não tem como. Os três discos que a banda lançou anteriormente tem um poder especial, daqueles que só são produzidos em conjunto com várias nuances históricas. Seria pedir demais para Iggy e cia reproduzirem o feito. Agora, por causa disso dizer que “The Weirdness” é um disco ruim, cria-se uma imensa distância.

A força da banda está lá ainda, com as guitarras soando, bateria esmurrando, baixo pulsando a mil e a voz de Iggy Pop contando histórias, destoando sarcasmo. Faixas como “Trollin”, “She Took Me Money”, “You Can´t Have Friends”, “ATM” e “I´m Fried” são ótimas podreiras para se escutar bem alto. “Idea Of Fun” o primeiro single dessa nova fase é uma das músicas mais loucas do ano até agora com Iggy afirmando no refrão que sua idéia de diversão é “matar todo mundo”.

“The Weirdness” não é para ser levado tão a sério como muita gente está fazendo. Não é para ser comparado com os antigos discos, pois chega a ser covardia. No entanto, se qualquer banda nova lançasse um disco desses teria seu nome alardeado aos quatro cantos como a nova sensação do rock n´roll, essa pequena grande coisa que o próprio Stooges ajudou e muito a criar.

Relaxe, abra uma cerveja, pegue uma revista do Robert Crumb, coloque o disco e aumente o som, mas aumente mesmo. Não vai mudar em nada a cotação do Dólar, mas com certeza trará 40 minutos de pura diversão, ainda que não seja a mesma de tempos atrás continua valendo a pena. Bem a pena.

Entre no my space e escute “Idea Of Fun”:
http://www.myspace.com/iggyandthestooges .

quarta-feira, 21 de março de 2007

"Hats Off To The Buskers" - The View - 2007

A história meio que se repete regularmente, banda lança alguns EPs bacanas, faz shows interessantes e...logo é a próxima sensação para os críticos ingleses, a próxima salvação do rock. Com a banda escocesa The View que lançou neste ano seu primeiro álbum “Hats Off To The Buskers” não foi diferente.

Some a isso o fato do vocalista da banda Kyle Falconer ser amigo de farra do sempre maluco Pete Doherty (Ex-Libertines) e a imprensa tem um prato cheio nas mãos. A banda também não fez por menos, com envolvimentos com drogas em alguns casos, outras pequenas pirações e o seu disco de estréia entrou muito bem na parada britânica.

Agora, esqueça tudo isso. “Hats Off To The Buskers” é bem agradável de se escutar. A banda não conta nada de novo passando pelo punk inglês dos anos 70/80, pelo Ska em alguns momentos, além de amores mais contemporâneos como o próprio The Libertines criando uma sonoridade descompromissada, leve, sem maiores pretensões e que diverte bem.

“The Don” e “Skag Trendy” podiam muito estar em algum disco de uma banda punk inglesa de 82,83 emulando o The Clash como grande referência. “Face For The Radio” é uma pequena jóia pop escondida no meio das guitarras, com apelo sessentista e aquele backing vocal de resposta que sempre é agradável. “Wasted Little DJ´s” tem força de hit, dançante e cheia de energia puxando um ótimo refrão sendo totalmente indicada para as pistas de dança.

“Same Jeans” é a primeira música de trabalho e poderia muito constar em um dos discos da banda de Pete Doherty. “Superstar Trademan” tem um dedilhado de guitarra que abre espaço para um punk-pop daqueles que instigam o individuo a ficar balançando a cabeça ou fazendo algum tipo de batuque no chão. “Claudia” é uma balada com aqueles efeitos e andamento a lá Kinks, só um pouco mais acelerada.

A boa produção de Owen Morris (Oasis e The Verve) ajuda muito o límpido resultado final e a junção das canções. O The View não vai ser sua banda preferida, você não mandará emails, scraps no orkut ou recomendará na LastFm para os amigos, mas seu disco de estréia é daqueles bem bacanas que podem ser consumidos sem contra indicação, de maneira leve e alegre.

O site oficial da banda é este
http://www.theviewareonfire.com e dá uma passada pelo my space também: http://www.myspace.com/dryburgh .

terça-feira, 20 de março de 2007

"El Desastre de ser Indie" - Ligre - 2006

Um disco com o nome maravilhoso de “El Desastre de Ser Indie” merece ser escutado, dado uma chance. A banda responsável por esse adorável título é a espanhola Ligre, originária de Valência, mas que agora reside em Barcelona e que ano passado lançou seu primeiro disco por uma gravadora.

Antes já haviam produzido dois outros discos independentes “Retorno a Los Bosques” em 2002 e “Tu Voz Cansada” em 2003, participando de diversos concursos e festivais e recebendo em média boas criticas, antes de lançar o álbum em questão no final do ano passado pelo selo Flor Y Nata Records.

Ligre (fui procurar saber) é um animal hibrido do Leão e do Tigre (tá vendo, Coisapop também é cultura!!) e traduzindo isso para o som da banda é uma mistura de Beatles, Kinks e Beach Boys com bandas indies dos anos 90. Sua formação é Javi (vocal e guitarra), Nacho (vocal, guitarra e teclados), Pere (Baixo) e Antonio (Bateria).

O album não tem mais do que meia hora de música espalhada em oito canções, atingindo um resultado bom para o tipo de som a que estão propostos. A faixa de abertura “Tumbados” é uma bonita balada que abre com os versos “Recuérdame lo fácil que es soñar/y disfrutar tumbados junto al mar/Juntos todo es especial”, meio piegas mas bacana.

Na verdade, as canções tem como tema recorrente paixões mal acabadas, amores desejáveis e seu espelho nos relacionamentos. Letras em sua totalidade simples, sem grandes invenções ou malabarismos poéticos. Um dos melhores momentos fica por conta de “Domingo” e seus versos “Amanece ya, y no quiero despertar/Quiero disfrutar del cariño que tú me das”, retrato de uma falsa tristeza no ar, com uma linda melodia.

O grande momento do disco fica por conta da ácida e mordaz “El Desastre de Ser Indie” que abre com os versos impagáveis: “Ya te has hecho mayor/ser indie no te queda muy bien/Dices que escuchas a los Strokes/y en realidad añoras a James” Precisa dizer alguma coisa mais?. “Solo Outra Vez”, fecha a conta em mais uma baladona sentimental que só.

Apesar de uma inconsistência que permeia as canções produzindo bons momentos como os citados e outros menos empolgantes, percebe-se qualidade ainda que esta precisa ser melhor trabalhada e direcionada. No mais, só pelo titulo o disco já se torna quase cool.

Site dos caras:
http://www.ligre.es/ e também o my space: http://www.myspace.com/ligre .

domingo, 18 de março de 2007

"The Search" - Son Volt - 2007

Primeiro um pouco de história. A banda americana Uncle Tupelo teve uma carreira curta, mas brilhante lançando ótimos discos entre 1990 e 1993 como “Still Feel Gone” de 1991. Em meados de 1994 as coisas acabaram e seus dois pilares alçaram outros vôos, Jeff Tweedy montou o excelente Wilco e constituiu uma carreira repleta de acertos com sua nova banda e Jay Farrar seguiu com um novo projeto chamado Son Volt.

Quanto ao Wilco, se tornou uma das bandas mais importantes dos últimos 10 anos. E o Son Volt? Bom, apesar de receber sempre criticas positivas e produzir ótimos discos o reconhecimento dado a Jay Farrar é muito menor do que aquele oferecido (com razão) a Jeff Tweedy. Talvez por ter mudado pouco sua sonoridade no decorrer dos tempos, fincando o pé no folk, no country e no tradicional rock americano sem adicionar novos elementos, isso tenha acontecido.

“The Search” o seu quinto disco, lançado na gringa esse mês talvez venha mudar esse cenário e dar o devido reconhecimento ao músico. Um disco brilhante que provavelmente seja o melhor da carreira da banda que ainda tem os competentes Brad Rice nas guitarras, Derry DeBorja nos telcados, Andreew Duplantis no baixo e Dave Bryson na bateria. Até o momento um dos melhores lançamentos de um ano repleto de boa música e que mal começou.

Momentos inspiradíssimos como “This Picture” que traz os metais a primeira prova criando todo um clima para a canção, “Beacon Soul” um folk pop com a voz de Jay Farrar emulando tempos mais antigos e comovendo o ouvinte ou “Methamphetamine” uma balada folk, com um lindo piano que entra na cabeça, sendo bastante difícil retirar depois enquanto se cantarola a melodia e o refrão pelos cantos.

Outros destaques são o belo dueto com a cantora Shannon McNally em “Highways and Cigarettes”, o rock tradicionalista com ecos de Tom Petty de “Action”, com uma variação vocal bem bacana ou a belíssima “Adrenaline And Heresy” espalhando melancolia de maneira suave enquanto o piano dita o ritmo da canção.

Jay Farrar está cantando de forma impressionante e finca os seus pés de vez na sua idéia de música, um tanto quanto conservadora, mas de uma qualidade que beira o genial. “The Search” pode até não chegar a quantidade de pessoas que o excelente “Sky Blue Sky” do Wilco vai chegar, mas com certeza emocionará tanto quanto este para aqueles que o escutarem.

Site Oficial da banda:
http://www.sonvolt.net .

sexta-feira, 16 de março de 2007

"Carnavas" - Silversun Pickups - 2006


O mundo de hoje nos dá tamanho acesso a informação que acabamos meio que submersos no meio dela, deixando escapar muita coisa não percebida. No meio de tanta banda nova simplesmente não tem como se escutar tudo e às vezes, ótimos discos são descobertos depois um bom tempo. Foi o meu caso com a banda de Los Angeles, Silversun Pickups. 


Quando seu primeiro disco, lançado ano passado intitulado “Carnavas” chegou aos meus ouvidos há mais ou menos uns dois meses foi como paixão à primeira vista. Como me apaixono muito fácil, resolvi não me empolgar tanto e hoje algum tempo depois é que escrevo algo sobre esse maravilhoso álbum que sem dúvida foi um dos melhores de 2006. 

Camadas e mais camadas de guitarras inseridas de distorções e viagens em canções que sempre ultrapassam os quatro minutos, com uma bateria tocada como se fosse a última vez, tudo isso embalado em uma voz peculiar carregando melodias doces e belas. Já tentei definir o som da banda e o mais perto que consigo é como se fosse o Smashing Pumpkis da fase “Gish” e “Siamese Dream” encontrando o Sonic Youth dos discos “Goo” e Dirty” e tomando um drinque com o Dinosaur Jr. via os tempos de “You´re Living All Over Me”. 

A banda já havia lançado um EP em 2005 (“Pikul”) que também é repleto de qualidades, sendo uma variável mais viajante e tranqüila do som elaborado por Brian Aubert (Guitarra), Joe Lester (Teclados, Sintetizadores), Nikki Monninger (Baixo) e Christopher Guanlao (Bateria). “Carnavas” é uma explosão sonora envolvida a texturas de guitarras e sintetizadores se sobrepondo e promovendo uma união forte e singular. 

“Melotonin”, a faixa de abertura consegue condensar tudo que foi dito acima e mostrar ao ouvinte o que esperar pela frente. “Well Thought Out Twinkles” tem um riff poderoso de guitarra que entra com um ímpeto avassalador. “Checkered Floor” usa a voz de Aubert em primeiro plano até que aos poucos a difusão sonora vai criando o clímax ideal. “Little Lover´s So Polite” poderia estar tranquilamente no disco “Siamese Dream” dos Pumpkis, com aquela guitarra cortando a canção e ainda tendo os ótimos vocais da baixista Monninger fazendo esta uma das melhores do disco. 

“Future Foe Scenarios” novamente traz a voz de Aubert em primeiro plano, antes que bateria entre urgente e viciada abrindo para a devida incorporação das texturas sobrepostas e distorcidas das guitarras agora já com os gritos dos vocais. “Waste It On” abre com um fraseado de baixo, esperando a bateria e fazendo um ótimo trabalho da "cozinha”. “Lazy Eye” é poderosa, uma espécie de balada ancorada nos melhores momentos do Sonic Youth e que vai se transformando no decorrer do seu andamento ganhando contornos e retornado ao seu ponto de partida. 

“Rusted Wheel” traz um show à parte do baterista Guanlao, que leva a música a seu bel prazer. “Dream At Tempo 119” depois de uma introdução calma, chega com saborosas guitarras se espalhando em camadas e cortadas por mais um riff matador. “Three Seed” tem guitarras que lembram o rock inglês dos anos 80, com seus dedilhados ancorados no ótimo baixo que permeia e transporta a canção. “Common Reactor” encerra o disco em excelente nível, uma das melhores do disco, com direito a mais um show do baterista, deixando a microfonia se espalhar pelo seu final. 

O Silversun Pickups fez em “Carnavas” um disco daqueles memoráveis, onde não existe uma faixa ruim, o que é tão raro hoje em dia, com uma anti-fórmula pop de rara beleza, não se entregando a modismos sejam eles indies ou mainstream. Discaço para ficar no rol dos inseparáveis, daqueles para você levar no Mp3 player para todo lado e sacar para audição sempre que o mundo estiver chato e insosso. 

Site oficial: http://www.silversunpickups.com 
My Space: http://www.myspace.com/silversunpickups