quinta-feira, 17 de março de 2011

"Micmacs - Um Plano Complicado" - 2010

Bazil teve pouca sorte no decorrer da vida. Quando criança teve sua feliz vida em família destroçada pela morte do pai por causa da explosão de uma mina terrestre. A mãe enlouqueceu e ele foi mandado para um internato religioso. De lá fugiu e foi se virar sozinho. Depois de trinta anos da morte do pai, enquanto trabalhava em uma pequena locadora levou uma bala perdida na cabeça e não pode tirar de lá pelo risco de morrer. Para completar perdeu casa e emprego depois de sair do hospital.
Essa tragédia toda é contada logo nos 10 minutos iniciais de “Micmacs - Um Plano Complicado”, o mais recente trabalho cinematográfico do diretor francês Jean-Pierre Jeunet. Jeunet traz no currículo filmes como “Delicatessen” de 1991, “Ladrão de Sonhos” de 1995 (esses dois em parceria com Marc Caro) e “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” de 2001. Essa sua nova empreitada que chega em DVD é uma comédia que ambiciona criticar a indústria armamentícia, enquanto desfila seu estilo.
Em “Micmacs”, Bazil (Dany Bonn de “A Riviera Não é Aqui”) depois de sofrer as desgraças contadas acima encontra um grupo de desajustados que vivem de reciclar lixo. Nessa nova família, se sente cada vez mais a vontade quando dirigindo pela cidade se depara com os dois símbolos que mais odeia. O da empresa fabricante da mina que lhe tirou o pai e o daquela que lhe alojou uma bala na mente. Com o intuito de vingança e com a ajuda da nova trupe, ele trama um plano para acabar com as duas.
O estilo de Jean-Pierre Jeunet continua deslumbrante no visual e na estética. Faz homenagens ao cinema mudo e para as comédias dos anos 60/70, caprichando no desenvolvimento de situações mirabolantes e pouco viáveis de maneira engraçada. O visual como nas suas obras anteriores (e principalmente em “Ladrão de Sonhos”) é meticuloso e transita entre a sujeira que sempre lhe atraiu e as invenções fantásticas, com aspectos técnicos como direção de arte, fotografia, figurino e som parados na perfeição.
No entanto, isso não é suficiente para salvar o filme como um todo. Ao levar em frente o plano de Bazil e seus companheiros desajustados e com “poderes especiais”, o roteiro (desenvolvido com o velho parceiro Guillaume Laurant) caminha para não chegar a lugar nenhum. Fica na maior parte do tempo preocupado em mostrar as improváveis artimanhas usadas para derrubar as empresas de armas e acaba por fazer um inusitado crossover entre os desenhos antigos da Warner Bros com os filmes dos Trapalhões.
“Micmacs - Um Plano Complicado” tem boas sacadas (como a camisa de Thierry Henry autografada de forma errada servindo como moeda) e faz rir em várias passagens, mas depois a piada meio que cansa e o final se aproxima sem tanta expectativa. Mesmo carregando a conhecida maestria na direção, aliando visual e quesitos técnicos como poucos, Jean-Pierre Jeunet acaba se perdendo nesse direcionamento e deixa a história em si enfraquecida, o que diminui o brilho de um filme que podia ser maior.
Sobre “Ladrões de Sonhos”, passe aqui.

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