quarta-feira, 2 de março de 2011

A política no rock de hoje

Desde que o rock surgiu nos anos 50, inúmeros artistas o usaram para expressar opiniões políticas e críticas sociais contra desmandos do seu tempo ou fatos isolados que agrediam a forma comum da sociedade em termos gerais. Depois que esse ser meio estranho chamado rock entrou no gosto de milhares de pessoas, o pop em geral também passou a se utilizar mais desses temas em suas canções.
Dá para se fazer uma extensa lista de nomes consagrados que em algum momento da carreira usaram desse artifício para servir de fundo nas suas músicas. Bob Dylan, John Lennon, Neil Young, U2, R.E.M. Um movimento de importância fundamental para o estilo foi calcado nessas premissas. O punk de The Clash e Sex Pistols, entre tantos outros, rezava por essa doutrinada cartilha.
O Brasil não ficou para trás e em um momento complicadíssimo onde generais mandavam e desmandavam, viu nascer obras políticas de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, para ficar só em alguns nomes. O Rock BR dos anos 80 também vestiu essa roupa e Lobão, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, Cazuza, Plebe Rude, etc. exploraram essa temática de maneira intensa e bem feita.
Nos últimos 8 ou 10 anos, é coerente afirmar que passamos por outro momento, com governos se firmando e promovendo melhorias de uma maneira geral para a população. No entanto, ainda estamos longe de ser um grande país, onde todos tenham o mesmo acesso as necessidades básicas e onde os políticos sejam mais honestos e responsáveis. Porém, quase ninguém mais fala disso.
Experimente em um dia como qualquer outro, andar um pouco pela cidade que mora e será fácil perceber a quantidade de pessoas vivendo na margem do que temos. Ao ver um bom telejornal ou ler as notícias gerais pela internet, será igualmente fácil se deparar com absurdos constantes da política nacional, como também casos histriônicos de falta de segurança e condição de vida para tantos.
E então, hoje quem canta isso? Não sejamos ingênuos ao ponto de afirmar que uma canção pode mudar o mundo, a época de pensar assim hoje reside em um quadro na parede. Mas uma canção ainda tem sim o poder de pelo menos instigar e assim tornar o discurso mais interessante ou pelo menos constantemente ávido nas cabeças das pessoas, aqui onde tudo é esquecido rápido demais.
Basta olhar a lista de melhores discos nacionais dos últimos 5 ou 6 anos, por exemplo. São na esmagadora maioria artistas que produzem um grande trabalho, mas que tratam em suas letras de assuntos do cotidiano ou de críticas comportamentais, por mais que estas também tragam certo cunho social. E olha que estamos falando de uma das melhores gerações musicais que esse país já teve.
É certo dizer que em determinados segmentos como o do punk/hardcore e do rap, o pessoal continua deixando seu recado de maneira constante, mas não conseguem atingir a grande massa. É justo dizer também, que por mais que deixem esse recado os trabalhos atuais ainda não podem ser comparados em relevância com obras de nomes como Ratos de Porão e Racionais MC’s, por exemplo.
Não muito tempo atrás, nos anos 90 e começo dos 2000, algumas bandas entoavam suas canções atingindo uma grande escala de pessoas como O Rappa e o Planet Hemp, isso sem analisar o efeito do marketing envolvido e até mesmo a qualidade das canções, que não é o caso aqui. Até o Charile Brown Jr. (argh!) fazia algo nesse sentido. Hoje nem isso conseguimos ouvir, com raras exceções.
Essa toada também é um reflexo direto da música pop internacional, que talvez tenha tido seu último grande movimento nesse sentido quando Bush e o Iraque eram a bola da vez e artistas como R.E. M, Tom Waits, Neil Young e Bruce Springsteen se envolveram. Porém, repare que praticamente nenhum novo nome faz disso o seu estilo, pois optam mais por apontar para essa crítica comportamental.
Por mais que o país tenha mudado para melhor nos últimos anos, sinceramente não vejo assim tanta diferença dos tempos de “O Eleito” do Lobão ou de “Que País é Esse?” da Legião Urbana. Será que por conta de tanta notícia despertada na nossa cabeça diariamente, quando Kadhafis, Kandafs ou Gandalfs tornam-se um problema quase pessoal, a cabeça não consegue mais olhar os próprios pés?
A música pop em geral, mais pelo rock, sempre teve um espírito político e social embutido nas suas idéias e serviu para implantar vários discursos. A validade desses discursos e suas reais intenções não é o que se discute aqui e sim a falta deles. Se são válidos ou não, é melhor deixar cada um julgar. No final, sem esse espírito, a música nacional de hoje por maior excelência que tenha, ainda deixa a desejar. Ou será que moramos em um país perfeito?

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