sábado, 3 de julho de 2010

"Os Excluídos" - Yiyun Li

A Revolução Cultural Chinesa aconteceu entre 1966 e 1976, comandada pelo mesmo Mao Tsé-tung, que liderava o país desde que subiu ao poder no final dos anos 40. Descontente com o modelo comunista que havia implantado, o governante comandou nesses dez anos através dos Guardas Vermelhos (grupos paramilitares de jovens), um massacre a cultura tradicional do país. O que era para ser um avanço no começo se mostrou mais um retrocesso despótico.
Depois de sua morte em 1976, as cartas do baralho mudaram de mãos novamente e o comunismo voltou ao poder, revertendo tudo ao seu jeito. Esse processo que passou ainda pela esperança da "Primavera de Pequim" culminou no massacre de estudantes na Praça da Paz Celestial em 1989. É após esse momento histórico, mais precisamente em 21 de março de 1979, que a escritora chinesa Yiyun Li começa seu livro “Os Excluídos”, lançado esse ano aqui.
Originalmente publicado ano passado lá fora, chega pelas mãos da Editora Nova Fronteira com 400 páginas. Segundo trabalho de Yiyun Li (o primeiro permanece inédito no país), a obra equilibra tensão e desejos no meio de um país cercado por política por todos os lados e onde seus moradores são meros fantoches dos donos do poder. Retrata uma nação que apesar da potência que é hoje, cometeu (e ainda comete) barbaridades contra o seu povo.
A trama começa com a execução de uma jovem de menos de 30 anos, acusada de ser contrarevolucionária. Sua execução pública movimenta uma província fictícia mediana do país. O evento serve sempre para enaltecer o regime e manter os cidadãos obedientes e sem pensar. Várias histórias aparecem, primeiramente de modo particular e isolado, para depois serem costuradas com surpreendente categoria, dosando voracidade e sensibilidade.
Por trás da cortina que nublava a visão de todos, Yiyun Li mostra necessidades básicas do ser humano como comer, elevadas em níveis viscerais. Os personagens criados são extremamente dúbios na sua maioria e mesmo os que hoje em dia podemos julgar como “escrotos”, tem seus motivos bem entendidos. “Os Excluídos” é um romance forte, denso e ao mesmo tempo delicado. Uma homenagem emocionante a todos que perderam suas vidas na época.

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