quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Feliz Ano Velho - Marcelo Rubens Paiva

Cenário: Uma casa de subúrbio em algum ponto perdido de 1991, noite caindo, uma boa roda de papo rolando na casa escondida na cidade de Castanhal, distante 76 km da capital Belém, no estado do Pará, terra onde se tomava guaraná e não coca-cola como dizia a música.

Personagem Principal: Garoto meio gordinho, tímido com 12 anos, cursando a 7ª série do primeiro grau em um colégio de freiras, católico, fascinado por futebol e que desde pequeno fora habituado ao mundo da música e da literatura, seja ela um livro de Milan Kundera ou um simples disco da Legião, por causa das suas irmãs e amigos delas.

Personagem coadjuvante: O livro "Feliz Ano Velho" de um cara chamado Marcelo Rubens Paiva, na qual narrava as desventuras de um acidente que o deixara paraplégico, assim como todas suas inquietações e dúvidas passadas em um momento delicado da nossa história, que me foi entregue com a seguinte frase "Esse é o livro que vai mudar tua vida, garoto!"

Foi desse jeito que descobri "Feliz Ano Velho" meio na surpresa, meio na desconfiança. Confesso que não fiquei lá muito empolgado, me perguntava "O que esse cara tem para me apresentar que eu não conheça?", de acordo com a minha frágil e precoce posse besta de intelectual chato. Me achava o tal pois já tinha lido "Vidas sem rumo" de SE Hilton e "On The Road" do Jack Keroauc, entre outros, e não sabia o que esse livro podia me acrescentar. Mas acrescentou muito.

Foi pelo livro do Marcelo Rubens Paiva, que identifiquei algo de político em mim, é claro que já sabia um pouco das sacanagens que a ditadura cometeu com o povo, mas quando eu li a história do desaparecimento do Deputado Federal Rubens Paiva, pai do autor, aquilo mexeu comigo. Como todos os amigos das minhas irmãs eram do PT, logo ficou estipulado que eu também seria e brigaria por um país melhor, sendo que essa idéia só teve um sério abalo quase 14 anos depois, no meio do governo Lula.

Foi quando eu percebi que a rebeldia que eu tanto adorava e sonhava, às vezes podia vir de outra forma, podia ser uma rebeldia própria, contra o mundo e as limitações que ele lhe impõe e não somente contra nada em particular. Quando lia o livro imaginava qual o sentido que Deus havia de ter para deixar um jovem com tanto talento, paraplégico de forma tão boba e quando o autor bradava no livro seus desesperos, eu silenciosamente repetia na minha cama "É isso ái!! Tô contigo!! Só tem filho da puta nesse mundo!!".

Lembro ainda que nessa época cheguei a reler muito esse livro e apesar de não ter acontecido como a profecia de que ia mudar minha vida, me tocou de uma maneira diferente, por um outro lado, de que a tragédia e as coisas difíceis também acontecem aos jovens, por mais besta que seja e que é preciso ter força para seguir em frente e principalmente não nos tornarmos imbecis. Era essa a lição que eu tirava.

Conforme o tempo vai passando, esse livro ficou para trás assim como tantos outros e os sonhos dessa época foram transformados em novos sonhos possíveis, como em um eterno balé de camaleões. Eis que semana passada comprando os presentes de natal, encontro 14 anos depois o tal livro na prateleira. É lógico que comprei. E vorazmente me conduzi para a sua leitura.

Evidente que hoje, anos depois e com alguns fracassos e decepções espalhados no caminho, as percepções são totalmente diferentes. Mas o essencial continua lá. Não seria clichê dizer que o livro hoje ainda continua fundamental ou talvez isso seja pretensão demais, mas sua leitura continua tão saborosa e contestadora quanto antes.

Marcelo Rubens Paiva contou sua vida, expôs suas duvidas, seus sentimentos, que eram os mesmos de toda uma geração, que brigava por um mundo melhor, mas que não deixava nunca de lado a diversão, o amor, as brincadeiras, a alegria. Na teia de "personagens", impossível ficar indiferente ainda hoje pelo brio da mãe do cara, pela sexualidade da Nana, pelo companheirismo do Neguinho ou pelas rodas de violão da turna e suas aventuras. 

O seguir em frente do livro, cheia de prosa direta, sem frescuras, mostrando e escancarando a cara ou às vezes até a bunda de uma nação, ainda tem seu charme. O humor sarcástico desenvolvido nos piores momentos, ainda tem espaço hoje nas coisas que falo, e vez ou outra recebo o comentário do "Não devias brincar com isso!". Mas é claro que devemos brincar, de toda tragédia tirar sua graça,e seguir em frente  nunca com a cara amarrada e sim com um bom sorriso, amor no coração e alguma sacanagem no olhar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Esse livro é ótimo mesmo, mas faz muuuuuuito, muuuuuuito mesmo tempo que eu li. Preciso reler algum dia... E já tenho para quem pedir emprestado, ehehehehe
Dá uma olhada aqui para sacares o que te falei: http://ubbibr.fotolog.com/aranhologa/?pid=13153123
Beijinhos p ti :*

Anônimo disse...

Drico, por acaso emprestaste teu primeiro livro pro allyson? Já faz muito tempo que eu o li.... encontrei um dia por aqui por casa, e tenho uma distante lembrança de ter visto "Adriano Melo" na contracapa. Beijos, e um 2006 cheio de sonhos realizados e novos sonhos sonhados.

Anônimo disse...

esse livro e´muito bom...li ele na escola minha professora de portugues q me indicou...no iniio nao acreditei muito se era ou nao bom, mas depois q comecei a ler...cara é d + ...dei muita risada com esse livro...mas chorei muito também...sem comentários esse livro é MUITO BOM!!!!

Ricardo -Mooca disse...

Esse livro é maravilhoso,assim o é o autor,excelente cara q nos ensina muito com esse livro.Um abraço ao Paiva,meus tios são citados nesse livro(como o enfermeiro dele,Neguinho eo Tiririra)