domingo, 28 de fevereiro de 2016

Quadrinhos: "Baixo Centro" e "Gavião Arqueiro: Minha Vida Como Uma Arma"

 

A graphic novel “Baixo Centro” é uma publicação da editora Miguilim do final de 2015. Primeira obra completa do artista visual mineiro Jão foi feita e idealizada em parceria com o professor e poeta (e também mineiro) Rafael no que concerne ao roteiro. Com 64 páginas destaca-se com um trabalho editorial vasto e bastante cuidadoso, apresentando diversas informações e textos, o que é sempre interessante. Os desenhos simples, mas precisos, resultam em uma convincente retratação de Belo Horizonte (que indiretamente também é personagem) passando por lugares como a Avenida Afonso Pena, a Praça da Estação e o viaduto Santa Tereza. É uma história que funciona calcada no ritmo, com algum humor e sem a utilização de palavras. Obras desenvolvidas assim encontram maiores dificuldades em agregar o leitor e na maioria dos casos passeiam entre o ruim e o mediano, contudo em “Baixo Centro” as coisas são diferentes e funcionam muito bem, ainda mais pelo tamanho da obra, que representa um diferencial e tanto pois a arte acaba tendo um impacto maior, principalmente nas páginas duplas e quadros maiores. Os dois personagens principais do álbum desandam a correr no início e cada vez mais as pessoas vão indo atrás, sem muita razão específica na maioria das vezes, já que essa explicação não é demonstrada, o que leva a uma gama de interpretações distintas e dá a obra ares mais instigantes ainda. Podem-se destacar várias influências no trabalho que debulham na região que dá nome ao título conhecida pela sua movimentação constante e intensidade cultural e artística que ocorre por lá. Ao retratar a convergência dos dois mundos existentes ali - o diurno (do trabalho, da correria) e o noturno (menos movimentado, mas mais perigoso e intenso) – Jão e Rafael são responsáveis por uma interessante obra que tem poder para ser lembrada além do presente e por consequência atestam ainda mais o bom momento que vive o quadrinho nacional.

Nota: 7,5


Você está lá no meio de uma batalha junto com deuses, supersoldados, homens em armaduras tecnologicamente avançadas, mutantes, monstros, magos e o que mais aparecer pela frente. E o que você tem para oferecer? Bom, você tem um arco e flecha. Ok, está certo que você tem uma mira impecável e algumas das flechas são cheias de surpresas. Mas, convenhamos, são apenas flechas, né? Esse é o mundo do Gavião Arqueiro, personagem que começou como criminoso antes de entrar para o grupo dos maiores heróis da terra (Os Vingadores, lógico) e se tornou peça fundamental tanto nos quadrinhos como no cinema. O personagem que já morreu, ressuscitou, abandonou a alcunha original, brigou com tudo e todos e destilou seu humor seco e ácido durante os anos ganhou uma revista solo no final de 2012 pelas mãos do roteirista Matt Fraction (Homem de Ferro) e dos artistas David Aja e Javier Pulido. O início dessa elogiada fase (com razão, diga-se de passagem) que já havia sido publicada antes pela Panini em suas revistas mensais ganhou um encadernado de capa dura no final do ano passado juntando as 5 primeiras edições e mais uma especial de “Jovens Vingadores”. As 140 páginas de “Gavião Arqueiro: Minha Vida Como uma Arma” mostra o herói fora das missões de salvar o mundo e das loucuras pesadas que envolvem os Vingadores. Focado em contar o cotidiano desse peculiar herói, Matt Fraction acerta em cheio ao desenvolver uma história que une ação, tramas de espionagem, compaixão e humor. Com o auxílio nesta fase inicial da jovem Kate Bishop (que assumiu seu arco enquanto ele estava “sumido”) ainda apresenta uma pequena tensão sexual para dar mais um clima. A arte é funcional e esbalda-se na utilização do roxo (cor do personagem), o que se revela uma grande sacada. As histórias publicadas em “Gavião Arqueiro: Minha Vida Como uma Arma” servem tanto para divertir enquanto se está lendo, quanto dá uma grande revigorada no personagem para leitores que estão chegando agora no Universo Marvel, mostrando um pouco dos dramas cotidianos de um herói e alguns dos seus dissabores e prazeres mais comuns.

Nota: 8,5


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Discos da Vida: "Smile" (1990) - Ride


Músicas são atemporais e por mais banal que possa ser essa premissa, isso nunca deixa de me impressionar. Com o passar dos anos alguns discos ficam definitivamente marcados na memória afetiva de modo mais intenso que outros. São discos que fazem parte da vida e estão inexoravelmente anexados a um período específico do tempo que quando você os torna a ouvir as lembranças inundam a mente e inserem sensações que provavelmente fazia tempo que não apareciam por lá.

Isso acontece por exemplo com “Smile” da banda inglesa de Oxford, Ride. Formada em 1988 o grupo apresentava em “Smile” uma compilação dos primeiros dois EP’s (chamados “Ride” e “Play”) e continha 8 músicas em pouco mais de 31 minutos. Em uma época sem acesso a internet e com o país ainda patinando após a primeira eleição direta geral em 25 anos, só se conseguia alguns discos caso solicitasse a importação, o que quase sempre era viabilizado por 3 ou 4 amigos que se juntavam em interesse comum para dedicar a escassa grana para esse fim.

Eu tinha “Smile” de um lado de uma fita cassete, onde “Perfect Time” cortava antes do fim. Cruel, muito cruel. Só para efeito de ambientação do outro lado dessa fita tinha, salvo engano, canções do “Some Friendly” do Charlatans. O Ride era formado pelo guitarrista e vocalista Andy Bell, por Mark Gardener no outro vocal e guitarra, Stephan Queralt no baixo e Loz Colbert na bateria e fazia a sonoridade típica da Inglaterra do final dos 80 e começo dos 90, sendo depois figurinha importante dentro do shoegaze.

O Ride tinha fortes influências de My Blood Valentine e The Jesus And Mary Chain (bandas com lugar cativo na casa, sendo a segunda uma das minhas preferidas até hoje) e conjugava lindas melodias embaçadas com barulho, trazendo na dupla de guitarristas o ponto forte. A banda ainda foi responsável por ótimos discos como “Nowhere” (1990) e “Carnival Of Light” (1994) até acabar para depois retornar recentemente para uma série de shows.

No entanto, o que ficou marcado para mim foi mesmo “Smile”, um álbum que sobreviveu aos anos. Dia desses escutando novamente o disco em um desses serviços de streaming a sensação de nostalgia foi imediata. De “Chelsea Girl” (um esboço de clássico para mim na época) passando por “Like a Daydream” (que tantas e tantas vezes ocupou espaço no meu som) e desembarcando em “Silver” já me lembrava de quase tudo nelas, dos riffs as letras. Escutei ali 3, 4, 5, vezes seguida.

“Smile” é um retrato de uma sonoridade que me cativa até hoje, e na minha terna juventude, onde o mundo ainda parecia um lugar demasiadamente grande para se estar, embalou as minhas tardes com suas guitarras e melodias, enquanto começava a ser penalizado pelas primeiras paixonites e desenganos, e não parava de esboçar palavras ruins em um caderno usado dentro de um quarto de uma cidade no interior do Pará.


Aqui a banda ao vivo com “Chelsea Girl” em show do ano passado:


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Quadrinhos: "The Witcher: A Casa de Vidro" e "O Capuz: O Sangue que vem das Pedras"

 

“The Witcher” foi criado no início dos anos 90 pelo escritor polonês Andrzej Sapkowski e de lá saltou para os games, se tornando um sucesso dentro desse mercado. Como é cada vez mais comum a história do caçador de monstros Geralt de Rívia saltou para outras mídias. Em 2014 a CD Projeckt RED dona dos direitos sobre a obra chamou a Dark Horse Comics para lançar uma série em quadrinhos. O resultado das primeiras 5 edições podemos ver aqui no Brasil em “The Witcher: A Casa de Vidro”, um vistoso encadernado da Media Pixel publicado no passado. Com 144 páginas apresenta roteiro de Paul Tobin (“The Bionic Woman”) e arte de Joe Querio (“Hellboy”) com o reforço de extras contendo capas alternativas, esboços e concepções. Geralt de Rívia é um híbrido entre bruxo e mago que segue por um mundo medieval salvando pessoas comuns de monstros e aberrações, desde que exista algum pagamento envolvido. Em uma de suas andanças se depara com um caçador à beira da água. Solitário como ele, rola certa empatia entre os dois depois de alguma comida e uns bons goles de vinho e resolvem seguir em parceria. Quando entram em uma floresta repleta de mistérios e criaturas assustadoras, as coisas começam a parecer bem diferentes do que se esperava no começo. O roteiro de Paul Tobin investe de maneira competente na tensão dos mistérios e adentra o universo do horror sem deixar de lado uma ou outra piada no caminho, assim como acerta no tom adulto da trama. Já a arte de Joe Querio conta com boas influências de Mike Mignola (não é por acaso que o artista aparece nos extras) e esse estilo serve bem ao tom escabroso e desvanecido que o trabalho pede. A grande vantagem dessa adaptação para os quadrinhos é ser uma história independente, por mais que ambientada na mesma atmosfera, conseguindo assim ser funcional para todos os leitores incluindo aqueles que não conhecem o game.

Nota: 7,0


Parker Robbins não é um cara dotado das qualidades mais nobres do mundo, temos que convir. Some-se a isso o fato que a vida não anda lá muito fácil e a pressão está para estourar a cabeça. A mãe está internada muito doente em um manicômio, a namorada ficou grávida e a grana anda curta porque os golpes que o primo arruma cada vez mais resultam em nada. Até a prostituta (quase amante) resolveu lhe encher o saco. É quando em mais um golpe furado e totalmente sem querer, acaba matando um ser estranho e ao roubar dele algumas coisas percebe que isso lhe dá alguns poderes como invisibilidade e o poder de voar. Resumindo: agora a vida vai melhorar. Ledo engano. “O Capuz: O Sangue que vem das Pedras” é um encadernado que a Panini Books lança agora no mercado (mesmo que a data da identificação seja de 2015) e reúne as edições 1 a 6 de “The Hood”, publicadas originalmente entre julho e dezembro de 2002. Com 148 páginas traz roteiro do ótimo Brian K. Vaughan (“Os Fugitivos”, “Ex-Machina”), desenhos de Kyle Holtz e arte final de Eric Powell. As histórias já haviam sido publicadas no país em outras revistas em meados dos anos 2000, mas agora aparecem juntas nesse arco de formação de um criminoso. Mesmo sendo um material antigo é uma publicação que tem bastante mérito. A construção do personagem pelas mãos de Brian K. Vaughan e sua relação com as “responsabilidades” que vem com os poderes é factível e sem pressa, e isso ajuda a arte nem tão inspirada assim de Kyle Holtz. É sempre interessante quando as grandes editoras dedicam histórias mais detalhadas sobre o mundo dos criminosos, trazendo um novo viés para o universo a que se está acostumado. Com temática mais adulta e uma trama fluida e eficaz, “O Capuz: O Sangue que vem das Pedras” se configura em uma ótima pedida.

Nota: 8,0



sábado, 6 de fevereiro de 2016

Quadrinhos: "Mono" e “Hellboy no Inferno – Volume 1: Descenso”


“Mono” é um álbum de quadrinhos viabilizado através de campanha de crowdfunding no ano passado, mas só chega realmente agora em 2016. Com formato horizontal (16 x 21cm) e 80 páginas é o primeiro trabalho dentro da nona arte do casal de pernambucanos Júnior Ramos e Natália Lima, proprietários de um estúdio chamado “Sapo Lendário”. A trama invade o campo da ficção científica e mostra um futuro onde todos os governantes ajoelham perante a GateCorp, empresa que domina a essencial tecnologia do teleporte. A Esfera é uma associação formada por cientistas que briga contra isso, mas sem alcançar muito sucesso, enquanto o mundo caminha para o final. Para salvar essa terra em declínio a esperança recai sobre um robô (que empresta o nome ao título) e uma tripulação diversificada de etnias e pensamentos que parte em busca de encontrar moedas especiais, na verdade, fragmentos de um ser místico antigo e poderoso que pode permitir essa salvação. “Mono” tem arte bonita, bem influenciada pelos mangás e cores que valorizam isso, sendo um ótimo destaque da obra. O cuidado com a edição também é de se valorizar. Tudo muito bem feito, com direito a extras que servem de subsídio não somente para a trama em si, assim como para entender os caminhos que levaram a criação da hq. Por outro lado, o roteiro deixa bastante a desejar, o que deixa a trama confusa e um pouco sem sentido. Quando se trata de fazer ficção científica um dos principais pontos é tentar deixar aquilo que está se contando o mais viável possível, sem apressar demais os fatos ou sobrepor ideias só pelo simples fato de as exibir. O enredo não ajuda nisso e não amarra todos os lados da história com a precisão necessária, o que acaba deixando “Mono” como uma boa ideia, bem executada visualmente, mas que não consegue atingir todo o potencial.

Nota: 6,0

Site dos autores: http://sapolendario.tumblr.com


Mike Mignola apresentou Hellboy ao mundo em 1993 e de lá para cá o personagem viveu diversas aventuras nos quadrinhos, além de animações e dois bons filmes. Longe da prancheta de desenho da sua criação mais famosa desde 2001, o quadrinhista resolveu voltar em 2012 com o lançamento da primeira aventura do herói no inferno. A viagem de Hellboy ao inferno acontece logo após ele salvar a humanidade quando é assassinado de modo furtivo. Mesmo tendo feitos e mais feitos nobres no currículo ele não foi mandado para os céus e sim para sua casa natal, o Inferno. Que grande prêmio! Essa trama foi lançada aqui no final do ano passado pela Mythos Books em luxuoso encadernado de capa dura intitulado “Hellboy no Inferno – Volume 1: Descenso”, com 194 páginas. Como é costumeiro nos lançamentos da Mythos o trabalho editorial é primoroso, com vários extras, entrevista com o autor e introdução ambientando o leitor contextualmente. O álbum reúne as 5 primeiras edições da trama lançadas nos EUA entre dezembro de 2012 e dezembro de 2013. No total serão 10 revistas, sendo que a edição mais recente lá é a de número 8. Ao descer para o inferno que não visitava desde criança, Hellboy recebe a cobrança para assumir o trono que está vago e lida com parentes nada amistosos e novos e velhos inimigos, mesmo sem saber ao certo a trama que se desenvolve por trás disso. Ver Hellboy com Mike Mignola no comando não só do roteiro, como também da arte é outra história. Com maior liberdade criativa por não ter que retratar um universo real, o autor se esbalda em novas formas e construções, sempre em tons escuros, com muito uso de sombras e as cores cirúrgicas do hábil Dave Stewart. “Hellboy no Inferno – Volume 1: Descenso” é uma grande aventura a altura do personagem e quadrinhos da melhor estirpe. Vale muito.

Nota: 9,0



terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Literatura: "Mosquitolândia" e "Sobrevivente"


A separação de um casal nunca é tarefa fácil. Tanto para os dois lados envolvidos, quanto para os filhos, aliás, principalmente para os filhos. Mary Iris Malone, a personagem principal de “Mosquitolândia” (Mosquitoland, originalmente) está passando justamente por isso. Além dos pais se separarem ela ainda teve que mudar de casa, do estado do Ohio para o Mississippi. Não é fácil não. É em cima desse ponto que o norte-americano, nascido no Kentucky, David Arnold, lançou o primeiro livro lá fora ano passado. A editora Intrínseca publicou aqui também em 2015 a obra com 352 páginas e tradução de Alyne Azuma. Na trama a jovem de 16 anos depois de saber de algumas notícias que lhe tiram do eixo (e que classifica como “bombásticas”) resolve deixar o pai e a madrasta para trás e migra em direção a mãe de ônibus. Durante os 1.524 quilômetros que a separam desse objetivo muita coisa vai acontecer. Em “Mosquitolândia”, David Arnold usa a clássica história de crescimento pessoal durante uma viagem mostrando que ninguém sai igual no final do caminho. Com diversos enxertos de cultura pop pelo meio e uma protagonista que mesmo sem ser espetacular agrada com o humor enviesado, o jeito indie e a maneira de se posicionar perante o mundo. Dono de uma escrita fácil e ligeira, o autor insere no meio dessa viagem por crescimento assuntos relativamente mais densos e essa aposta acaba retirando um pouco o livro do usual dentro da categoria de obras juvenis. Não é obra para ganhar muitos superlativos, longe disso, mas é funcional e ritmada, forçando o leitor a ir até o final e o recompensando com algumas risadas no decorrer do percurso.

Nota: 6,5

Leia um trecho, aqui.

Twitter: http://twitter.com/roofbeam


“Sobrevivente” (Survivor, no original) é o segundo livro do escritor Chuck Palahniuk. Lançado em 1999 sucedeu “Clube da Luta” de 1996 e mostrou a mesma literatura visceral, marcada com muita ironia e acidez. A Editora Leya publicou a obra aqui em 2012 com 359 páginas e tradução de Tatiana Leão, ganhando reimpressão em 2014. “Sobrevivente” apresenta a história contada de trás para a frente (inclusive as páginas são numeradas de modo decrescente), quando Tender Branson está sequestrando um avião e planeja ir de encontro com a água. Para saber como o protagonista chegou a esse ponto, o autor regride um pouco no tempo e conta uma história repleta de loucuras e personagens peculiares. Tender Branson, por exemplo, é bastante complexo, nasceu e foi criado em uma comunidade religiosa, uma seita onde as regras eram duras e estapafúrdias. Aos 17 anos rumou para o mundo com o intuito de trabalhar e remeter a grana para a comunidade, continuando assim a servir a esta. As coisas andam dessa maneira até uma tragédia se abater sobre a igreja e ele ganhar liberdade e uma psicóloga meio tresloucada, enquanto trabalha como zelador e mordomo de um casal igualmente maluco para a noite atender telefonemas de pretensos suicidas (o número saiu errado em um jornal), os quais ele só incentiva. Enquanto Tender Branson conta a vida para a caixa preta do avião, Chuck Palahniuk despeja frases e mais frases contra a religião e o circo da mídia, indo também ao encontro do próprio modo de vida dos EUA, assim como da sociedade que absorve e aceita aquilo que lhe é entregado sem questionar. “Sobrevivente” tem leves semelhanças com “Clube da Luta” e por se tratar do segundo romance do autor, ainda mostra uma grande ferocidade crítica. Tender Branson pode não ser um Tyler Durden, mas poderia normalmente ser seu melhor amigo.

Nota: 8,5

Site do autor: http://chuckpalahniuk.net

domingo, 17 de janeiro de 2016

Cinema: "Ricki And The Flash: De Volta Para Casa" e "Creed: Nascido Para Lutar"


Vamos a escalação: A estupenda Meryl Streep no papel principal, o magistral Jonathan Demme (“Silêncio dos Inocentes”) na direção e a habilidosa Diablo Cody (“Juno”) no roteiro. Não tem como dar errado, não é? E realmente não deu. “Ricki And The Flash: De Volta Para Casa” apresenta Streep como uma mulher de meia idade que durante a noite se transforma em líder de uma banda de rock que toca no bar da cidade. Divorciada e independente mantêm um romance complicado com o guitarrista Greg (o músico Rick Springfield que assina a ótima trilha sonora) e além disso ainda guarda na mochila o sonho de ser a rockstar que nunca foi. Ao receber uma ligação do ex-marido Pete (Kevin Kline) avisando que a filha tentou o suicídio após o final do casamento, ela pega um avião com as economias que ainda tem e se manda para ajudar. Esse reencontro familiar é muito bem coordenado e explora as inversões do roteiro, sendo que o maior exemplo é a própria Ricki que mesmo aparentando toda uma aura libertária em volta de si é na verdade reacionária e com pontos de vista conservadores e até mesmo racistas. Essa dualidade está presente nos personagens principias e dita o ritmo dessa comédia dramática permeada com muita música. Além de ser um filme sobre família e sua relação com ela, versa também sobre perdão, sobre aceitar seu lugar no mundo, sobre entender que a vida passa e nem sempre termina do jeito que sonhamos. Talvez deslize um pouco no final no que tange a resolução dos problemas apontados durante a exibição, ou até mesmo caia inevitavelmente em um ou outro clichê, mas isso não deixa de fazer de “Ricki And The Flash” um bom filme. No mais, só o fato de ter Meryl Streep empunhando uma guitarra na frente de uma banda de rock cantando “My Love Will Not Let You Down” do Bruce Springsteen já vale muito.

Nota: 7,0


“Rocky: Um Lutador” estreou em 1976 com roteiro de Sylvester Stallone e direção de John G. Avildsen. O filme foi um grande sucesso, alçou o ator para o estrelato e rendeu o Oscar de melhor filme, ator e edição para o trabalho. De lá em diante outros seis filmes trataram do universo do lutador meio burro, que supera todas as dificuldades com obstinação, coragem e um coração enorme. Os quatro primeiros longas são carregados com essas características, coisa que o sexto filme (“Rocky Balboa” de 2006) também exibe em menor escala. “Creed: Nascido Para Lutar” (somente “Creed”, no original), é o novo trabalho da franquia e apresenta o lutador agora como treinador. Essa artimanha já havia sido tentada sem sucesso em “Rocky V” com resultado sofrível, porém aqui é muito melhor explorada. No filme, Rocky continua cuidando do seu restaurante sem muita empolgação e longe do filho. Já toca a vida no piloto automático quando aparece o jovem Adonis Johnson (Michael B. Jordan) em sua porta, filho de Apollo Creed, o maior adversário e amigo do lutador. Após alguma relutância o treinamento inicia e o jovem Adonis parte para cima do ringue em lutas que não devem nada as originais da franquia, sendo inclusive mais realistas por conta da tecnologia e da câmera do diretor Ryan Coogler (que também assina o roteiro em parceira com Aaron Covington e o próprio Stallone). “Creed: Nascido Para Lutar” apresenta tudo que fez sucesso anteriormente e honra o passado. O charme, as dúvidas, a superação, a briga do mais fraco contra o mais forte, a busca incessante pelo sonho. Com trabalho impecável da dupla Jordan e Stallone emociona bastante, principalmente aqueles que viram os longas anteriores, deixando a tarefa de não lagrimar durante a projeção quase impossível.

P.S: Por conta do filme, Stallone concorre ao Oscar de ator coadjuvante esse ano.

Nota: 8,5

Assista aos trailers legendados:


sábado, 9 de janeiro de 2016

"Os Oito Odiados" - 2016


“Os Oito Odiados” (The Hateful Eight, no original) é o oitavo filme do diretor Quentin Tarantino e lá se vão 24 anos do primeiro, o ótimo “Cães de Aluguel” de 1992. Nesse período esse americano do Tenessee virou cult, se transformou em símbolo na cultura pop e amealhou críticos vorazes na mesma proporção que fãs fervorosos. Com um cinema contundente, permeado por um estilo próprio montado na soma de diversos estilos alheios, (quase) sempre com diálogos eficazes e trazendo a violência como protagonista e a vingança como coadjuvante, é difícil um filme seu passar batido.

O último filme do diretor havia sido “Django Livre” de 2012, outro bom trabalho mas que se perdia um pouco no final com uma extensão maior do deveria. “Os Oito Odiados” pode ser entendido como uma sequência do último longa, por ter mais ou menos o mesmo ambiente e tratar de temas comuns como o racismo e a relação dos EUA com ele desde a libertação dos escravos no século XIX. Mas não necessariamente se resume a isso, pois pelo formato que se desenvolve remete a outros trabalhos como a já citada estreia com “Cães de Aluguel”.

O filme se passa após o fim da guerra civil norte-americana no meio de muita neve no estado do Wyoming. O caçador de recompensas John Hurt (Kurt Russell) está a destino da cidade de Red Rock para enforcar Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), uma criminosa que vai lhe render 10 mil dólares de saldo. No meio do caminho o cocheiro vê um homem na estrada e faz a carruagem parar. Mesmo avesso a esse tipo de medida, John acaba convencido a dar carona pois esse homem conhece de longe, assim como sabe da fama do Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), que supostamente carrega no bolso uma carta de Abraham Lincoln.

Enquanto Hurt e Warren vão conversando de modo bem peculiar dentro da carruagem, outro homem é encontrado abandonado na estrada, dessa vez o saqueador Chris Mannix (Walton Goggis) que afirma que será o novo xerife de Red Rock e acaba se juntando a trupe. Chegando no Armazém da Minnie, um entreposto antes do destino final, o quarteto da carruagem e o cocheiro não encontram quem esperavam e sim mais quatro homens (interpretados por Tim Roth, Michael Madsen, Demian Bichir e Bruce Dern) que em teoria estão lá cuidando do local e também para se defender da forte nevasca.

A maior parte das 3 horas e 7 minutos se desenvolve dentro desse armazém, uma soma de taverna, bar, dormitório e restaurante. Enquanto todos estão presos no mesmo espaço, Quentin Tarantino mostra imensa destreza para criar os diálogos que vão desde sacadas bestas até piadas mais pesadas, gerando um clima crescente de desconfiança e tensão, mas fazendo isso aos poucos, sem pressa, esticando o clímax sempre um pouco mais a frente e colocando o telespectador entre risos, espanto e ansiedade pelo que virá.

Logicamente a violência e a vingança estão presentes em “Os Oito Odiados”, contudo as duas são exibidas em menor escala (em menor escala para os filmes do diretor, que fique claro), o que não quer dizer que muito sangue ainda não jorre na tela. Muitos dos detratores de Tarantino batem de modo constante nessa tecla, de que ele usa a violência de modo gratuito, sem muita necessidade, no entanto o seu cinema tem na violência demasiada importância, ela é estilizada, amplificada, visual. É para que isso que se destina e cumpre bem seu papel.

Em “Os Oito Odiados” Tarantino volta a ter um grande trabalho no currículo, com poucos deslizes e perfeitamente adequado a sua maneira de fazer cinema. Com referências diversas e homenagens pelo caminho, como por exemplo ao grande Ennio Morricone que tem um tema executado logo no início. Extrai do elenco do qual é bastante ciente das suas possibilidades, atuações ótimas como a de Samuel L. Jackson e Tim Roth, e mais uma vez mete o dedo em uma ferida sempre aberta dos Estados Unidos da América enquanto se diverte no comando.

Nota: 8,5

Assista a um trailer legendado:

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

E que venha 2016!


Salve, salve minha gente amiga,

Mais um ano foi embora e esse ano particularmente foi bem mais complicado que os anteriores. O país foi tomado por uma onda de ódio e intolerância amplificada pelas redes sociais, que confesso ainda não tinha visto. Não foi fácil não. Um ano em que o bom jornalismo foi jogado para escanteio, discussões viraram normais na internet, nos bares e em casa. Um processo que ainda acredito ser sadio nessa nossa tão nova democracia gerada a tanto custo. E esse custo para chegar até aqui, não devemos esquecer nunca.

O blog completou 10 anos de vida em 2015. Muito tempo, quem diria. As atualizações foram um pouco mais constantes que no ano anterior, apesar do trabalho tomar boa parte do tempo e não permitir mais. 2015 foi também o ano que tivemos mais acessos, nada extraordinário, mas um pequeno crescimento ali em torno dos 8%, porém superando todos que antes vieram. Por isso, deixo meu agradecimento a cada um que passou por aqui, tirou um tempinho para ler os textos. Meu muito obrigado mesmo. Espero que algum texto do blog tenha levado você a descobrir um livro, um quadrinho, ver um filme, uma série ou escutar um disco.

Falando nisso, o foco em 2015 mudou um pouco por aqui. Acho que deu para perceber. De vez em quando é bom mudar. Como apaixonado que fui desde moleque por quadrinhos transformei eles no carro-chefe do blog em 2015 em conjunto com a literatura. Esses dois foram nossos focos principais. Não que não tenham textos sobre discos, shows, séries e filmes, mas eles ocorreram em menor escala. Isso também não quer dizer que a produção musical passou em branco por aqui, logo a música que foi o motivo do Coisa Pop ter sido criado. Ouvi muita coisa e o melhor está disposto no “Top Top” ali do lado direito.

Bom, é isso.

Que 2016 seja um ano com mais amor, precisamos muito. Que as redes sociais ocupem menos tempo nas nossas vidas e o lado físico seja valorizado novamente. Menos emoticons, mais abraços. Menos rancor, menos ódio, menos intolerância. Mais diversidade, criatividade, liberdade. Mais generosidade. E, claro, muita e muita e muita cultura de qualidade.

2016 está aí. Agora é com a gente. Vamos nessa.

Paz Sempre.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

"Star Wars: O Despertar da Força" - 2015


Em 17 de dezembro de 2015 às 13:00hs adentrei a sala de cinema em um shopping de Belém para assistir “Star Wars: O Despertar da Força”, com ingresso comprado em 20 de outubro, quase dois meses antes, naquilo que seria a estreia na cidade. Não foi bem a estreia (tiveram duas sessões antes, uma no dia anterior inclusive, à meia noite), mas serviu como tal. Ao contrário de “Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma” de 1999 dessa vez eu não ia sozinho para a sala e levava comigo meu sobrinho de 14 anos, com a intenção de que o filme fosse bom e pudesse passar um pouco da magia para ele, acostumado aos demais longas da franquia por minha influência.

A relação que temos com nossas obras culturais mais queridas é delicada, bem delicada. Ao mesmo tempo que internamente queremos mais coisas, temos grande receio que façam “besteira” com os personagens e a história que faz parte da vida. Foi assim com o filme de 1999 que iniciava a segunda trilogia, muito se falou, muito se esperneou, e por mais que muitos considerem o pior filme da franquia pelo tom infantilizado e por criações meio insossas, ainda assim o longa apresentou méritos e deu o ponto de partida para dois filmes melhores. Hoje, “Star Wars” (ou “Guerra nas Estrelas”, como conhecemos antes aqui) tem como centro os seis filmes já lançados. E pronto.

Dito isso, quando a Disney anunciou que ia fazer uma nova trilogia dessa vez com eventos situados após “O Retorno do Jedi” de 1983, esse receio veio logo à tona. Aos poucos, no entanto, as preocupações foram rareando, mesmo quando o criador George Lucas foi deixado de lado da criação. O comando da nova empreitada ficou com J.J. Abrams, de currículo vasto, inclusive já tendo reiniciado a franquia “Star Trek” em 2009, mostrando-se apto para a missão. De competência comprovada, o diretor mesmo se equivocando em uma ou outra produção, acerta com frequência, como vimos, por exemplo, em “Super 8”, filme de 2011 que recriava a atmosfera de trabalhos oitentistas para o público juvenil.

J. J. Abrams, que de besta não tem nada, se cercou de Lawrence Kasdan para construir o roteiro, escritor que participou da elaboração de dois filmes da trilogia original e conhecia muito bem os personagens e o cenário da franquia. Muitos caminhos devem ter sido imaginados para a construção da história, contudo, todos sabiam que tinham uma bomba na mão, pois além de fazer um produto palatável para um novo público a fim de cimentar o caminho dos filmes posteriores, e assim gerar o lucro que a Disney espera, não poderiam esquecer em momento algum do público antigo e até mesmo respeitar os fãs mais devotos, que foram responsáveis, em considerável parcela, por deixar “Star Wars” dentro do patamar que chegou.

E em 2 horas e 15 minutos de filme isso foi alcançado de maneira exemplar. Na trama, depois de três décadas da morte de Darth Vader, surge uma instituição dessas cinzas que aterroriza a galáxia. Comandada pelo obscuro e enigmático Snoke (Andy Serkis de “O Senhor dos Anéis”), tem Kylo Ren (Adam Driver de “Frances Ha”) como principal homem, poderoso com a força e no uso dos sabres de luz. Devoto de Vader, Kylo Ren é um personagem angustiado e com inúmeros conflitos pipocando dentro de si no que tange a família, a seu lugar no mundo e a seus deveres. Do outro lado, o exército rebelde tenta a todo custo derrubar esse novo império do mal e apresenta nesse momento da história a princesa Leia (Carrie Fisher) como general.

No meio dessa briga é que entram os novos protagonistas. Finn (John Boyega) é um soldado, um stormtropper da Primeira Ordem que não concorda com os atos sanguinários a que está sujeito e na primeira chance foge disso (mais por medo do que por coragem, é verdade) com o piloto rebelde Poe Domeron (Oscar Isaac). Após a fuga ele se depara com Rey (Daisy Ridler, já ganhando os corações), que acaba meio sem querer entrando no meio da confusão. Após essa parte inicial, “Star Wars: O Despertar da Força” vai engatando novos personagens como o robozinho Bb8 e antigos ídolos como Han Solo (Harrison Ford), enquanto homenageia o passado e recebe palmas e uivos da plateia no cinema e espalha perguntas e novos conceitos para o restante dessa trilogia.

O ator francês Jean Reno, disse certa vez, que “o cinema é antes de tudo, um transmissor de divisão: ele só pode ser feito por alguns conhecedores”. Com “Star Wars: O Despertar da Força”, J. J. Abrams prova que é um desses conhecedores e entrega ao público um trabalho com a universal briga do bem contra o mal, e como sempre na franquia, um pequeno ato de liberdade contra a opressão e violência dos poderosos. A empolgação do meu sobrinho ao sair do cinema, extasiado com tudo que viu, assim como da dupla de pai e filho que estavam na sessão com seus sabres na mão, é a prova que sim, mesmo em 2015, com tudo que nos ronda e cerca, o cinema ainda pode ser mágico e encantador.

Nota: 9,5

Assista a um trailer legendado:


quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Quadrinhos: "Pétalas" e "Homem-Máquina"

 

O inverno é rígido, pesado. É necessária muita dedicação para sobreviver em clima tão hostil, e seria normal que essa dedicação deixasse o semblante mais pesado, o coração mais duro. No entanto, quando um jovem sai para buscar lenha e se depara com um visitante meio estranho vestido com terno, ele automaticamente o convida para se aquecer na sua casa (mas antes pede ao pai), e ao invés de dureza, exibe generosidade. Esse é o tom de “Pétalas”, graphic novel que conta com roteiro e arte de Gustavo Borges (da webcomic “Edgar”) e cores da excelente Cris Peter (“Casanova”, “Astronauta: Magnetar”). O álbum foi financiado coletivamente e bateu recorde dentro do campo de quadrinhos na plataforma que cuidou da campanha. Logo após a finalização ganhou as livrarias e bancas do país em edição conjunta da Tambor e da Marsupial Editora. “Pétalas” tem 56 páginas e exibe diversos mimos ao leitor nos vários extras que carrega. Não tem falas na história e o que normalmente representa uma aposta de risco, já que são poucos autores que conseguem se sair bem com esse tipo de escolha, aqui se mostra plenamente funcional e demonstra o talento do jovem quadrinhista de apenas 20 anos. A arte meiga e limpa ganha maior dimensão devido as cores sempre magistrais de Cris Peter, que a cada trabalho melhora ainda mais (como se isso fosse possível). “Pétalas” é uma história adocicada demais, podem até falar alguns, contudo em tempos tão cheios de ódio, radicalismo e egoísmo, uma obra que verse sobre temas tão nobres como altruísmo, bondade, grandeza e compaixão, tem seu lugar sim. Com o uso desses temas envoltos em magia e fantasia, Gustavo Borges apresenta outro bom lançamento dentro do cada vez melhor mercado nacional de quadrinhos e deixa grande expectativa para seus próximos trabalhos.

Nota: 7,5


As republicações de quadrinhos antigos no Brasil, via de regra, sempre trazem os mesmos personagens, os mesmos ícones, e, em alguns casos, até mesmo as mesmas obras. Então é de se vangloriar que a Panini Books tenha colocado no mercado um encadernado de capa dura e lombada quadrada apresentando o obscuro Homem-Máquina como protagonista. Criado na segunda metade dos anos 70 para a Marvel pelo mestre Jack Kirby quando este voltava de uma temporada na DC Comics, o personagem até teve alguma importância no universo da editora, mas há anos está escanteado e aparece muito raramente. “Homem-Máquina” tem 100 páginas e exibe uma minissérie publicada originalmente entre outubro de 1984 e janeiro de 1985, com roteiro de Tom deFalco, desenhos de Herb Trimpe e arte-final e cores do grande Barry Windsor-Smith (de “Arma X”). O álbum apresenta ao leitor um futuro distante e complexo (o ano de 2020) onde uma empresa chamada Baintronics domina o mundo com alta tecnologia e deixa tudo e todos sob seu jugo e comando. Todavia, nem todos aceitam isso pacificamente e um grupo de rebeldes ainda resiste com bravura. São esses rebeldes que deparam com o Homem-Máquina desativado e quebrado dentro de uma caixa, fora do ar há 35 anos. Entrando de supetão na briga por liberdade, o androide criado como instrumento de guerra que se torna algo mais, desenvolvendo personalidade, pensamentos e sentimentos próprios é fundamental para a rebelião. “Homem-Máquina” é uma história que versa sobre opressão, independência, coragem, ganância e soberba, temas sempre atuais. Já publicada aqui antes há muito tempo na extinta revista Heróis da TV, essa edição é um sopro de frescor dentro do mercado de republicações, um alento contra o mais do mesmo, além de ser uma história com várias virtudes.

Nota: 8,5