terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Literatura: "Mosquitolândia" e "Sobrevivente"


A separação de um casal nunca é tarefa fácil. Tanto para os dois lados envolvidos, quanto para os filhos, aliás, principalmente para os filhos. Mary Iris Malone, a personagem principal de “Mosquitolândia” (Mosquitoland, originalmente) está passando justamente por isso. Além dos pais se separarem ela ainda teve que mudar de casa, do estado do Ohio para o Mississippi. Não é fácil não. É em cima desse ponto que o norte-americano, nascido no Kentucky, David Arnold, lançou o primeiro livro lá fora ano passado. A editora Intrínseca publicou aqui também em 2015 a obra com 352 páginas e tradução de Alyne Azuma. Na trama a jovem de 16 anos depois de saber de algumas notícias que lhe tiram do eixo (e que classifica como “bombásticas”) resolve deixar o pai e a madrasta para trás e migra em direção a mãe de ônibus. Durante os 1.524 quilômetros que a separam desse objetivo muita coisa vai acontecer. Em “Mosquitolândia”, David Arnold usa a clássica história de crescimento pessoal durante uma viagem mostrando que ninguém sai igual no final do caminho. Com diversos enxertos de cultura pop pelo meio e uma protagonista que mesmo sem ser espetacular agrada com o humor enviesado, o jeito indie e a maneira de se posicionar perante o mundo. Dono de uma escrita fácil e ligeira, o autor insere no meio dessa viagem por crescimento assuntos relativamente mais densos e essa aposta acaba retirando um pouco o livro do usual dentro da categoria de obras juvenis. Não é obra para ganhar muitos superlativos, longe disso, mas é funcional e ritmada, forçando o leitor a ir até o final e o recompensando com algumas risadas no decorrer do percurso.

Nota: 6,5

Leia um trecho, aqui.

Twitter: http://twitter.com/roofbeam


“Sobrevivente” (Survivor, no original) é o segundo livro do escritor Chuck Palahniuk. Lançado em 1999 sucedeu “Clube da Luta” de 1996 e mostrou a mesma literatura visceral, marcada com muita ironia e acidez. A Editora Leya publicou a obra aqui em 2012 com 359 páginas e tradução de Tatiana Leão, ganhando reimpressão em 2014. “Sobrevivente” apresenta a história contada de trás para a frente (inclusive as páginas são numeradas de modo decrescente), quando Tender Branson está sequestrando um avião e planeja ir de encontro com a água. Para saber como o protagonista chegou a esse ponto, o autor regride um pouco no tempo e conta uma história repleta de loucuras e personagens peculiares. Tender Branson, por exemplo, é bastante complexo, nasceu e foi criado em uma comunidade religiosa, uma seita onde as regras eram duras e estapafúrdias. Aos 17 anos rumou para o mundo com o intuito de trabalhar e remeter a grana para a comunidade, continuando assim a servir a esta. As coisas andam dessa maneira até uma tragédia se abater sobre a igreja e ele ganhar liberdade e uma psicóloga meio tresloucada, enquanto trabalha como zelador e mordomo de um casal igualmente maluco para a noite atender telefonemas de pretensos suicidas (o número saiu errado em um jornal), os quais ele só incentiva. Enquanto Tender Branson conta a vida para a caixa preta do avião, Chuck Palahniuk despeja frases e mais frases contra a religião e o circo da mídia, indo também ao encontro do próprio modo de vida dos EUA, assim como da sociedade que absorve e aceita aquilo que lhe é entregado sem questionar. “Sobrevivente” tem leves semelhanças com “Clube da Luta” e por se tratar do segundo romance do autor, ainda mostra uma grande ferocidade crítica. Tender Branson pode não ser um Tyler Durden, mas poderia normalmente ser seu melhor amigo.

Nota: 8,5

Site do autor: http://chuckpalahniuk.net


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