terça-feira, 28 de janeiro de 2014

"Todo Aquele Jazz" - Geoff Dyer

“A música jazz é uma inquietação acelerada”, assim apontou a falecida escritora francesa Françoise Sagan de “Bom Dia Tristeza”. Essa inquietude é presente não somente na formatação dos improvisos feitos em cima de cada frase de um instrumento ou na construção de arranjos sofisticados e únicos, como também pode ser transferida para a vida da maioria dos músicos que criaram e consolidaram o gênero em suas vertentes mais ricas e poderosas.

O romancista e ensaísta inglês Geoff Dyer é um dos muitos amantes do estilo e em 1991 lançou um livro sobre o tema chamado “But Beatiful: A Book About Jazz”. Essa obra ganhou reimpressão em terras nacionais no ano passado pela Companhia das Letras com 240 páginas e tradução de Donald M. Garschagen. O autor que tem livros sobre diversas outras áreas como fotografia e viagens, exibe aqui amplo conhecimento e uma paixão expressiva sobre o tema.

“Todo Aquele Jazz” é um livro de ficção que toma como embasamento de criação alguns fatos reais da vida dos músicos retratados. Usa como matéria-prima inicial fotografias antigas que o autor teve acesso ou já conhecia, e a partir disso passou a imaginar aspectos mais extensos. Ícones do jazz são retratados em cada capítulo, como Thelonious Monk, Charles Mingus, Chet Baker, Lester Young, Bud Powell, Art Pepper e Ben Webster, além do extraordinário Duke Ellington permeando todos esses capítulos em passagens curtas.

As histórias que Geoff Dyer fabrica são permeadas por dores, decepções, passividade e uma melancolia diretamente vinculada aos tempos áureos em que o brilhantismo e a energia ainda eram as moedas correntes dessas vidas. Não obstante, esse reflexo espelhado que ele exibe nas páginas vem justamente depois da absorção das inovações do ritmo, assim como naquilo que sempre teve em volta do jazz na maioria das vezes como o álcool, as drogas e as mulheres.

A viagem invade os anos 20 e chega até os anos em que esses baluartes mantiveram sua existência, isso de modo sucinto, sempre se apegando ou ao momento de declínio físico, mental e criativo, ou de ostracismo em algum país longe da América. Essa viagem mesmo sendo pesarosa e triste em determinadas situações não deixa de ser idílica e poética em diversas outras passagens, devido principalmente a sapiência do autor e a maneira como escreve.

De todos os capítulos, aqueles que focam em Thelonious Monk, Charles Mingus e Art Pepper são os mais exuberantes. Magia, loucura e incompreensão andam de mãos dadas nesses pequenos contos. Para envolver ainda mais o leitor as fotos comentadas nas páginas do livro poderiam estar presentes. Porém, isso é mero detalhe e “Todo Aquele Jazz” ainda encerra com um ensaio formidável justamente sobre o estilo de vida que os músicos levavam (por opção própria ou não) e sua contraposição na criação de pequenos clássicos, além de uma estupenda discografia selecionada para correr atrás depois.

Nota: 9,0

A editora disponibiliza um trecho gratuito para visualização, aqui.

Textos relacionados no blog:

- Literatura: “Pops – A Vida de Louis Armstrong” – Terry Teachout
- Quadrinhos: “Bourbon Street –Os Fantasmas de Cornelius” – Philippe Charlot e Alexis Chabert

Essa é a única foto que está no livro e mostra Ben Webster, Red Allen e Pee Wee Russell.

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