segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

"Piteco - Ingá" - Shiko

Em novembro do ano passado a primeira safra do projeto Graphic MSP chegou ao fim com “Piteco – Ingá”. A última empreitada dessa temporada inicial (seis outros álbuns estão previstos para 2014) teve aventuras da turminha, do Astronauta e do Chico Bento sob a responsabilidade dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, Danilo Beyruth e Gustavo Duarte, respectivamente. O resultado quase sempre foi satisfatório e usando um clichezão, “Piteco – Ingá” fecha esse ciclo com a famosa chave de ouro.

A incumbência de visitar o personagem pré-histórico de Mauricio de Sousa ficou com o paraibano Shiko, hoje residente na Itália. O autor de “Blue Note” que também é ilustrador e artista plástico deu à luz um trabalho visual não menos que majestoso. E conseguiu juntar a isso uma aventura, que mesmo partindo de um ponto de partida comum, rende muito bem. Sem contar o fato que foi o autor que mais foi além no quesito de liberdade criativa, aproximando a obra do público adulto.

Esse ponto de partida passa pela migração que o povo de Piteco se vê forçado a fazer, pois o rio que lhes dava sustento acaba de secar, um incremento bem utilizado ressaltando a importância da água. No entanto, quando isso está para acontecer, o caçador percebe que sua amiga Thuga foi seqüestrada. Não pensando duas vezes, ele segue no encalço para recuperar a curandeira do seu povo junto com o amigo inventor Beleléu e a guerreira Ogra. Essa busca representa o objetivo que guia a trama em suas 80 páginas.

Uma das coisas mais positivas do álbum é como Shiko transformou os personagens e suas relações. A ligação entre Thuga e Piteco, que originalmente consiste nela apaixonada correndo atrás dele, enquanto ele foge de todas as maneiras, aqui ganha contornos de respeito e amizade, por mais que a relação amorosa ainda esteja lá. A amizade com Beleléu fica mais forte e a disputa entre os povos existentes na região mais intensa e acirrada, ao contrário da leveza com que é regularmente tratada.

Outro ponto positivo é a aproximação que o autor faz com o nordeste e com o folclore tupiniquim. Além de usar a Pedra do Ingá na trama (monumento arqueológico da Paraíba), inclui lendas como o Curupira (o Arapó-Paco) e o Boitatá (o M-Buantan). E essas coisas, aliadas com a arte dos desenhos coloridos em aquarela e a já citada ascensão para um nível mais maduro transformam “Piteco – Ingá” em, se não no melhor dos projetos até agora (esse posto ainda fica com “Laços”), no mais interessante como um todo.

P.S: Como de costume, existem duas opções de capas com preços distintos (R$ 19,90 e R$ 29,90) em livrarias e bancas de revistas.

Nota: 8,5

Textos relacionados no blog:
- Quadrinhos: “Astronauta Magnetar” – Danilo Beyruth
- Quadrinhos: “Laços” – Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi
- Quadrinhos: “Pavor Espaciar” – Gustavo Duarte


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