Não deveria ser assim, essa é a
verdade. Está certo que quem nasceu dos anos 90 em diante talvez não carregue
essa sensação no peito, que reside longe do saudosismo simples e banal. Porém,
naquela que indiscutivelmente é a paixão nacional, identificação é uma palavra
que perdeu o sentido. Fidelidade então nem se fala. Por isso que a carreira de
Marcos Roberto Silveira Reis, nascido em 4 de agosto de 1973 na cidade de
Oriente no estado de São Paulo deve ser louvada. Por isso, e claro, por ele ser
um tremendo goleiro, um dos maiores da história do futebol verde e amarelo.
Marcos, que ainda moleque começou
a vestir a camisa do Palmeiras, foi canonizado pela torcida palestrina como
santo no ano de 1999, depois de uma exibição brilhante na eliminação do rival
Corinthians (e que tinha um timaço na época) nas quartas-de-final da
Libertadores. Daí em diante seus “milagres” se multiplicaram e invadiram a
seleção brasileira campeã do mundo em 2002 e seguiram até mesmo a 2ª Divisão do
Campeonato Brasileiro, quando o time caiu e ele dignamente jogou com empenho a
competição ao recusar uma proposta excelente do Arsenal da Inglaterra.
Com tudo isso envolvendo a sua vida
de esportista, uma biografia é plenamente cabível. E isso é o que fez Celso de
Campos Jr., jornalista e autor de biografias de Adoniran Barbosa e do jornal
Notícias Populares. Lançado no final do ano passado com 304 páginas pela
Editora Realejo, “São Marcos de Palestra
Itália” foi, de maneira surpreendente até, perseguido pateticamente pela
direção do clube paulista. Tal perseguição deve-se ao fato (ridículo) do clube
estar participando de dois projetos do tipo que circundam o goleiro, com
participação do próprio e de vários outros personagens.
Para elaborar o livro, Celso de
Campos Jr. se baseou quase que unicamente em notícias de jornais, revistas e outras
publicações, o que acaba jogando contra a obra de modo fulminante. As histórias
e causos do “Marcão” são conhecidas em sua maioria e aqui estão recontadas com bom
rigor de escrita e união, no entanto passam longe de trazer novidades ou pontos
de vista diferentes. O trabalho é
um compêndio da trajetória dentro dos campos e atravessa quase nada para a vida
pessoal, assim como para a infância e formação de caráter, o que via de regra é
fundamental para uma biografia.
O tom de Celso de Campos Jr.
também incomoda. Marcos é respeitado pelas torcidas dos outros times seja pela
autenticidade e espontaneidade, como também por ser o típico boa praça (além de
um monstro debaixo das traves). O autor vai na contramão disso e fracassa nas tentativas
de humor ao falar jocosamente dos adversários em piadas que nem atingem o chato
politicamente correto, pois são verdadeiramente sem graça. Isso ajuda a tornar “São Marcos de Palestra Itália” uma
quase-biografia que agradará em cheio somente aos torcedores do Palmeiras. O
Marcão merece e tem material para coisa melhor.
Nota: 5,5
P.S: Marcos foi o melhor goleiro que vi jogar. E mesmo sendo
flamenguista, sempre tive uma simpatia, por assim dizer, com o Palmeiras em São
Paulo. Entendo que o futebol ficou chato e vigiado demais nos dias atuais e que
gozações sempre são bem-vindas ao mundo do futebol. No entanto, essas gozações
funcionam quando são divertidas. Basicamente.
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