domingo, 24 de abril de 2011

"Castro" - Reinhard Kleist


Muito já se falou e escreveu sobre Fidel Castro. O líder cubano rendeu obras e mais obras no decorrer dos últimos 50 anos, tendo sido abordado praticamente com todos os olhares possíveis. Da reação de amor e esperança que despertou ao mundo no final dos anos 50 até se equiparar não muito tempo depois a aqueles que criticava. Sua figura ainda é tema de debates calorosos, por mais que hoje a destroçada ilha esteja nas mãos do seu irmão Raúl Castro.

O alemão Reinhard Kleist que já havia retratado em quadrinhos a história de Johnny Cash resolveu meter seu pincel também nesse vespeiro de emoções que é a vida da família Castro. Para tanto passou um mês em Cuba e leu ou viu diversos trabalhos que versam sobre o tema e que estão dispostos ao final do álbum. A linguagem visual utilizada por Reinhard Kleist mantém o pé na sobriedade do preto e branco, mas sem se limitar muito por isso.

“Castro” tem 288 páginas e chega pela editora gaúcha 8Inverso com tradução de Margit Neumann e Michael Korfmann. O álbum trata do começo de Fidel Castro ainda na fazenda dos seus pais quando cheio de ideologia buscava igualdade para os empregados até os dias atuais com ele em uma cama vestindo sua roupa da Adidas. A Revolução Cubana evidentemente toma conta de uma grande parte, assim como o envolvimento com Che Guevara.

Fatos marcantes como a invasão fracassada encomendada pela CIA na Baía dos Porcos e os 13 dias que abalaram o mundo na guerra dos mísseis também ganham destaque. Para contar a história, Kleist insere um fotógrafo alemão no meio dos tempos da revolução nos anos 50 e mantêm esse cidadão lá até a velhice, para assim poder retratar a esperança, “glória” e ruína do país. A retratação dos personagens é muito bem feita e cuidadosamente desenhada.

Na primeira parte do álbum fica clara a admiração do quadrinista pela figura de Fidel Castro. Mesmo que tal devoção fosse necessária para posteriormente contrapor de maneira melhor a esperança com a desilusão, percebe-se que Kleist aliviou a mão. Um dos maiores méritos de “Cash”, por exemplo, era o fato de retratar também o lado negro do artista, o que não ocorre com a intensidade que deveria em “Castro”, onde as atrocidades do regime são superficiais.

“Castro” traz o pacote de sonhos de uma geração e a criação de ícones que superaram a política para virarem personagens pop. Hoje, quando o regime de Fidel anuncia que seus planos não deram tão certo assim é interessante ver que no início temas como democracia e liberdade de imprensa eram o desejo, mas foram corrompidos pelos desmandos de uma família. Fidel sempre disse que a história o julgaria, mas no final não esperava que fosse do jeito que será.

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